Carla Rodrigues
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br
A Companhia Imobiliária de Brasília
(Terracap) está indo para um caminho sem volta. Segundo servidores da empresa,
mesmo com os gastos bilionários dos últimos anos e as dívidas acumuladas, eles
foram surpreendidos com a notícia da criação de mais duas diretorias no quadro:
uma de habitação e outra financeira. Com isso, asseguram, as despesas
aumentariam cerca de R$ 3 milhões ao mês, ou seja, R$ 36 milhões por ano.
Contrariando decisão do
Ministério Público do Trabalho de 2009, ainda em vigor, que determinou a
extinção da contratação e criação de outros cargos comissionados na autarquia,
as novas funções serviriam para abrigar mais cargos de Direção e Assessoramento
Superior (DAS), que hoje custam R$ 5 milhões à companhia.
Apesar da decisão, a Terracap criou,
em 2011, o cargo de secretário executivo, com remuneração de R$ 33 mil,
atualmente ocupado pelo auditor tributário da Secretaria de Fazenda, Francisco
Otávio Miranda. Ao todo, o servidor ganha R$ 55 mil, já que recebe também mais
R$ 22 mil da pasta da Fazenda. Em razão do descumprimento, a procuradora do
Trabalho Dinamar Cely Hoffman enviou notificação à companhia em julho de 2012. O
texto requer o acolhimento definitivo do pedido inicial: cessar na autarquia a
admissão de trabalhadores a título de emprego em comissão ou cargo em comissão.
Servidores
“A Terracap já deve mais de R$ 400
milhões por causa da construção do Estádio Nacional. Não podemos mais ter
despesas. Estamos sem política para venda de imóveis, perdendo dinheiro,
acabando com o patrimônio público”, afirma o diretor do Sindicato dos
Servidores e Empregados da Administração Direta, Fundacional, das Autarquias,
Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista do DF (Sindser), Gersomar
Costa.
Durante assembleia em frente à
empresa, cerca de cem funcionários cobraram respostas da presi dência da
autarquia, na última terça-feira. “Estamos preocupados com o futuro da Terracap.
É impressionante a agilidade em criar novas diretorias. Mas não vemos nenhum
retorno futuro para isso. Tudo indica que essa é mais uma desculpa para a
criação de cargos comissionados”, salienta Costa.
E mesmo após a notificação de 2012, a
direção da empresa determinou a criação de mais 27 cargos comissionados, sendo
um deles com salário de R$ 36 mil. “A companhia não é uma galinha dos ovos de
ouro. Os recursos são públicos e precisam ser gastos com a população do
DF, e não com gastos de pessoal desnecessários, completamente na contramão do
atual cenário da empresa”, alerta o presidente do Sindser, André Luiz da
Conceição.
“Eles usam como desculpa para a
criação das novas diretorias a questão da política atrasada de regularização de
terras rurais. Isso, teoricamente, resolveria o problema. Mas é mentira. Fomos
pegos de surpresa, claro. O que está colocado à frente da Terracap hoje é o
interesse privado, não o público”, completa.
Memória - Servidores
exonerados
Em julho deste ano, após denunciarem supostas irregularidades cometidas pela Terracap, 12 servidores foram exonerados de seus cargos. A dispensa ocorreu depois de uma manifestação. Um grupo caminhou da sede da Terracap até o Ministério Público para levar as denúncias aos promotores.
As denúncias envolvem desvio de
verba, patrocínio de eventos que não têm ligação com a atividade da Terracap e
incoerência de terrenos submetidos à licitação.
Na época, o Ministério Público do
Distrito Federal acolheu as denúncias e informou que já existiam três procedimentos
em curso envolvendo as questões abordadas pelos servidores, além das ações no
Ministério Público do Trabalho.
Números
3 milhões de reais por mês é o gasto
com as novas diretorias
4 anos faz que o Ministério Público
do Trabalho fez a determinação
O documento que mostra os gastos da Terracap com cargos comissionados, enviado ao JBr, assegura que a criação das duas novas diretorias seria para “acomodar novos 44 apadrinhados do GDF”. O texto ainda indaga: “Quanto tempo a Terracap vai resistir?”.
Para o especialista em gestão pública
da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira, a resposta é simples: é
provável que a empresa seja extinta, caso não volte a cumprir suas funções
originais. “É irracional o que a companhia vem fazendo. Está usando empregos,
cargos, para abrigar cabos eleitorais”, alerta.
O docente garante que a criação das
novas diretorias não vai somar à empresa em termos de capacitação. “Esse
comportamento vai levar o DF para o buraco. É um modelo completamente
reprovável de administração pública”, aponta.
Ele lembra, ainda, que o chamado
“modelo patrimonialista de governar” ocorre em todo o País. “O que não passa,
em grande parte, de distribuição do poder entre interesses políticos”. Segundo
Matias-Pereira, o posicionamento da Terracap reforça a necessidade de
reformulação da administração pública.
Eventos
Em julho, o Jornal de Brasília
mostrou os rombos causados no caixa da Terracap por conta dos gastos em
patrocínios de festas e eventos no valor de mais de R$ 53 milhões apenas nos
sete primeiros meses deste ano. Um montante que chama a atenção,
considerando-se que até o final de 2012, o total foi de R$ 3,1 milhões.
Como garantia para cobrir dívidas,
como denunciam os servidores, imóveis públicos avaliados em R$ 17,7 milhões
foram empenhados. Em março de 2013, a estatal tinha apenas R$ 45 milhões de
disponibilidade frente a um passivo de R$ 929 milhões. “Estamos frente à
chamada minicrise e a Terracap quer aumentar os gastos? Ora, essa é a hora de
conter despesas e não aumentá-las”, argumenta o especialista em gestão pública
João Paulo Peixoto.
Versão
A Terracap respondeu ao JBr que está
cumprindo todas as recomendações do Ministério Público do Trabalho. Sobre as
novas diretorias, ela afirmou que existem apenas estudos para criação delas.
Saiba mais
A Companhia Imobiliária de Brasília
(Terracap) é uma empresa pública que tem como finalidade gerir o patrimônio
imobiliário do Distrito Federal, assim como realizar, direta ou indiretamente,
obras e serviços de infraestrutura e obras viárias na região.
De seu capital social, 51% pertencem
ao DF e 49% à União.
Em 1997, ela foi transformada em
Agência de Desenvolvimento, mas somente em 2011, com o novo Estatuto da
Terracap, isso foi implementado e consolidado.
Como isso, a Terracap ganhou maior
envergadura para executar políticas de desenvolvimento econômico e social ao
Distrito Federal.
Dinheiro colocado no lugar errado
Os documentos que chegaram ao JBr
mostram que pelo menos 17 eventos, entre shows, competições e projetos
culturais, foram patrocinados pela Terracap.
A empresa tem, hoje, pelo menos 20
credores, aos quais deve devolver cerca de R$ 101,3 milhões. Todos os valores
estão na denúncia do Conselho Fiscal da empresa, que, na época, exonerou 12
servidores que participaram de manifestações contra indícios de fraudes. “Esses
funcionários são exemplares. Estão zelando pelo bem público. Não se vê mais
isso hoje”, expõe o especialista em gestão pública João Paulo Peixoto.
Patrocínios
Os acontecimentos patrocinados pela
autarquia não têm qualquer ligação com a atividade fim da empresa pública. A
começar pelo F1 H2O Grande Prêmio Brasília, de fórmula náutica, para o qual
foram destinados cerca de R$ 2 milhões.
Não bastasse tudo isso, a construção
do imponente Estádio Nacional afundou a Terracap. A arena causou um rombo na
estatal responsável pelas obras, como apontou o diretor do Sindser, ao ponto de
a companhia vender terras públicas e fazer empréstimos para tentar cobrir as
despesas. Sem contar que o GDF arrebatou R$ 100 milhões dos mirrados cofres das
secretarias da Saúde, da Criança, da Educação, da Segurança e de outras áreas
para tapar o buraco na companhia.
Fonte: Da redação do
clicabrasilia.com.br
Comentários: 4 comentário(s) no total
Comentários mais recentes: (ver todos)
Sena
Disse em:
29/08/2013 - 15:55
29/08/2013 - 15:55
Jogaram a Lei 8666 (Lei de
Licitações) no lixo e a justiça não faz nada. CPI DA TERRACAP JÁ.
Miguel
Disse em:
29/08/2013 - 12:55
29/08/2013 - 12:55
Concordo contigo, Carlos. INTERVENÇÃO
FEDERAL JÁ na maior grileira de terras particulares do DF. Essa
pseudo-empresa/máfia corrompe juízes, desembargadores, imprensa (pelo menos não
o Jornal de Bsb), promotores, cartórios e consegue usurpar terras e mais terras
sabidamente particulares.
CARLOS
Disse em:
29/08/2013 - 10:51
29/08/2013 - 10:51
Está na hora de se fazer uma
"intervenção federal" na maior "grileira do DF". Por ali
corre muito, mas muito dinheiro. Um campo fértil para a corrupção generalizada.
Os moradores de condomínios irregulares mais antigos não podem
"engolir" essa de pagar "preço de mercado" já que o
montante é mal gerido com farra de cargos e outros crimes. Quem tem que ser beneficiado
é quem não podia e nem pode pagar o tal preço. O órgão tem que cumprir sua
missão social com todos.
Oxe
Disse em:
29/08/2013 - 10:30
29/08/2013 - 10:30
E onde estava o sindicato qd o PCCS
criminoso foi aprovado, dando salários absurdos aos servidores da Terracap?!! N
se trata so de favorecer comissionados, mas tb diversos concursados são farinha
desse saco furado! É uma sangria sem procedentes e injustificável! BANCAM-SE
MARAJÁS NA TERRACAP!