Publicado em julho 20, 2015 por
Redação
Prof. Carlos Alfredo Joly, um dos coordenadores dos Grupos de
Pesquisa do IPBES – o ‘IPCC’ da Biodiversidade – fez excelente
conferência na 67ª SBPC em São Carlos, SP
A Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços
Ecossistêmicos, o IPBES (da sigla em inglês) é um painel
intergovernamental que tem por objetivo sistematizar todo conhecimento
acumulado sobre biodiversidade em nosso planeta para subsidiar decisões
políticas internacionais.
Criada pela ONU – Organização das Nações Unidas, a IPBES, que
atualmente já reúne cerca de 124 nações do Planeta, está sendo gestada
desde 2007, foi oficialmente criada em 2010 e teve sua primeira reunião
plenária em Bonn, Alemanha em 2012.
A criação e implementação da IPBES reflete a preocupação
internacional com a dramática e crescente perda de biodiversidade –
extinção e diminuição maciças de espécies vegetais e animais que vem,
desde os anos 80 do século XX, sendo denunciada por grandes cientistas
como Edward Wilson, com consequências para nossas vidas ainda difíceis
de mensurar.
Uma das conferências da 67º Reunião Anual da SBPC, que ocorreu em São
Carlos entre os dias 12 e 18 de julho de 2015, foi pronunciada pelo
Prof. Dr. Carlos Alfredo Joly, biólogo da UNICAMP, filho do emérito
botânico Ailton Brandão Joly, que esteve à frente do programa
BIOTA-FAPESP que diagnostica a biodiversidade no Estado de São Paulo e
que é um dos principais cientistas brasileiros que compõe e dirige a
Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços
Ecossistêmicos.
Nesta conferência ele basicamente explicou como foi estruturada esta
plataforma quais suas metas, como funciona e como cada pessoa no mundo
pode participar.
O primeiro ponto importante para entendermos a função da Plataforma é
sabermos que ela não faz pesquisa sobre biodiversidade e os serviços
que ela presta à vida humana e planetária: ela reúne, sistematiza e
avalia os trabalhos científicos e não-científicos (conhecimento dos
povos tradicionais) com a finalidade de subsidiar a formulação de
políticas públicas governamentais para biodiversidade e serviços
ecossistêmicos.
A Plataforma busca integrar dois campos, articulando a interface
entre eles: a área do conhecimento (seja cientifico ou não) e o campo
político governamental. Dessa forma as decisões são tomadas em plenárias
com representantes diplomáticos das nações que compõe a Plataforma.
Estas decisões são formuladas e deliberadas de acordo com os consensos
acerca dos conhecimentos sobre os temas obtidos internacionalmente
através da participação de pesquisadores de todo o planeta.
Já foram realizadas três (03) reuniões plenárias (Malásia, Coréia do
Sul, Turquia) nas quais foram definidos os objetivos e metodologias para
atuação da Plataforma.
Quatro metas relacionadas diretamente à temática da biodiversidade
foram estabelecidas: 1) avaliação sobre polinizadores, polinização e
produção de alimentos; 2) avaliação sore degradação e restauração dos
solos; 3) avaliação sobre espécies exóticas invasoras e seu controle; 4)
avaliação sobre o uso sustentável dos recursos da biodiversidade e seus
serviços.
Além destas, outras metas ou objetivos tratam do estabelecimento de
metodologias para criação de cenários futuros para divulgação,
transparência e confiabilidade das informações e capacitação de pessoas
para diagnóstico e monitoramento.
O Prof. Dr. Carlos Alfredo Joly destacou que entre os princípios que
orientam as atividades da Plataforma é o do respeito aos conhecimentos
dos povos tradicionais, especialmente os indígenas. Segundo ele os
principais conceitos formulados pelo IPBES são formulados em três
linguagens: a) a linguagem científica; b) a linguagem diplomática; c) a
linguagem dos povos tradicional
.
Segundo Joly, isso foi necessário para garantir a participação de
instituições que não aceitam tratar a natureza como mera fornecedora de
recursos. A expressão ‘serviços ecossistêmicos’ denota (pode ser
entendida) que os ecossistemas ‘prestam serviços para nós humanos’
serviços estes que podem ser valorados, ou seja, precificados, pagos e
comprados, conceitos inconcebíveis no ideário da maioria dos povos
indígenas de todo o mundo.
Para demonstrar a importância da participação dos povos tradicionais
na Plataforma, Joly exemplificou: no Brasil, muitas espécies de abelhas
nativas só tem sua identificação, diminuição de suas populações e
(algumas) sua extinção confirmadas através dos conhecimentos indígenas.
O primeiro tema que está sendo avaliado pela Plataforma, considerado o
mais urgente pela Plenária de 2012, é o dos ‘polinizadores, polinização
e produção de alimentos.
Em todo mundo tem ocorrido uma sensível e, para alguns, intrigante
desaparecimento de populações de abelhas polinizadoras.
Considerando que
cerca de pelo menos 30% dos alimentos que comemos dependem diretamente
da polinização por insetos e outros animais e que grande parte dos
vegetais que não dependem de animais para polinização, mas se beneficiam
– melhorando sua qualidade genética – com a polinização, o impacto da
perda de populações e da diversidade pode ser muito grande para a vida
humana.
Lenta, mas cada vez de forma mais ampla e contundente, vamos
constatando que – como disse o Cacique Seatle em carta dirigida em 1854
ao Presidente americano que queria comprar grande parte das terras onde
seu povo vivia – “…O que é o homem sem os animais? Se todos os animais
se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o
que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em
tudo….. Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a
terra. …Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que
une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra
recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida;
ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a
si mesmo…..”
Sem dúvida, precisamos de milhões de ‘Noés’ em todo o Planeta,
especialmente destes e destas (o IPBES exige paridade de gênero na
composição de suas equipes de trabalhos) cientistas, cidadãs e cidadãos
que dedicam suas vidas aos estudos de todos os seres vivos que formam a
intrincada teia de relações que sustentam a vida em nosso planeta.
É legal saber que o Brasil, país com a maior biodiversidade da Terra,
tem tido atuação de protagonismo na criação e implementação do IPBES, e
o Prof. Dr. Carlos Alfredo Joly, que em 1988 ajudou a pensar o capítulo
de meio ambiente de nossa Constituição Federal, é um dos principais
articuladores globais do IPBES.
São Carlos, 18 de julho de 2015
Paulo José Penalva Mancini
p/ Ambiente Central
Paulo José Penalva Mancini é Professor de Biologia formado pela
UFSCar; Mestre em Engenharia Civil pela USP; Ex- Coordenador de Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal de São Carlos (2001 – 2012)
in
EcoDebate, 20/07/2015
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