Em janeiro de 2019, escrevi sobre esse mesmo assunto aqui no Conexão Planeta nesta outra reportagem. Estima-se que, anualmente, 8 bilhões de pintinhos do sexo masculino são mortos no mundo. Eles são “inúteis” para a indústria aviária, por isso, são abatidos, na maioria das vezes, de forma cruel – triturados -, ainda vivos.
Acontece que as fêmeas colocam ovos, mas os machos não. Além disso,
não engordam o suficiente para serem utilizados como carne. Por essa
razão, são descartados. A prática comum no mundo inteiro, inclusive no
Brasil, começou a ser questionada em diversos lugares, pois já existe
uma tecnologia para evitá-la, chamada de sexagem in-ovo.
O método, já em uso na Alemanha, Suíça e França, detecta o sexo dos
embriões, o que permite que esses ovos sejam descartados no início do
desenvolvimento embrionário, de preferência antes dos seis dias de
incubação, pois até esse momento tem-se a garantia que o embrião não tem
a capacidade de sentir dor.
Na França, a proibição da trituração de pintos machos entra em vigor este ano.
Pintinhos machos nascidos na indústria de ovos são considerados inúteis porque não conseguem botar ovos
No Brasil, estimativas apontam que 80 milhões de pintinhos machos
sejam triturados, por ano, em suas primeiras 24 horas de vida. “Os
animais são jogados ainda vivos em grandes trituradores ou sufocados até
em sacos plásticos. É comum encontrar trituradores em mau estado de
conservação, com lâminas que não funcionam corretamente e prolongam
ainda mais o sofrimento dos animais”, afirma Carla Lettieri,
diretora-executiva da Animal Equality Brasil, organização internacional de proteção de animais.
Todavia, já há um Projeto de Lei, o PL 1045,
em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo, que pede a
“proibição do sacrifício de aves através de trituração, eletrocução,
sufocamento e qualquer outro meio cruel para fins de descarte”. O texto
foi apresentado em 2015 pelo então deputado Feliciano Filho, mas até
hoje não foi colocado em votação final.
Segundo o site da Assembleia de São Paulo, em abril do ano passado, o
texto foi encaminhado para a Comissão de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, mas desde então, não houve seguimento na
sua discussão.
Por isso, a Animal Equality Brasil está lançado uma campanha com o objetivo de pressionar os deputados a aprovar o PL.
“É importante que a proibição comece por São Paulo porque o estado é
hoje o maior produtor de ovos do país. Vamos trabalhar para que outros
estados também adotem a legislação”, destaca Carla.
Assim que saem dos ovos, os
pintinhos já possuem capacidade sensorial de perceber o ambiente em que
estão, ou seja, são capazes de entender o que acontece ao seu entorno
O que você pode fazer
A Animal Equality trabalha com a sociedade, governo e empresas para
acabar com a crueldade contra animais criados para alimentação. Se você
gostaria de contribuir com o trabalho da organização, há três formas
super fáceis de ajudar:
– Inscreva-se no Protetores de Animais, um programa de voluntariado on-line, e comece a ajudar os animais agora mesmo, sem precisar sair de casa;
– Faça uma doação mensal
ou pontual. A sua doação é essencial para que a ONG continue
documentando o que acontece com os animais em fazendas e granjas
industriais;
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Em meados de dezembro do ano passado, dois navios carregados com bois
partiram da Espanha com destino a Turquia, onde os animais seriam
desembarcados para o abate halal (técnica que determina que os animais
sejam mortos de acordo com o ritual islâmico). Porém, até hoje eles
continuam confinados nos porões dos navios. Muitos já morreram.
Tudo começou quando os navios Elbeik, com 1.776 cabeças de gado e o
Karim Allah, com 895 bezerros foram impedidos de atracar tanto na
Turquia quanto nos países vizinhos (Líbia, Egito, Tunísia e Chipre), sob
a alegação de que os animais estariam contaminados com a chamada doença
da “língua azul”, que não afeta o ser humano mas pode-se disseminar
entre os bois. Tal alegação foi negada pelo Ministério da Agricultura da
Espanha, garantindo que os animais estavam 100% sadios ao serem
embarcados, conforme informação do blog “Histórias do Mar”.
De acordo com a organização Animal Welfare Foundation, os dois navios
vagaram de porto em porto, tentando desembarcar os bois sobreviventes,
mas o acesso foi sistematicamente negado.
“Só queremos que, ao menos, veterinários possam embarcar e examinar
os animais que estão confinados nos dois navios e fazer a eutanásia dos
que estão sofrendo e que não terão mais condições de sobreviver”, diz a
representante da ONG, a espanhola Maria Boada Saña.
“Estimo que boa parte dos animais já esteja morta, de fome e de sede.
E os que ainda estão vivos estão passando por um verdadeiro inferno nos
porões daqueles navios”, completa Sylvia Barquero, diretora de outra
entidade, a Animal Equality, também da Espanha.
O governo italiano também proibiu o atraque na ilha da Sardenha,
sendo que o comandante do Karim Allah finalmente recebeu autorização da
Espanha para retornar ao porto espanhol de Cartagena. Porém, a posição
espanhola é de que os animais devam ser sacrificados para evitar riscos,
o que é recusado pelos proprietários da “carga”, que continuam a buscar
compradores para os animais em outros países, tornando a situação ainda
dramática e cada vez mais difícil de ser resolvida.
Hoje a Espanha informou que os mais de 850 bois do Karim Allah serão sacrificados amanhã.
Sofrimento e crueldade no Brasil
A exportação de animais vivos para outros países também ocorre nos
portos brasileiros, inclusive, com destino à Turquia. Sempre houve
muitas manifestações contrárias à esta prática – em especial de
ativistas pelos direitos animais.
Esta é uma atividade que, em sua essência, é extremamente cruel. Em
2018, durante uma perícia técnica no navio Nada no Porto de Santos, em
São Paulo, foram feitas imagens chocantes de como eles ficam embarcados e
passam dias e mais dias no mar sem as mínimas condições de higiene e
bem-estar. Na época, houve suspensão da viagem desse navio, dada a
constatação das péssimas condições oferecidas aos animais.
Flagrantes feitos no navio Nada há três anos
O artigo 225 da nossa Constituição Federal incumbe ao poder público
“proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade”.
Não há dúvida que este artigo está sendo reiteradamente desrespeitado
com os diversos embarques de animais vivos que ocorrem nos portos
brasileiros.
É importante lembrar ainda que o Brasil é signatário da “Declaração
Universal dos Direitos dos Animais” (Bruxelas, 1978), que estabelece que
“nenhum animal será submetido a maus-tratos e a atos cruéis”. É
necessário que o judiciário coíba práticas que desrespeitem a
Constituição e a Lei de Crimes Ambientais.
É preciso reconhecer os animais não mais como coisas, mas como
sujeitos de direitos. Conforme já reconhecidos cientificamente, são
considerados seres sencientes. A Declaração de Cambridge sobre a
Consciência em Animais Humanos e Não-Humanos, proclamada em 7 de julho
de 2012, dentre outras constatações, reconheceu que: “(…) Onde quer que
se evoque, no cérebro, comportamentos emocionais instintivos em animais
não-humanos, muitos dos comportamentos subsequentes são consistentes com
estados emocionais conhecidos, incluindo aqueles estados internos que
são recompensadores e punitivos. (…)”.
A sociedade evoluiu suficientemente para reconhecer que, na essência
ética e moral, os animais são sujeitos de direito de acordo com
interesses naturais inerentes à própria natureza e por serem seres
plenamente capazes da consciência e sentimentos – seres sencientes.
Eles têm direitos morais básicos: à vida, à liberdade e à integridade
física e psíquica. Precisamos reconhecer isso e evitar que animais
inocentes, como os desses navios, sejam tratados como meras mercadorias.
Animais que morrem durante a viagem são triturados dentro do navio
Formada
em Direito pela Universidade Braz Cubas, é advogada em São Paulo. Apoia
o ativismo jurídico pelos Direitos Animais e as causas ambientais. Ama
os animais e adora viajar
Os lobos são os maiores membros da família canídeos,
a mesma a que percentem os cães de estimação. No passado, eles foram os
mamíferos terrestres selvagens mais amplamente distribuídos no
Hemisfério Norte. Todavia, quase entraram em extinção porque
sempre foram vistos com uma ameaça. Por isso eram mortos, inclusive,
com o apoio governamental, que incentivou a caça, uso de armadilhas e
envenenamento.
Nos Estados Unidos, desde 1974, os lobos cinzas faziam parte da Lista
de Espécies Ameaçadas Protegidas. Foram retirados entre 2012 e 2014,
até que uma ação judicial de defensores da vida selvagem conseguiu
colocá-los de volta na lista. Até o ano passado, quando o governo do
então presidente Donald Trump derrubou a proteção.
Por esta razão, o estado do Wisconsin decidiu
organizar uma temporada oficial de caça na semana passada, com duração
prevista para uma semana. Entretanto, havia uma cota máxima permitida de
lobos que poderiam ser mortos: 200 no total, sendo 81 deles destinados
aos indígenas da etnia Ojibwe (que geralmente nãos os matam porque os
consideram sagrados).
Todavia, logo após o início da temporada da caça deste ano, que
começou na semana passada, as autoridades mandaram encerrá-la porque em
apenas 60 horas, ou seja, menos de três dias, foram mortos 216 lobos,
superando em mais de 80% o número estipulado pelo Wisconsin Department of Natural Resources de 119.
O departamento recebeu duras críticas de outras entidades por não ter
percebido mais cedo que os números já estavam acima do que o permitido e
acabado com a temporada de “matança” antes.
A maioria dos caçadores utilizou cachorros de caça para poder chegar
até os lobos e matá-los. Foram concedidas 1.547 autorizações nesta
temporada, ou seja, cerca de 13 caçadores por lobo.
Ambientalistas também criticaram que o mês escolhido para a caça foi
justamente fevereiro, época de reprodução da espécie. Não se sabe ainda
se entre os animais mortos havia fêmeas prenhas.
“Esta temporada atropelou os direitos dos tratados das tribos, o
público de Wisconsin e o manejo profissional da vida selvagem”, disse um
porta-voz da Comissão dos Peixes e Vida Selvagem dos Índios dos Grandes
Lagos, em entrevista ao Milwaukee Journal.
“Isso será considerado um exemplo gritante de má gestão e dos problemas
que podem ser esperados quando o Legislativo estadual e os tribunais
adotam grupos de interesses especiais sobre o público como um todo”.
As autoridades locais estimavam que a população de lobos cinzas no
Wisconsin fosse de quase 1.200 indivíduos no final do ano passado. Agora
já são 216 a menos.
“Esta é uma semana profundamente triste e vergonhosa para Wisconsin.
Ela prova que agora, mais do que nunca, os lobos cinzas precisam de
proteções federais restauradas para protegê-los de uma gestão estadual
míope e letal”, afirmou Megan Nicholson, diretora do escritório local da
organização Humane Society dos Estados Unidos.
A última vez que o estado de Wisconsin havia promovido uma temporada de caça oficial havia sido em 2014.
Ativistas dos direitos animais pedem agora que o novo presidente, Joe Biden, reverta a decisão de seu antecessor.
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
Se não bastassem todos os ataques já sofridos pelos animais no Brasil – destruição de habitats, tráfico ilegal, maus-tratos, extinção de espécies e a possível ampliação da chamada Lista PET -, agora surge mais um. O deputado federal Paulo Bengtson (PTB/PA) apresentou um projeto de lei (PL 318/2021) que propõe declarar a criação de animais Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
O parlamentar que advoga pela criação e reprodução
dos animais alega que “a convivência e utilização dos mesmos para os
mais diversos fins foi fundamental para o desenvolvimento da civilização
humana em todos os continentes”. No texto da proposta, Bengston cita
como práticas positivas vaquejadas, rodeios e o uso de bichos em
charretes e carros de boi.
“Causar sofrimento e morte aos animais é algo bom? Certamente que
para os bichos não é. E chamar essa prática de “tradição” torna ela mais
justa? Também não. Mas um deputado federal, agindo em nome dos que
causam toda essa dor, quer que a exploração de animais seja declarada
Patrimônio Cultural Imaterial”, afirma Maurício Varallo, diretor da ONG
Olhar Animal.
Segundo ele, o PL quer garantir interesses pessoais. “Na verdade, ele
e o grupo que representa estão pouco se lixando para a cultura. O que
tramam é usar esta estratégia apenas para proteger as práticas que lhes
rendem muito dinheiro às custas do sofrimento e da morte de animais que
comercializam. Declarar estes abusos como “patrimônio cultural” aumenta a
proteção jurídica a estas atividades, dificultando o combate aos
maus-tratos”, alerta Varallo.
Outras organizações de proteção animal também mostraram seu repúdio e
preocupação com a proposta. Uma delas foi a Ampara Silvestre que usou
suas redes sociais para se manifestar:
“Este projeto abre precedentes para o aumento da exploração
animal que, consequentemente, favorecerá a fábrica de filhotes, o
cárcere de animais, a criação de aves em gaiolas, a exploração de
animais de tração, entre outros absurdos defendidos por aqueles que
comercializam e capitalizam em cima do bem-estar animal…
Quais as consequências se este PL for aprovado e, posteriormente,
seja sancionado como Lei: mais fêmeas não-humanas sendo exploradas e
abusadas para procriação, sejam pets (fábrica de filhotes) ou animais
usados na pecuária, somente para gerar lucro no bolso do agronegócio
que, de pop NÃO tem nada, mais animais escravizados pela tração animal,
mais animais confinados e deprimidos em zoológicos, entre tantos
absurdos e maus-tratos que os animais sofrem diariamente”.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Paulo Bengtson faz parte da chamada “Frente Parlamentar da Agropecuária“.
Ele foi um dos deputados que se opôs ao Projeto de Lei 5949/2013, que
tramita no Congresso e defende a proibição do abate de jumentos e mulas
em todo o país, assim como o de cavalos. Além disso, em 2006, foi
investigado pela Polícia Federal por desvio de verbas destinadas à
compra de ambulâncias e respondou pelos crimes de corrupção passiva,
formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Todavia, as ações foram
arquivadas por causa da prescrição do crime e em função do deputado ter
completado 70 anos.
“Este PL tenta de alguma forma trazer ferramentas que vão favorecer a
criação e a exploração de animais no Brasil. Com este projeto aprovado
ficará muito mais difícil no futuro a sociedade mudar regras ou
estabelecer possíveis proibições nessa área”, diz Maurício Forlani,
gerente de pesquisas da Ampara Silvestre.
Para ele, o texto distorce a realidade. A criação de animais em larga
escala está interessada em produtividade e lucro e não na conservação
de espécies.
“Este PL inclui desde o cachorrinho, aquelas cadelas que chegam a ter
três ou quatro ninhadas por ano e aves que são mantidas em gaiolas para
reprodução, até gado e porcos mantidos em espaços ínfimos, sem
conseguir se mexer. Este é o patrimônio cultural que o brasileiro quer
para sua sociedade? Esta é a pergunta”, questiona Forlani. “A relação
com os animais é linda, mas o que está neste projeto é um sistema
comercial e não uma relação positiva que o homem pode ter com os
animais”.
Se você também é contra o PL 318 e acha que exploração de animais não
poder ser “patrimônio cultural” do nosso país, participe da enquete
promovida no site da Câmara Federal votando “DISCORDO TOTALMENTE”.
Para
votar é preciso cadastrar seu e-mail ou acessar usando sua conta de
Facebook (que pode ser feito rapidamente). É fundamental você VOTAR NA
ENQUETE, pois até agora os animais estão sendo DERROTADOS!
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
No ano passado, as águas do Rio Araguaia viram a população de
tartarugas-da-amazônia ultrapassar a marca de 100 mil nascimentos. O
aumento já vinha sendo registrado nos últimos quatro anos: em 2017 foram
40 mil, no ano seguinte 76 mil e em 2019 96 mil. Em 2020, porém, o Programa Quelônios da Amazônia (PQA),
projeto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), detectou pela primeira vez a presença de
120 mil novos filhotes.
Na Amazônia podem ser observadas 18 espécies de quelônios, entre
aquáticas, semiaquáticas e terrestres. Especialistas afirmam ainda que
há pelo menos outras cinco, ainda em processo de descrição pela ciência.
Só no estado do Tocantins ocorrem onze dessas espécies, sendo as mais
populares a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), o tracajá (Podocnemis unifilis) e os jabutis (Chelonoidis denticulatus e C. carbonarius).
Por ser a maior em tamanho entre todas — seu casco pode medir até
mais de 1 metro —, a tartaruga-da-amazônia é a mais conhecida pelos
moradores da região. E já foi também uma das espécies mais visadas entre
os caçadores em razão de sua carne e sua gordura, esta utilizada como
óleo para a iluminação.
Historiadores relatam um verdadeiro “massacre” da Podocnemis expansa em
séculos passados. Estima-se que entre 1700 e 1903 214 milhões de ovos
tenham sido coletados e enviados à Europa para atender à demanda por
energia naquele continente. A espécie é um alvo fácil para a captura,
uma vez que costuma desovar em praias, onde fica bastante exposta e
vulnerável.
A tartaruga-da-amazônia é a espécie de maior tamanho entre os quelônios da região amazônica (Foto: Whaldener Endo/Wikimedia Commons)
Apesar das ameaças do passado, o trabalho do Quelônios da Amazônia
tem garantido excelentes resultados. “O PQA é o maior projeto de
conservação animal do Brasil. Existe há 40 anos e atua em vários estados
do Norte. Em Tocantins, o projeto está sendo realizado no Rio Araguaia,
próximo ao município de Caseara, no Parque Estadual do Cantão, uma área
de preservação permanente”, revela Wilson Rufino Dias Júnior,
coordenador do programa.
O PQA inicia seu trabalho de monitoramento dos ninhos dos quelônios
em meados de setembro. É nesse mês que as fêmeas começam a desovar. A
espécie desova uma vez por ano; em média, cada ninho contém 100 ovos. A
partir daí, são aproximadamente 60 dias de incubação, até que nasçam os
filhotes em novembro e dezembro.
Durante todo esse período, as equipes do projeto monitoram as praias
que são pontos de desova, sinalizando os ninhos com estacas numeradas.
Quando chega a hora dos nascimenos, ajudam as tartaruguinhas a chegarem
ao rio.
Pesquisador do Programa Quelônios da Amazônia analisando um filhote de tartaruga recém-nascido (Foto: PQA/divulgação)
Impacto das queimadas
Desde 2018, a Praia da Onça era um dos locais de desova das
tartarugas-da-amazônia no Parque Estadual do Cantão. No entanto, em
2020, apesar de terem apresentado o mesmo comportamento de ficarem
boiando na frente desta localidade, elas acabaram colocando seus ovos em
outra praia, chamada de Abrãaozinho.
“A hipótese é que elas tenham mudado de lugar por causa dos efeitos
causados pelo fogo. Houve uma queimada muito grande próximo à Praia da
Onça e isso pode ter alterado o padrão reprodutivo. As tartarugas
buscaram um local onde se sentiram mais seguras”, diz o engenheiro
ambiental Thiago Portelinha, pesquisador da Universidade Federal do
Tocantins, uma das parceiras do Projeto Quelônios da Amazônia.
Ele explica que as tartarugas-da-amazônia preferem desovar em praias
altas, de areia branca, em áreas com menos perturbações humanas.
Entretanto, assim como em 2019, a região amazônica enfrentou muitos
incêndios no ano passado. De acordo com dados do Instituto do Homem e do
Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), entre janeiro e outubro de 2020
foram destruídos 6.920 km² de área verde no bioma, 23% a mais que no
mesmo período do ano anterior.
“As tartarugas têm preferência pela noite porque ficam mais
camufladas. Provavelmente a queimada na área próxima causou mesmo a
mudança. Possivelmente a quantidade de luz fez com que as fêmeas se
sentissem muito expostas aos predadores e procurassem outro local de
desova”, concorda a engenheira ambiental Maria Augusta Agostini,
pesquisadora do Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (Cequa),
outro parceiro do PQA.
Outra alteração observada no comportamento desses quelônios de
Tocantins foi a profundidade dos ninhos, que na Praia de Abrãaozinho
estavam mais fundos — tanto que os colaboradores do projeto tiveram
maior dificuldade em encontrá-los no momento da soltura dos filhotes.
Não se sabe ainda exatamente a razão pela qual houve essa mudança, mas
há preocupação caso esse padrão seja repetido no futuro.
“Covas mais fundas significam que os filhotes podem passar mais tempo
no ninho e que com isso fiquem mais sujeitos aos ataques de
predadores”, afirma Maria Augusta.
E não é só. Existem trabalhos que comprovam que o diâmetro do grão de
areia influencia na temperatura do ninho. “Temperaturas mais altas
produzem um maior número de fêmeas em relação ao total. Portanto, se
esse comportamento continuar, pode ser que com o passar dos anos a
população de tartarugas do Rio Araguaia tenha mais fêmeas, podendo
influenciar na variabilidade genética da região”, afirma Wilson Júnior.
“Além disso, no rio Araguaia existe o problema de ‘repiquetes’”,
continua o coordenador do PQA. “Ou seja, o aumento repentino no volume
das águas devido a chuvas na cabeceira do rio e seus afluentes, causando
o alagamento dos ninhos. Isso faz com que a areia fique compactada,
impossibilitando a saída dos filhotes do ninho”.
Tão logo saem dos ovos enterrados na areia da praia, os filhotes de tartaruga-da-amazônia buscam o caminho do rio (Foto: Luiz Baptista/Ibama)
Monitoramento das tartarugas
Uma curiosidade observada na desova de 2020 foi a descoberta de
alguns filhotes albinos. Essa condição genética rara ocorre quando
indivíduos com certo grau de parentesco cruzam. Embora a probabilidade
de um quelônio nascer com albinismo é de uma em 2 milhões, o sistema e o
comportamento reprodutivo da tartaruga-da-amazônia favorecem essa
condição, tornando o albinismo não tão incomum para a espécie.
“Filhotes albinos já foram verificados em alguns ninhos em outros
anos em Tocantins, mas a frequência desta ocorrência precisa ser
monitorada. O aumento no número de filhotes albinos pode indicar que a
população está diminuindo tanto que indivíduos aparentados estão se
relacionando”, ressalta Wilson Júnior.
Filhote albino de tartaruga-da-amazônia (Foto: PQA/divulgação)
O monitoramento constante da espécie é tão importante quanto seu
papel no ecossistema amazônico. Além de ser alimento para outros
animais, como onças e jacarés, através de suas fezes a Podocnemis expansa faz
o trabalho de dispersão de sementes na floresta, e também ajuda na
manutenção da qualidade da água. “Ademais, essa espécie representa uma
grande importância socioeconômica para as populações tradicionais,
principalmente indígenas e ribeirinhas, podendo ser a sua principal
fonte de proteína animal”, destaca Thiago Portelinha.
Outra questão que merece a atenção é em relação a um projeto do governo federal para a ampliação da Hidrovia Araguaia-Tocantins,
de modo a permitir o transporte rápido de soja e minérios para a China e
a Europa. Os planos envolvem a escavação e dragagem de milhões de
metros cúbicos de rochas e areia.
“Qualquer mudança no ambiente natural deve ser realizada com muita
cautela”, alerta Wilson Júnior. “Existem trabalhos genéticos de
tartarugas e tracajás na bacia Araguaia-Tocantins que comprovam que as
características dos rios, que chamamos de barreiras naturais, impedem ou
diminuem a migração de indivíduos. Isso faz com que existam populações
diferentes de quelônios da mesma espécie. Sendo assim, a modificação
dessas barreiras pode alterar a dinâmica populacional, ou seja,
indivíduos que estavam adaptados a um local terão que conviver com
animais adaptados a outro, e não há como saber como a natureza
responderá”, alerta Wilson Júnior.
Ele lembra ainda que a maioria das alterações antrópicas vem com
aumento de habitantes. “É quase certeza que haverá uma diminuição no
número de quelônios, tanto por causa das alterações do habitat, quanto
pelo consumo dos humanos para alimentação, o impacto mais significativo
para as espécies de tartarugas”, lamenta.
Agência
de notícias sem fins lucrativos que visa aumentar o interesse e a
valorização de terras e animais selvagens, ao examinar o impacto das
tendências emergentes no clima, na tecnologia, na economia e nas
finanças em conservação e desenvolvimento. Seu objetivo é inspirar,
educar e informar
Crise Climática é uma das principais ameaças em Relatório Global de Riscos 2021
Por Taís Meireles
Em meio à pandemia de Covid-19 e à crise socioeconômica que já afeta
todos nós, infelizmente, não podemos ignorar outro problema grave que
impacta o mundo todo: a crise climática.
Causada pela emissão excessiva de Gases de Efeito Estufa (GEE), como o
dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), em atividades como o
desmatamento, a queima de combustíveis fósseis em transportes ou para a
geração de energia (como petróleo, carvão mineral e gás natural), e em
práticas insustentáveis em agricultura e pecuária, a crise climática já é
uma realidade para a população mundial.
Segundo o relatório global de riscos 2021 do Fórum Econômico Mundial,
lançado em 19/1/21, as mudanças climáticas estão entre os principais
riscos à humanidade. Na projeção da organização para a próxima década, o
fracasso da ação climática e outros riscos ambientais estão à frente de
armas de destruição em massa e de crises de subsistência e de débito,
perdendo apenas para doenças infecciosas.
O impacto ambiental causado pela humanidade também aparece no relatório
como um dos riscos mais iminentes, ou seja, mais prováveis de nos afetar
diretamente nos próximos dois anos.
Cuidar do nosso planeta nunca foi tão urgente!
Por anos temos ignorado essa crise silenciosa, que destrói nossa
biodiversidade, mas a crise global do coronavírus serve como alerta para
os riscos que a nossa relação desequilibrada com a natureza pode
causar.
Não podemos arriscar outra década prejudicial para a natureza. Não
apenas pela conservação das nossas florestas e da vida selvagem, mas
pela nossa própria sobrevivência. Em 2021 é o momento, mais do que
nunca, em que precisamos mudar a rota.
“Vale lembrar que as doenças infecciosas emergentes e as mudanças
climáticas têm um fator importante em comum: a mudança no uso da terra,
ou desmatamento. Então de certa forma, evitar a crise climática também é
evitar que soframos com novas zoonoses”, comenta Mariana Napolitano,
gerente de ciências do WWF-Brasil.
Alexandre Prado, diretor de Economia Verde do WWF-Brasil, complementa:
“A transição para uma economia mais justa e equilibrada em sua relação
com o meio ambiente não pode mais ser adiada. Precisamos nos unir como
sociedade, cobrar de nossos governantes e empresas, cada um fazer a sua
parte”.
Afinal de contas, se a natureza não tiver futuro, nós também não teremos. Doe e apoie nosso trabalho de conservação da vida: doe.wwf.org.br
STF julgará ação contra o decreto que reduziu participação da sociedade no Conama
04 março 2021
Julgamento, que terá início na sexta-feira (5), poderá restituir ao
principal órgão normativo ambiental do país a pluralidade e a capacidade
técnica comprometidas por um decreto Federal
Por WWF-Brasil
O STF (Supremo Tribunal Federal) terá uma grande oportunidade para
defender a democracia e o Meio Ambiente, a partir da próxima sexta-feira
(5), quando terá início o julgamento de uma ação que questiona a
redução da participação da sociedade civil no Conama (Conselho Nacional
do Meio Ambiente), operada pelo Governo Federal.
A ação (ADPF 623),
da qual o WWF-Brasil participa em parceria com um conjunto de
organizações, contesta o Decreto Federal nº 9.806/2019, que alterou a
composição e o funcionamento do Conama, comprometendo a participação
efetiva da sociedade civil no Conselho e impedindo o adequado
funcionamento do colegiado, em prejuízo de deliberações técnicas sobre o
meio ambiente.
O decreto viola o princípio democrático, o direito de participação na
formulação de políticas públicas, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e a proibição de retrocessos institucionais e
socioambientais.
O caso foi levado ao STF pela Procuradoria-Geral da República, que pediu
para o Tribunal anular as alterações promovidas pelo governo, que na
prática reduziram o número e modificaram a forma de seleção das ONGs que
participam do colegiado.
Essa ADPF é estratégica, porque o Conama é o principal órgão normativo
ambiental do país e seu absoluto controle por parte do Ministério do
Meio Ambiente, sem necessidade de diálogo ou composição de interesses
-que se tornou possível após as modificações-, pode transformá-lo em dos
principais instrumentos para "passar a boiada", ou seja, para regredir
na legislação de proteção ambiental, como ficou evidente no caso em que
foi retirada proteção às restingas, amplamente divulgado pela imprensa.
Com o decreto em vigência, o Conama perdeu sua capacidade técnica para
produzir novas regras, para atualizar as regras antigas e para enfrentar
os desafios contemporâneos no campo do Meio Ambiente. Por isso, o STF
terá diante de si, no fim desta semana, a oportunidade de defender a
democracia e o Meio Ambiente, mantendo o Conama como um órgão plural e
técnico.
Menos espaço cívico = menos proteção ambiental
O decreto Federal reduziu de forma desproporcional o número de
conselheiros, concentrando poderes decisórios no Executivo federal e
retirando poder de voto das organizações não-empresariais e dos estados
federados; extinguiu a representação de instituições científicas, povos
indígenas e tradicionais e trabalhadores rurais e urbanos; alterou o
critério de seleção dos representantes ambientalistas, que deixaram de
ser eleitos e passaram a ser escolhidos por sorteio, prejudicando
gravemente a legitimidade e a capacidade técnica dos conselheiros da
sociedade civil. O sorteio também passou a ser o critério para a seleção
dos representantes dos entes federativos e das entidades empresariais.
Com o diminuto número de conselheiros, também foi reduzido o número de
Câmaras Técnicas. Cada uma delas passou a tratar de uma pluralidade de
temas, perdendo o grau de especialização institucional que garantia a
qualidade técnica de sua deliberação.
Assim, o Conama, que era um colegiado de caráter nacional, altamente
especializado e com ampla abertura democrática para a participação da
sociedade civil, tornou-se, na prática, um órgão de governo, que formula
políticas públicas com base, unicamente, na vontade discricionária das
autoridades políticas da ocasião.
Reverter as alterações feitas no Conama e impedir essa redução do espaço
cívico no âmbito do Conselho é fundamental para a democracia e para o
meio ambiente. No passado, aspectos fundamentais para a gestão do meio
ambiente foram disciplinados pelo Conselho, com altíssimo rigor técnico e
pioneirismo. É o caso, por exemplo, da avaliação de impacto e do
licenciamento ambiental, as normas essenciais para a qualidade do ar nas
grandes cidades, a logística reversa de resíduos sólidos e o sistema
normativo de proteção da Mata Atlântica, bioma mais ameaçado do Brasil.
O julgamento terá início no plenário virtual do STF a partir desta
sexta-feira (5), com a Ministra relatora, Rosa Weber, disponibilizando
seu voto na internet. Depois disso, os demais Ministros terão cinco dias
úteis para votar e, portanto, o julgamento se encerrará na sexta-feira
(12).
Indígenas da Amazônia processam Grupo Casino na justiça francesa
Povos indígenas da Amazônia brasileira e colombiana e ONGs da França
e dos EUA abriram nesta quarta-feira (3/3) uma ação no tribunal de
Saint-Etienne contra o gigante varejista mundial Grupo Casino por vender
produtos de carne bovina ligados ao desmatamento e ao garimpo de
terras.
Por Cinthia Leone, ClimaInfo
A ação foi detalhada em coletiva de imprensa realizada na manhã de
hoje e, segundo os autores, o processo busca reparações por violações
sistemáticas de direitos humanos e de leis ambientais nas cadeias de
fornecimento do Grupo Casino no Brasil e na Colômbia durante um longo
período de tempo.
Esta é a primeira vez que uma cadeia de supermercados é levada à
justiça por desmatamento e violações dos direitos humanos sob a lei
francesa de due diligence adotada em março de 2017 (“loi sur le devoir
de vigilance” em francês). Grupos indígenas reclamam indenização por
danos causados às suas terras tradicionais e pelo impacto em seus meios
de subsistência.
De acordo com as evidências compiladas e analisadas pelo Centro de
Análise de Crimes Climáticos (CCCA) para este caso, o Grupo Casino
comprou regularmente carne bovina de três abatedouros de propriedade da
empresa JBS. Os três abatedouros abasteceram gado de 592 fornecedores
responsáveis por pelo menos 50 mil hectares de desmatamento entre 2008 e
2020. A área desmatada é cinco vezes maior do que a cidade de Paris.
Segundo os autores da ação, as provas apresentadas nesta ação
judicial também mostram violações dos direitos indígenas. Em um dos
casos documentados, as terras tradicionais do povo Uru Eu Wau Wau, no
estado de Rondônia, foram invadidas por fazendas de gado que forneciam
carne bovina ao supermercado Pão de Açúcar do Grupo Casino.
Os autores do processo são a Coordenação das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (COIAB), a Organização Nacional dos Povos
Indígenas da Amazônia Colombiana (OPIAC), a Federação dos Povos
Indígenas do Pará (FEPIPA), a Federação dos Povos e Organizações
Indígenas do Mato Grosso (FEPOIMT), a Comissão Pastoral da Terra (CPT),
Canopée, Envol Vert, FNE, Mighty Earth, Notre Affaire à Tous e Sherpa.
“Com esse processo, esperamos que a empresa arque com as
consequências em relação a esses impactos e, de alguma maneira, tente
amenizar a situação colocada dentro das Terras Indígenas”, afirma a
assessora jurídica da COIAB Cristiane Baré, do povo Baré.
“A pecuária e as monoculturas estão colocando nossas vidas em risco e
causando a extinção física dos povos indígenas”, afirma Fany Kuiru
Castro, do povo Uitoto da Colômbia e diretora da OPIAC. “Portanto, essa
ação judicial tem todo o respaldo e apoio da nossa organização.”
Sem compromisso
As operações do Casino na América do Sul respondem por quase metade
(47%) das receitas globais do grupo. Apesar dos vários relatórios
ligando os produtos do Grupo Casino a desmatamento e grilagem de terras,
a empresa não se comprometeu a vender apenas carne com desmatamento
zero em suas lojas Pão de Açúcar, Casino ou Éxito. E a despeito do
crescente corpo de evidências ligando a maior empresa de carne bovina do
mundo, a JBS, ao desmatamento e até mesmo ao trabalho escravo, o Grupo
Casino continua comprando da JBS.
A empresa escreveu aos demandantes que “devido ao baixo número de
relatórios que citam o gado como fator de desmatamento na Colômbia”, o
Casino não considera relevante incluir o país no escopo de seu plano de
vigilância. No entanto, a Colômbia apresenta uma das maiores taxas de
desmatamento do mundo, sendo o gado o principal causador de acordo com
dados oficiais. A pecuária também é o principal vetor do desmatamento na
América do Sul, principalmente no Brasil.
“Em 2021, em um mundo onde tecnicamente podemos rastrear e monitorar
tudo, um grupo internacional chamado Casino, que teve um grande
crescimento na América do Sul nos últimos anos, não consegue eliminar o
desmatamento de toda a sua cadeia de abastecimento. Isso é
inaceitável!”, afirmou Boris Patentreger, co-fundador do Envol Vert.
“O Casino não é o único varejista responsável, todos eles têm o poder
de mudar as coisas”, ressalta Klervi Le Guenic, ativista da Canopée. “O
Carrefour é um dos maiores varejistas do Brasil e também está
particularmente exposto a riscos de desmatamento. Eles têm que abandonar
as empresas de carne ligadas à destruição da Amazônia.”
Sobre os autores do processo:
COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira), fundada em 19 de abril de 1989, é a maior organização
indígena regional do Brasil, que surgiu por iniciativa de lideranças de
organizações indígenas. A missão da COIAB é defender os direitos dos
povos indígenas à terra, saúde, educação, cultura e sustentabilidade,
levando em consideração a diversidade dos povos e buscando sua autonomia
por meio da articulação política e do fortalecimento das organizações
indígenas.
OPIAC (Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia
Colombiana) é a organização indígena colombiana dos povos indígenas da
Amazônia colombiana perante instituições nacionais e internacionais. Seu
principal objetivo é garantir que todos os direitos coletivos e
individuais de seus membros sejam respeitados e reconhecidos por todos
os atores localizados na região amazônica colombiana.
FEPIPA (Federação dos Povos Indígenas do Pará) fundada em abril de
2016, é uma organização indígena criada para promover o bem-estar
social, político, econômico e cultural e os direitos humanos dos povos
indígenas. Seu objetivo é defender e discutir os interesses coletivos
dos povos e comunidades indígenas do Estado do Pará, promovendo sua
organização social, cultural, econômica e política, fortalecendo sua
autonomia.
FEPOIMT (Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso), criada em
junho de 2016, nasceu da necessidade de união para ação e articulação
política, voltada para a organização social, cultural, econômica e o
desenvolvimento sustentável e político dos povos e organizações
indígenas de Mato Grosso. Seus principais desafios são a garantia e
regularização fundiária, a gestão ambiental, a proteção do território e a
luta pelos direitos indígenas.
CPT (Comissão Pastoral da Terra) faz parte das Comissões Pastorais da
Conferência Episcopal do Brasil. Foi criada para defender os camponeses
e garantir uma presença solidária e fraterna entre as populações
rurais. Presente em muitas dioceses, está comprometida com a questão
crucial da partilha da terra e contra a destruição do meio ambiente.
Envol Vert atua pela preservação de florestas e biodiversidade na
América Latina (principalmente Colômbia e Peru) e na França. Desde 2011,
desenvolve projetos de campo concretos e eficazes que incluem o
reflorestamento de áreas degradadas, o desenvolvimento de sistemas
agroflorestais e alternativas à extração ilegal de madeira como
ecoturismo, desenvolvimento de reservas naturais, conservação e
reintrodução de espécies. A Envol Vert também realiza campanhas de
comunicação e ações de conscientização para estimular empresas e
cidadãos a mudar seus padrões de produção e consumo.
Mighty Earth é uma organização de campanha ambiental global que
trabalha para proteger as florestas, conservar os oceanos e lidar com as
mudanças climáticas. Trabalha para impulsionar ações em larga escala
para uma agricultura ambientalmente responsável que proteja os
ecossistemas nativos, a vida selvagem e a água, e respeite os direitos
da comunidade local. Nossas campanhas e nossa equipe têm desempenhado um
papel de liderança em persuadir as maiores empresas de alimentos e
agricultura do mundo a adotar políticas para eliminar o desmatamento e o
abuso dos direitos humanos de suas cadeias de abastecimento e
impulsionar a adoção de mudanças de bilhões de dólares para energia
limpa.
Notre Affaire à Tous é uma associação que trabalha para proteger a
vida, os bens comuns naturais e o clima por meio do uso da lei. Vindos
do movimento pelo reconhecimento do crime de ecocídio no direito
internacional para punir os crimes mais graves contra o meio ambiente e
na origem do “Caso do Século”, os membros do Notre Affaire à Tous se
posicionam como ” defensores do planeta “, buscando estabelecer por meio
da jurisprudência, da advocacia e da mobilização cidadã uma
responsabilidade efetiva e objetiva do ser humano com o meio ambiente.
Seattle Avocats é um escritório de advocacia especializado em
questões de responsabilidade corporativa por violações de direitos
humanos e ambientais. Sébastien Mabile e o François de Cambiaire
representam ONGs e comunidades no âmbito das primeiras ações intentadas
com base na lei sobre o dever de vigilância das empresas, em particular
contra a Total e contra o grupo de transportes XPO Logistics, e são
interessados, em particular, nos debates em curso a nível internacional e
europeu sobre a responsabilidade social e penal das multinacionais. No
que diz respeito a danos particularmente graves ao meio ambiente, com
consequências igualmente graves para os direitos das populações
indígenas, o escritório de advocacia Seattle Avocats oferece seu apoio e
experiência à coalizão internacional de associações que convocam o
grupo Casino a aguardar. cumprir a lei sobre o dever de vigilância.
Sherpa é uma associação criada em 2001 que tem como missão combater
as novas formas de impunidade vinculadas à globalização e defender as
comunidades vítimas de crimes econômicos. Sherpa trabalha para colocar a
lei a serviço de uma globalização mais justa. A ação da associação é
baseada em quatro ferramentas interdependentes: pesquisa, litígio,
advocacia e capacitação. Essas ações são realizadas por uma equipe de
juristas e advogados. As atividades de Sherpa ajudaram a compensar
comunidades afetadas por crimes econômicos e contribuíram para decisões
judiciais históricas contra empresas multinacionais e políticas
legislativas inovadoras.
Canopée Forets Vivantes é uma nova organização fundada em 2018 que
surge da necessidade crítica de construir um contrapoder cidadão para
melhor proteger as florestas na França e no mundo. Somos uma associação
de sinos que relata as ameaças às florestas. Não apenas relatamos, o que
queremos é atuar na raiz dos problemas, produzindo uma contra-expertise
de qualidade e trazendo-a para o espaço público. Canopée é membro da
Friends of the Earth e do grupo SOS Forêt.
France Nature Environnement é a federação francesa de organizações
voluntárias para a preservação da natureza e proteção ambiental.
Reunimos 3.500 ONGs francesas, em 53 organizações no continente francês e
em territórios ultramarinos. Desde 1968, lutamos pela transição
ecológica liderando a mobilização dos cidadãos. Conscientizamos o
público por meio da educação ambiental. Estamos constantemente nos
empenhando para aprimorar a legislação ambiental. Contribuímos
regularmente para as políticas públicas francesas e europeias para
melhores regulamentações ambientais. Por meio de denúncias, garantimos
que eles realmente sejam cumpridos.
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O porco pigmeu ainda está em perigo, mas um programa de reintrodução
em Assam, Índia, deu a ele uma chance maior de sobrevivência.
O porco-pigmeu marrom acinzentado (Porcula salvania), com seu cabelo ralo e um corpo aerodinâmico que é quase do tamanho de um gato, é o menor porco selvagem do mundo, e também um dos mais raros, aparecendo na lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) como ameaçados de extinção.
Nomeados após serem encontrados pela primeira vez em pastagens de
sal, eles prosperaram nas planícies exuberantes do sub Himalaia, do
Nepal a Uttar Pradesh. Mas hoje, estima-se que haja menos de 300 na natureza, em Assam, Índia.
O habitat do porco pigmeu está cada vez mais sob pressão da invasão humana, do sobrepastoreio e do desmatamento para a agricultura. “O porco pigmeu é o primeiro a desaparecer quando o habitat muda, ao contrário de seu primo, o javali,
que se adapta bem às mudanças em seu ambiente”, diz o Dr. Goutam
Narayan, consultor de projeto do Programa de Conservação do Porco Pigmeu
(PHCP, sigla em inglês).
“Embora tenhamos a tendência de
nos concentrar na conservação de habitats para grandes animais icônicos
como o rinoceronte, pequenos animais como o porco pigmeu são ótimos
barômetros de habitat, e devemos gerenciar melhor esses animais
eco-sensíveis. Eles chamam nossa atenção para mudanças ainda mínimas nas
pastagens, muito antes das espécies maiores ”, acrescenta.
Na década de 1960, acreditava-se que o porco pigmeu estava extinto,
antes de ser “redescoberto” por um gerente de propriedade de chá em
1971. As primeiras tentativas de introduzir a reprodução em cativeiro
falharam até 1995, quando o PHCP foi estabelecido pelo Durrell Wildlife
Conservation Trust, o Grupo de Especialistas em Porcos Selvagens da
IUCN, departamento florestal de Assam e ministério do meio ambiente da
Índia.
A organização estabeleceu um programa de criação em cativeiro com o objetivo de reintroduzir os animais na natureza.
“A reprodução em cativeiro bem-sucedida, começou com seis porcos
capturados na reserva de Manas em Assam”, diz Parag Deka, diretor do
projeto do PHCP, um cientista veterinário que ingressou no programa em
1997 como estagiário. “A reintrodução dos porcos em cativeiro na
natureza começou em 2008, com 16 porcos pigmeus soltos no santuário de
vida selvagem Sonai Rupai”, acrescenta.
Na sede do PHCP de Assam, em Basistha, os animais são criados e eventualmente soltos nos santuários de vida selvagem
de Orang, Sonai-Rupai e Bornadi. Antes de serem soltos na natureza, os
porcos são mantidos em instalações especiais por cinco meses.
“O Durrell Wildlife Conservation Trust tem experiência em trazer de
volta várias espécies à beira da extinção, como a Marreca-Malgaxe de
Madagascar e o morcego frugívoro Rodrigues, e métodos sofisticados de
reprodução em cativeiro são seguidos, aprendendo com as espécies e
atendendo às suas necessidades na natureza.” diz Deka.
“Garantimos que os porcos pigmeus
vivam com o mínimo de contato humano, que sua dieta suplementar seja
reduzida para 15% e eles aprendam a forragear e construir relações
sociais com outros suínos, antes de serem soltos na natureza. São
liberados cerca de 12 suínos por ano. ”
Um onívoro que se alimenta de tubérculos, frutas, grama, insetos, ovos e pequenos répteis, o porco pigmeu é um dos poucos mamíferos no mundo que realmente constrói uma casa – uma depressão rasa na terra forrada com vegetação e até mesmo um telhado de galhos.
Uma vez reintroduzido na natureza, no entanto, rastrear os porcos não
é uma tarefa fácil. “Eles são criaturas extremamente tímidas e
evasivas, sendo quase impossível avistá-los durante o trabalho de
campo”, diz Narayan.
“Com a ajuda de armadilhas
fotográficas, além de visualizar seus excrementos e pegadas, conseguimos
rastrear os porcos e as evidências de reprodução”, acrescenta Deka.
“Fizemos várias tentativas para desenvolver melhores sistemas de
rastreamento e agora usamos um implante do tamanho de uma moeda.”
As pastagens que são seu habitat protegem as terras florestais das
inundações e fornecem forragem para o gado. “Trabalhamos com as
comunidades locais e o departamento florestal no manejo adequado das
pastagens, restringindo o sobrepastoreio e sugerindo alternativas para a
queima de todas as pastagens”, diz Deka.
“A queima de pastagens para
estimular o crescimento fresco durante a estação seca é a maior ameaça
para os porcos pigmeus, pois eles precisam de uma cobertura espessa e
constroem ninhos de grama ao longo do ano”.
O objetivo do PHCP, diz Deka, é que até 2025, no 100º aniversário do nascimento do naturalista britânico Gerald Durrell, “o ecossistema seja restaurado e o porco pigmeu possa prosperar mais uma vez nessas pastagens”.
“O propósito da minha vida tem sido trazer de volta esta espécie à beira da extinção”, acrescenta.
O PHCP está otimista de que a meta será alcançada, mas, diz Narayan:
“Embora tenhamos esses marcos a atingir, também precisamos estar cientes
das várias restrições – questões sociais e pessoais que estão
interligadas com a conservação do porco pigmeu , da invasão ao apoio aos
meios de subsistência locais.
“Nossa tentativa é sensibilizar a comunidade para a conservação
desses últimos bolsões de pastagem remanescentes, que são habitats
importantes não apenas para os porcos pigmeus, mas para muitos outros
animais e pássaros.”