terça-feira, 2 de agosto de 2016

ONGs e entidades pedem ao MPDF suspensão da obra do Complexo Viário Norte

Construção tem por objetivo desafogar o trânsito na região. Eles alegam que haverá impacto ambiental



postado em 02/08/2016 06:03

Gustavo Moreno/CB/D.A Press
As obras do Complexo Viário Norte — de Ligação Torto/Colorado e do Trevo de Triagem Norte — têm causado conflito entre governo e moradores da região, e podem chegar aos tribunais. Seis movimentos sociais, incluindo o Instituto Histórico Geográfico (IHG/DF), o Conselho Comunitário da Asa Norte, a ONG Rodas da Paz e o movimento Repense Ponta Norte, denunciaram supostos riscos ambientais e pediram ao Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) a suspensão da empreitada. A obra promete desafogar o trânsito na região, por onde passam mais de 100 mil veículos todos os dias. Ao todo, serão 16 intervenções viárias, entre viadutos e pontes.

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) ainda não foi notificado da denúncia, mas determinou, no início da noite de ontem, que a Procuradoria Jurídica apresente ao MPDFT dados referentes ao projeto. O Executivo local retomou, em abril, a duplicação da BR-020, na saída norte de Brasília, após empréstimo de R$ 159 milhões do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para a obra, com a contrapartida de R$ 61 milhões do GDF. A conclusão está prevista para 2018. Uma petição na internet cobra reformulações no projeto. Mais de 400 pessoas já assinaram o documento.

Ancorados em prováveis impactos ambientais, já que o local pertence a uma Área de Preservação Permanente (APP), o grupo teme o aterramento de três nascentes, além de outros abalos hídricos. Para o movimento, os estudos realizados não apresentam alternativas para evitar esses danos ambientais. “Tem um problema de mobilidade a ser resolvido, mas a questão é que esse é um projeto ruim”, questiona Ronaldo Weigand, do movimento Repense Ponta Norte. A entidade pede alterações no projeto e a realização de novas audiências públicas para debater o assunto.

A ONG Rodas da Paz apresentou, em dezembro passado, ao DER-DF, um relatório no qual conclui que o projeto do TTN visa à ampliação da capacidade rodoviária, direcionada principalmente ao fluxo livre de veículos motorizados. Mesmo que haja previsão de ciclovias, o texto aponta que o trecho percorrido por quem usa bicicleta será 78% maior que o de carros.

Apontado pelo Executivo como solução de mobilidade para a região Norte do DF, o projeto foi idealizado ainda na gestão de Joaquim Roriz. A empreitada chegou a ser iniciada, mas ficou interrompida durante o mandato de Agnelo Queiroz. Na prática, a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), em seu trecho Norte, ganhará duas novas pistas — uma em cada sentido —, e passará a contar com três faixas. Serão 5,2 quilômetros de ampliação entre o Torto e o Colorado. A ligação do Plano Piloto, por meio dos Eixinhos L e W, será por novas pontes paralelas à do Bragueto. Com as obras, o governo pretende extinguir a faixa reversa em horários de pico.

“Disciplinar o tráfego”
A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, de acordo com o MPDFT, analisa a regularidade da obra e se ela atende os quesitos de impactos ambientais. “Como as informações foram enviadas há poucos dias, estamos coletando informações para subsidiar o trabalho”, explica o órgão, em nota. Já a Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística encaminhou a demanda do grupo ao Ministério Público Federal (MPF) para que apurem eventual violação do tombamento.

O DER garante que possui as licenças ambientais necessárias para a execução da empreitada. “Cumprimos toda a legislação ambiental visando viabilizar a aprovação do projeto e a execução das obras. Para alcançar o financiamento, apresentamos essas licenças ao BNDES”, explica o diretor-geral do órgão, Henrique Ludovice, ao detalhar que o projeto preserva as três nascentes existentes nas proximidades; que haverá faixas separando o fluxo local ao de passagem; e que a ideia é construir um parque no fim da Asa Norte, com ciclovias e calçadas, para “humanizar e integrar o empreendimento”. E acrescenta que a obra vai “disciplinar o tráfego”.
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Floresta explorada não volta a ser a mesma

Por Vandré Fonseca
O insustentável manejo da floresta. Foto: Ibama.
O insustentável manejo da floresta. Foto: Ibama.


Manaus, AM -- A motosserra pode causar traumas irrecuperáveis na floresta, mesmo quando está a serviço do manejo dito sustentável. Um estudo publicado na revista científica on-line PLOS ONE, por pesquisadores da Universidade de East Anglia, Inglaterra, sugere que espécies nobres, de alto valor, quando retiradas da floresta não retornam a níveis comerciais e correm o risco de desaparecer.



Foram estudados 824 áreas de exploração madeireira, espalhadas pelos 124 milhões de hectares de extensão do estado do Pará. Os dados coletados indicam a extração de 17,3 milhões de metros cúbicos de madeira, de 314 espécies diferentes. O Pará é responsável por quase metade da produção de madeira a partir de floresta nativa da Amazônia.


O estudo revelou que, para manter o retorno econômico, os madeireiros são obrigados continuamente a explorar novas áreas de floresta primária.


“Nossa análise mostra que até mesmo o chamado ‘manejo de impacto reduzido’ em florestas tropicais pode não ser definido como sustentável em termos da composição e dinâmica florestal a longo prazo, sem considerar ainda a maior suscetibilidade das florestas exploradas a incêndios catastróficos“, afirma o professor Carlos Peres, um dos responsáveis pelo estudo.


Além de não encontrar evidência de que a composição volumétrica de espécies madeireiras recupera o valor inicial após o primeiro corte, os pesquisadores verificaram que apenas nas operações em frentes de atividade madeireira mais recentes e remotas, longe de estradas de tráfego pesado, ocorrem as espécies de alto valor comercial.


A tendência da atividade madeireira, além de buscar áreas ainda não exploradas, é manter um portfólio de abate, concentrado nas espécies de maior valor comercial. Para os pesquisadores, gerenciar os ganhos nas áreas de exploração de florestas é crucial para a integridade da biodiversidade e da viabilidade econômica da atividade a longo prazo.


De acordo com a autora principal do artigo, Vanessa Richardson, estudos prévios na Ásia sugerem que a atuais práticas comerciais podem levar a exploração de espécies até elas se tornarem raras a ponto de não ter mais viabilidade econômica. “Nossos estudos na região Neotropical reforça essa ideia”, afirma. “Nós já podemos ver uma mudança no mercado, em que madeireiros na fronteiras mais antigas e empobrecidas da Amazônia são forçados a dependerem de espécies de crescimento rápido, de madeira macia”, completa.


Durante o trabalho de campo, Vanessa Richardson calculou também o estrago que a derrubada de uma grande árvore, mesmo com corte seletivo e certificado de baixo impacto, provoca ao redor. De acordo com ela, morrem em média 12 árvores pequenas, por acidente, criando clareiras, onde ocorre a proliferação de espécies de crescimento rápido e madeiras leves.


Ela destaca que quando a exploração deixa a floresta totalmente diferente, mais suscetível ao fogo, à construção de estradas, à conversão do solo para a pecuária e entrada de caçadores, que podem reduzir as espécies de animais responsáveis pela dispersão de sementes.


“Todos estes fatores são conectados, mas é como se o primeiro ciclo de corte fosse a primeira facada na degradação da floresta”, compara a pesquisadora. “Para garantir a recomposição dessas árvores nas concessões florestais, ideal seria proibir o segundo ciclo, ou no mínimo adiar, ou diminuir o limite do volume legal para o corte, porque no modelo atual vai demorar muito mais do que 30 anos para recompor todas as espécies”, completa.


Um trabalho para mais três séculos .Será que a Amazonia aguentará tanto?

Por Vandré Fonseca
Mais de 11,6 mil espécies de árvores já foram identificadas na Amazônia, mas ainda falta cerca de 4 mil segundo o estudo. Crédito: Nigel Pitman, The Field Museum.
Mais de 11,6 mil espécies de árvores já foram identificadas na Amazônia, mas ainda falta cerca de
 4 mil segundo o estudo. Crédito: Nigel Pitman, The Field Museum.


Manaus, AM -- Ainda vão ser necessários 300 anos para conhecermos todas as espécies de árvores existentes na floresta amazônica. Isso se o ritmo de descrições de novas espécies se manter o mesmo registrados desde 1900. A conta foi feita por uma equipe internacional de botânicos, com participação do Museu Paraense Emílio-Goeldi, de Belém, que calcularam também o total de espécies já conhecidas e estimaram o número que ainda não foi descoberta pelos cientistas.


O resultado do estudo foi publicado na revista Scientific Reports, em junho. A mesma equipe já havia estimado que a Amazônia abriga cerca de 16 mil espécies diferentes de árvores. Agora, depois de um levantamento em cerca de 500 mil amostras em diferentes museus, eles concluíram que já foram descritas 11.676 espécies diferentes da árvores amazônicas, ou seja, ainda há muito trabalho a ser feito para descrever todas, ou pelo menos quase todas, que existem.


Nas contas dos pesquisadores ainda existem 4 mil espécies diferentes à espera de ganhar nomes científicos. “Desde 1900, entre cinquenta e duzentas novas árvores são descobertas na Amazônia todos os anos”, conta o ecologista Nigel Pitman, do Field Museum. Para os responsáveis pelo estudo, esse levantamento é importante para pesquisadores que estudam a floresta amazônica.
Levantamento foi possível graças às novas tecnologias que permitem digitalizar coleções e agregar as informações. Crédito: Kevin Havener, The Field Museum.
Levantamento foi possível graças às novas tecnologias que permitem digitalizar coleções e agregar as informações. 


Crédito: Kevin Havener, The Field Museum.


Para que o trabalho fosse possível, foi necessário digitalizar as coleções que estavam em diferentes museus do mundo. Pitman destaca que o projeto é o casamento de coleções centenárias com novas tecnologias, que tornaram possível compartilhar e agregar todas os dados das coleções. 


“Nós estamos tentando dar às pessoas ferramentas para elas não trabalhem no escuro”, afirma o líder do estudo Hans ter Steege, professor visitante do Museu Emílio Goeldi. “O checklist dá aos cientistas uma noção melhor sobre o que atualmente está crescendo na Bacia Amazônica e que ajuda nos esforços de conservação”, completa. 


De acordo com Nigel Pitman, o Field Museum de Chicago, que participa dos estudos, tem coletado e descrito espécies da Amazônia há mais de um século. “Nós temos cientistas aqui, como Robin Foster, que tem trabalhado na botânica amazônica por décadas”, conta. “Esta nova lista é de certa forma o auge de todo este trabalho”.



Saiba Mais
Artigo: The discovery of the Amazonian tree flora with an updated checklist of all known tree taxa Hans ter Steege, Rens W. Vaessen, Dairon Cárdenas-López, Daniel Sabatier, Alexandre Antonelli, Sylvia Mota de Oliveira, Nigel C. A. Pitman, Peter Møller Jørgensen & Rafael P. Salomão.