Bruna Borges
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
- Divulgação/CPMG Vasco dos ReisAlunos durante evento em um dos 19 colégios da PM de Goiás
Segundo a nova doutrina, os estudantes terão que jurar a bandeira, usar obrigatoriamente o uniforme escolar e respeitar uma rígida hierarquia.
A mudança ocorre a partir de uma parceria entre a SSP, responsável pela administração dos colégios, e a Secretaria de Educação, que vai coordenar a parte pedagógica.
"Não existe nada que comprove que isso vai melhorar a situação da escola", afirma Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). Ainda sobre a medida, Abramovay diz que faltam políticas de convivência escolar, formação de professores e a abertura da escola para os pais. "Eu acho que esse é um péssimo exemplo, é o decreto da falência na educação, que não deu certo."
A SSP afirma ainda que a mudança de comando das escolas é um pedido da população, que deseja mais colégios militares porque eles teriam bons resultados de aprovação em vestibulares.
Entre as dez escolas de Goiás mais bem colocadas no Enem 2012 (Exame Nacional do Ensino Médio), porém, não há nenhuma das militares já existentes. A mais bem colocada é a unidade Vasco dos Reis, que ocupa a 3.289ª posição entre as escolas de todo o país.
Nos colégios militares do Estado, 50% das vagas costumam ser destinadas a filhos de militares e o restante é distribuído entre os interessados por meio de sorteio. Segundo a SSP, os alunos que já estudam nos colégios que serão assumidos pela PM terão a vaga garantida e não vão precisar participar do sorteio.
Escola deve ser espaço de proteção e não de violência, diz pesquisadora
Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Para Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e coordenadora de pesquisas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura), os conflitos são resultado de relações sociais ruins e da falta de diálogo.
Pesquisadora do tema há mais de dez anos, Miriam defende a criação de políticas públicas de prevenção da violência escolar, diagnóstico dos problemas e a formação específica de professores.
"Um bom professor é o que ensina bem a disciplina, mas também que sabe ser amigo, que sabe entender o que é ser jovem". Leia a seguir a entrevista:
VIOLÊNCIA ESCOLAR EM 2013
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- Polícia apreende nove jovens suspeitos de incendiar escola no RS
- Aluna de 16 anos é retirada de sala de aula e morta dentro de escola no RN
- Aluno agride com vassoura docente que proibiu acesso ao Facebook
- Aluna pode ter visão comprometida depois de trote em escola no RS
Aumentaram os casos de violência na escola?
Eu acho que não dá para dizer que aumentou ou não a violência no ensino. Não existe nenhuma pesquisa que abarque todo o Brasil e que faça uma avaliação do que aconteceu nesses últimos dez anos sobre a violência nas escolas. Se você pegar os casos de violência em geral ou de mortalidade dos jovens, a situação é cada ano pior. Então, é óbvio que por um lado a escola recebe essa influência, mas por outro ela também produz violência, que são muito específicas do âmbito escolar.A ciberviolência e a divulgação de vídeos de violência na internet aumentaram a sensação de violência?
Eu acho que é uma questão muito importante e a escola não tem as ferramentas mínimas para poder prevenir esse tipo de violência. A escola é muito centrada em si mesma, no que pensam os adultos. Em segundo lugar, ela não sabe o que acontece na vida desse jovem. Colocar uma coisa na internet é uma forma de exibicionismo e nós vivemos numa sociedade do espetáculo. Isso tem um valor muito grande, principalmente para o jovem.O que motivam os atos de violência na escola hoje em dia?
Brigar, eles sempre brigaram, isso sempre aconteceu. Mas eu acho que estamos vivendo um fenômeno da exacerbação da masculinidade e da cultura da violência. Aparece aquele que é mais violento, que sabe brigar melhor. Eu digo masculinidade, mas é para garotos e garotas. Aí também entra o uso das armas, porque a arma é símbolo de força e de poder.Qual é o principal motivo do conflito entre professores, alunos e diretores?
Eu acho que as relações sociais -- aluno-aluno, aluno-professor e professor-diretor-- estão muito ruins. Ainda acho que as mais complicadas são as relações com os adultos. Isso porque a escola é muito centrada nela mesma e muito pouco do que se propõe é dialogar com os jovens. Eu acho que isso cria um clima muito ruim.Nós estamos fazendo uma pesquisa e percebemos que o professor que os alunos mais gostam coincide com a matéria que eles mais gostam. Ou seja, a relação entre o professor e os jovens ainda é muito importante. Um bom professor é o que ensina bem a disciplina, mas também o que sabe ser amigo, que sabe entender o que é ser jovem.
Por que ocorrem casos de abuso sexual dentro da escola?
A escola não é uma torre de marfim, ela também reproduz as próprias loucuras da nossa sociedade. Eu acho que tem ainda o abuso dos professores e das professoras relacionado à fragilidade do que é ser adolescente. Nós temos uma postura de negação a tudo o que é jovem, no sentido de não ser positivo. Por outro lado, existe admiração, porque são bonitos e estão vivendo coisas que os adultos já viveram, o que causa muito fascínio em muitos professores também. Acho que é uma falta de limite desses professores e professoras e uma falta de autoridade. A escola tinha que ser um local de proteção e não de reprodução dessa violência.Você pesquisa a violência escolar desde o início dos anos 2000. Algo mudou nos últimos dez anos?
Eu acho que muito pouco, infelizmente, porque os tipos de comportamento vêm se repetindo. Nós não temos políticas públicas efetivas, diagnósticos importantes sobre esse tema. Nós não temos formação de professores, o que é fundamental, porque eles não tiveram isso na sua formação.Qual é o papel da escola no combate ao bullying?
Eu acho que a escola tem que prestar atenção no que está acontecendo com ela: como se dão as relações entre os alunos, as relações com os professores, em todos os fenômenos da violência, que são ameaças, a entrada de armas na escola, a homofobia, a violência de gênero... A escola tem que se dar conta disso.Como combater a violência escolar em comunidades em que a violência já faz parte do cotidiano?
Uma escola que está num local de violência não obrigatoriamente é violenta. A escola tem uma violência de fora para dentro, mas tem a violência que ela produz. Então, você pode ter um lugar supertranquilo em que a escola é superviolenta. E vice-versa. A escola tem as suas próprias características, não é uma consequência direta do que acontece fora dela.Não obrigatoriamente a comunidade tem interferência nas relações entre os alunos, no racismo, na homofobia, em como os professores tratam os alunos, porque isso pode ser violência também. Se você tem uma concepção de violência como só a violência dura, que é a entrada de tráfico e de armas nas escolas, então você tem razão, quanto mais a comunidade é violenta mais a escola é violenta. Mas se você tem uma concepção de que violência é uma coisa mais ampla, que existe uma violência simbólica, não obrigatoriamente a comunidade vai fazer com que as relações sociais sejam piores.
Dependendo dos professores, dos alunos, da relação com a família, a escola pode ser um lugar de proteção, independente do bairro ou da comunidade ser violenta ou não.