Tênis da Osklen e bonés da John John: eis os fuzis dos revolucionários de Maria Rita Kehl
Os
playboys vermelhos do Complexo Pucusp e da imprensa acabaram com o
barato da meninada. O rolezinho nunca mais será o mesmo. Era para fazer
umas fotos, beijar na boca, botar depois no Instagram, causar… Mas a
Maria Rita Kehl não quer que seja assim. A psicanalista de esquerda
(isso é possível? Se um analisando mostra tendências de direita ela faz o
quê? Tira o cara do divã a pontapés ou exorciza?), percebi por uma
declaração sua à Folha, acha que pobre em shopping está reivindicando.
Declarou o seguinte:
“Toda inclusão econômica
exige, em um segundo momento, o reconhecimento da pertença a uma nova
classe social. Claro que os jovens da periferia não pertencem a essa
classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela. E muitos
deles hoje podem comprar algumas mercadorias que estão ali. A
performance dos rolezinhos funciona como denúncia da discriminação, mas
não sei se eles fazem isso conscientemente ou apenas movidos pelo
mal-estar de saber que não são bem-vindos nos templos do consumo de uma
sociedade que, até o momento, só promoveu inclusão via consumo — e não
via cultura, acesso a serviços públicos de qualidade etc.”
Quando um
especialista diz “etc.”, sempre penso que ele não deu o melhor de si ao
argumentar. Vai ver não aposta na nossa inteligência. Petista militante,
notem que Maria Rita precisa reconhecer a “inclusão econômica” ou
estará negando um dos pilares da campanha de seu partido, certo? Aí ela
avança com aquela ignorância desassombrada de que só psicanalistas
falando sobre economia são capazes… Mentira! Os jornalistas são ainda
mais capazes… Releiam esta enormidade: “Claro que os jovens da periferia não pertencem a essa classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela!”.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Campo Limpo.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Aricanduva.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Norte.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Metrô Itaquera.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Penha.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Lapa.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Ipiranga.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Mooca.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Pirituba.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Metrô Tucuruvi.
Maria Rita
Kehl acha que todos os shoppings do Brasil são o Iguatemi, o JK
Iguatemi e o Higienópolis.
A razão é simples. Maria Rita Kehl só conhece
pobre de ouvir falar e, quando tem de ir a um shopping, vai ao
Iguatemi, ao JK ou ao Higienópolis — igualmente abertos, diga-se, para
receber pobres, ricos, brancos, pretos, homens, mulheres, gays,
crianças… Cadê o histórico de discriminação praticado por esses centros
de compras?
Maria Rita
Kehl nunca conversou com Renilda Pereira dos Santos. Quem é Renilda? É
uma senhora que integrou um “rolezão” organizado pelas extremistas do
MTST no Shopping Campo Limpo (que fechou a porta antes que eles
conseguissem entrar para fazer bagunça lá dentro). A mulher deu a
seguinte declaração: “É um absurdo eu não poder entrar no
shopping hoje. Eu sempre venho, assim como meus filhos, e a gente gasta
muito dinheiro. O direito de entrar no shopping é de todo mundo, não só
dos ‘filhinhos de papai’”. Ela só estava na manifestação porque mora numa área invadida e quem manda no lugar é o… MTST.
Mas eu quero seguir com Maria Rita. Kehl. Esta senhora sempre aguça os meus instintos. Disse ela:
“A
performance dos rolezinhos funciona como denúncia da discriminação, mas
não sei se eles fazem isso conscientemente ou apenas movidos pelo
mal-estar de saber que não são bem-vindos nos templos do consumo de uma
sociedade que, até o momento, só promoveu inclusão via consumo — e não
via cultura, acesso a serviços públicos de qualidade etc.”
Mentira!
Os meninos e meninas já deixaram claro! Não era denúncia de nada. Também
não há mal-estar nenhum. Quando os shoppings chegaram a Campo Limpo,
Itaquera, Penha, Mooca, levaram mais opções de lazer — em áreas em que,
muitas vezes, essas coisas são escassas. Se o empreendedores que criaram
esses centros de compra não quisessem pobres no estabelecimento, não
teriam investido dinheiro naquelas regiões.
Na sexta, na minha coluna na Folha, escrevi o seguinte: “Os
shoppings, chamados de ‘templos de consumo’ por bocós dos clichês
superlativos, seriam a expressão mais evidente e crua do ‘fetichismo da
mercadoria’ (…)”.
No dia seguinte, Maria Rita Kehl chama esses empreendimentos de… “templos do consumo”! Que coisa! Eu faço a caricatura, crio o estereótipo, e ela vai lá e cumpre a agenda dos bocós dos clichês superlativos…
Maria Rita
Kehl, como toda esquerdista rosa-chique, que aprendeu, no conforto, a
desprezar os bens materiais, despreza também a inclusão pela via do
consumo — ela acha isso uma coisa menor e, no fundo, meio reacionária.
Repete, assim, Marilena Chaui, sua colega de partido, aquela que “odeia a
classe média”. Maria Rita Kehl só valoriza a integração por intermédio
da cultura, entendem? Por que esta senhora não tenta convencer a
molecada a invadir museus, galerias de arte, bibliotecas? Maria Rita
Kehl acha que os meninos só vão ao shopping pra beijar na boca porque
não têm acesso a Dostoiévski.
O que escrevi
Fui dos primeiros na imprensa a dar um
tratamento sério a essa história de rolezinhos — aqui e na Rádio Jovem
Pan. E quem leu o que andei escrevendo e ouviu o que andei comentando
sabe que sempre considerei que esses eventos não passam de uma diversão
meio perigosa da molecada, que tem de ser coibida. E tem de ser
desestimulada por múltiplas razões de segurança. Só isso. Todos os meus
comentários, desde o início, se voltavam contra cretinismos como os de
Maria Rita Kehl.
Para ela e
gente como ela, gozo é para os ricos; a tarefa do pobre é reivindicar. A
meninada, confessadamente, organizava aquelas jornadas para se
divertir, mas Maria Rita Kehl, a iluminada, julga que “a performance dos rolezinhos funciona como denuncia da discriminação”. E emenda: “mas não sei se eles fazem isso conscientemente”. Entenderam?
Ainda que um rolezeiro diga para dona Maria Rita que não se trata de
protesto — e é o que estão dizendo nas redes sociais e à imprensa —,
esta pensadora responderá: “É que você não tem consciência do que está
fazendo; eu a tenho por você”.
Desprezo pelo povo
Uma das razões — há uma penca — que me
afastaram da esquerda é o profundo desprezo, beirando o nojo, que
esquerdistas têm do povo. Eles, no geral, consideram a população um
lixo, incapaz de fazer escolhas morais certas, escolhas políticas
certas, escolhas estéticas certas… O povo, em nome do qual falam, não é
esse que está aí, mas outro, é o “novo homem”, que tem de ser construído
para substituir este que conhecemos, que já foi corrompido pelos
valores do capitalismo, entendem? Não é nada surpreendente que os
tiranos comunistas tenham matado e ainda matem com desassombro.
O “humano”
de que eles gostam é aquele que foi iluminado pela consciência
revolucionária, pela consciência da libertação. O humano com o qual se
importam é aquele que serve a uma causa, que carrega bandeira. Vejam lá o
texto que escrevi sobre a ministra Maria do Rosário. Mais de 50 mil
pessoas são assassinadas todo ano no Brasil. Ela não diz nada. Um garoto
gay, infelizmente, aparece morto — muito provavelmente, jogou-se de um
viaduto.
Sem esperar perícia, nada!, ela saiu acusando “crime de
homofobia” e tentou faturar politicamente com o cadáver. Nojo. Por que é
assim? Porque aqueles 50 mil não são nada, não têm pedigree, não
permitem proselitismo — ao contrário: eles só provam a falência do
governo nessa área.
Da mesma
sorte, Maria Rita Kehl e outros que pensam desse modo têm um profundo
desprezo pelos meninos e meninas que fazem rolezinhos por rolezinhos.
Para eles, isso é coisa da sociedade de consumo, entendem? Maria Rita
Kehl deixa claro, ainda que não diga com todas as letras: ela só se
interessa pela coisa porque vê nela “a denúncia da discriminação”. Para
dona Maria Rita Kehl, pobre tem de carregar bandeira ou não merece
respeito. É assim que interpreto a sua fala.
E de igual
modo atuam todos os militantes que falam em nome de “minorias”. Ou não é
verdade que Joaquim Barbosa, ministro do Supremo, chegou a ser chamado
de branco e feitor de escravos só porque condenou os pistoleiros do
mensalão? “Ora, como um negro ousa condenar esquerdistas? Então não é um
bom negro!” Atenção! Um ex-ministro da Igualdade Racial, Edison dos
Santos, um negro, disse algo semelhante sobre o ministro do STF. Aquele
garoto que caiu do viaduto ganhou visibilidade porque era gay e negro.
Fosse branco e hétero, seria mais um dos mortos anônimos. Maria do
Rosário ignoraria o caso solenemente.
Esses
subintelectuais não gostam do povo que há, não, senhores! Na verdade,
odeiam! O povo que reverenciam é outro, saído dos manuais
revolucionários do fim do século retrasado.
De resto,
reparem: os rolezinhos, tudo indica, tendem mesmo a arrefecer. As
meninas e meninos, os “excluídos” de Maria Rita Kehl, que compravam
blusas e bermudas novas para se exibir; que marcavam manifestações para
mostrar seus tênis da Osklen, suas camisetas da Hollister e seus bonés
da John-John foram substituídos pela turma que conserva aquela estética
sujinho-universitária.
Sai a molecada com vistosas correntes no pescoço e
cabelos cuidadosamente desenhados, e entram os Remelentos &
Mafaldinhas que fazem a linha “pensador ensebado”.