Premiê Jacinda Ardern saúda aprovação no
Parlamento de moção, que é simbólica. Oposição vê muito slogan e pouco
conteúdo, e ambientalistas dizem que ações do governo são insuficientes.
A Nova Zelândia declarou nesta quarta-feira (02/11) “situação de emergência climática”, um passo sobretudo simbólico já dado por mais de 30 países.
“Estamos no meio de uma crise climática que vai ter impacto em todos
os aspectos das nossas vidas e no tipo de planeta que os nossos filhos
vão herdar”, disse o ministro das Mudanças Climáticas, James Shaw.
A moção aprovada pelo Parlamento, por 76 votos a favor e 43 contra, é
simbólica, mas vem acompanhada de medidas para tornar os órgãos
públicos neutros em emissões de carbono até 2025.
A primeira-ministra Jacinda Ardern disse que se trata de um
importante passo para alcançar a meta de neutralidade de carbono no país
até 2050. Segundo ela, a declaração é um reconhecimento do ônus que as
próximas gerações enfrentam. “É sobre qual país elas vão herdar”,
afirmou.
Com a declaração, a Nova Zelândia
se une a um grupo de outros 32 países que declararam “emergência
climática”, entre eles a França, o Canadá e o Reino Unido, que, em maio
de 2019, foi o primeiro, logo seguido pela Irlanda.
Críticas ao governo
A oposição, que votou contra, disse que a moção carece de conteúdo.
“A ação do governo foi um triunfo da política sobre as soluções
práticas, e dos slogans sobre o conteúdo”, disse o parlamentar
oposicionista David Seymour.
No ano passado, o governo conseguiu aprovar uma legislação para
tornar o país neutro em emissões de carbono até 2050, apesar de excluir
as emissões de gás metano dos planos, para proteger o lucrativo setor
agrícola.
O metano, produzido sobretudo na pecuária, por ovelhas e bovinos,
responde por quase metade das emissões de gases do efeito estufa da Nova Zelândia.
Por isso, organizações ambientalistas, como o Greenpeace, dizem que
Ardern fez muito pouco pelo meio ambiente desde que chegou ao poder, em
2017, apesar de a campanha dela ter focado em questões ambientais.
“Quando a casa está em chamas, não adianta acionar o alarme sem
também combater o fogo”, afirmou a ativista Kate Simcock sobre a
declaração de emergência climática. “E, na Nova Zelândia, combater o fogo significa abordar as emissões da agricultura”, disse.
O Climate Action Tracker, um grupo científico que mede os esforços
contra o aquecimento global de governos de todo o mundo, afirma que as
ações da Nova Zelândia são insuficientes para alcançar as metas do país no Acordo de Paris.
No começo de 2021, a União Europeia começará a discutir uma norma que poderá aumentar a pressão contra o desmatamento no Brasil.
Empresas que vendem para a Europa terão de provar que seus produtos foram feitos sem contribuir com a destruição de biomas como a Amazônia e o Cerrado.
A proposta mira especialmente a soja e a carne de boi, dois dos
principais produtos vendidos pelo Brasil aos europeus. A mesma exigência
se aplicaria também a empresas europeias que venham a investir dinheiro
no Brasil — como bancos e fundos de investimento.
A discussão sobre o tema na União Europeia acontece num momento de
alta histórica na destruição da floresta amazônica. De agosto de 2019 a
julho de 2020, o país destruiu 11.088 km² de mata nativa. É o maior
número da década, superando o recorde do ano anterior (2018-2019). Os
números, preliminares, são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento
na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
Se confirmados, os dados do desmatamento da Amazônia
no último período serão 9,5% maiores que os do último período, quando
notícias sobre as queimadas na floresta tropical ganharam o mundo.
Só em carne de boi, o Brasil vendeu aos países europeus US$ 560
milhões em 2019. No mesmo ano, a venda de soja para os países do bloco
trouxe para o Brasil US$ 6,05 bilhões, o equivalente a R$ 32,5 bilhões.
A proposta foi aprovada pelo Parlamento Europeu no fim de outubro, na
forma de uma resolução apresentada pela eurodeputada alemã Delara
Burkhardt, do Partido Social-Democrata (SPD). Agora, diz ela, a Comissão
Europeia apresentará o projeto de uma nova norma sobre o assunto, já no
primeiro semestre de 2021.
Diferente do Congresso Nacional brasileiro, o Parlamento Europeu não
possui iniciativa legislativa — isto é, não pode dar início à tramitação
de leis. É por este motivo que o projeto de lei será formulado pela
Comissão Europeia, como explica Delara.
“Depois, haverá negociações entre o Parlamento Europeu e os
Estados-membros (da União Europeia). Por último, o Conselho Europeu terá
de aprovar o instrumento legal que nós formularmos”, disse ela em
entrevista à BBC News Brasil. A conversa foi conduzida no começo de
novembro.
“Na verdade, esta foi a primeira proposta de resolução aprovada pelo
Parlamento Europeu vinda do Comitê de Meio Ambiente (equivalente à
Comissão de Meio Ambiente na Câmara e no Senado brasileiros). Então, é
um momento histórico”, diz Delara, que é graduada em ciência política e
tem apenas 28 anos de idade.
“A atual presidente da Comissão Europeia, a Ursula Von der Leyen,
disse que vai apoiar toda iniciativa do Parlamento Europeu que tenha
maioria legislativa. Então, ela basicamente está obrigada, por suas
palavras, a apoiar propostas legislativas como esta”, disse Delara à BBC
News Brasil.
“A proposta concreta que eu apresentei na resolução é a de que
produtos agrícolas vindos do Brasil só possam entrar em mercados
europeus se ficar demonstrado que não contribuíram para o desmatamento e a destruição de ecossistemas como o Pantanal ou o Cerrado, além da Amazônia“, diz ela.
“Além disso, esses produtos vindos do Brasil e de outros países não
podem ter contribuído para a violação de direitos humanos, de direitos
de propriedade, ou direitos de populações indígenas”, completa.
“Minha proposta obriga as companhias que trazem estes produtos aos
mercados europeus a realizar diligências prévias (do inglês “due
diligence”: uma investigação sobre determinado produto ou empresa), e a
serem transparentes a respeito de toda sua cadeia produtiva”, diz
Delara.
“Precisam esclarecer, por exemplo, se a produção daquela commodity
(produto agrícola ou mineral não processado) implicou na transformação
de áreas preservadas em terra cultivada, ou se levou à degradação ou
desmatamento de alguma área”, diz ela.
“A questão, no fundo, é: ‘como nós, enquanto União Europeia, podemos parar o desmatamento que é provocado pelo nosso consumo (de produtos agrícolas), e que medidas vamos tomar para isto'”, diz a eurodeputada.
Segundo a parlamentar, o consumo dos moradores da Europa é
responsável por cerca de 10% do desmatamento global. E até 20% da carne
bovina e da soja que é exportada pelo Brasil para os países do bloco
estaria associada ao desmatamento, de acordo com ela.
Em termos globais, diz Delara, 80% da destruição de florestas
tropicais causada pela agricultura é provocada por três produtos: carne
bovina, óleo de palma e soja. Estes três são o alvo principal da
resolução, junto com café, cacau, borracha natural e couro.
“Algumas empresas agiram voluntariamente para tentar parar com o
desmatamento, mas obviamente esse esforço não teve sucesso até agora.
Não existem, até o momento, normas que garantam que se nós comemos
chocolate ou tomamos café na Europa, que nós não estejamos contribuindo
para o desmatamento“, diz ela.
Meio ambiente como foco de tensão
A proposta de Delara começa a ser debatida em um momento no qual o
meio ambiente é o principal ponto de tensão entre o Brasil e os países
do bloco europeu.
Em meados de novembro, o presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) tensionou a relação com os países do bloco ao dizer que
apresentaria uma lista de países que compram madeira irregular do
Brasil, fruto de desmatamento — mais tarde, acabou recuando e não
apresentou a tal relação. Em uma live com apoiadores, porém, Bolsonaro
mencionou especificamente a França.
O presidente brasileiro também aproveitou dois discursos recentes,
nas cúpulas do G20 (grupo das vinte maiores economias do mundo) e dos
BRICS para fazer críticas veladas aos países desenvolvidos que criticam a
política ambiental brasileira. No encontro do G20, por exemplo, Bolsonaro disse que o Brasil sofre “ataques injustificados”, que seriam perpetrados por “nações menos competitivas e menos sustentáveis”.
A deterioração das relações com a Europa também acontece num momento
em que os países do bloco discutem a ratificação do acordo
comercial fechado em meados do ano passado com o Mercosul, após 20 anos
de negociações. Para entrar em vigor, o acordo precisa agora ser
ratificado pelos parlamentos nacionais dos 27 países-membros do bloco
europeu — e pelos quatro países do Mercosul.
Delara Burkhardt garante, no entanto, que seu projeto de resolução
não afetará diretamente as chances do acordo comercial ser ratificado.
“Mas eu penso que, se a gente tiver um acordo Mercosul-EU, então uma lei
sobre cadeias de suprimentos, como é esta, será ainda mais relevante,
na medida em que teremos ainda mais trocas de mercadorias entre os
países do Mercosul e a União Europeia”, diz ela.
‘Imagens da Amazônia queimando acenderam o alerta na Europa’
Embora a resolução não se aplique somente ao Brasil, Delara diz que o aumento nos incêndios florestais em 2019 e 2020 no país foram uma das motivações para a nova norma. As imagens do fogo na Amazônia e no Pantanal serviram como um alerta para muitos europeus, disse ela.
Em 2020, a Amazônia brasileira registrou até o fim de outubro 89,6
mil focos de incêndio — o número é maior do que o registrado em todo o
ano de 2019, que por sua vez já tinha quebrado o recorde de vários anos
anteriores.
“Outros países, como a República Democrática do Congo e a Indonésia, dividem com o Brasil o ‘top 3’ de lugares com mais desmatamento.
Mas é justo dizer que o Brasil tem um dos principais problemas, pois um
terço da perda de florestas tropicais no mundo em 2019 ocorreu no
Brasil. E nenhum outro país no mundo tem tantas florestas tropicais”,
diz Delara Burkhardt à BBC News Brasil.
“Ninguém põe em dúvida o fato de que o Brasil tem soberania completa sobre a sua porção da Amazônia“, diz Delara.
“Mas também temos que ver que a Floresta Amazônica é de fundamental
importância para toda a humanidade. Portanto, se vamos ser parceiros
comerciais, precisamos pedir ao governo brasileiro que gerencie a
floresta de forma que ela beneficie a todos, e não apenas um punhado de
produtores de soja e carne”, diz ela.
Governo brasileiro projeta imagem ruim
A eurodeputada diz ainda que a imagem do governo brasileiro comandado por Jair Bolsonaro “não é muito boa” na Europa, principalmente por causa da questão ambiental.
“Temos um ministro do Meio Ambiente
(Ricardo Salles) que fala abertamente contra a proteção ambiental. E
temos vídeo de Salles dizendo aos seus colegas de ministério que a crise
do coronavírus deve ser usada para flexibilizar a proteção da floresta
tropical”, diz ela, referindo-se à reunião ministerial de 22 de abril de
2020, cuja gravação foi divulgada na íntegra por decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF).
“É visto como um governo que está trabalhando ativamente contra as
leis ambientais que estão em vigor no Brasil, e que pressiona ativistas
que defendem parâmetros mais altos de proteção ambiental (…). A maioria
das pessoas aqui está realmente preocupada com a possibilidade de que o
Brasil deixe de ser um parceiro importante no combate à mudança climática“, diz a eurodeputada.
O mistério começou em março, quando os primeiros elefantes foram encontrados mortos no vasto Delta de Okango, no interior de Botsuana, na África, por conservacionistas que sobrevoavam a região de Serong.
Ao todo, morreram cerca de 330 animais. As investigações foram cercadas de polêmica como contamos aqui, em julho.
Primeiro, suspeitou-se de caçadores, que poderiam ter envenenado a água
disponível para extrair as presas dos animais, mas logo essa ideia foi
descartada. Ninguém se aproximou deles e as presas continuaram intactas.
Os pesquisadores alertaram para a morosidade com que o governo
encaminhou o assunto, mas não havia mais nada a fazer do que aguardar os
resultados dos exames. E eles começaram a ser divulgados no final de
julho, ainda com algumas outras hipóteses. Falamos disso em agosto.
Até que, no final de setembro, após meses de investigações e testes
realizados em laboratórios de vários países – Estados Unidos, África do
Sul, Zimbábue e Canadá – o Departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais informou que os elefantes consumiram água contaminada por “uma eflorescência tóxica de cianobactérias”, o que provocou distúrbios neurológicos.
Como contamos em julho, “alguns elefantes ainda vagavam pela região,
aparentando fraqueza, letargia e cansaço, além de sinais de
desorientação e dificuldades para caminhar”.
A água contaminada estava em reservatórios sazonais na região. Os elefantes pararam de morrer quando esses reservatórios secaram completamente.
Mais mistério
Mas ainda há um mistério rondando o caso. Em
coletiva de imprensa, em Gaborone, Cyril Taolo, diretor interino desse
departamento, contou que nenhuma outra espécie que vive na região foi
contaminada. Nem as hienas e os abutres, que se alimentaram dos
elefantes, apresentaram sinais da doença.
Mmadi Reuben, veterinário-chefe do mesmo departamento, destacou: “Ainda temos muitas questões a serem respondidas: por que apenas os elefantes, e por que apenas naquela área? Há uma série de hipóteses que ainda estamos investigando”.
O governo declarou que as pesquisas sobre a bactéria mortal continuam, e garantiu que será instituído um plano de monitoramento de reservatórios de água sazonais de forma a rastrear possíveis incidentes como esse no futuro e evitar mortes.
Bactérias e aquecimento global
Também conhecidas como algas azuis, as cianobactérias são
organismos microscópicos muito comuns na água, que também podem ser
encontrados no solo. Algumas produzem neurotoxinas, mas nem todas são
tóxicas.
Contudo, cientistas alertam que estão cada vez mais frequentes as
variedades de cianobactérias perigosas para os seres humanos e os
animais. Isto se deve às mudanças climáticas, que aumentam as temperaturas do planeta.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, na África Austral(também conhecida como África Meridional, que fica no sul do continente é banhada pelo Oceano Índico na costa oriental e pelo Atlântico na costa ocidental), as temperaturas têm subido duas vezes mais que a média global.
As águas mais quentes favorecem o fenômeno da eflorescência tóxica, que invadiu as águas do Delta de Okavango.
Fotos: National Park Rescue/Facebook (destaque) e Reprodução
Jornalista
com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo,
saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos
na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino
Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o
premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela
United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede
de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da
conferência TEDxSãoPaulo.
Com os desafios do novo coronavírus, a ONG Proteção Animal Mundial,
organização global que trabalha pelo bem-estar animal, lançou a
campanha #MeDeixaSerSelvagem, para cobrar das autoridades
brasileiras e mundiais o fim do comércio global de animais silvestres
como forma de prevenção de novas pandemias.
A ideia é que os líderes globais discutam o assunto na próxima cúpula
do G-20, que começa no sábado 21 de novembro. Data para qual a ONG
criou o Dia do Combate ao Comércio Mundial de Animais Silvestres, como
forma de mobilização em torno do assunto.
“Não é uma coincidência. Escolhemos esse dia para nossa causa
pois é um evento extremamente relevante para o futuro do planeta. É lá
onde os líderes das maiores economias do mundo, incluindo o Brasil, vão
discutir atitudes que têm o poder de mudar costumes e comportamentos nos
próximos anos. Por isso, criamos diversas ações para pressionar os
governos por medidas mais firmes para essa causa e levar conhecimento à
população sobre os riscos que essa atividade cruel traz para a saúde
humana”, explica João Almeida, gerente de campanhas da ONG Proteção Animal Mundial.
No mesmo dia, às 20h, a ONG organizará uma live-mobilização no
canal do ator, influenciador e jornalista Maicon Santini a fim de
conscientizar a população sobre os impactos negativos do comércio de
animais.
No evento virtual, Maicon apresentará o movimento, a causa e a ONG,
além de conversar com apoiadores do movimento e convidar seu público a
apoiar a causa ao mesmo tempo que chamará a atenção sobre a importância
da mudança de costumes de consumo.
Paralelamente à ação, a Proteção Animal Mundial também criou uma
série de desafios para as redes sociais, como filtros para o Instagram,
moldura para o Facebook e um challenge no TikTok, para que o público
também pressione as autoridades brasileiras e mundiais e espalhe a
mensagem para seus seguidores.
Mais de 1 milhão de apoiadores
Durante a conferência anual do G20, a ONG entregará aos maiores
líderes do mundo uma petição assinada por mais de 1 milhão de pessoas no
mundo todo. “No início deste ano, criamos uma petição online para
ser entregue a essas autoridades, pedindo a eles para incluir na pauta
da conferência do G-20 a conversa em torno do fim do comércio de animais
silvestres, uma atividade que põe em risco o futuro da humanidade por
facilitar a disseminação de pandemias, assim como ocorreu com a Covid-19”,
explica Almeida, citando que no dia 17 de novembro a petição foi
entregue a representantes do governo brasileiro, em uma reunião virtual
com o Ministério das Relações Exteriores.
Além da petição, a ONG também engajou mais de 40 outras instituições
ambientais brasileiras, que assinaram juntas uma carta destinada ao
ministro da Economia Paulo Guedes, entregue no último dia 9. O conteúdo
do documento pede ao governo brasileiro que apoie e defenda, durante a
reunião anual da cúpula do G20, o fim do comércio mundial de animais
silvestres.
Em novembro, a Proteção Animal Mundial também organizou uma série de
projeções em espaços públicos de quatro cidades brasileiras: São Paulo,
Rio de Janeiro, Brasília e Belém. As projeções foram criadas pela
artista plástica Bianca Turner e contaram com frases de reflexão sobre a
causa. Em Brasília, o artista indígena Denílson Baniwa criou
ilustrações de bichos selvagens que foram projetadas a laser no Museu
Nacional da República, um dos cartões-postais da capital federal, além
do Panteão da Pátria, Teatro Nacional, Biblioteca Nacional e Rodoviária.
“A pandemia da Covid-19, cujo vírus saltou de animais silvestres
explorados para fins de alimentação, é o melhor exemplo de como esse
comércio impacta negativamente a vida humana, e nós precisamos aprender
com a situação atual se quisermos evitar futuras pandemias. Para se ter
uma ideia, nos últimos 30 anos, cerca de 70% de todas as doenças
transmitidas de animais para humanos tiveram origem nos animais
selvagens. Com isso, nós da Proteção Animal Mundial acreditamos que se
não houver um olhar mais analítico e crítico por parte das autoridades
mundiais, além da saúde da população, a economia, o emprego e a
biodiversidade globais também serão afetadas”, conclui João Almeida.
O ano de 2020 se encaminha para entrar na história como um dos três mais quentes desde que o registro começou a ser feito, em 1850. E isso apesar de uma pandemia de coronavírus que derrubou a atividade econômica (e as emissões de carbono) e de um evento La Niña que, em tese, deveria ter resfriado o mundo.
A estimativa, realizada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), foi divulgada ontem, 2/11, em seu relatório prévio anual, que se baseia em dados de temperatura de janeiro a outubro e é uma versão preliminar do relatório final Estado do Clima Global 2020, que será publicado em março de 2021.
O documento, que faz referências a diversos extremos climáticos no Brasil este ano, indica ainda que a década de 2011 a 2020 deve ser a mais quente registrada.
Pandemia não reduziu emissões
De acordo com o documento, que se baseia em contribuições de dezenas de organizações internacionais e especialistas, o planeta já esquentou 1,2oC acima da média verificada na era pré-industrial – aproximando-se do limite de 1,5oC estabelecido no Acordo de Paris para evitar os piores efeitos da crise do clima.
Nem a pandemia foi capaz de mudar a tendência de aquecimento do planeta, como noticiamos aqui.
As concentrações de gases-estufa continuaram a subir ao longo do ano – ultrapassando 410 partes por milhão em 2019, 48% a mais que a média pré-industrial – e o calor do oceano
está em níveis recordes, sendo que mais de 80% dos mares experimentaram
alguma onda de calor durante 2020, com repercussões generalizadas para
os ecossistemas marinhos, que já sofrem com águas mais ácidas devido à
absorção de dióxido de carbono (CO2).
“Anos recordes de calor costumam coincidir com o evento El Niño, como foi o caso em 2016. Estamos agora passando por um La Niña, que tem um efeito de resfriamento nas temperaturas globais, mas que não foi suficiente.
Apesar das condições atuais do La Niña, este ano já mostrou um calor quase recorde comparável ao recorde anterior, de 2016”, afirmou em comunicado o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
Brasil ganha destaque no relatório
O relatório mostra, ainda, como eventos de alto impacto, incluindo calor extremo, temporada recorde de furacões no Atlântico (30 tempestades nomeadas), incêndios florestais inclusive no Ártico – que viu os termômetros baterem 38oC na Sibéria acima do círculo polar – e inundações afetaram milhões de pessoas ao longo de 2020 em todo o planeta.
Esse cenário levou ao deslocamento de populações em massa, prejudicando a segurança alimentar de muitas comunidades.
O Brasil teve destaque no relatório. A OMM lembra que 2020 começou com chuvas mortíferas em Belo Horizonte, que viu em 24 de janeiro (alguém se lembra?) a maior chuva de sua história: 172 milímetros.
Também destacou a onda de calor em setembro e outubro, que provocou o recorde de temperatura em Nova Maringá (MT) de 44,6oC e recordes históricos de temperatura em Cuiabá, Cutitiba e Belo Horizonte. O agronegócio brasileiro levou US$ 3 bilhões em prejuízo por conta da estiagem, prossegue o relatório.
Foto: reprodução Facebook Los Angeles Fire Department
A camada de gelo da Groenlândia enfrenta derretimento irreversível
Em um estudo publicado esta semana na The Cryosphere , pesquisadores
do National Center for Atmospheric Science e da University of Reading
demonstram como a mudança climática pode levar ao aumento irreversível
do nível do mar à medida que as temperaturas continuam a subir e a
camada de gelo da Groenlândia continua a diminuir.
University of Reading*
A enorme camada de gelo enfrenta um ponto sem retorno, além do qual
não mais crescerá totalmente, alterando permanentemente os níveis do mar
em todo o mundo.
A camada de gelo da Groenlândia é sete vezes a área do Reino Unido e
armazena uma grande quantidade de água congelada da Terra. Nas taxas
atuais de derretimento, contribui com quase 1 mm para o nível do mar por
ano e é responsável por cerca de um quarto do aumento total do nível do
mar.
Desde 2003, apesar dos períodos sazonais de crescimento, o manto de
gelo da Groenlândia perdeu 3,5 trilhões de toneladas de gelo.
A elevação do nível do mar é um dos efeitos mais graves da mudança
climática, ameaçando áreas costeiras em todo o mundo e colocando em
risco milhões de pessoas que vivem em áreas baixas. Bangladesh, Flórida e
o leste da Inglaterra estão entre muitas áreas conhecidas como
particularmente vulneráveis.
Em cenários nos quais o aquecimento global vai além de 2 ° C, a meta
do Acordo de Paris, devemos esperar uma perda significativa de gelo e
vários metros de aumento do nível do mar global para persistir por
dezenas de milhares de anos, de acordo com a nova pesquisa. Quanto mais
quente o clima, maior será o aumento do nível do mar.
Além disso, mesmo que as temperaturas voltem aos níveis atuais mais
tarde, os cientistas mostraram que a camada de gelo da Groenlândia nunca
vai voltar a crescer totalmente uma vez que derrete além de um ponto
crítico. Depois desse ponto, o nível do mar permaneceria permanentemente
dois metros mais alto do que agora, independentemente de outros fatores
que contribuem para o aumento do nível do mar.
Isso ocorre porque o manto de gelo é tão grande que tem um impacto
substancial no clima local e, à medida que diminui, a Groenlândia
experimenta temperaturas mais quentes e menos neve.
Uma vez que o manto de gelo recue da parte norte da ilha, a área permanecerá livre de gelo.
Para evitar o aumento irreversível do nível do mar que o derretimento
causaria, os cientistas dizem que a mudança climática deve ser
revertida antes que o manto de gelo tenha diminuído para o limite de
massa, que seria alcançado em cerca de 600 anos na maior taxa de perda
de massa dentro da faixa provável do Quinto Relatório de Avaliação do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
O professor Jonathan Gregory, Cientista do Clima do National Center
for Atmospheric Science e da University of Reading, disse: “Nossos
experimentos enfatizam a importância de mitigar o aumento da temperatura
global. Para evitar a perda parcialmente irreversível da camada de
gelo, a mudança climática deve ser revertida – não apenas estabilizado –
antes de chegarmos ao ponto crítico onde a camada de gelo diminuiu
muito. ”
Para estudar a camada de gelo, os cientistas do Centro Nacional de
Ciência Atmosférica simularam os efeitos do derretimento da camada de
gelo da Groenlândia sob uma gama de possíveis aumentos de temperatura,
variando do aquecimento mínimo ao pior cenário.
Em todos os climas futuros, como o presente ou mais quente, a camada
de gelo diminuiu de tamanho e contribuiu para um certo grau de elevação
do nível do mar.
É importante ressaltar que havia cenários em que o derretimento da
camada de gelo poderia ser revertido. Mas, eles contam com ações para
neutralizar o aquecimento global antes que seja tarde demais.
Esta é a primeira vez que o manto de gelo da Groenlândia é estudado
com tantos detalhes, usando um modelo de computador que combina modelos
do clima e do manto de gelo.
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no WhatsApp, adicione o telefone 21 98682-4779 e, em seguida, envie uma
mensagem com o texto ADICIONAR.
A degradação dos ecossistemas terrestres e marinhos compromete o
bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas em todo o planeta, segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU). Para mudar essa realidade, somar
esforços e preparar os setores no Brasil para a Década da Restauração de
Ecossistemas 2021-2030, dezenas de instituições e especialistas com
trabalhos reconhecidos mundialmente se reúnem no evento
virtual Conservação Integrada Summit, até o dia 4 de novembro.
“Se até um ano atrás falávamos em conservação, os últimos
acontecimentos, como os incêndios no Pantanal, nos mostram que se não
agirmos rápido e buscarmos formas de recuperar a natureza, dificilmente
conseguiremos deixar um bom legado para as futuras gerações. Precisamos
agir, e rápido”, adverte Fernando Sousa, Diretor Executivo Institucional
e Sustentabilidade no Grupo Cataratas e Diretor no Instituto Conhecer
para Conservar (ICC).
Organizado em parceria pelo Grupo Cataratas, Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Associação de Zoológicos e Aquários
do Brasil (AZAB) e Instituto Conhecer para Conservar (ICC), o Summit
será 100% gratuito e totalmente online com transmissão pelo site
da Academia da Conservação.
Serão 15 mesas redondas, com cerca de 70 palestrantes, em mais de 20
horas de conteúdo exclusivo sobre os desafios e oportunidades para a
biodiversidade e para a conservação dos ecossistemas.
Entre os nomes já confirmados estão a lendária bióloga marinha Sylvia
Earle, a Secretária Executiva da Convenção sobre a Diversidade
Biológica, Elizabeth Mrema, a Diretora Executiva Adjunta do PNUMA, Joyce
Msuya, a CEO do Zoos Victoria na Austrália, Jenny Gray, o Secretário
Executivo da Associação Mico-Leão-Dourado, Luís Paulo Ferraz, o
pesquisador Braulio Dias, o economista Sérgio Besserman, o fotógrafo
Sebastião Salgado e as jornalistas Sônia Bridi e Cristina Serra.
As informações sobre a programação e os painéis poderão ser acessadas através do site academiadaconservacao.com.br.
A plataforma, lançada pelo ICC e focada em conservação integrada, é um
local de convergência para troca de conhecimentos e experiências sobre o
tema, com conteúdos colaborativos e cursos complementares.
Década da Restauração de Ecossistemas
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou que o período de
2021-2030 será a “Década da Restauração de Ecossistemas”, que tem como
principal objetivo aumentar os esforços para restaurar ecossistemas
degradados, criando medidas eficientes para combater a crise climática,
alimentar, hídrica, e da perda de biodiversidade.
Imagem: Pixabay
A Representante do PNUMA no Brasil, Denise Hamú, lembra que “quando
falamos em restauração, muitas pessoas pensam nas florestas. Elas estão
sim ameaçadas e são vitais para o planeta e para o ser humano. Mas
outros ecossistemas, a exemplo de pântanos, pradarias, savanas (como o
Cerrado brasileiro) e corais, também estão entrando em colapso e são
essenciais para a manutenção dos serviços ecossistêmicos, que são a base
da nossa sobrevivência enquanto espécie e sociedade”.
“A restauração de ecossistemas não é uma ideia nova, mas estamos em
um momento crítico para agir. Por isso, a Década da Restauração, que
começa no próximo ano, é lançada pela ONU mas deve ser apropriada pelas
pessoas e organizações de diferentes setores. Ela chega para canalizar
soluções e esforços locais e globais, fortalecer parcerias, impulsionar
ações (novas e já em curso) e intensificar a troca de conhecimentos e
boas práticas em prol do nosso meio ambiente”, complementa Hamú.
Conservação Integrada Summit 2021-2030
Evento online e gratuito De 30 de novembro a 04 de dezembro de 2020 Informações e inscrições: academiadaconservacao.com.br