Um dos líderes da iniciativa, o ex-governador cearense Ciro Gomes diz que o vice Michel Temer é o “capitão do golpe”
Carlos Lupi, Ciro Gomes e Flávio Dino em coletiva de imprensa. Para eles, impeachment é tentativa de golpe
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex- governador do
Ceará Ciro Gomes (PDT) e o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi,
lançaram neste domingo (6) uma nova versão da Rede da Legalidade, contra
o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O anúncio foi feito durante
uma coletiva de imprensa, na sede do governo do Maranhão. A proposta é
similar à iniciativa capitaneada em 1961 por Leonel Brizola, que buscou
organizar uma resistência à primeira tentativa de golpe contra João
Goulart.
Enquanto na década de 1960 a Rede da Legalidade teve o rádio como
principal canal de difusão, a versão moderna da iniciativa vai buscar
apoio principalmente na internet. Uma das estratégias é mobilizar o
público por meio das redes sociais. Pensando nisso, Flávio Dino anunciou
o lançamento da página
Golpe nunca mais
no Facebook. O nome é uma alusão ao projeto “Brasil nunca mais”, que
denunciou os crimes cometidos pela ditadura militar de 1964/1985 contra
os seus opositores políticos. Segundo o governador, o objetivo é
“mostrar o que acontece quando a Constituição não é respeitada”.
Os responsáveis pelo lançamento da frente em defesa do mandato de
Dilma argumentam que o pedido de impeachment não encontra respaldo na
Constituição Federal, pois a presidente não está diretamente envolvida
em crimes de responsabilidade.
“Não há nenhum ato da presidente da
República que atente contra a probidade dela. Mesmo os adversários mais
firmes da presidente não imputam a ela nenhum ato de corrupção”, disse
Flávio Dino. “Não é razoável, ela é uma senhora decente”, completou Ciro
Gomes, que enfrentou o PT nas eleições presidenciais de 2002, mas desde
o primeiro governo Lula tem sido aliado das administrações petistas.(?????N.B)
O governador do Maranhão afirmou que as chamadas “pedaladas fiscais”
praticadas pelo governo Dilma em 2014 não justificam a interrupção do
atual mandato presidencial. Ele também rebate outro argumento utilizado
por aqueles que são favoráveis ao impeachment: a abertura de créditos
suplementares pelo governo em 2015 sem observar o superávit da meta
fiscal do ano.
Para o governador, no momento em que o Congresso Nacional
aprovou a proposta
de revisão da meta fiscal (PLN 5/2015), as supostas irregularidades
foram suprimidas. “Ao aprovar o PLN 5/2015, o Congresso deu uma prova de
que não deseja o impeachment”, avaliou Flávio Dino.
“Temer, o capitão do golpe”
Para Flávio Dino, Ciro Gomes e Lupi, o impeachment de Dilma é uma
tentativa de golpe. Os três se disseram dispostos a promover
mobilizações de massa para reforçar o apoio à manutenção do atual
governo.
“Nós não podemos nos calar, aceitar passivamente uma virada de
mesa antidemocrática. Não podemos aceitar que se rasgue a Constituição,
isso está acima de qualquer governo”, afirmou o governador, que
aproveitou para deixar um recado “para quem não gosta do governo”:
“Quero dizer que as críticas todas são legítimas. O direito à oposição é
legítimo, mas ele não está acima do país. No presidencialismo, não
existe impeachment por gosto”.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi alvo de duras
críticas dos três políticos. “Não vejo legitimidade do presidente
daquela Casa em fazer o impeachment de ninguém. Ele é um homem sob
suspeição”, disse Carlos Lupi, fazendo referência às acusações que
levaram Cunha a responder atualmente a um processo no Conselho de Ética
da Câmara por suposta quebra de decoro parlamentar.
Além disso, o
peemedebista é um dos investigados da
Operação Lava Jato,
em curso no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), suspeito de ter
recebido propinas milionárias do esquema de corrupção descoberto pela
Polícia Federal na Petrobras.
“Não pode ser que esse homem seja
transformado no guardião da Constituição e da lei. É uma inversão
absurda”, completou Lupi.
O presidente do PDT aproveitou a ocasião para anunciar o
pré-lançamento da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República
em 2018. Recém-filiado ao partido, Ciro Gomes ainda terá que enfrentar o senador Cristovam Buarque (DF) na disputa pela indicação da legenda na próxima corrida presidencial.
Em seu pronunciamento, Ciro Gomes também acusou o vice-presidente
Michel Temer de ser o “capitão do golpe”. “O Michel Temer é sócio íntimo
do Eduardo Cunha, colega de partido, eu sei o que estou dizendo”, disse
o ex-governador do Ceará, para quem o PMDB é principal beneficiário da
saída de Dilma, já que os três nomes na linha sucessória da Presidência
da República são do partido: Temer, Cunha e o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava Jato. Para Ciro,
no entanto, Eduardo Cunha age em favor do impeachment por encontrar
respaldo em “setores conservadores e reacionários” do país.
Ciro Gomes também fez críticas à política econômica adotada pela
equipe de Dilma e pediu para que a população se organize em duas frentes
de luta. “De um lado, proteger a democracia. Não tolerar que um grupo
de mafiosos utilizando protocolos formais derrube a democracia no
Brasil”, declarou.
Por outro lado, prosseguiu, é preciso “exigir, pedir,
suplicar para que a presidente Dilma se reconcilie com os valores e os
grupos sociais que lhe deram a vitória”. Trata-se de uma alusão ao que
alguns qualificam como conversão de Dilma a políticas neoliberais,
marcadas pelo arrocho monetário (apoiado principalmente nos elevados
juros) e pela redução dos investimentos públicos, entre outras medidas.