Um grupo de pesquisadoras do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwell Climate Research Center, dos Estados Unidos, encerrou nesta sexta-feira (13) uma expedição de campo sobre fogo no município de Apiacás (MT), onde encontraram bombeiros lutando para controlar a queimada de uma área desmatada.
O trabalho foi dificultado pela ignição em locais diferentes do terreno. Esse tipo de fogo acaba com as árvores derrubadas e prepara a área para uso agropecuário. É frequente na Amazônia especialmente nesta época do ano, quando há menos chuvas na região.
“A área desmatada vai se tornar um pasto, com características climáticas muito diferentes do que seria com a floresta em pé”, explica a pesquisadora do IPAM e do Woodwell Climate, Ludmila Rattis. “Um dos efeitos do desmatamento é o aumento da temperatura no microclima local, subindo em até cinco graus Celsius e afetando a produtividade da terra. No final das contas, desmatar não compensa nem no aspecto climático, nem no econômico.”
Com o tempo quente e seco, o risco de uma queimada desse tipo escapar para uma floresta vizinha e virar um incêndio é grande. “O fogo relacionado ao desmatamento aumenta o desafio do controle, uma vez que é desejado e oferece riscos até mesmo para quem está atuando para combatê-lo”, diz a pesquisadora Manoela Machado, do Woodwell Climate.
Ciência e prática
Apiacás foi a última parada da expedição iniciada uma semana antes. O grupo percorreu os três biomas de Mato Grosso – Cerrado, Pantanal e Amazônia – acompanhando o trabalho do Corpo de Bombeiros Militares do estado, para melhorar o uso de dados científicos na prevenção e no combate a queimadas e incêndios florestais.
“Esse é um projeto que nasceu da conversa entre pesquisadores e bombeiros. Desde o início, a ideia é de colaboração mútua entre a ciência aplicada e o trabalho de detecção, prevenção e combate a incêndios ambientais”, afirma Machado, que coordena a iniciativa.
Durante a expedição, foi possível identificar sinergias entre as estratégias usadas pelos bombeiros ambientais e as predições feitas pelos pesquisadores do fogo. “Passar o diálogo da sala fechada para o campo enriquece o trabalho.”
A equipe também teve a oportunidade de testemunhar os impactos do fogo. No Cerrado, as pesquisadoras viram a destruição de uma área de plantio de agricultores familiares, depois que uma queimada escapou e atingiu outras áreas da propriedade, além de vegetação nativa. No Pantanal, um fogo acidental espalhou-se rapidamente nos pastos secos, formando o primeiro grande incêndio deste ano na região. Na Amazônia, tendo como combustível o desmatamento, uma área antes florestada transformou-se rapidamente em cinzas.
Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do
Brasil obtido pelo MapBiomas após
analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo
sobre o território nacional. Na média, em cada um desses 36 anos, o Brasil
queimou uma área maior que a Inglaterra: foram 150.957 km² por ano, ou 1,8% do
país. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território
nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil.
“Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite
entender as mudanças no regime de fogo e seu avanço sobre o território
brasileiro”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de
vegetação nativa, sendo que os biomas Cerrado e Amazônia concentram 85% de toda
a área queimada pelo menos uma vez no país. No caso do Cerrado, a área queimada
por ano desde 1985 equivale a 45 vezes a área do município de São Paulo.
“Um dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas
pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não
estamos falando de eventos isolados. No caso da Amazônia, 69% do bioma queimou
mais de uma vez no período, sendo que 48% queimou mais de três vezes”, afirma.
Os estados com maior ocorrência de fogo foram Mato Grosso,
Pará e Tocantins. Formações savânicas foram o tipo de vegetação nativa com mais
ocorrência de fogo; pastagens foram o tipo de uso antrópico com mais ocorrência
de fogo.
Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham
ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987,
1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), altas taxas de desmatamento
principalmente na Amazônia e antes de 2005 e depois de 2019 tiveram um grande
impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre
julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de queimadas e incêndios
florestais.
A análise por bioma mostra que o Pantanal é o que mais
queimou nos últimos 36 anos: 57% de seu território foi queimado pelo menos uma
vez no período, ou 86.403 km². Ele é seguido pelo Cerrado (733.851 km², 36%) e
pela Amazônia (690.028 km², 16,4%). ”O caso da Amazônia é preocupante. Os dados
do MapBiomas Fogo revelam que as florestas do bioma têm queimado em grandes
proporções e alta frequência, o que não é esperado em um bioma que não é
naturalmente adaptado ao fogo”, diz Alencar.
Na média anual, o bioma Cerrado assume a liderança, com
67.833 km²/ano – mais que a Amazônia, cuja média ficou em 64.955 km²/ano. “O
Cerrado é um bioma com vegetação o nativa onde o fogo faz parte de sua
ecologia”, explica Vera Arruda, pesquisadora no IPAM e integrante da equipe do
MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento do Cerrado. “Entretanto a extensão e
frequência da área queimada no bioma nas últimas quase quatro décadas revela
que algo está errado com o regime de fogo no bioma”, ressalta.
No bioma Pantanal é possível identificar os anos de 1999 e
2020 com os recordes de áreas queimadas. Foram anos secos e de grande acúmulo
de biomassa. “O Pantanal tem uma vegetação adaptada ao fogo, mas em regime de
frequência muito grande, ele torna-se prejudicial à biodiversidade de flora e
fauna. O combate ao fogo no Pantanal é especialmente desafiador, portanto,
ações de manejo integrado e preventivo do fogo, devem ser discutidas para
proteção do bioma”, explica Eduardo Rosa, do MapBiomas.
No caso da Mata Atlântica, os meses de agosto, setembro e
outubro constituem o período em que mais ocorrem queimadas, sendo que mais de
80% das queimadas ocorreram em áreas agropecuárias ou campestres, “É possível
observar uma queda após 2004, quando começam a entrar em vigor leis para
regulamentar a queimada em lavouras”, analisa Marcos Rosa, coordenador da
equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento da Mata Atlântica.
Para chegar a esses números, inéditos, a equipe do MapBiomas
processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de
1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área
queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros
quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, em
todos os tipos de uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de
imagens processadas, revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência
do fogo. O método também permite identificar a área queimada em cada mês em
todo o período, bem como o tipo de uso e cobertura do solo que queimou.
Os dados de áreas queimadas e incêndios florestais estão
disponibilizados em mapas e estatísticas anual, mensal e acumulada em para
qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma mapbiomas.org, aberta a todos. Ela também
inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos
últimos 36 anos. A resolução é de 30 m, com indicação do tipo de cobertura e
uso do solo que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por
bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra
indígena, assentamentos e áreas com CAR.
Assista à apresentação Brasil Revelado 1985-2020: As
cicatrizes deixadas pelo fogo no território brasileiro, lançamento do
relatório nesta segunda-feira (16).
Sobre MapBiomas
Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades,
ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na
cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa,
atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país
disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são
disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org.
O mundo continua assistindo com apreensão a tomada do governo do Afeganistão pelos extremistas Talibãs. Hoje mesmo há relatos de que protestantes foram mortos e vários ficaram feridos nas ruas da capital Cabul. Além disso, apesar dos representantes do grupo terem afirmado ontem (17/08) que respeitarão os direitos das mulheres, há um ceticismo mundial se essa promessa realmente será cumprida, já que no passado, meninas foram obrigadas a parar de estudar, profissionais deixaram de trabalhar e a ordem é que ficassem em casa. E infelizmente, organizações de proteção animal alertam também sobre o destino de centenas de cães e gatos.
Uma dessas entidades é a ONG Nowzad, criada pelo ex-fuzileiro naval britânico Pen Farthing, um dos muitos ocidentais que optaram por ficar em Cabul. Ele construiu um abrigo e uma clínica veterinária para cães, gatos e outros animais em um dos lugares mais perigosos da Terra e agora se recusa a abandonar sua equipe e os bichos.
Em 2006, quando o militar estava junto com sua tropa na cidade de Now Zad, ele se deparou com dois cães brigando. Ao apaziguar a disputa, ganhou um amigo para sempre. Ele e um desses animais passaram os seis meses seguintes juntos. O cachorro foi batizado de “Nowzad”, assim como o abrigo. Seu fiel escudeiro foi enviado mais tarde para um novo lar, na Inglaterra. E muitos outros tiveram um destino feliz, como o dele.
Até hoje, a organização já conseguiu promover o reencontro de 1.600 cães com militares, que os conheceram durante a guerra.
Depois da retirada das tropas dos Estados Unidos do país, após 20 anos por lá, e o caos e a insegurança que se instalaram em Cabul, Farthing lançou no final de semana um apelo desesperado no Facebook para conseguir arrecadar os recursos necessários para alugar um cargueiro e proteger todos – humanos, incluindo muitos assistentes veterinários, e os animais (100 gatos e 100 cães) -, mas para isso são necessários US$ 200 mil, pouco mais de R$ 1 milhão.
O ex-fuzileiro já pediu ajuda ao governo do Reino Unido e criticou o primeiro-ministro Boris Johnson sobre a lenta retirada dos cidadãos daquele país do Afeganistão. Hoje houve uma reunião de emergência no Parlamento, em Londres, sobre a situação em Cabul.
Os talibãs consideram cachorros impuros. Nas cidades em que chegam, os militantes do grupo matam esses animais e proíbem que os moradores os tenham em casa.
A história comovente de Farthing e seu esforço para a retirada dos animais de Cabul ganhou a atenção mundial e milhares de pessoas estão enviando dinheiro para a organização.
“Um enorme e extremamente sincero agradecimento de toda a equipe da Nowzad pela generosidade incrível de nossos apoiadores e amigos. As últimas 48 horas foram muito estressantes. Há muitos de vocês para agradecer pessoalmente aqui – faremos isso por muitos anos – mas queremos que todos saibam como somos eternamente gratos a cada um de vocês”, escreveu a equipe da ONG em seu site na terça-feira.
Um dos colaboradores da organização em Cabul
A Nowzad tem algumas celebridades entre seus apoiadores, como o comediante, Ricky Gervais, conhecido por sua atuação na série “The Office”, e também, a atriz Judi Dench.
“Pen Farthing e sua equipe Nowzad têm feito um trabalho incrível por mais de uma década em Cabul, eles salvaram milhares de cães e forneceram trabalho para a comunidade local e instigaram programas educacionais que os beneficiaram. Suas vidas agora estão em perigo. Eles precisam de nossa ajuda”, disse Gervais.
É possível fazer doações para a campanha criada por Farthing para resgatar os animais de Cabul neste link, todavia só são aceitos valores em dólares (americanos, canadenses e australianos), euros e ienes (Japão).
Pen Farthing escreveu três livros contando sobre sua trajetória no Afeganistão, o trabalho que faz em prol dos animais e as histórias especiais de alguns cães. O britânico já recebeu vários prêmios e foi nomeado “CNN Hero”, em 2014.
Cientistas de vários países – ligados às áreas de saúde e clima – lançam nesta quarta-feira (18) um relatório com recomendações para o mundo enfrentar e se prevenir uma nova pandemia.
O relatório, produzido pelo grupo de pesquisadores, liderado pelo Instituto de Saúde Global da Universidade Harvard, de Cambridge (EUA), aponta que investimentos na conservação de florestas e na mudança das práticas agrícolas são ações essenciais, e econômicas, para prevenir novas pandemias.
O documento orienta ainda a integração de ações de conservação e o fortalecimento dos sistemas de saúde em todo o mundo.
Segundo os cientistas, há a necessidade de maiores investimentos em conservação florestal, especialmente nos trópicos, maior biossegurança em torno de fazendas de animais de pecuária e silvestres e investimento em plataformas de One Health (saúde coletiva ou saúde única em português) – que une conhecimentos em saúde pública, veterinária e ambiental, como o melhor método para prevenir e responder aos surtos de doenças zoonóticas e pandemias.
A prevenção também consiste em restringir o contato de pessoas com animais hospedeiros de vírus.
O custo da prevenção é o equivalente a 2% das perdas econômicas globais provocada pela pandemia do novo coronavírus: cerca de US$ 22 bilhões por ano.
Ela está diretamente ligada ao monitoramento e freio de atividades predatórias que não oferecem nenhum benefício econômico global, sobretudo o desmatamento e o tráfico de animais silvestres: manter árvores em pé e os animais em seus hábitats tem um custo econômico menor que o de impor lockdowns ou abater rebanhos para conter epidemias em curso.
Você já comeu tubarão? Provavelmente, não. Mas, e cação?
Se sim, você não está sozinho. Segundo dados preliminares de uma sondagem encomendada por pesquisadores brasileiros aos quais a BBC News Brasil teve acesso, praticamente sete em cada 10 brasileiros (69%) “não sabem que carne de cação é de tubarão”.
É aí que está o problema — sem saber, comemos tubarão, um peixe com alto nível de toxicidade e cuja população vem reduzindo em número ao redor do mundo nas últimas décadas.
E não comemos pouco — o Brasil é o maior importador e consumidor de carne de tubarão do mundo, apesar de a grande maioria dos brasileiros não ter ideia disso “por falta de rotulagem adequada”, alertam as pesquisadoras Bianca Rangel e Nathalie Gil em entrevista à BBC News Brasil.
Essa rotulagem incorreta, aliada aos preços atraentes e à falta de uma política pública adequada, fazem do Brasil uma ameaça para a preservação da espécie — uma pesquisa estimou que a população de tubarões e arraias no mundo caiu 71% desde 1970, ao passo que a pesca predatória desses animais aumentou 18 vezes.
Neste sentido, uma maior conscientização da população sobre o que vai parar em sua mesa “pode ajudar na preservação dos tubarões”, diz Rangel, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
“Em vez de ser embalada com rotulagem adequada, a carne de tubarão é vendida no Brasil normalmente como cação, um nome ambíguo usado para várias espécies”, acrescenta Gil, da Sea Shepherd Brasil, ONG de conservação da vida marinha.
“Ou seja, os brasileiros não sabem que estão comendo tubarão”, ressaltam as pesquisadoras.
Prova disso está nas conclusões iniciais do levantamento que abre esta reportagem. A pesquisa foi realizada pela agência independente de pesquisa Blend e comissionada pela Sea Sheperd Brasil com 5 mil brasileiros em todo o território nacional.
Recentemente, Rangel e Gil, em conjunto com três outros pesquisadores, escreveram um artigo, publicado na prestigiada revista Science, em que alertam sobre essa situação e sugerem como o Brasil pode ajudar a proteger a população de tubarões.
Importação e consumo
Segundo explicam as pesquisadoras, o Brasil se tornou o principal destino de carcaças de tubarão sem barbatanas. Por ano, nosso consumo anual é de cerca de 45 mil toneladas.
As barbatanas são uma iguaria no mercado asiático e podem alcançar valores astronômicos — seu quilo pode ultrapassar US$ 1,5 mil (cerca de R$ 8 mil).
Mas há pouca demanda pela carne de tubarão.
E, como a imensa maioria dos países proíbe a pesca do peixe apenas para o comércio exclusivo desse item — ou seja, retirando as nadadeiras e descartando a carcaça no mar (o chamado “finning”) — o que sobra do animal acaba tendo desembarque certo: o Brasil.
Curiosamente, o Brasil foi o primeiro país a assinar tratado ratificando a proibição dessa prática.
“O Brasil, maior importador mundial de carne de tubarão, compra carcaças e bifes de tubarão sem barbatanas de países que atuam no comércio de barbatanas, como China e Espanha, e do Uruguai, que exporta carne processada de tubarão”, diz o artigo.
“No Brasil, embora tubarões protegidos não possam ser legalmente comercializados por pescadores ou empresários locais, eles podem ser importados sem quaisquer restrições”.
“Além disso, é obrigatório fornecer informações para uma rotulagem adequada apenas se o peixe congelado importado pertencer à família Salmonidae (que inclui o salmão e a truta) ou à família Gadidae (que inclui o bacalhau e a arinca)”.
Segundo os pesquisadores, “apesar do crescente debate sobre a rotulagem incorreta de tubarões entre organizações não governamentais e comunidades acadêmicas, nenhuma medida governamental foi implementada”.
“Como resultado, os consumidores no Brasil continuam sem saber que estão comprando carne de tubarão e contribuindo para o declínio de espécies vulneráveis de tubarão”, afirmam.
Riscos para saúde
Rangel e Gil alertam ainda para o risco à saúde relacionado ao consumo da carne de tubarão.
“Como se trata de um grande predador, um animal topo de cadeia alimentar, o nível de toxicidade de sua carne é maior. Ou seja, existe um risco à saúde para quem come tubarão. E o pior: sem saber disso”, diz Gil.
Por um processo de bioacumulação, o tubarão agrega metais pesados, como mercúrio e arsênio, presentes nos organismos que lhe serviram de alimento. Ingeridas além da conta, essas substâncias podem causar danos cerebrais.
Um parâmetro de consumo de mercúrio vem da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela preconiza o limite diário de 0,5 miligrama desse metal por quilo.
Estudo publicado em 2008, porém, revela que, em amostras de Prionace glauca, ou tubarão-azul, a espécie de tubarão mais pescada no mundo, o índice presente excedeu em mais de duas vezes o limite diário.
Não por menos, a Food and Drug Administration (FDA), agência federal americana que regula alimentos e medicamentos, não recomenda a inclusão de tubarão no cardápio de grávidas, de mulheres que estejam amamentando e de crianças, seja em que quantidade for.
Ação urgente
No artigo, os pesquisadores defendem uma “ação urgente em todo o mundo, especialmente no Brasil”.
“Como primeiro passo, o governo brasileiro deve divulgar amplamente o fato de que o cação pode se referir à carne de tubarão”.
“O país deve exigir que todos os produtos nacionais e importados sejam rotulados com seus nomes científicos em toda a cadeia de abastecimento, garantindo o monitoramento preciso das espécies no sistema e permitindo que os consumidores decidam se comem uma espécie em risco de extinção”.
“Como resultado de tais mudanças, a demanda provavelmente diminuiria, limitando o mercado de tubarões com barbatanas removidas ilegalmente. O Brasil também poderia proteger tubarões em todo o mundo proibindo a importação de espécies ameaçadas de extinção”.
“Por causa do papel descomunal do Brasil no comércio global de tubarões, essas mudanças podem melhorar muito os esforços de conservação”, concluem.