Espécies endêmicas na fauna marinha de Alagoas serão objetos
de estudos nos Estados Unidos
A identificação de novas espécies é resultado das ações
do Grupo de Comunidades Bentônicas, coordenado pela professora Mônica Dorigo
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19 de dezembro de 2022 08:12
Recifes
no litoral norte de Maceió
Alagoas é conhecida no Brasil pelas belezas naturais, mas
poucos sabem que depois do Sul da Bahia, é o estado que concentra a maior
quantidade de recifes por área em seus 230 quilômetros de litoral. Para a
ciência, sob o aspecto da biodiversidade, Alagoas é um oásis em ecossistemas
recifais.
Professores Mônica Dorigo e Hilda
Helena em um dos mergulhos realizado em julho deste ano, após o 12 Simpósio
Internacional de Recifes de Corais realizado em Cairns, Austrália. O local
deste recife da foto é a ilha Heron que sedia uma estação de pesquisa
Pesquisas em desenvolvimento pelo Grupo de Comunidades
Bentônicas da Universidade Federal de Alagoas, sob a coordenação da professora
Monica Dorigo, identificaram organismos da fauna de invertebrados
consideradasatualmente endêmicas das áreas recifais brasileiras, tendo
sido publicadas algumas novas espécies com a localidade-tipo no litoral de
Alagoas. Entre elas, a esponja Mycale alagoana e os briozoários Vasigynella
ovicellata, Beania correiae, Bugula alba, Bugula bowiei e Bugula gnoma.
Briozoários são pequenos animais invertebrados que formam colônias em
pedras e sedimentos no mar. Essas pesquisas são realizadas em cooperação com os
pesquisadores do Museu Nacional da UFRJ e o CEBIMAR da Universidade de São
Paulo.
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A identificação dos organismos da fauna de
invertebrados considerados endêmicos do Brasil é um dos resultados da
pesquisa A Importância da Taxonomia em Estudos de
Biodiversidade e vai ser comparado com o material do Caribe e Sul da
Flórida através das análises morfológicas e moleculares, duranteum ano do
pós-doutorado de Monica Dorigo Correia, a partir de janeiro de
2013, nos Estados Unidos. “Este ano de estudos comprovará se as
espécies identificadas são endêmicas ou não”, enfatiza a coordenadora da pesquisa.
Ela destaca que mesmo depois de duas décadas de
estudos apenas 50% fauna dos invertebrados nos ecossistemas recifais estão
identificados pelos pesquisadores, o que comprova o quanto é vasta a
biodiversidade marinha em Alagoas. “Entre os principais grupos de invertebrados
nos recifes estão as esponjas, corais, moluscos, poliquetas, crustáceos,
briozoários, equinodermas e ascidias”, frisa Monica Dorigo que integra o
corpo docente do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS).
Degradação ambiental
Mônica acrescenta que o estudo científico realizado pelo
Grupo de Comunidades Bentônicas tendo como foco a fauna marinha alagoana
faz a identificação e classificação dos organismos da fauna de
invertebrados bentônicos e se desenvolve em todo o litoral do Estado, mas
com maior concentração nos ecossistemas recifais. Isto porque,
aproximadamente, 90 por cento da fauna dos manguezais dos nossos ambientes
costeiros já estão identificados pelos pesquisadores.
“A fauna dos invertebrados existentes nos ecossistemas
recifais têm representantes de todos os grupos marinhos porque a vida
começou no mar, a diversidade é enorme e fazem parte da base da cadeia
alimentar marinha. Por isso e é fundamental haver o equilíbrio natural e a
preservação das espécies, mas lamentavelmente há uma degradação nesses
ambientes”, destaca Monica.
Como exemplo de degradação ambiental ela cita as piscinas
naturais, como os ambientes costeiros da Pajuçara, Maragogi e Praia
do Francês, pontos turísticos bastante visitados. “As piscinas naturais sofrem
com os lançamentos de âncoras de lanchas particulares e de turismo sem nenhum
controle, como também a produção do lixo. Essa situação se configura como crime
ambiental, conforme a Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, (conhecida como Lei
da Vida) que trata de Crimes Ambientais”, enfatiza a pesquisadora.
Mônica reforça que os crimes ambientais nos ambientes
costeiros de Alagoas são também provocados pela pesca predatória, navegação e
ancoragem incorreta, turismo inadequado, dejetos da atividade de
carcinicultura (cultura de crustáceos), destruição de manguezais e restingas,
lançamentos de esgotos e principalmente falta de consciência ambiental.
Bastante atuante e considerada uma das referências local,
nacional e internacional em pesquisas da fauna marinha, Mônica Dorigo é a
representante titular da Ufal no Conselho Consultivo da maior Área de
Proteção Ambiental (APA) costeira marinha do Brasil, a Costa dos
Corais. Essa APA vai do Rio Meirim, localizado no Povoado de
Pescaria, litoral norte de Alagoas, à Tamandaré, no vizinho Estado de
Pernambuco. “A APA abrange nove municípios alagoanos e foi criada para
preservação dos ecossistemas recifais e redução dos impactos já
existentes, além da promoção de ações voltadas principalmente ao setor
público e as pessoas que têm como meio de subsistência a pesca”.
Espaço de aprendizado
O Grupo Comunidades Bentônicas é registrado no Diretório de
Grupos de Pesquisa do CNPq e criado em 1990. Desde então, vem realizando suas
atividades no Setor de Comunidades Bentônicas, nos Laboratórios Integrados de
Ciências do Mar e Naturais (LABMAR), órgão ligado ao Instituto de Ciências
Biológicas e da Saúde (ICBS), da Universidade Federal de Alagoas.
Os estudos científicos envolvem alunos do curso de Biologia
(bacharelado e licenciatura) e do mestrado em Diversidade Biológica e Ensino em
Ciências. As pesquisas realizadas em Alagoas têm alcançado outros centros de
referência nessa área, tanto nacional como internacional com a pós-graduação de
pesquisadores. Os estudos vêm também proporcionando o intercâmbio entre
pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
As ações do grupo têm resultados em vários trabalhos
científicos. Um deles é o livro “Ecossistemas Costeiros de Alagoas”, lançado
em 2009 de autoria de Mônica Dorigo e da pesquisadora Hilda Helena
Sovierzoski. “O livro fornece uma visão detalhada com inúmeras informações
sobre os ecossistemas costeiros existentes ao longo do Estado de Alagoas e
proporciona ao leitor uma opção para conhecer como também
preservar as maravilhas que a natureza nos reservou”, afirmou a pesquisadora.
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