sexta-feira, 1 de março de 2019

No Mato Grosso, agrotóxicos considerados altamente tóxicos contaminam a água da chuva e de poços artesianos

No Mato Grosso, agrotóxicos considerados altamente tóxicos contaminam a água da chuva e de poços artesianos


No Mato Grosso “chove” agrotóxicos, apontam pesquisadores

Por Hara Flaeschen sob supervisão de Vilma Reis | Informações da Rede Brasil Atual
No Mato Grosso, agrotóxicos considerados altamente tóxicos contaminam a água da chuva e de poços artesianos
Mato Grosso, estado que mais consome agrotóxicos no Brasil, apresenta vestígios de venenos – como atrazina, metolacloro e metribuzim – na água de chuva e em poços artesianos de escolas rurais e urbanas, em quatro municípios. A Rede Brasil Atual abordou a pesquisa que comprovou a contaminação, conduzida por Lucimara Beserra, durante seu mestrado em Saúde Coletiva na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A orientação foi de Wanderlei Pignati, pesquisador da instituição e integrante do GT Saúde e Ambiente da Abrasco. Leia, abaixo:

Agrotóxicos considerados altamente tóxicos, como a trifluralina, e cancerígenos, como a atrazina, metolacloro e metribuzim, contaminam a água da chuva e de poços artesianos de escolas rurais e urbanas nos municípios de Campo Novo do Parecis, Sapezal e Campos de Júlio, na bacia do rio Juruena, no Mato Grosso.

Em quatro de seis amostras de poços foram detectados resíduos dos herbicidas atrazina e metolacloro. Mais da metade (55%) das amostras de chuva continham resíduos de pelo menos um tipo de agrotóxico entre os detectados (metolacloro, atrazina, trifluralina, malationa e metribuzim). O metolacloro foi o mais frequente, detectado em 86% das amostras contaminadas.

A conclusão é de uma pesquisa conduzida por Lucimara Beserra para seu mestrado em saúde coletiva, sob orientação de Wanderlei Antonio Pignati, professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Alunos e professores de três escolas rurais e três urbanas desses municípios participaram do estudo, coletando amostras da água da chuva e do poço em cada unidade escolar, como mostra o vídeo no final desta reportagem.

Exceto o poço da escola urbana de Sapezal, localizada no meio da cidade, os demais tinham no entorno plantações de soja, milho, algodão e girassol, em um raio de distância variando de 50 a 1.000 metros.

A maioria de todas essas amostras contaminadas foi coletada em maio de 2015 e fevereiro de 2016, meses do período chuvoso, que favorece a infiltração de diversas substâncias no solo e nos lençóis freáticos. Maio coincide com o fim da safra agrícola de milho e de algodão, na qual ainda há pulverização de diversos agrotóxicos.

E fevereiro, com o início da colheita da soja e o plantio/colheita da safra de milho e o plantio de algodão, com intensas pulverizações de agrotóxicos. Agosto corresponde à entressafra da soja, período entre uma safra e outra, com descanso e preparação do solo, com pouca ou nenhuma pulverização. E a localização dos poços artesianos foi escolhida próxima a áreas de lavouras com uso desses produtos.

O estado é o maior consumidor brasileiro de agrotóxicos, e o Brasil, o maior consumidor mundial. Em  2012, o Brasil despejou sobre suas lavouras 1,05 bilhão de litros de herbicidas, inseticidas e fungicidas. Só em Mato Grosso foram 140 milhões de litros, segundo o relatório de consumo de agrotóxicos em Mato Grosso, de 2005 a 2012, do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) de Mato Grosso.


Nuvem
Ao comparar a contaminação conforme a localização das áreas, Lucimara Beserra constatou que a escola rural de Campo Novo do Parecis apresentou um número maior de amostras contaminadas (76,9%) em relação as demais escolas.

Mas isso não quer dizer que a área rural seja a mais contaminada. Uma nuvem de chuva pode ser deslocada pelo vento do seu local inicial de formação, e os agrotóxicos depois de suspensos no ar também podem sofrer deslocamento pelo vento, podendo contaminar outros lugares nos quais não houve a utilização desses produtos. Há pesquisas mostrando, por exemplo, contaminação por agrotóxicos em regiões do Ártico e da Antártica – onde não há atividade agrícola.

Independente do local, a contaminação depende da persistência de cada agrotóxico. O herbicida metolacloro, princípio ativo que teve maior frequência de detecção nas amostras de chuva, também encontrado nas amostras de água de poços artesianos, é uma substância de alta persistência, além de ser considerado muito perigoso ao ambiente (risco ambiental II).

O tempo de meia-vida do metolacloro na água é de 365 dias e no solo, 90 dias. Tais características, somadas ao alto consumo de agrotóxicos nos municípios, indica os motivos da detecção das substâncias nas três amostras do poço da escola urbana de Campo Novo do Parecis e na alta frequência de detecção nas amostras de chuva contaminadas dos três municípios.

A persistência da atrazina no ambiente é menor, bem como seu índice de solubilidade e volatilidade são menores se comparados ao metolacloro. Entretanto ainda possui potencial de contaminação de águas subterrâneas e chuva, sendo encontrado na água de quatro poços artesianos. Foi o segundo agrotóxico mais detectado nas amostras de chuva. O inseticida malationa, que teve maior concentração detectada nas amostras de chuva, também possui alta volatilidade e é considerado perigoso ao ambiente (risco ambiental III).

O projeto de pesquisa integrado sobre agrotóxicos, saúde, trabalho e ambiente na bacia do rio Juruena foi realizado em parceria com pesquisadores do Departamento de Química e da Faculdade de Nutrição da UFMT, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com apoio financeiro do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso (MPT-MT), por meio da Procuradoria Regional da 23ª Região.

A pesquisa atende assim à demanda do MPT por uma avaliação dos impactos do uso desses produtos à saúde e ambiente nessa região de alto número de ocorrências de violações aos direitos trabalhistas relacionadas ao agronegócio e agrotóxicos.

Para Lucimara Beserra, a contaminação da água da chuva e de poços artesianos expõem relações e processos que tornam a população e o meio ambiente vulneráveis, o que exige atenção e atuação da Vigilância em Saúde nesses territórios.

Fonte: Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019


"No Mato Grosso, agrotóxicos considerados altamente tóxicos contaminam a água da chuva e de poços artesianos," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/28/no-mato-grosso-agrotoxicos-considerados-altamente-toxicos-contaminam-a-agua-da-chuva-e-de-pocos-artesianos/.

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Depois da tragédia em Brumadinho, rio Paraopeba tem nível de metais 600 vezes maior que o permitido

Depois da tragédia em Brumadinho, rio Paraopeba tem nível de metais 600 vezes maior que o permitido



O nível de cobre nas águas do rio Paraopeba chega a até 600 vezes acima do permitido a rios usados para abastecimento humano, irrigação em produção de alimento, pesca e atividades de lazer.

ABr
O limite aceitável de cobre é 0,009mg/l (miligramas por litro), mas variou de 2,5 a 5,4mg/l nas 22 amostras recolhidas em uma expedição ao longo de 305 quilômetros do Paraopeba para relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado nesta quarta-feira (27), em São Paulo.
Helicóptero de resgate sobrevoa Rio Paraopeba atingido pelo rompimento de barragem da Vale, em Brumadinho.
Helicóptero sobrevoa Rio Paraopeba atingido pelo rompimento de barragem da Vale, em Brumadinho    (Arquivo/Adriano Machado/Reuters/Direitos reservados)
 
A conclusão do documento é que rio Paraopeba perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água em razão das 14 toneladas de rejeitos de minérios arrastadas e depositadas no rio, resultado do rompimento da barragem do Complexo do Córrego do Feijão, da empresa Vale, localizada na zona rural de Brumadinho, em Minas Gerais.

Segundo o relatório, 112 hectares de florestas nativas foram devastados por causa do arraste de rejeitos após o rompimento da barragem em Brumadinho. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas.

“Os metais que nós encontramos [no Paraopeba] que são ferro, cobre, manganês, são metais que não fazem mal à saúde em pequenas quantidades. A diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem. Eles se tornaram tóxicos por conta da quantidade que temos na água, muito superior ao que é determinado por lei”, disse a bióloga Marta Marcondes, professora e coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH), da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

O consumo de quantidades relativamente pequenas de cobre pode provocar náuseas e vômitos, mas, se ingeridas em grandes doses, podem lesar os rins, inibir a produção de urina e causar anemia por causa da destruição de glóbulos vermelhos, segundo o relatório.

A bióloga explicou que altos níveis de cobre causam oxidação de vitamina A, o que provoca a redução de vitamina C no organismo. A falta dessa vitamina leva a dores musculares, fadiga, distúrbios de aprendizado e pode causar ou potencializar quadros de depressão.

“O cobre ocasiona muito o processo de depressão. Imagina uma pessoa que perdeu família e tudo que ela tinha, tem um acúmulo de cobre e já está em um processo depressivo, isso vai potencializar tudo isso”, argumentou.

Além de ferro, manganês e cobre, foi encontrado nível de cromo até 42 vezes maior do que o aceitável na legislação, que seria 0,05mg/l. Como consequência, o cromo pode causar até efeitos mutagênicos e morte.

“O cromo é um dos mais perigosos porque ele vai alterar a questão genética dos organismos e também pode afetar o sistema nervoso. Isso tudo com certeza vai alterar todo processo de homeostase – equilíbrio do organismo –, podendo ocasionar, por exemplo, lesões no sistema nervoso e doenças degenerativas”, disse Marta.

Vida no rio

De acordo com o relatório, por toda a extensão percorrida pela expedição, os indicadores de qualidade da água aferidos, incluindo nível de oxigênio e turbidez, também não revelaram água em condições de vida aquática. Dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim e 12 péssimo.

“Hoje essa classificação ruim e péssima impede que o rio possa ser utilizado, então em uma comparação muito simplista, mas de fácil compreensão, é como se a gente tivesse transformado o rio Paraopeba, que era um rio com peixes, utilizado para abastecimento público, em um rio completamente contaminado como é o rio Pinheiros” [em São Paulo], avaliou Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica.

O alto índice de turbidez, o excesso de nutrientes em decomposição e as altas temperaturas registradas na água, entre outros fatores estudados, resultaram no registro de baixos índices de oxigênio dissolvido, em desconformidade com o padrão para rios de classe 2 (usados para abastecimento, irrigação e pesca), fixado em 5 mg/L. Em um dos pontos analisados, o índice de oxigênio chegou a 1,3 mg/l, o que representa valor insuficiente para manutenção da vida aquática.
Somente em cinco pontos de coleta, localizados nos trechos do rio entre os municípios de Pompéu e Curvelo, em Minas Gerais, os índices de oxigênio dissolvido apresentaram condição de manutenção da vida aquática.

Marta Marcondes explicou que a turbidez é a quantidade de material que há na água e que dificulta a entrada de luz nesse corpo d’água.

“A luz possibilita a fotossíntese, que vai fazer com que as plantas aquáticas produzam oxigênio para a água. Como a turbidez é muito alta, tem baixa entrada de luz e uma quantidade menor de organismos fazendo fotossíntese. Com isso, há uma quantidade menor de oxigênio na água”, disse. Por consequência, os animais que dependem desse oxigênio morrem.

“A água está imprópria, sem condições de uso e tem que se respeitar o decreto que o governo de Minas fez [segundo o qual] em uma faixa de cem metros, ninguém [deve] utilizar a água do rio porque é arriscado. Por mais que [as pessoas] tenham suas atividades econômicas ligadas ao rio, que dependam no rio, nesse momento ele não está em condições de uso”, alertou Malu.

Outras fontes de poluição que tiveram efeito potencializado após o rompimento são bactérias provenientes de organismos em decomposição, esgoto sem tratamento ou com baixo índice de tratamento e até defensivos agrícolas de fertilizantes.

“O rio já recebia esses poluentes, mas ele tinha uma capacidade de diluição maior, então ele dava conta de depurar esses contaminantes. Quando veio a lama de rejeitos, a primeira coisa que essa lama fez foi barrar o rio, então diminuiu o volume de água e concentrou os poluentes que ele já tinha e veio trazendo outros”, disse Malu. Como exemplo, tem o arraste pelos rejeitos de fossas de casas, de áreas de cocheira, estábulos e granjas.

Recuperação

Segundo Malu, é preciso cautela no estabelecimento de prazos para recuperação do rio Paraopeba. “Primeiro, a gente tem que aguardar a localização das vítimas, dos corpos, o que ainda está acontecendo, então o solo na região de Brumadinho ainda está sendo mexido para localizar esses corpos. Enquanto isso, o material [rejeito] que está lá espalhado pelo ambiente, toda vez que chover, que tiver um carreamento, isso vai para o rio. Então, ainda não dá para fazer o redesenho das áreas do leito do rio”, afirmou.

Depois desse primeiro período, seria necessário retirar o que for possível desses rejeitos e recolocar em um aterro. Segundo Malu, o monitoramento do rio é importante para acompanhar a condição da água e identificar quando o Paraopeba terá condições de ser repovoado com peixes e quando os municípios poderão captar água novamente.

A bióloga ressalta que o rejeito que está sedimentado no fundo do rio também impede que haja vida e que esse rejeito não vai sumir, apenas pode ser diluído e acabar sendo levado para o mar.
“O rejeito não some, ele precisaria ser tirado do rio e ser dado um fim mais inteligente [a ele]. O que está sedimentado no fundo [do rio] é preciso ser retirado, porque está em cima de toda a vida que tinha no fundo desse rio, que eram os decompositores, aqueles que contribuíam para que outros animais pudessem sobreviver”, explicou.

“No rio Doce já se passaram três anos, o rio ainda não se recuperou e continua afetando as áreas costeiras e marinhas. A recuperação das matas ciliares, das nascentes, os afluentes que chegam ao Paraopeba em boa qualidade são cruciais para devolver ao rio a capacidade de regeneração”, afirmou Malu.

“Uma coisa importante é que, agora mais do que nunca, a revitalização do São Francisco precisa sair do papel. E a revitalização do São Francisco agora passa pela recuperação do Paraopeba. O Paraopeba é o que forma o São Francisco. Se ele chegar doente no reservatório de Três Marias é como se tivesse um conta-gotas de veneno sendo despejado no rio São Francisco todo dia”, acrescentou.

Recursos

Para ela, recuperar as matas ciliares vai garantir a volta dos ecossistemas e do ciclo hidrológico nessa região de formação do rio São Francisco.

A responsabilidade pelas ações de recuperação, disse Malu, é compartilhada porque as bacias hidrográficas afetadas são federais e há trechos de rio estaduais, mas os recursos devem ser arcados pela Vale.

“Precisa de investimento e ele tem que vir do pagamento dos danos causados pela Vale. A Vale é que tem que pagar as suas despesas de monitoramento e a melhoria do sistema de tratamento de água para que haja condição de restabelecer o abastecimento público”, disse.

A Vale informou que estabeleceu um plano de monitoramento da qualidade das águas, sedimentos e organismos aquáticos a partir de coletas diárias de amostras em 48 pontos nas bacias dos rios Paraopeba e São Francisco, cujos resultados parciais vêm sendo compartilhados diariamente com os órgãos competentes.

Segundo a empresa, cinco barreiras hidráulicas foram instaladas ao longo do rio Paraopeba para conter os sedimentos. Além disso, está prevista a construção de estruturas para conter os rejeitos na região próxima ao local do rompimento da barragem.

“Moradores e produtores rurais com atividades em doze municípios de Minas Gerais estão recebendo abastecimento de água para consumo humano, [uso] animal e irrigação. Até o momento, a Vale disponibilizou um volume de quase 13 milhões de litros de água”, disse, em nota, a Vale sobre as ações de reparação.

Alertas

O rio Paraopeba era responsável por 43% do abastecimento público da região metropolitana de Belo Horizonte. Diante da impossibilidade de uso de suas águas por pelo menos 305 quilômetros, a SOS Mata Atlântica apelou para que a comunidade economize água, mesmo que o abastecimento esteja sendo realizado por afluentes que não foram contaminados, por cisternas e poços.

“Mesmo tendo outros rios, [é importante que] as pessoas economizem, porque a gente não sabe por quanto tempo não vai poder se utilizar a água do Paraopeba e quanto tempo esses outros rios têm condições de atender as necessidades dessas comunidades afetadas. É uma situação de emergência”, garantiu Malu.

Outra questão que requer atenção, segundo a especialista, é com a maior com proliferação de doenças que têm como vetores insetos – como a dengue, zika, chikungunya, febre amarela –, na região da bacia do Paraopeba.

“Porque, como a fauna que existia no ambiente do Paraopeba, os peixes, os anfíbios, os predadores dos insetos morreram, vai haver um aumento de insetos. E com isso aumenta o risco de doenças causadas por esses vetores”, advertiu, lembrando da vacinação e do cuidado no armazenamento de água.

O relatório hoje divulgado será entregue para a Câmara dos Deputados e Frente Parlamentar Ambientalista, visando alertar para que a legislação ambiental não seja flexibilizada; para Comitês de Bacia do Paraopeba e do São Francisco; e também a comunidades afetadas para que respondam dúvidas que ainda tenham.

Por Camila Boehm, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019
"Depois da tragédia em Brumadinho, rio Paraopeba tem nível de metais 600 vezes maior que o permitido," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/28/depois-da-tragedia-em-brumadinho-rio-paraopeba-tem-nivel-de-metais-600-vezes-maior-que-o-permitido/.

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Podemos lidar com as mudanças climáticas sem sacrificar a qualidade da água?



Podemos lidar com as mudanças climáticas sem sacrificar a qualidade da água?



As estratégias para limitar as mudanças climáticas devem levar em conta seu impacto potencial na qualidade da água por meio da sobrecarga de nutrientes, de acordo com um novo estudo de Eva Sinha e Anna Michalak, da Carnegie, publicado pela Nature Communications . Alguns esforços para reduzir as emissões de carbono podem, na verdade, aumentar o risco de prejuízos na qualidade da água.

Carnegie Institution for Science*
Chuvas e outras precipitações levam os nutrientes das atividades humanas, como a agricultura, para os canais. Quando as vias fluviais ficam sobrecarregadas de nutrientes, pode ocorrer um fenômeno perigoso chamado eutrofização, que às vezes pode levar à proliferação de algas produtoras de toxinas ou zonas mortas de baixo oxigênio chamadas hipóxia.

Por vários anos, Sinha e Michalak vêm estudando os efeitos do escoamento de nitrogênio e os caminhos que esperavam mudanças nos padrões de precipitação devido às mudanças climáticas poderiam levar a graves problemas de qualidade da água.

Neste último trabalho, eles analisaram como uma série de decisões sociais sobre o uso da terra, desenvolvimento, agricultura e mitigação climática poderiam afetar a já complexa equação de projetar riscos futuros para a qualidade da água em todo o território dos EUA. Eles então consideraram como as mudanças climáticas relacionadas nos padrões de precipitação contribuiriam adicionalmente para este risco global de qualidade da água.

Eles descobriram que os esforços de mitigação da mudança climática que dependem fortemente de biocombustíveis poderiam ter a consequência não intencional de aumentar a quantidade de nitrogênio que entra nos cursos d’água dos EUA, causando problemas de qualidade da água. Cenários que exigissem uma grande expansão da produção doméstica de alimentos seriam ainda piores, aumentando tanto as emissões de combustíveis fósseis quanto os problemas de qualidade da água.
Mas as soluções ganha-ganha também são possíveis.

“É inteiramente possível combater a mudança climática de maneiras que não tenham consequências não intencionais para a qualidade da água”, enfatizou Michalak. “Precisamos de uma abordagem que leve em consideração múltiplos benefícios no processo de planejamento.”

Talvez sem surpresa, os cenários mais bem-sucedidos considerados no estudo dependiam do crescimento e conservação sustentáveis.

Analisando as diferenças regionais dentro dos EUA, Sinha e Michalak descobriram que o impacto do excesso de nitrogênio devido a decisões de manejo da terra e mudanças na precipitação relacionadas a mudança climática seria o mais forte no Nordeste.

Globalmente, a Ásia estaria em maior risco de eutrofização devido aos aumentos projetados no uso de fertilizantes e aumentos antecipados de precipitação.

“Nossas descobertas mostram que é crucial considerar o potencial para deficiências na qualidade da água ao fazer escolhas sociais sobre como a terra é usada e desenvolvida, bem como sobre como trabalhamos para combater a mudança climática”, disse Sinha. “O acesso à água limpa é essencial para a sobrevivência humana, a produção de alimentos e energia e um ecossistema saudável. Preservar nossa capacidade de acessar água limpa deve ser uma prioridade máxima. ”



Regiões altamente populosas no sul, leste e sudeste da Ásia estão sob alto risco de aumento da eutrofização devido ao grande e robusto aumento projetado nas taxas de aplicação de fertilizantes
Regiões altamente populosas no sul, leste e sudeste da Ásia estão sob 
alto risco de aumento da eutrofização devido ao grande e robusto 
aumento projetado nas taxas de aplicação de fertilizantes. 
 
Um uso de fertilizantes por unidade de área para o período histórico (1976-2005) 
em média ao longo dos 30 anos. b Mudança projetada no uso de fertilizantes 
por unidade de área no final do século (2071–2100) em relação ao período 
histórico, média dos 30 anos e seis cenários e mostrada apenas para regiões 
em que pelo menos cinco dos seis cenários concordam com a direção da mudança 
do período histórico para o final do século. um Regiões mostrados em branco
 não têm uso de fertilizantes; b as regiões mostradas em branco não têm uso de 
fertilizantes ou não têm pelo menos cinco cenários com uma direção consistente 
de mudança
 

Referência:

Societal decisions about climate mitigation will have dramatic impacts on eutrophication in the 21st century

E. Sinha, A. M. Michalak, K. V. Calvin & P. J. Lawrence
Nature Communications volume 10, Article number: 939 (2019)
DOI https://doi.org/10.1038/s41467-019-08884-w

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019

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Controle biológico de pragas em hortas urbanas: Uma proteção sustentável

Controle biológico de pragas em hortas urbanas: Uma proteção sustentável


horta urbana
Produção de hortaliças contribui para a melhoria da qualidade nutricional de famílias carentes de Roraima- FOTO Rafael Porto

Hortas urbanas

Atualmente, a produção de hortaliças em grandes cidades está aumentando. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo busca fomentar esta prática por meio do Instituto Biológico, trazendo dicas de como tornar as hortas caseiras mais sustentáveis, utilizando inimigos naturais em vez de defensivos agrícolas.

Predadores, parasitoides, nematoides, bactérias e fungos entomopatogênicos são inimigos naturais que protegem as plantações das pragas e doenças. O controle biológico, uma técnica do Manejo Integrado de Pragas (MIP), utiliza esses inimigos para manter o equilíbrio natural, tornando a plantação mais saudável.

“O controle biológico é o componente de maior importância do MIP”, menciona o pesquisador Mário Sato, que trabalha no Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal do Instituto.

O controle das pragas ocorre naturalmente, em muitos casos não há necessidade da aplicação de inseticidas e acaricidas, pois causam desequilíbrio ao plantio. “O produtor tem de trabalhar para manter o equilíbrio do ambiente, ou seja, não aplicar qualquer produto, fazer uma boa adubação e uma irrigação adequada, para não ter uma infestação elevada de pragas, que pode causar injúrias à cultura”, explica Sato.

Em cultivos de hortaliças, a presença de insetos (pragas) é comum e o número de inimigos naturais é baixo. Nesse caso, a introdução de predadores, parasitoides ou nematoides, é necessária para o controle biológico ser efetivo.

Diversos inimigos naturais, como ácaros predadores, já são comercializados e são fáceis de serem utilizados, pois quando liberados no campo se dispersam por conta própria. Já o defensivo agrícola necessidade de pulverização, por toda a horta. Entretanto, “existe a possibilidade de o controle biológico ser associado ao controle químico, mas tem que haver cuidado ao aplicar a técnica, pois o defensivo pode prejudicar o inimigo natural”, afirma o agrônomo.

Funciona assim: quando existe praga, o inimigo natural controla e à medida que as pragas vão diminuindo, ele simplesmente vai embora, – não existe risco do inimigo se tornar praga. “Na maioria dos casos, o produtor precisa reintroduzi-los em sua plantação, pois em cultivos de hortaliças há uma troca frequente de cultivares”, finaliza Mário Sato.

Dicas
* Utilizar um solo sem contaminantes.
* Se possível, esterilizar o solo antes de plantar (solarização).
* Comprar mudas sadias.
* Não exagerar na adubação.
* Irrigar corretamente.
Observação:
Uma adubação exagerada, com irrigação inadequada (excesso ou falta de água), causa estresse às plantas. Isso favorece a criação de pragas e doenças.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2019

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Denúncia: COPAM em MG concede Licença Prévia e Licença de Instalação à mineradora AVG para reabrir mineração devastadora na Serra da Piedade. Por Gilvander Moreira


Denúncia: COPAM em MG concede Licença Prévia e Licença de Instalação à mineradora AVG para reabrir mineração devastadora na Serra da Piedade. Por Gilvander Moreira


A Serra da Piedade gera vida; a CMI/COPAM e as mineradoras, morte!



O dia 22 de fevereiro de 2019 entrará para a História como o dia em que o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), do Governo de Minas Gerais, por meio da Câmara de Atividades Minerárias (CMI), autorizou mais um crime hediondo: a concessão de Licença Prévia concomitante com a Licença de Operação para a mineradora AVG Empreendimentos Minerários Ltda. minerar na Serra da Piedade com lavra a céu aberto com tratamento úmido, ou seja, crucificar no altar do ídolo mercado a Serra da Piedade, patrimônio histórico, natural e religioso de mineiros e brasileiros, sede da Basílica de Nossa Senhora da Piedade, padroeira do estado de Minas Gerais. 

Vi e dou testemunho que, exceto Maria Teresa Corujo (Teca), representante do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (FONASC-CBH); Júlio César Dutra Grillo, representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/MG), e Adriana Alves Pereira Wilken, representante do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), os conselheiros da CMI/COPAM estão atrelados aos interesses do capital e à ganância sem fim das mineradoras. 

Estão surdos a todos os argumentos sensatos e chegam à reunião já para cumprir ordens dos grandes interesses econômicos para licenciar todos os projetos reivindicados pelas mineradoras. 

Na CMI/COPAM acontece um jogo de cartas marcadas, pois entre os doze conselheiros, apenas uma representa a sociedade civil. 


Nove conselheiros representam o Governo de Minas Gerais e entidades parceiras das mineradoras: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SEDECTES), Secretaria de Estado de Governo (SEGOV), Secretaria de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais (SECCRI), Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), Agência Nacional de Mineração (ANM), Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (SINDIEXTRA), Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (FEDERAMINAS) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). 


Com essa composição nada democrática, o resultado é sempre o mesmo: aprovam todos os projetos pleiteados pelas mineradoras que estão causando um colapso nas condições de vida do povo, dos biomas, matando os rios e espalhando terror psicológico sobre milhares de famílias que moram abaixo de barragens de lama tóxica das mineradoras. 

A composição da CMI/COPAM demonstra que o Estado de Minas Gerais está de mãos dadas com as grandes mineradoras, insistem em um projeto de “desenvolvimento” que na prática gera subdesenvolvimento e imensa injustiça socioambiental.

No auditório que fica no mezanino da Rodoviária de Belo Horizonte, com lotação para 120 pessoas, a reunião extraordinária da CMI/COPAM aconteceu das 9 horas às 17h30. A mineradora AVG trouxe dezenas de trabalhadores que chegaram cedo e ocuparam boa parte das cadeiras disponíveis. Dezenas de pessoas das comunidades, católicos/as e aliados/as da Serra da Piedade não foram autorizadas a entrar no auditório porque boa parte já estava cheia de trabalhadores da mineradora. 


Estratégia sempre usada pelas grandes mineradoras: lotam as cadeiras disponíveis para dificultar ainda mais a participação popular. Também uma grande lista de empregados inscritos para falar destina-se a consumir tempo e energia dos verdadeiramente interessados em participar e contribuir. 


Escravos da mineração, esses trabalhadores não percebem que os poucos empregos que as mineradoras oferecem custam muito sangue, pois geram violência social, desemprego na região, prostituição, gravidez precoce, dizimam as nascentes de água e os lençóis freáticos, poluem tudo, entopem as estradas de carretas de minério que matam muita gente no trânsito e ainda geram muitos problemas de saúde pública. 

Enfim, deixam a terra arrasada após minerar tudo que querem. Os municípios viviam e vivem muito melhor antes da chegada das mineradoras. Com as mineradoras chega devastação socioambiental. Para manter ares de idoneidade, no início da reunião se tocou o Hino Nacional e se fez um minuto de silêncio pelos mortos pelo crime tragédia da mineradora Vale, com a cumplicidade do Estado, a partir do rompimento de barragens com lama tóxica, em Córrego do Feijão, Brumadinho, dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28. 

Após justificar com uma série de argumentos sensatos, éticos, técnicos, administrativos e jurídicos, a conselheira Teca exigiu a retirada de pauta do projeto da mineradora AVG de minerar na Serra da Piedade. De forma monocrática, como foi estabelecido no regimento interno, o presidente da reunião decidiu não retirar de pauta o pedido de Licenças Prévia e de Instalação concomitantes para a mineradora AVG se instalar na Serra da Piedade e reabrir mineração na área. 

A conselheira Teca e o conselheiro Júlio Grillo explanaram de forma bem embasada que não havia a menor possibilidade de concessão das Licenças Prévia e de Instalação, ‘por mil motivos’, entre eles o fato do IBAMA, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Conselho do Monumento Natural Estadual da Serra da Piedade não terem dado anuência. 

Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera – que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. 

Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. 

A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea.


A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade.

A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. 

Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. 

Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras. 

Em 1956, o IPHAN realizou o tombamento da Serra da Piedade, todavia reconhecendo os aspectos cenográficos de todo o conjunto natural e cultural da Serra da Piedade, e a ameaça constante do desmatamento, da mineração e da degradação ambiental, decidiu-se pela necessidade primordial de expansão do tombamento federal por meio da definição de um polígono de proteção que abrangesse a antiga área federal tombada, os tombamentos estadual e municipal, que pudessem garantir a visibilidade integral do bem, incluindo sua linha de perfil, os recursos hídricos, a biodiversidade e os aspectos cênicos. 

Reconheceu-se assim, a conservação do importante conjunto arquitetônico do santuário do Século XVIII, cuja padroeira foi esculpida por Aleijadinho; dezenas de cavernas, sítios arqueológicos históricos, aves e plantas raras, mais de oitenta nascentes e áreas de recarga de aquíferos. A área de entorno inclui, por sua vez, as cidades históricas, e também protegidas, Sabará, Caeté e Raposos. 


Importante ainda destacar que a Serra da Piedade está inserida em Unidades de Conservação (Área de Proteção Ambiental – APA), Águas da Serra da Piedade, Monumento Natural Estadual Serra da Piedade (MONAE) e nas Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, integrando ainda por sua relevância o cadastro nacional dos Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil (SIGEP).

O Promotor de Justiça do Ministério Público Estadual (MP/MG), Marcos Paulo Souza Miranda, expoente no âmbito da legislação no que tange a questão do patrimônio histórico e cultural, autor de vários artigos e obras a respeito, é bastante coerente e preciso em sua assertiva, defendendo a abstenção da mineração em área tombada: “Assim, não se admite, por exemplo, exploração de recursos minerais em uma serra objeto de proteção por tombamento, pois nos termos dos art. 17 do DL n. 25/1937 é juridicamente vedado qualquer ato que implique em mutilar ou destruir a coisa tombada e as atividades minerárias são tipicamente degradantes e destrutivas” (MIRANDA, 2014, p. 98).

Frente a toda a importância da Serra da Piedade acima indicada, se conseguiu paralisar a atividade minerária há 13 anos por meio de uma Ação Civil Pública movida pelo IPHAN, Ministério Público do Estado de Minas Gerais e Ministério Público Federal e, com o objetivo de se recuperar o passivo ambiental e a cratera que a mineradora Brumafer deixou na Serra da Piedade, foi celebrado em 2012 um acordo na justiça federal. 

No entanto, desde os primeiro momento do processo de licenciamento da AVG para essa recuperação, ficou claro que o objetivo da mineradora era um grande absurdo. É estranho alegar “necessidade de cumprimento de decisão judicial proferida dia 12/02/219” dentro de apenas dez dias. Alegar que para resolver o passivo ambiental é preciso minerar 100 milhões de toneladas de minério durante 15 anos é mentira ardilosa. Recuperar o passivo ambiental, sim; minerar mais, inadmissível! 

Além de inúmeras outras violências socioambientais, superlotar as estradas de acesso a Caeté e ao Santuário Basílica de Nossa Senhora da Piedade com mais um grande número de carretas de minério tornará impossível 500 mil romeiros e romeiras visitar o santuário anualmente sem alto risco de tragédias. 

Nova mineração na Serra da Piedade vai secar grandes lençóis freáticos e agudizar a crise hídrica que já está batendo às portas de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Minerar mais na Serra da Piedade irá devastar o patrimônio histórico e paisagístico da região, além de aumentar a violência socioambiental. Irá também inviabilizar a produção de agricultura familiar, hortas, apicultura, turismo religioso e ecológico. 

Conceder as Licenças Prévia e de Instalação para a AVG reabrir mineração na Serra da Piedade antes de completar um mês do crime tragédia da mineradora Vale é uma prova do conluio do Estado com as mineradoras, é uma imoralidade, é cuspir nos rostos das centenas de pessoas mortas e ignorar a morte do Rio Paraopeba e a punhalada que o Rio São Francisco está sofrendo com o crime tragédia da Vale e do Estado. Ah! Foi esta mesma CMI/COPAM que dia 11 de dezembro de 2018 liberou a expansão da mineração da mineradora Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG.


Durante mais de oito horas de reunião, as únicas conselheiras e conselheiro da CMI/COPAM que usaram a palavra para argumentar inúmeras vezes foram Maria Teresa Corujo (Teca), do FONASC-CBH; Júlio Grillo, do IBAMA/MG, e Adriana Alves Pereira Wilken, do CEFET-MG. Todos os outros conselheiros da CMI/COPAM, salvo alguma palavra aqui ou ali, ficaram em silêncio o tempo todo, muitas vezes bocejando ou olhando no celular. 


Os argumentos apresentados durante sete horas pelas duas conselheiras acima referidas, pelo conselheiro do IBAMA e por dezenas de pessoas que falaram cada um/a, de 5 a 10 minutos, ao microfone, não foram ouvidos pelos conselheiros representantes do Governo de Minas Gerais e de entidades ligadas às grandes mineradoras que votaram a favor da reabertura de mineração na Serra da Piedade: 

1) da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SEDECTES); 
2) da Secretaria de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais do Governo de Minas Gerais (SECCRI); 
3) da Secretaria de Estado de Governo (SEGOV); 
4) do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM); 
5) do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais  (SINDIEXTRA), 
6) da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (FEDERAMINAS); e 
7) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (CREA-MG). 


Votaram contra reabrir mineração na Serra da Piedade: Teca, do FONASC-CBH; Júlio Grillo, do IBAMA/MG; e Adriana, do CEFE/MG. 

Abstiveram-se os conselheiros da ANM (Agência Nacional de mineração) e da CODEMIG. Assim, com sete votos favoráveis, as Licenças Prévia e de Instalação foram concedidas à mineradora AVG para reabrir mineração na Serra do Piedade, em Caeté: mais um crime hediondo e socioambiental autorizado pelo Estado de Minas Gerais em conluio com os megainteresses econômicos das grandes mineradoras que só sabem servir ao ídolo mercado e, como dragão do Apocalipse, deixar um rastro imenso de devastação socioambiental. 


Enfim, perdemos mais uma batalha, mas não perderemos essa luta necessária, justa e legítima que é salvar a Serra da Piedade da ganância dos capitalistas.  


Conclamamos todas as pessoas de boa vontade e as forças vivas da sociedade a se somarem na luta pela anulação dessa decisão injusta, inconstitucional e imoral da CMI/COPAM. 



Belo Horizonte, MG, 26 de fevereiro de 2019.

Cratera de mineração, na Serra da Piedade, Grande Belo Horizonte.
Cratera de mineração, na Serra da Piedade, Grande Belo Horizonte. Foto: Gilvander Moreira
Referência Bibliográfica.

MIRANDA, m. p. s. Lei do Tombamento Comentada. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2014. v. 1. 284p.
Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1 – CRIME DA VALE/ESTADO EM BRUMADINHO/MG: IRRESPONSABILIDADE/Prof.Klemens/Profa. Andréa Zhouri/26/1/19
2 – Rompimento de barragens: Falha da governança ambiental/Profa. Andréa Zhouri/UFMG/26/1/2019
3 – “Licenciamento ambiental decente é necessário”/Professor Dr. Klemens/UFMG/ Vídeo 2 – 26/1/2019.
4 – Estado de MG a serviço das mineradoras/Prof. Dr. Klemens/UFMG/Vídeo 1 – 26/1/2019.
1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.brwww.freigilvander.blogspot.com.brwww.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019
"Denúncia: COPAM em MG concede Licença Prévia e Licença de Instalação à mineradora AVG para reabrir mineração devastadora na Serra da Piedade. Por Gilvander Moreira," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/28/denuncia-copam-em-mg-concede-licenca-previa-e-licenca-de-instalacao-a-mineradora-avg-para-reabrir-mineracao-devastadora-na-serra-da-piedade-por-gilvander-moreira/.

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