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Em entrevista à RBA, secretário de
Habitação da capital paulista, José Floriano, fala sobre a política
habitacional e adianta que algumas desapropriações, como a Prestes
Maia, podem não sair do papel.
por Gisele Brito, da RBA
publicado
10/02/2014 10:06,
última modificação
10/02/2014 19:06
Danilo Ramos / Arquivo RBA
Ocupação Prestes Maia, centro da capital: valor do imóvel pode fazer prefeitura recuar de desapropriação com fins sociais
São Paulo – Atualmente, 130 mil pessoas mantêm
cadastro atualizado junto à Secretaria Municipal de Habitação de São
Paulo e compõem oficialmente o déficit habitacional da cidade. Na
realidade, porém, o índice é muito maior, dada a quantidade de pessoas
que nunca se cadastraram ou que não atualizaram seu registro no último
ano. A meta do governo Fernando Haddad (PT) de construir 55 mil unidades
habitacionais até o final de seu mandato, em 2016, alimenta
expectativas nas organizações sociais.
Responsável por comandar uma das políticas públicas mais urgentes e
com maior mobilização social na cidade de São Paulo, o secretário
municipal de Habitação, José Floriano, fala como um técnico e evita
posicionamentos políticos.
Apresenta números e tabelas e parece não se
abalar com a pressão social que bate à sua porta desde que assumiu a
pasta, no início da gestão Haddad – o tecnicismo é uma das
características mais criticadas pelos movimentos sociais, ainda
inconformados em ter como secretário um homem indicado pelo Partido
Progressista de Paulo Maluf.
Em entrevista exclusiva à
RBA, Floriano diz que
apenas 25% dos
moradores de prédios ocupados na cidade poderão ficar nesses locais
depois da regularização.
Informa que pretende acabar com o
auxílio-aluguel, que consome por ano R$ 70 milhões, e que a
desapropriação para a viabilização de habitação social de uma das
maiores e mais representativas ocupações da cidade, no número 911 da
Avenida Prestes Maia, na Luz, pode não “valer a pena” do ponto de vista
financeiro – afirmação atenuada pela promessa de que a prefeitura fará
um “esforço sobre-humano” para viabilizar o projeto.
Leia a seguir trechos da conversa com o secretário sobre o andamento da política habitacional.
Mesmo com a contínua afirmação da meta de 55 mil unidades
construídas até o fim do mandato de Haddad, muitos movimentos de moradia
têm se mostrado insatisfeitos. Por que o senhor acha que isso ocorre?
Houve um hiato muito grande entre o ritmo que vinha de gestões bem
antigas de construção habitacional. Nos últimos oito anos, caiu muito o
ritmo das obras e planejamento de habitação social. Esse vácuo deixou
realmente a população bem estressada, sem horizonte. Nós estamos aqui na
secretaria para garantir o cumprimento da meta. Mas demora para você
planejar, desapropriar terrenos, viabilizar os financiamentos
habitacionais.
Nesse primeiro ano, realmente todos os movimentos sociais e entidades
ficaram preocupados e com motivos justos. Agora eles estão vendo que o
que nós estamos planejando desde 2013 está sendo colocado em prática. A
gente já tem mapeada a possibilidade real da execução dessas 55 mil
unidades.
-
gerardo lazzari
- José Floriano disse que a prefeitura pretende acabar com o auxílio-aluguel, que consome por ano R$ 70 milhões
Como está o andamento da meta?
Já há 1.940 unidades concluídas. Estão em obras 11.207 e já estão
viabilizadas 34.784 unidades. O que significa isso? Estão concluídas,
contratadas ou em obras. Mais 10 mil estão em projeto com terreno
próprio ou em desapropriação.
Essas unidades já tiveram os terrenos desapropriados?
No ano de 2013, nós pagamos R$ 82,5 milhões em desapropriações de
terrenos, cujas áreas vão dar cerca de 9 mil unidades habitacionais. De
fevereiro a junho, nós temos que cumprir uma meta ousada do prefeito
Fernando Haddad, que é pagar mais R$ 220 milhões em desapropriação. Os
recursos estarão disponíveis a partir de março.
Dinheiro do Tesouro?
Não. Será de várias fontes que o prefeito está conseguindo passar
para a Sehab e para a Cohab. São vários fundos, operações urbanas e um
pouco de dinheiro do Tesouro.
A prefeitura irá construir várias unidades em parceria com o
governo do estado. Até agora, são 30 mil pelo Casa Paulista e mais 2 mil
na parceria público-privada do Centro. Como vai ser a escolha de quem
vai morar nos apartamentos construídos?
Vai ser equilibrada entre município e estado. Não existe um que
prevaleça. Se na região as famílias em áreas de risco – que serão as
primeiras a serem contempladas – estiverem em maior número, elas serão
atendidas pela indicação da Sehab; se tiver uma parte pelo Estado, nós
vamos sentar e resolver.
Mas como será a divisão com as pessoas que estão com os movimentos sociais?
Do total de 55 mil unidades, nós temos um planejamento de atender
pelo menos 11 mil para as entidades. Isso vai ser feito. Vamos
credenciá-las, fazer um chamamento e temos ainda de definir como será
atendida cada uma delas.
A secretaria tem a preocupação de desenvolver mecanismos que
contornem a alta valorização imobiliária, um dos principais problemas
para as políticas habitacionais de todo o país?
A forma de contornar isso, para a gente atender à demanda da baixa
renda, é subsidiar os recursos. Mesmo que a gente pague caro, mesmo que a
gente veja que em alguns prédios do Centro a gente tenha de contemplar
movimentos sociais que estão ali há muitos anos consolidados. Como a
gente tem esse compromisso de 25% das pessoas que estão ocupando o
centro da cidade nós deixarmos ali, então provavelmente vamos ter de
adequá-las dentro de algum edifício que vai ser revitalizado – e vamos
ter de subsidiar.
E como está o andamento das desapropriações no centro?
Temos 49 prédios com ocupações e temos alguns que não vão valer a
pena desapropriarmos, mas a grande maioria vai entrar em desapropriação.
Trinta e dois dos 49 já estão com ação ajuizada. Isso significa que tem
interesse da prefeitura.
Só o decreto não garante que o processo de desapropriação será
concluído. A prefeitura vai mesmo pagar pela desapropriação deles?
Dentro desses R$ 220 milhões que nós temos até junho para gastar, vamos pagar por esses prédios.
Neste ano serão pagas as desapropriações para dar início às reformas?
Vai estar na pauta. Vamos resolver.
O senhor diz que alguns não vão valer a pena...
É porque o custo da reforma passa de R$ 200 mil por unidade. Alguns
chegam a ser R$ 250 mil, R$ 300 mil. Aí descartamos. Porque é inviável
para produzir unidades para a população de baixa renda ou mesmo a de
média renda, que recebe até seis salários e também vai ser motivo de
ingresso no programa habitacional do Centro.
Valerá a pena desapropriar o edifício Prestes Maia e o Mauá, na
região da Luz, duas das maiores e mais antigas ocupações da cidade, que
estão com Decreto de Interesse Social?
O Mauá já está com planta expropriatória. Vai valer a pena, vamos
fazer. O Prestes Maia tem uma avaliação de mercado que está muito acima
do valor. Nós vamos propor a ação com valor bem menor do que o valor de
mercado e vamos deixar o perito judicial avaliar qual é o preço correto.
Aí, em cima desse valor, a gente vai ver se vale a pena ou não.
Então o Prestes Maia pode não ser destinado para habitação social?
Ele está nesse grupo de "talvez". Mas existe uma chance enorme de ser
porque tem essa ocupação de muitos anos, vai haver um esforço
sobre-humano da prefeitura para realizar esse pagamento.
A prefeitura não pode descontar o valor da dívida dos proprietários do Prestes Maia?
Pelo critério contábil legal nós temos de depositar o valor de quanto
vale a edificação e, em seguida, a Secretaria de Finanças entra com a
solicitação de devolução do dinheiro para os pagamentos atrasados.
O programa de urbanização de favelas está em ritmo lento. Quando será retomado?
No orçamento deste ano vamos tentar recuperar o atraso destas obras.
Em 2013, trabalhamos com o orçamento previsto pela gestão anterior.
Então as obras andaram muito lentamente, principalmente na urbanização
de favelas. Mas já houve uma revisão de estratégia e vamos aumentar a
velocidade das obras que estão em andamento.
Vocês também não estão divulgando o andamento da meta da regularização fundiária. Como anda isso?
Até o meio do ano nós andamos de maneira tímida. Aí o prefeito pediu
que os recursos fossem aumentados. Em 2014 vai haver um aumento de
trabalho nessa área. Até 2016 vamos conseguir atender às 200 mil
famílias, que foi o prometido pelo prefeito.
Atualmente, 22.394 famílias recebem auxílio-aluguel, uma política
que era muito criticada nas gestões anteriores, e que vem sendo
diminuída agora. A tendência é acabar com o benefício?
Essa política não resolve o problema. A tendência é acabar. Estamos
com planejamento até 2017 ou 2018 para que os futuros gestores da cidade
não tenham esse problema de pagar aluguel social nem parceria social.
Mas qual será a solução para as pessoas que precisam de assistência? Vai ter moradia para todo mundo?
Hoje nós temos 230 mil em situação precária de moradia que precisam
de habitação. Nós estamos com um projeto de 55 mil (moradias), mas vamos
deixar contratado ao longo desses anos que faltam para cumprir o
mandato em torno de 140 mil unidades. Com isso acho que vai diminuir
bastante o déficit habitacional de São Paulo.
Teremos muito cimento pela cidade nos próximos anos...
Eu falo que daqui a dois anos, dois anos e meio, São Paulo vai ser o
maior canteiro de obras da América Latina. Vai mudar muito o panorama da
cidade. Principalmente com as obras da nossa secretaria e com as de
Mobilidade Urbana, que também vai ter recursos.
Quando o senhor diz que vai mudar a cara da cidade é no sentido de
aproximar o centro da periferia? Essas obras vão dar qualidade de
centro para as periferias?
Vai mudar porque não só no centro e no centro expandido vai
haver muita concentração habitacional, mas também porque na zona leste e
principalmente na zona sul vai mudar drasticamente a urbanização dos
bairros, tanto na infraestrutura urbana, quanto na construção
habitacional.