Embora tenha um enfoque ideológico
esquerdista, tendencioso, pela leitura original, na íntegra, do Ato-5, vale a pena ver este
documentário produzido pela tal “Comissão Estadual da verdade” em São Paulo. Já
a leitura do texto do Azambuja revela o que inspirou tal ato.
Por Carlos I. S. Azambuja
“A geração que chegou ao poder com o
presidente Lula deve muito a Cuba. Nos anos do regime militar a esquerda teve a
solidariedade de Cuba com sua mão amiga e seu braço forte. A geração que chegou
ao poder com Lula é devedora de Cuba. E me considero um brasileiro cubano e um
cubano brasileiro”. (José Dirceu, abril de 2003)
Em
1998 a editora Garamond editou o livro “Abaixo a Ditadura – O Movimento de 1968
contado por seus líderes”, escrito por José Dirceu de Oliveira e Silva (o “capitão
do time”, segundo Lula, um corrupto que hoje cumpre pena na Papuda) e Wladimir
Palmeira.
É
altamente instrutivo recordar algumas passagens desse livro, uma vez que o Movimento
de 1968, como foram denominados os distúrbios de rua que o então governador do
então Estado da Guanabara, Negrão de Lima, declarou em rede de TV, que o Estado
não possuía condições de conter, foram uma das origens do Ato Institucional nº
5 de 13 de dezembro de 1968, instrumento idealizado pelo governo para impor a
Lei e a Ordem.
Também
é interessante assinalar o ambiente carregado em toda a América Latina, uma vez
que no ano anterior, em Havana, havia sido constituída a Organização
Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), em uma reunião à qual esteve presente
Carlos Marighela. Mas, solidariedade a quem? A Che Guevara, que já se
encontrava na Bolívia, com o objetivo de criar vários Vietnãs na América
Latina.
Vamos
ao livro.
Escreveu
Wladimir, liderança dos distúrbios no Rio de Janeiro: “Nós sempre tínhamos uns
mensageiros ou batedores, em geral secundaristas, observando constantemente
onde estava a polícia. De repente eles chegavam e diziam: ‘Wladimir, carro
da polícia entre a Alfândega e tal. Queima?’ Eu respondia: ‘Queima!’, e os
meninos queimavam. A gente estava preparado para isso (...) Quando fui preso, o
Franklin (observação: Franklin Martins, que foi comentarista político da TV
Globo e membro do governo do PT) e o Carlos Alberto Muniz (observação:
Carlos Alberto Vieira Muniz, posteriormente um dos dirigentes do MR-8)
assumiram a liderança sem problemas (...)
No enterro do Edson Luiz, por
exemplo, a Light cortou as luzes da rua quando estávamos passando pela praia de
Botafogo. Logo em seguida, o Luiz Antonio, da Dissidência Secundarista, chegou
correndo: ‘Como é Vladimir? Vamos fazer alguma coisa? Podemos quebrar as
lâmpadas?’ ‘Quebra essa porra toda!’, respondi. E ele foi e quebrou. Quando o
pessoal do PCB começou a denunciar que havia policiais infiltrados fazendo
provocações, imediatamente vinha a réplica: Não, foi o Vladimir que mandou”.
Escreveu
José Dirceu: “Na manifestação de 1º de Maio (1968), o Movimento Estudantil e o
Agrupamento Revolucionário de São Paulo destruíram o palanque do Abreu Sodré na
Praça da Sé e botaram o governador para correr. Ali ocorria o primeiro laço
mais forte entre o Movimento Estudantil, a classe operária e os
revolucionários; esse Agrupamento era o grupo que saiu do PCB com o Marighela e
depois se transformou na ALN; já possuíam um esquema militar e estavam
iniciando as ações armadas.
Mais tarde eles também nos deram cobertura em outros
momentos, principalmente durante a ocupação da Maria Antonia. Nesse dia o
governador levou uma pedrada (...). Fomos para a praça dispostos a denunciar
aquela palhaçada e dissolver o ato público. Avançamos, destruímos e queimamos o
palanque, e depois saímos em passeata pela cidade.
A polícia ainda tentou
reprimir, mas se não tivessem se escondido na igreja nós teríamos ido atrás
deles (...). Não podíamos aceitar passivamente que aqueles agentes da ditadura
viessem posar de políticos ligados às causas populares (...). Mais tarde também
apoiamos integralmente a greve de Osasco. Fizemos panfletagens e comícios em
todo o Estado (...). Nossa concepção era de que o Movimento Estudantil tinha um
papel bem delimitado, ao contrário da Ação Popular, que o considerava como
vanguarda da sociedade para derrubar a ditadura (...). No PT, no fundo,
ainda sou muito do que fui no Movimento Estudantil (...)”.
Prossegue
José Dirceu: “Fizemos um Congresso da UEE (União Estadual de Estudantes) no
conjunto residencial da USP (CRUSP) em agosto (1968), que foi manchete em todos
os jornais (...). O Congresso do CRUSP reuniu cinco mil pessoas; a repressão
havia anunciado que iria impedir o encontro, mas nós fizemos na marra e
conquistamos uma grande vitória política (...). e aqueles milhares de delegados
me consagraram como presidente da UEE. No dia seguinte, a Última Hora publicou
uma manchete em duas páginas: ‘José Dirceu venceu’, com uma grande foto minha e
uma longa matéria sobre o Congresso”.
Wladimir
Palmeira: “Não havia diferença entre o estudante do (restaurante) Calabouço e o
estudante universitário. O pessoal do ‘Calaba’ não era apenas mais pobre, era
também mais radicalizado. Quando ia para as ruas, gostava de depredar carros na
av Rio Branco; muitas vezes queriam quebrar o fusca de um sujeito de classe
média que eventualmente estava até simpatizando com a nossa luta: para eles,
era ‘tudo rico’ (...) Eles eram muito combativos e levavam para as passeatas
uns cacetes enormes com uma minúscula bandeirinha do Brasil na ponta, só para
dar o visual.
Eram os que mais brigavam com a polícia (...). O problema é que
já não controlávamos mais a maioria do DCE da Federal; a maior parte dos
diretores havia ido para o PCBR no racha de 1967. Era necessário ganhar politicamente,
e fomos para a Praia Vermelha dialogar com os estudantes. Fizemos uma aliança
com o Jean Marc (observação: Jean Marc Van der Weiss, dirigente da Ação
Popular, posteriormente um dos trocados pela liberdade de um embaixador
seqüestrado), nosso tradicional adversário; o PCBR, uma força que tentava
se colocar mais à esquerda, também terminou aceitando nossa proposta. A partir
daí, começamos a organizar uma manifestação que ficou conhecida como ‘a
quarta-freira sangrenta’.
Nossa preparação, entre o fim de maio e começo de
junho (1968), incluiu coquetéis molotov, cacetes, pedras, principalmente, e um
forte trabalho político em todas as universidades. Seria uma passeata para
inverter tudo o que se fizera até então”.
Prossegue
Vladimir: “No dia 19 de junho todos estavam a postos. Tínhamos organizado
três colunas para entrar ao mesmo tempo no pátio do MEC, chegando de três
direções diferentes. Uma burrice, mas também não éramos nenhum Von Klausevitz
para saber que se devem concentrar as forças. Ao meu lado, na mesma coluna,
creio que marchava o Brito (Elinor Brito) e, com certeza, o Cid Benjamim
(observação: respectivamente, dirigentes do PCBR e do MR8, posteriormente
banidos do país, trocados pela liberdade de um embaixador seqüestrado).
Quando
eles se aproximam, começamos a jogar pedras e a porrada começou; uma verdadeira
batalha campal (...) Os estudantes caíam, esfarrapados, machucados, sangrando,
era uma loucura. E afinal não conseguimos ocupar o MEC (...) Nos deslocamos
individualmente ou em pequenos grupos para a Av. Rio Branco. Dessa vez montamos
uma barricada na avenida, uma alteração radical na nossa tática de luta. Desde
1966, costumávamos avançar pela contramão no meio do trânsito.
Assim o
deslocamento da polícia ficava impedido pelo engarrafamento total do centro do
Rio. Essa tática tornou-se uma marca registrada em todo o Brasil (...) Naquela
quarta-feira nos plantamos ali, no meio da avenida mais importante do centro do
Rio de Janeiro, defendendo com paus e pedras nossas posições atrás das barricadas.
A certa altura aconteceu uma cena inesquecível.
De repente estacionou por perto
um caminhão cheio de PMs, pelo menos uns vinte, armados até os dentes (...) Fui
lá, fiz um discurso, fui embora e os PMs não levantaram um dedo. Depois, uma
turma cercou o caminhão, mas os soldados continuaram na deles, impassíveis. Uma
coisa impressionante (...)
Fiz mais um comício por ali mesmo e fomos encontrar
o Marquinhos (observação: Marcos Medeiros, do PCBR) e o pessoal que estava com
ele em frente ao antigo Jornal do Brasil, perto da Presidente Vargas. Montamos
outra barricada e, como dessa vez não havia trânsito, a polícia chegou logo,
disposta a dar porrada. Era aquela polícia terrível, que marchava em passo de
ganso exibindo bombas, cassetetes e uns escudos enormes. Quando chegaram a uns
50 metros, o Marquinhos se levantou e disse: ‘E agora, Vladimir, o que é que a
gente faz?’
Eu respondi: ‘Pau neles!’ E pela primeira vez partimos para cima da
polícia. Os soldados saíram correndo com os estudantes atrás. Quando tomamos
conta da Uruguaiana eles decidiram mandar os cavalos. Continuamos com as pedras
e conseguimos derrubar muitos animais com as nossas rolhas e bolas de gude
espalhadas pelo chão. Há uma foto muito significativa desse momento: um menino
– secundarista, imagino – sorrindo em cima de um cavalo, com um capacete da PM
na cabeça. Logo depois tocaram fogo em um caminhão do Exército.
Ninguém sabe
quem foi, mas o acusado foi o Jean Marc (...) Quando vimos a PE chegando,
achamos prudente bater em retirada (...) O Jean Marc pegou um ônibus e foi
preso. Um cabo o reconheceu e disse que ele tinha incendiado o tal caminhão
(...). Entrei formalmente na clandestinidade nessa noite; ao voltar para casa,
vi que a polícia já estava lá. Em geral só ficavam atrás de mim, observando,
mas naquela quarta-feira queriam mesmo me prender (...).A partir de 2 de agosto
eu já estava preso”.
José
Dirceu: “Nessa época eu já estava começando a ter problemas. Já era
semi-clandestino, andava armado, com segurança, e dormia em vários locais, isso
porque estava sendo processado com uma acusação ridícula, tipo ‘organizar
entidade ilegal’ (a UEE), e desde 1967 já havia ordem de prisão contra mim;
obviamente não tinha me apresentado para prestar depoimento, eu não sou
ingênuo. Passei a ser um elemento procurado. Mas a clandestinidade não me
assustava (...) A tragédia da esquerda nas faculdades foi que as organizações
político-militares estimulavam os dirigentes estudantis a entrarem para a
clandestinidade (...)
Muita gente foi trabalhar em outros lugares, mudou de
cidade, de faculdade e, às vezes, de nome (...) Quando os integrantes da
Dissidência de São Paulo acabaram aderindo à ALN, outros à VPR, decidi não
entrar para nenhuma das duas organizações porque nunca fui foquista. Participei
da luta armada, apoiei, achava que era necessária, mas na verdade nunca
acreditei nela como forma de luta; eu me inclinava mais para uma resistência
armada. Porém nunca questionei isso, nunca debati; quer dizer, me acovardei
nessa discussão”.
Prossegue
José Dirceu: “No dia 24 de junho fizemos uma grande manifestação no
centro. Saíamos da Praça da República e seguimos para o Largo do Arouche. Lá,
usando coquetéis molotov, pedras e paus, o pessoal quebrou a porta de vidro e
várias janelas da Secretaria de Educação e da Academia Paulista de Letras. Na
esquina da Av. Ipiranga com S. João, arrancaram um poste para, com ele, tentar
arrombar as portas do First National City Bank of New York (...). Um
grupo começou a gritar ‘Estadão, Estadão’, e imediatamente nos dirigimos pela
Av. S. Luiz rumo ao jornal, onde fomos recebidos a tiros por franco-atiradores
postados dentro do prédio (...).
Gritando e correndo, vários manifestantes
responderam com tiros e coquetéis molotov contra a fachada do jornal, quebraram
vários vidros e puseram fogo no andaime que estava na portaria. Eu dei início à
passeata fazendo um discurso pelo megafone (...). Na esquina seguinte vimos um
Aero-Willys chapa branca preso no engarrafamento.
Aos gritos de ‘quebra, põe
fogo’, o carro foi cercado por um grupo e seu motorista expulso. Os estudantes
quebraram os vidros e depois viraram o carro e o incendiaram, enquanto a
polícia ficava observando de longe (...). Não foi por acaso que, mais tarde, a
ditadura destruiu e pôs fogo na Faculdade de Filosofia da rua Maria Antonia,
fechou o prédio da FAU e transformou a Faculdade de Economia numa dependência
da justiça militar.
Aqueles lugares representavam o espírito libertário e
criativo (...). O que era o CRUSP? Era a zona livre, a guerrilha, a luta
armada. Por isso foi ocupado por nós e se tornou um bastião (...).
As
escolas tinham virado repúblicas livres, onde se fazia política, arte e cultura
– e até se estudava. Lá comíamos e bebíamos, fazíamos reuniões, eventos,
conferências; lá dormíamos e namorávamos. Milhares de estudantes circulavam
pelos pátios e corredores, era uma verdadeira feira, em ebulição permanente.
Festivais, aulas paralelas, seminários, exposições, música, cineclube...
Imagine o que era a universidade ocupada em 1968. Parecia que estávamos diante
do embrião de uma sociedade diferente. Aquilo era uma festa (...). Tive uma
grande paixão no Movimento Estudantil: a Iara Iavelberg, que mais tarde foi
companheira do Lamarca (...) Iara era presidente de um Diretório Acadêmico e
militante da POLOP (observação: Política Operária, uma das organizações que deu
origem à VPR), que nessa época estava em pé de guerra com a Dissidência”.
Vladimir:
“O confronto da sexta-feira no Rio foi o primeiro em que morreu um policial:
alguém jogou do alto de um edifício uma máquina de escrever em cima dele
(observação: sargento da PM Nelson de Barros, em 21 de junho de 1968). Os
jornais da época disseram que 55 PMs foram hospitalizados (...). Entre os civis
morreu muita gente; não sei precisar quantos, mas na época dizíamos que tinham
sido no mínimo dez. Depois calcularam 17, enquanto a polícia só reconhecia um
(...). Dizem que a ditadura comprou o silêncio das famílias, pagou os enterros
e ainda deu algum dinheiro a eles (...).
Quem restabeleceu a ordem, já de
noite, foi a Polícia do Exército (...). No intervalo entre a sexta-feira e a
quarta seguinte, dia da passeata dos Cem Mil, entrei numa clandestinidade
rigorosa e não pus o nariz na rua durante vários dias (...). Não sou a pessoa
mais indicada para descrever o ambiente da cidade do Rio de Janeiro naqueles
dias que antecederam a passeata, mas sei que reinava uma tensão enorme.
De
repente, na segunda-feira à noite o Negrão de Lima surpreendeu todo mundo
anunciando na televisão que iria permitir a passeata e disse mais ou menos o
seguinte: ‘Por favor, pelo amor de Deus, não toquem fogo no Rio de Janeiro. Eu
decidi permitir a passeata para evitar o confronto, mas não depredem nossa
cidade’ (...). A passeata reuniu muitos padres e freiras (...). Desta vez muito
mais artistas e intelectuais, não faltava ninguém das figuras mais conhecidas
(...). A passeata virou um passeio (...).
Não houve a menor confusão. Mais
tarde a Polícia do Exército se gabou de ter feito a minha segurança; quando eu
estava na cadeia os caras passaram um vídeo mostrando quantos deles havia em
torno de mim. Cansei de ver o tal vídeo (...). Durante a passeata eu já sabia
que ali estava cheio de policiais; aliás, quase todos naquela minha segurança
eram desconhecidos...eu ia fazer o que? (...). Na hora de ir embora, pegamos o
fusca do Luiz Tenório, que hoje é presidente do Sindicato dos Médicos, e
seguimos direto para Botafogo e o Tenório me deixou ali, numa esquina qualquer
– para não saber onde eu iria dormir – e continuou a viagem. Duas horas depois
ele estava em cana”.
José
Dirceu: “Resolvemos desocupar a Maria Antonia e ir para o CRUSP. Não
podíamos travar uma guerra ali, pois isso seria o pretexto que precisavam para
invadir todas as outras faculdades e liquidar o Movimento Estudantil. Os tempos
já eram outros. Assim que saímos, a polícia ocupou as duas escolas, prendeu
vários estudantes e logo depois o prédio da Filosofia foi incendiado pelo CCC
(Comando de Caça aos Comunistas). Anos depois, a “filósofa” Marilena Chauí,
professora universitária (!) recorda esse dia, em texto publicado na Folha
de São Paulo:
‘-
3 de outubro de 1968. Ruído de carros pesados, cães a latir, estrépito de botas
pelo calçamento, sirenes, gritos, palavras de ordem, comandos.
-
Estão vindo! O Exército e a polícia estão chegando!
-
Atenção! Cada qual procure um lugar para defender a Faculdade. Rápido, rápido.
-
Olhem, olhem! Estão subindo na torre e nos telhados do Mackenzie! O CCC os
chamou para lá! Vão metralhar, gente, vão metralhar!
-
Estão jogando bombas. Depressa, coquetel molotov aqui, depressa!
-
Mas temos poucos. Ninguém pensou que iriam ser necessários.
-
Pedras, pessoal, jogar pedras.
-
Estão metralhando! Tem um morto! Tem um morto!
-
Mataram um estudante!
-
Mataram...Fogo! A Maria Antonia está pegando fogo. Água, pessoal, água, pelo
amor de Deus!
- Fogo, fogo! A Faculdade pegou fogo! Todo mundo tem que sair . Não pode haver
mais mortos.
Sob
gritos furiosos e fogo cerrado – incêndio de um lado, metralhadoras e bombas,
de outro – a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras é esvaziada. Seus
ocupantes, submetidos ao corredor polonês, são lançados em camburões rumo ao
DOI-CODI ao DOPS e à OBAN’”.Observação: o DOI-CODI só foi constituído na década
de 70!
A
dona Marilena, que mais tarde iria se converter na musa do PT, hoje, depois do
mar de lama que envolve o seu partido e o seu governo, não escreve e não fala.
Prefere manter-se em silêncio.... “O silêncio dos intelectuais”.
A
bomba no Aeroporto dos Guararapes, em 15 de julho de 1966, que causou a morte
de duas pessoas e ferimentos em outras; o atentado ao Quartel-General do II
Exército, em 26 de junho de 1968, em São Paulo, que causou a morte do soldado
Mario Kosel Filho; e o assassinato do capitão do Exército dos EUA Charles
Rodney Chandler, em São Paulo, em 12 de outubro de 1968, na frente de seus
filhos sob a acusação de ser um agente da CIA, bem como os fatos acima
narrados por duas lideranças estudantis da época, podem ser considerados as
sementes do Ato Institucional nº 5 de 13 de dezembro de 1968.
Embora
todos esses fatos possam ser encontrados em livros, jornais e revistas da época
– os próprios autores consultaram O Estado de São Paulo, O Globo, Correio
da Manhã, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Jornal da Tarde, Folha de São
Paulo, revista Realidade, Revistas da Civilização Brasileira, livros: O
Poder Jovem, de Artur José Poerner, A Paixão de uma Utopia,de Daniel
Aarão Reis Filho e Pedro Moraes, O Ano que não Terminou, de Zuenir
Ventura – ainda hoje, 50 anos depois, aparecem aqueles que insistem em
reescrever a História do Brasil, como o jornalista Helio Contreras.
Segundo a coluna
do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos - O Globo de 27 de agosto
de 2005 -, seria lançado, proximamente, o livro “AI-5-Repressão no Brasil”, no
qual o jornalista Helio Contreras atribui ao brigadeiro João Paulo
Moreira Burnier, um ilustre militar, falecido no ano 2000, “a culpa do AI-5”.
Uma irresponsabilidade sem tamanho desse jornalista, uma vez que todos
sabem que o AI-5 foi discutido e aprovado, por unanimidade, em uma reunião do
presidente Costa e Silva com todos os seus ministros.
Dessa reunião, como é
óbvio, o brigadeiro Burnier não participou e nem poderia ter participado e,
tampouco, exercia influência sobre qualquer ministro de então. Daí, a se
considerar que essa publicação não passou de mais uma excrescência oportunista,
uma babaquice, como tantas outras que vêm sendo impingidas ao povo brasileiro
e, principalmente, às pessoas que não vivenciaram aqueles anos de chumbo.
Carlos I. S. Azambuja
é Historiador.