por SOS Mata Atlântica –
Entre 2017 e 2018 foram desmatados 113 Km² no bioma, o menor desmatamento registrado pelo Atlas da Mata Atlântica desde 1985
O desmatamento da
Mata Atlântica entre 2017 e 2018 caiu 9,3% em relação ao período
anterior (2016-2017), que por sua vez já tinha sido o menor desmatamento
registrado pela série histórica do Atlas da Mata Atlântica, iniciativa
da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), que monitora o bioma desde 1985. O estudo tem
patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan.
O relatório aponta que no último ano foram destruídos 11.399 hectares
(ha), ou 113 Km², de áreas de Mata Atlântica acima de 3 hectares nos 17
estados do bioma. No ano anterior, o desmatamento tinha sido de 12.562
hectares (125 Km²).
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Dos 17 estados, nove estão no nível do desmatamento zero, com
desflorestamentos abaixo de 100 hectares, ou 1 Km². São eles: Ceará (7
ha), Alagoas (8 ha), Rio Grande do Norte (13 ha), Rio de Janeiro (18
ha), Espírito Santo (19 ha), Paraíba (33 ha), Pernambuco (90 ha), São
Paulo (96 ha) e Sergipe (98 ha). Outros três estados estão a caminho
desse índice: Mato Grosso do Sul (140 ha), Rio Grande do Sul (171 ha) e
Goiás (289 ha).
Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica,
destaca que o resultado positivo tem relação com ações afirmativas de
monitoramento sistemático e combate ao desmatamento empenhadas por
órgãos ambientais estaduais, polícia ambiental, Ministério Público e
Ibama nos últimos anos. É o caso de ações realizadas em regiões da Mata
Atlântica como as do projeto “De Olho no Verde”, do Instituto Estadual
do Ambiente do Rio de Janeiro vinculado à Secretaria de Estado do
Ambiente, ou a operação nacional “Mata Atlântica em Pé”, que envolveu
Ministérios Públicos e órgãos ambientais de 15 estados em 2018.
“Esses dados comprovam como o acompanhamento da sociedade civil e
investimentos dos governos no cumprimento da Lei da Mata Atlântica, por
meio dos órgãos de conservação, fiscalização e controle, trazem
resultados concretos. Este tipo de ação precisa ter continuidade”,
observa. Vale ressaltar que a Mata Atlântica é o único bioma brasileiro
com uma lei específica.
A Bahia é um exemplo de como as ações de comando e controle são
importantes. Há dois anos, foi o primeiro estado do ranking, com 12.288
hectares desmatados entre 2015 e 2016 – número maior do que o total de
desmatamentos neste ano, por exemplo. “Naquele ano, o então secretário
de Meio Ambiente do estado esteve no nosso ‘Encontro das Secretarias de
Meio Ambiente dos estados da Mata Atlântica’, onde se comprometeu com o
combate ao desmatamento e realizou operações de fiscalização”, explica
Marcia.
No ano seguinte, a partir das ações afirmativas realizadas, o estado
teve uma redução de 67% no desmatamento – foram 4.050 hectares
desmatados. Agora, verifica-se uma segunda queda, de 51%, apesar do
estado ainda ser um dos maiores desmatadores.
Quem ainda desmata
Apesar dos resultados positivos desta edição do Atlas da Mata
Atlântica, cinco estados ainda mantém índices inaceitáveis de
desmatamento: Minas Gerais (3.379 ha), Paraná (2.049 ha), Piauí (2.100
ha), Bahia (1.985 ha) e Santa Catarina (905 ha).
Para o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica,
Mario Mantovani, é preciso ficar atento às mudanças propostas pelo atual
governo federal que podem reverter as conquistas alcançadas até aqui.
“Não podemos permitir o enfraquecimento da gestão ambiental e nenhuma
tentativa de flexibilização da legislação” enfatiza.
Confira o ranking de desmatamentos entre 2017-18, em hectares:
UF
|
Área UF
|
UF na Lei
|
% na Lei
|
Mata 2018
|
% Mata 2018
|
Desmatamento 17-18
|
Variação
|
Desmatamento 16-17
|
MG
|
58.651.979
|
27.622.623
|
47%
|
2.829.026
|
10,20%
|
3.379
|
8%
|
3.128
|
PI
|
25.157.775
|
2.661.841
|
11%
|
901.787
|
33,90%
|
2.100
|
42%
|
1.478
|
PR
|
19.930.768
|
19.637.895
|
99%
|
2.322.682
|
11,80%
|
2.049
|
25%
|
1.643
|
BA
|
56.473.404
|
17.988.595
|
32%
|
2.004.746
|
11,10%
|
1.985
|
-51%
|
4.050
|
SC
|
9.573.618
|
9.573.618
|
100%
|
2.189.122
|
22,90%
|
905
|
52%
|
595
|
GO
|
34.011.087
|
1.190.184
|
3%
|
30.172
|
2,50%
|
289
|
75%
|
165
|
RS
|
26.876.641
|
13.857.127
|
52%
|
1.092.336
|
7,90%
|
171
|
-15%
|
201
|
MS
|
35.714.473
|
6.386.441
|
18%
|
712.374
|
11,20%
|
140
|
21%
|
116
|
SE
|
2.191.508
|
1.019.753
|
47%
|
69.901
|
6,90%
|
98
|
-71%
|
340
|
SP
|
24.822.624
|
17.072.755
|
69%
|
2.344.483
|
13,70%
|
96
|
6%
|
90
|
PE
|
9.815.022
|
1.690.563
|
17%
|
198.346
|
11,70%
|
90
|
-75%
|
354
|
PB
|
5.646.963
|
599.487
|
11%
|
54.982
|
9,20%
|
33
|
-47%
|
63
|
ES
|
4.609.503
|
4.609.503
|
100%
|
483.087
|
10,50%
|
19
|
316%
|
5
|
RJ
|
4.377.783
|
4.377.783
|
100%
|
820.164
|
18,70%
|
18
|
-64%
|
49
|
RN
|
5.281.123
|
350.994
|
7%
|
12.041
|
3,40%
|
13
|
-44%
|
23
|
AL
|
2.777.724
|
1.524.618
|
55%
|
140.659
|
9,20%
|
8
|
-97%
|
259
|
CE
|
14.892.047
|
866.120
|
6%
|
64.064
|
7,40%
|
7
|
56%
|
5
|
|
16.269.972
|
12,40%
|
11.399
|
-9,30%
|
12.562
|
Ieda Del’Arco Sanches, pesquisadora e coordenadora técnica do estudo
pelo INPE, ressalta que após o aumento do desmatamento em 2015-2016, que
atingiu 29.075 ha, o desmatamento decresceu nos dois últimos anos
(12.562 ha em 2016-2017 e 11.399 ha em 2017-2018), apresentando os
menores índices já registrados desde o início do monitoramento do Atlas.
“Interessante notar que desde o período 2010-2011, quando o mapeamento
começou a ser feito anualmente, essa é a primeira vez que o desmatamento
diminuiu em dois anos consecutivos. O quadro é bastante promissor, mas é
preciso manter o ritmo no combate ao desmatamento para não retroceder”,
reforça ela.
Mata Atlântica em pé
O Atlas da Mata Atlântica indica que restam 16,2 milhões de hectares
de florestas nativas mais preservadas acima de 3 hectares na Mata
Atlântica, o equivalente a 12,4% da área original do bioma.
O estudo fundamenta-se na identificação de remanescentes florestais
em estágios primário, médio e avançado de regeneração com ao menos 3
hectares de área contínua bem preservada, que são essenciais à
conservação da biodiversidade no longo prazo. Sendo assim, florestas
nativas menores de 3 hectares, áreas muito alteradas, ou em regeneração,
e pequenas manchas, especialmente no espaço urbano, não são
contabilizadas. Esta área mínima de 3 hectares também justifica-se pela
necessidade de manter a compatibilidade com os dados históricos que
permitem a comparação e monitoramento das alterações dos fragmentos
florestais ao longo do tempo.
Sobre a Mata Atlântica
A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em diversidade de
espécies e ameaçadas do planeta. O bioma abrange área de cerca de 15% do
total do território brasileiro, o que inclui 17 Estados (Alagoas,
Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), dos quais 14
são costeiros. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia
originalmente e, desses remanescentes, 80% estão em áreas privadas.
Ela é a casa da maioria dos brasileiros, abriga cerca de 72% da
população, sete das nove maiores bacias hidrográficas do país e três dos
maiores centros urbanos do continente sul americano. E a floresta
possibilita atividades essenciais para a nossa economia – como a
agricultura, a pesca, a geração de energia, o turismo e o lazer.
(#Envolverde)