sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O Brasil tem pernas mancas ou cabeça dura?

As duas alternativas estão corretas e a primeira é consequência da segunda. O crescimento da economia brasileira está abaixo da média mundial e a menos da metade do que o de alguns vizinhos. É um quadro que não agrada, mas também não apavora.

O futuro próximo tem algumas cascas de banana, como a ameaça de perder o grau de investimento, a dependência da safra agrícola e os humores do cenário externo. Mas não há perigo de uma caída forte, os indicadores de solvência são positivos. O crescimento será lento, mas sem crises. Portanto, o País tem pernas mancas, sim.

A causa é a cabeça dura, a aversão a mudanças. Ilustrando o ponto: para segurar a inflação, a prescrição na teoria moderna é um aperto fiscal. Todavia, continuam com o manual de meio século atrás, gastando muito e represando tarifas de transporte, energia e combustíveis. Agravam o problema e postergam a estabilização dos preços.

Outro exemplo emblemático é a falta de médicos no País. A solução óbvia é abrir mais vagas nos cursos de medicina e construir hospitais-escola – há cinco Estados brasileiros que nem sequer têm um. Mas decide-se por importar profissionais, é mais rápido. A urgência é resolvida e varre-se a sujeira para debaixo do tapete.

Apesar do discurso da ginga brasileira e do modernismo, há um viés conservador nos governos brasileiros desde o Império. Quase todas as mudanças de rumo na política econômica ocorrem após crises, quando alterar a rota é obrigatório e tem custos sociais e econômicos elevados.
O tripé macroeconômico de FHC foi uma resposta à crise cambial, após quatro anos no poder: o câmbio e o regime de metas de inflação são de 1999 e a Lei de Responsabilidade Fiscal é de 2000. Foi uma reação a problemas inflacionários, não fazia parte de um conjunto de políticas de desenvolvimento.

O desempenho dos governos depende de como se ajustaram ao legado recebido pelo antecessor e às condições externas. Uns mais e outros menos, o fato é que as presidências de Dilma e dos anteriores João Figueiredo, Collor/Itamar, FHC e Lula foram basicamente reacionárias, caíram na armadilha da repetição.

Como consequência, todos eles viram o PIB crescer abaixo da média mundial. A responsabilidade pelo fraco desempenho é sempre atribuída a crises: do México, da Ásia, do Lehman Brothers e outras. É fácil culpar os outros, mas o motivo é um só, é a cabeça dura, a aversão a mudanças.


O problema não é só de governos. O mundo vive uma revolução produtiva com novas tecnologias e os efeitos da globalização. A indústria nacional deveria se adaptar à nova realidade com integração e incorporação de inovações, porém as demandas do setor são proteção e desvalorização. Querem aliviar os efeitos, e não curar a causa.

É um padrão que se repete. Ilustrando o ponto: em 1990, quando os carros produzidos aqui foram chamados de carroças, houve protestos enfáticos. Mesmo assim, avançou-se com a abertura. Apesar das previsões catastróficas, o setor não quebrou, melhorou a qualidade, aumentou a variedade dos modelos e o preço dos veículos despencou. A mudança beneficiou os consumidores.

Outro exemplo é que, apesar do esgotamento precoce da oferta de crédito, com consequências desfavoráveis para a economia, se insiste na manutenção do modelo bancário. A aversão a mudanças não ocorre só no Brasil, ressobram exemplos em outros países, mas há honrosas exceções lá fora e aqui.

O Plano de Metas de Juscelino e o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), apesar de suas imperfeições, mostram que é possível mudar. No setor empresarial, o agronegócio é outro exemplo.

A alta no preço das commodities ajudou, mas o campo brasileiro fez sua lição de casa: uma transformação adotando inovações tecnológicas e de gestão dobrou sua produtividade.

As condições externas ajudaram, mas foi a revolução da porteira para dentro que fez do agronegócio a locomotiva do crescimento do Brasil. As projeções para este ano mostram que o PIB agrícola vai aumentar 7,6%; o de serviços, 2%; o da indústria, 1,3%; e na média, 2,3%. É vantajoso mudar (setor rural) e oneroso ser conservador (indústria). Evidentemente, há empresas e subsetores que souberam se adequar e outros não.

A repetição das políticas traz problemas que pareciam ter sido superados, como a alta da inflação, que sem as tarifas está rondando os 8% ao ano, a possibilidade de fuga de capitais, um crescimento baixo e a redução do potencial do País.

A realidade mudou, mas até o debate continua o mesmo. Situação e oposição, monetaristas e desenvolvimentistas e esquerda e direita analisam exaustivamente se o copo está meio cheio ou meio vazio. Dá na mesma, o fato é que está na metade e o Brasil pode se afogar nele, ou não. Urge mudar.
O requisito mais importante para uma transformação está presente e é uma insatisfação ampla e geral com a situação. Foi o que se viu nas ruas em junho e é o que se lê nos jornais e nas mídias sociais todo dia.

O cenário externo mostra um mundo em recuperação com dois conjuntos de países. Uns que anteciparam crises e se preparam para o pior, a China é um exemplo, e outros que tiveram um ajuste doloroso e estão se recuperando, a Irlanda ilustra o ponto, e este é o caso da maioria das nações.
O bom é que o pior já passou e, no ano que vem, o mundo vai crescer, o que gera um otimismo que acaba contagiando a todos. As projeções são de que a expansão do PIB mundial será de 3,6%; a das economias emergentes, 5,1%; da América Latina, 3,1%; e do Brasil, 2,5%. Não é ruim, mas não é bom. É pouco.

Se a economia tem pernas mancas porque é cabeça dura, então a solução é começar a fazer o futuro, em vez de reagir a ele. O Brasil poderia inovar e não esperar uma crise para mudar. A agenda é corrigir distorções, reformar o antiquado e criar um futuro.

Ano-novo, vida nova, feliz 2014!

Fonte: O Estado de S. Paulo, 23/12/2013

Criminalidade: De concessão em concessão chegou-se a uma legislação ineficaz que resultou no triunfo da impunidade .


No país da Copa

Lamento que as vésperas do Natal, em vez de inspirar-me nele, tenha tido de escrever sobre temas tão ingratos

Se há um dado que se tem expandido entre nós é o protagonizado pela violência. As manifestações populares, grandes ou pequenas, tradicionalmente, terminam em passeatas ou coisa parecida. Agora, parece que devam ser concluídas com atos concretos de agressão ou dano; uma vitrina quebrada é uma conclusão digna de um tipo, como o incêndio de um veículo compõe excentricidade apropriada ao desfecho de outro.

A partir daí, tudo pode acontecer. Mas, se me ocupo deste fato é porque vi com meus olhos o termo de um jogo de futebol, quando número apreciável de pessoas ocupavam as bancadas da assistência e se convertia com convulsão de alta belicosidade; as cenas que a televisão perpetuou e veio a mostrar com rigorosa objetividade; cabeças humanas pisoteadas com requintes de selvageria.

Ora, quem vai assistir a uma disputa sabe de antemão que o seu clube pode ganhar, empatar ou perder. Sempre ouvi falar em espírito esportivo, mas nunca em conflito rude e isso tem acontecido, foi documentado e divulgado pela televisão.

Mas são esportistas ou torcedores, são grupos de marginais ocultos sob a camisa de times. O fenômeno não é apenas extremamente nocivo, mas até perigoso, porque envolve multidões e se sabe do que são capazes as multidões.


Este o fato que, se não estou em erro tende a generalizar-se, talvez por preparo de grupos para este fim. E isso me parece perigoso porque a violência tolerada não cessa de propagar-se, de concessão em concessão, pode chegar ao insuportável. De mais a mais, as sanções adotadas tem sido ineptas. Em um caso o agressor foi condenado a pagar uma cesta básica e em outra situação, um agente do Ministério Público proibiu (sic) que a polícia entrasse nos estádios…

De concessão em concessão chegou-se a uma legislação ineficaz que resultou no triunfo da impunidade 
 
Outrossim, proibir o acesso dos agressores é praticamente inviável, dado que a massa humana que sai de casa para assistir o espetáculo esportivo, não há como se identificar pessoa por pessoa, que comparece com sua carteira ou entrada.

As cenas degradantes que assistimos no estádio de futebol são uma forma de reprodução do que vemos fora dele. Autores de furtos e agressões raramente são detidos e quando o são, logo ganham as ruas e ficam liberados. As penas de pagar cestas básicas são cômodas para quem as aplicam, mas tornam-se um convite a delinquir. A reincidência dos delitos é a prova da ineficiência do aparato repressor do Estado, que transforma os cidadãos em vítimas potenciais, vivendo acuados em casas gradeadas. A população está encarcerada, enquanto os infratores estão à solta.

De concessão em concessão chegou-se a uma legislação ineficaz que resultou no triunfo da impunidade. A barbárie vista em Joinville é irmã do que assistimos nas ruas. Isso não é bom, e para não ficar pior, é preciso enfrentar o flagelo.

Lamento que as vésperas do Natal, em vez de inspirar-me nele, tenha tido de escrever sobre temas tão ingratos, mas isso revela quanto me feriram os sucessos mencionados. Espero sinceramente não tenha que desculpar-me outra vez pelos temas escolhidos nas vésperas do Natal e também de outras datas santificadas.

Para encerrar, eu me pergunto qual a impressão que eles despertam naqueles que em todo o mundo, procuram propagar as excelências dos esportes, quando na sede geográfica da próxima Copa do Mundo se assista cenas sub-humanas, exatamente no mais popular e enraizado esporte brasileiro.
Fonte: Zero Hora, 23/12/2013

Dilma vai a Davos para melhorar a imagem do Brasil.

Economia

Contra onda de pessimismo, Dilma vai a Davos

Presidente confirma presença pela primeira vez no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, em janeiro

brasil247.com 24 Dezembro de 2013 - 08:23
Após adotar uma estratégia de aproximação como setor privado no Brasil, a presidente Dilma Rousseff começa o ano com uma grande missão: conquistar o empresariado e o comunidade financeira internacional.

A onda de pessimismo propagada pela imprensa tradicional e replicada por revistas internacionais como a Economist, tem causado desconfiança sobre a administração política brasileira.

Para interromper esse ciclo, a presidente confirmou presença, pela primeira vez, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro. Segundo Vera Magalhães, do Painel, da Folha de S. Paulo, presidente pretende mostrar-se aberta ao mercado e fará um discurso centrado no sucesso das concessões. Terá encontros com empresários e banqueiros.

Nos últimos dez anos, o Brasil ocupou um lugar de destaque no Fórum. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ganhar o prêmio de estadista do ano em uma das edições.

Em 2012, o governo brasileiro organizou uma festa avaliada em US$ 5 milhões para promover o País, mas sem a presença da presidente Dilma, que foi representada pelo ministro Guido Mantega.

Para esta edição, a entidade publicou um informe sobre as perspectivas para 2014. Para a América Latina, destaca a questão de desigualdade social, o baixo crescimento e a educação como os grandes desafios identificados por empresários de todo o mundo.

Dilma terá de dividir as atenções com o também presidenciável Eduardo Campos (PSB), que foi convidado ao evento e deve levar sua aliada, a ex-senadora Marina Silva.

A voz das ruas.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Provérbios contemporâneos - NELSON MOTTA

O GLOBO - 27/12

Em ano eleitoral, a fofoca vai atingir os seus níveis mais altos, e mais baixos, com os piores objetivos, e até sem motivos claros ou uniformes, como nos protestos de junho



Andy Warhol dizia que gostava de fofoca pelo seu duplo valor de informar tanto sobre a pessoa que está sendo falada quanto sobre a que está falando, porque ninguém se contenta em contar a novidade sem comentá-la e julgá-la, revelando seus gostos e sentimentos. Nos tempos de Andy, a fofoca era chamada brejeiramente de mexerico e corria de boca em boca ou por precárias comunicações, de fontes restritas e duvidosas, mas hoje se propaga instantanea e incontrolavelmente, usando a sua origem como prova de sua veracidade: está na internet!

O ancestral “diz-me com quem andas e te direi quem és”, ainda atualíssimo para a avaliação de políticos, hoje é aplicado aos sites, blogs, twitters e seriados para monitorar o que segues e saber como és. No formato “diz-me do que gostas e não gostas”, serve não só para dizer quem és, mas até o que queres, antecipando os teus desejos baseado no que já compraste, e assim facilitando tuas escolhas — de mais do mesmo.

A linguagem proverbial é antiga, mas o moderno poder de se informar e de comprar o que quiser e escolher em que fontes beber na rede vai permitir que as tuas escolhas revelem quem és e como vives. Principalmente para te venderem o que não precisas. Diante do que vivemos hoje a temida monitoração onipresente do Big Brother de “1984” parece coisa de adolescente, no máximo, de programa de televisão.

Em ano eleitoral a produção e a disseminação de fofocas vão atingir os seus níveis mais altos, e mais baixos, com os piores objetivos, e até sem motivos claros ou uniformes, como nos protestos de junho. Com os dados cada vez mais detalhados e ampliados de que dispõe sobre o eleitorado, o marketing das campanhas vai vender seus produtos e tentar motivar os consumidores fiéis e atrair os insatisfeitos, com o empobrecimento do debate político e do confronto de ideias.

Só espero que os políticos de todos os partidos não continuem a dizer na televisão que “ouviram a voz das ruas”, porque foi justamente contra eles, seus privilégios, sua corrupção, sua ineficiência e impunidade que as ruas e as redes gritaram. E vão gritar nas urnas.


Divida externa brasileira bate recorde.!


Dívida externa bate recorde: US$ 482 bilhões; débitos aumentam 37% Analistas alertam para o fato de mais de um terço do endividamento vencer entre 2014 e 2015, período de mudança na política monetária dos Estados Unidos, que deve elevar o dólar e a aversão ao risco Brasil.Cresce a desconfiança do capital estrangeiro em relação ao Brasil.



Diego Amorim

Publicação: 27/12/2013 07:10 Atualização: 26/12/2013 21:23
 
O Brasil chega ao fim de 2013 colecionando indicadores preocupantes. Não bastassem o crescimento pífio e a inflação bem acima da meta estipulada pelo governo, de 4,5%, a dívida externa bruta atingiu, em novembro, o maior valor desde o início da série histórica do Banco Central, em 1971. São US$ 482 bilhões em débitos no exterior, incluindo as faturas do governo, dos bancos, de empresas e os empréstimos intercompanhias, ou seja, aquelas transações feitas geralmente entre as filiais de multinacionais no Brasil e suas sedes fora do país.

Somente na era Dilma Rousseff, iniciada em janeiro de 2011, a dívida externa brasileira registrou um salto de 37%. Em valores absolutos, cresceu US$ 130,2 bilhões, complicando um quadro que era considerado confortável até então. Mesmo os saldos do setor público, que vinham chamando a atenção por apresentar quedas expressivas ao longo do ano, terminarão 2013 em alta, retornando ao patamar de cinco anos atrás, com US$ 64,6 bilhões acumulados.

O recorde, por si só, já seria suficiente para acender de vez o alerta em relação à dívida do país no exterior. Mas o cronograma do vencimento desses débitos, detalhado pela autoridade monetária, torna a situação mais delicada. Um terço do saldo total — US$ 157,2 bilhões — vencerá nos próximos dois anos, período de mudanças na política monetária do Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, e de desconfiança acerca do próximo governo por aqui.

Os cientistas afirmam que a " Escassez de agua no planeta será o maior problema da humanidade"...(mas em Brasilia os governantes não se importam).

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Prognósticos do passado - RENATO FERRAZ

CORREIO BRAZILIENSE - 27/12
Sabe o que mudará na sua vida caso você se vista de branco no réveillon? Provavelmente, nada. E azul? Também. E rosa? Nadinha de nada. Sério: como fazemos nossas próprias crenças, precisamos brincar disso - e com isso, claro. Que tal, então, fazer prognósticos e não listinha de resoluções para serem ignoradas logo em janeiro? Como serão as décadas, os anos, os meses vindouros?

Fábio Gandour, diretor brasileiro de uma importante empresa de tecnologia, acha, por exemplo, que a escassez de água no planeta será o maior problema da humanidade. Seu cenário é montado sobre o átomo, cujo número é constante. Como a população segue aumentando, vai diminuir a quantidade de átomos por habitante. E quais átomos vão faltar primeiro? Hidrogênio e oxigênio conectados numa molécula chamada água, defende ele. A Ásia, conta Gandour, será o primeiro continente a sentir a falta dela. "Isso não é uma especulação. É aritmética", garante o pesquisador.

Esse tipo de análise é assustador. No entanto, o que mais mete medo é o fato de governantes serem extremamente lenientes com essas previsões. 

Em relação a Brasília, por exemplo, vale questionar: em qual futuro desembocará a nefasta soma de vias e mais vias asfálticas com mais prédios e uma crescente e quase enlouquecida venda de carros? Em mais engarrafamentos, mais estresse, mais acidentes. Sim, obviamente, essa é a análise do pessimista, mas está baseada em percepções relevantes, em avaliações históricas, no simples olhar ao lado.

(....)