segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Plataforma auxilia na adequação ambiental de propriedades rurais

Produtores rurais de todo o Brasil podem contar com a plataforma WebAmbiente, um sistema de informação interativo e gratuito que auxilia na adequação ambiental da paisagem rural e apoia a implementação de políticas públicas relacionadas ao meio ambiente, como o Programa de Regularização Ambiental (PRA).

Lançado em 2018 pela Embrapa, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério do Meio Ambiente, a plataforma envolve o trabalho de oito unidades de pesquisa, além de universidades e órgãos ambientais, que levantaram informações sobre espécies que ocorrem em cada bioma brasileiro e estratégias de recuperação ambiental.


Reprodução | WebAmbiente

Espécies nativas e orientações de preparo

No sistema, o usuário tem à disposição o Simulador de Recomposição Ambiental que oferece sugestões de estratégias de recomposição e uma lista de espécies para adequação ambiental da propriedade.

Para utilizar o simulador, é necessário apenas fazer um simples cadastro da área. Em seguida, o sistema faz algumas perguntas relacionadas às áreas que deverão ser recompostas (se área de preservação permanente, reserva legal, uso restrito, ou área de uso alternativo do solo), suas características e as de seus solos, e os riscos associados àquela recomposição.

A plataforma fornece uma lista de espécies nativas apropriadas para o plantio, estratégias de recomposição mais adequadas às condições da área e orientações relativas ao preparo inicial do local. Após usar o simulador, é possível baixar ou imprimir o relatório com as sugestões para recomposição.

“As recomendações fornecidas por meio da ferramenta podem ser usadas não apenas como subsídio para a elaboração de projetos visando a recuperação ambiental, mas para beneficiar a adequação das propriedades rurais às determinações do Código Florestal brasileiro”, afirma José Felipe Ribeiro, pesquisador da Embrapa Cerrados.

O sistema fornece um extenso glossário, não só com definições, mas também com explicações aprofundadas sobre diversos assuntos envolvidos, incluindo ilustrações e links para outras fontes. Há também uma seção multimídia na qual o usuário pode buscar por vídeos e publicações.


Reprodução | WebAmbiente

Novas funcionalidades

Além de abrigar o maior banco de dados já produzido no País sobre espécies vegetais nativas (cerca de 780) e de apresentar estratégias de plantio para recomposição ambiental, a plataforma agora conta com a Biblioteca Digital. A nova seção reúne informações sobre experiências, manuais e guias, além de conteúdos multimídia e outras publicações sobre ações de recuperação ambiental já disponíveis.

Na Biblioteca Digital, as experiências se referem a publicações de estudos específicos sobre recuperação de áreas degradadas. Ao fazer uma consulta, o usuário pode realizar a busca de experiências utilizando filtros por bioma, por tipo de área a ser recuperada de acordo com a legislação, por estratégia e por técnica de plantio. No momento, mais de 230 experiências estão disponíveis e podem ser baixadas gratuitamente em arquivos no formato pdf, assim como os manuais e guias técnicos.

A plataforma fornece as espécies vegetais, as estratégias e, agora, acrescentamos um acervo de informações de experiências de grupos de pesquisa que já fizeram plantios usando essas espécies e estratégias”, explica Ribeiro.

A analista da Embrapa Meio Ambiente (SP), Maria de Cléofas Alencar, ressalta que a equipe que trabalha diretamente na alimentação e no planejamento da plataforma convive com grande expectativa sobre a possibilidade de expansão do sistema. “Somente para exemplificar a amplitude, atualmente trabalhamos com 238 experiências de recuperação de áreas degradadas, em diversas estratégias de recomposição florestal, mas há centenas de testes e dissertações que ainda são passíveis de serem inseridas, uma vez que também são experiências”, diz.

Para Cléofas Alencar, ampliar a plataforma aumenta a possibilidade de orientação e sugestão ao produtor quanto aos caminhos a serem seguidos no planejamento da execução da recuperação ambiental das propriedades.



Natasha Olsen
Apaixonada pelo mar e pelo mato (apesar da relação difícil com insetos). Jornalista, com especialização em Comunicação Corporativa, descobriu na Sustentabilidade seu propósito. Estuda Gestão Ambiental e procura descobrir diariamente como nossas escolhas podem construir um mundo melhor para todos.

Técnica permite cultivar jardim urbano sem irrigação

No clima desértico de Sharjah, foi criado um novo modelo de jardim ornamental, urbano e sem água.


Como lidar com a aridez das grandes cidades? É certo que precisa de mais verde, porém como driblar a escassez de água? Quem se responsabiliza pelo cuidado? A falta de manutenção dos jardins verticais no Minhocão, na capital paulista, por exemplo, levaram alguns moradores a pedirem a retirada na Justiça. Um experimento que está sendo realizado em Sharjah, cidade dos Emirados Árabes Unidos, pode servir de inspiração: adaptar técnicas e espécies às condições climáticas.


O clima em Sharjah é desértico quente e seco. A temperatura ultrapassa facilmente os 40°, a mínima não cai mais de 10° e as chuvas são raridade. Em tais condições, como árvores podem sobreviver? A resposta está no próprio deserto. Ao lado de uma escola desativada da cidade, um projeto experimental plantou espécies típicas do deserto. Os cultivos são cercados por bacias de areia de diferentes formas e tamanhos, construídas com solo local e entulhos da escola.

Técnica

Cada bacia forma um microclima perfeito, que otimiza a umidade do ar e a umidade extraída do lençol freático. É uma técnica antiga que garante a não necessidade de irrigação, segundo os idealizadores do projeto – o escritório de arquitetura Cooking Sections, com sede em Londres, e a empresa de engenharia AKT II, também inglesa.
Sharjah
“Ao usar montes de terra ou construções de pedra seca, essas tipologias controlam as variações de vento, umidade e calor para reduzir o estresse hídrico das plantações ou fazer a água condensar naturalmente, afirmaram os co-fundadores da Cooking Sections, Daniel Fernández Pascual e Alon Schwabe, à Dezeen.

Experimento em Sharjah

Batizada de Becoming Xerophile, a instalação usa plantas xerófilas, ou seja, adaptadas aos ambientes muito secos. Para a dupla de arquitetos, o projeto explora maneiras de apreciar as paisagens desérticas, uma vez que consideram as representações ocidentais de tais regiões muito estereotipadas. Geralmente, segundo a descrição do projeto, elas são retratadas como “paisagens mortas ou vazias” e a ideia foi justamente usá-las para trazer vida para a cidade desenvolvendo um novo modelo de jardim ornamental, urbano e sem água.


O modelo foi construído ao lado da Escola Al-Qasimiyah, que serviu como sede principal da primeira edição da Trienal de Arquitetura de Sharjah realizado entre novembro de 2019 a fevereiro de 2020.
Os nove microambientes criados estão equipados com sensores que medem chuva, radiação solar, velocidade e direção do vento, temperatura do ar, umidade relativa, umidade do solo e umidade das folhas. Cada um será monitorado até a próxima trienal em 2022 e o que apresentar melhor desempenho poderá ser replicado em outros locais. “Embora nem todos os experimentos levem a resultados perfeitos, eles sempre fornecem informações valiosas para aplicativos futuros e mais desenvolvidos”, afirmou Adiam Sertzu, do AKT II, à Dezeen.
Fotos: Cooking Sections

Urgência na adoção dos princípios de Ecologia Urbana

, artigo de Carlos Favoreto

Enchente em São Paulo
Enchente em São Paulo (Luiz Paulo Marques de Souza/Creative Commons)
Nos últimos 50 anos, os centros urbanos passaram por um processo de urbanização acelerada e desordenada. Planejamento urbano inadequado e insuficiente e a falta de cuidados mínimos com os impactos ambientais trouxeram problemas severos, que se agravam a cada dia.

Ainda pouco conhecida e menos ainda aplicada, a Ecologia Urbana é a resposta para que os impactos sejam mitigados e, na medida do possível, compensados. Derivada da ecologia tradicional, ela compartilha os mesmos conceitos e visão, apenas que aplicados ao ambiente urbano.

A maior parte da população mundial vive em áreas urbanas e, no Brasil, de acordo com o PNAD 2015, 84,72% dos habitantes moram em áreas urbanas. 

Ecologia urbana é uma área que abrange diversos e importantes temas, como poluição do ar, do solo e da água, drenagem urbana, arborização, mobilidade, uso e ocupação do solo, gerenciamento e redução de riscos ambientais, desastres climáticos, etc
.
Os casos recentes das inundações em BH e SP, demonstram que a expansão territorial destas capitais, não observou os cuidados necessários na preservação das áreas alagáveis e na instalação de sistemas de drenagem eficazes.

Cada vez mais impermeáveis, as cidades não conseguem lidar com chuvas intensas, que sem absorção pelo solo, sobrecarregam as galerias pluviais, terminando por forçar os rios para suas áreas de várzea, que estão impermeabilizadas e ocupadas.

Nas últimas décadas, SP e RJ investiram em piscinões, bombeamento e polderes, visando retardar o escoamento do excesso de água no sistema de drenagem. São sistemas funcionais, mas sua construção, operação e manutenção são caras e complicadas, ao mesmo tempo que as novas obras não conseguem acompanhar o ritmo, velocidade e intensidade das tempestades agravadas pelas mudanças climáticas.

No entanto, ao lado das grandes obras, existem alternativas e técnicas de microdrenagem que podem e devem ser aplicadas em larga escala, contando com o esforço coordenado dos governos, empreendimentos e da própria sociedade.

A substituição do asfalto atualmente utilizado, pelo asfalto drenante e pelo concreto poroso já traria um gigantesco aumento na capacidade de drenagem das bacias em áreas urbanas. No caso da pavimentação, asfalto e concreto poroso, basta imaginar a sua aplicação nos imensos e impermeáveis estacionamentos do shoppings.

O mesmo para as calçadas, que além do concreto poroso, também poderiam utilizar de calçadas verdes, trincheiras e valas drenantes

Aliás, trincheiras drenantes podem ser instaladas, sem grande dificuldade em casas e prédios. Sarjetas drenantes, de acumulação e infiltração, também são soluções relativamente simples e baratas, ao alcance da grande maioria das cidades.

O poder público deve oferecer incentivos para que os edifícios adotem cisternas para captação de água de chuva, para uso onde a água não precisa ser tratada e de telhados verdes. No caso de novos empreendimentos, pelo menos, as cisternas de água de chuva deveriam ser obrigatórias.

A arborização urbana ou, em versão ampliada, o reflorestamento urbano também é relevante, não apenas na redução da poluição do ar e na redução das ilhas de calor, mas também na manutenção da biodiversidade e na drenagem urbana.

Carlos Favoreto – Eng Agrônomo – Diretor Executivo da ECP Environmental Solutions. Pós-graduado em Ciências Ambientais. Prof. dos Cursos de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Gestão Ambiental e Auditoria e Perícia Ambiental

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/02/2020

Urgência na adoção dos princípios de Ecologia Urbana, artigo de Carlos Favoreto, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/02/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/02/20/urgencia-na-adocao-dos-principios-de-ecologia-urbana-artigo-de-carlos-favoreto/.