sexta-feira, 3 de março de 2023

Propaganda ambiental? Zero lamenta "práticas perversas" de multinacionais

 

Propaganda ambiental? Zero lamenta "práticas perversas" de multinacionais

A associação ambientalista Zero lamentou hoje que grandes multinacionais usem "práticas perversas" de publicidade que pretende dar uma imagem de que são responsáveis em termos ambientais, quando são poluidoras ('greenwashing'), e pediu intervenção dos governos.

 

20:10 - 13/02/23 POR LUSA

PAÍS AMBIENTE

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Em comunicado, a Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável refere, citando o relatório mais recente, de 2023, sobre a responsabilidade climática das grandes empresas, que nenhuma das 24 companhias analisadas recebeu a pontuação correspondente a "alta integridade" ambiental.

Apenas uma multinacional, a Maersk, recebeu a pontuação abaixo, a de "integridade razoável". A Apple, a Arcelor Mittal, a Google, o Grupo H&M, a Holcim, a Microsoft, a Stellantis e a Thyssenkrupp obtiveram a pontuação de "integridade moderada" e outras 15 empresas tiveram "baixa ou muito baixa integridade".

Segundo a Zero, as 24 empresas avaliadas pelo NewClimate Institute e pela organização Carbon Market Watch, da qual faz parte, "são não só as maiores a nível mundial, como também alegam ser líderes na ação climática devido à sua associação à campanha 'Race to Zero', patrocinada pelas Nações Unidas", que visa "zero" emissões de gases poluentes.

Contudo, de acordo com a associação ambientalista, "a maioria das empresas avaliadas esconde a sua inação climática atrás dos seus aparentes planos verdes de neutralidade climática", ao reduzir apenas as suas "emissões reais" em 15% em 2030 e em 26% em 2050.

As empresas em causa estão ligadas aos setores automóvel, moda, supermercados, alimentação e agricultura, tecnologia e eletrónica, transportes marítimos e aéreos e aço e cimento, sendo "responsáveis por cerca de 4% das emissões a nível global".

A Zero entende que os governos devem criar legislação que proteja melhor os consumidores destas práticas publicitárias.

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Pesquisadores defendem proteção integral de áreas úmidas do Cerrado, atualmente exploradas por grandes produtores rurais

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Pesquisadores defendem proteção integral de áreas úmidas do Cerrado, atualmente exploradas por grandes produtores rurais

Pesquisadores defendem proteção integral de áreas úmidas do Cerrado, atualmente exploradas por grandes produtores rurais

*Por José Tadeu Arantes

Cerrado é o mais ameaçado dos grandes biomas do território brasileiro. E uma parte especialmente vulnerável dele são suas áreas úmidas, que garantem a existência de rios perenes e abastecem nada menos do que oito bacias hidrográficas. O Xingu, o Tocantins, o Araguaia, o São Francisco, o Parnaíba, o Jequitinhonha, o Paraná e o Paraguai, entre outros rios importantes, nascem no Cerrado. A destruição de áreas úmidas não ameaça apenas a biodiversidade e a extraordinária beleza das paisagens cerratenses. Põe em risco ainda a segurança hídrica e energética do país.

Além disso, as áreas úmidas são também um extraordinário repositório de carbono (CO2), estocando mais de 200 toneladas por hectare. E alterações em seu equilíbrio cíclico tendem a liberar metano (CH4) para a atmosfera, um dos principais gases de efeito estufa (GEE).

O problema é que a própria definição de áreas úmidas é confusa. E essa confusão tem sido explorada por grandes produtores rurais que, não contentes em converter descontroladamente áreas secas do Cerrado em terras agriculturáveis, cogitam também drenar as áreas úmidas, para estender as lavouras de soja até o fundo das veredas. Se não fosse por outros motivos, até mesmo do ponto de vista estrito do interesse econômico isso equivaleria a erguer uma pedra para deixá-la cair sobre os próprios pés, pois a possibilidade de irrigação depende da sobrevivência dos mananciais.

Para dirimir a confusão e fornecer aos tomadores de decisão sólidos critérios científicos, um grupo de pesquisadores acaba de produzir um artigo contemplando os múltiplos ecossistemas englobados pelo conceito de áreas úmidas. Trata-se de Cerrado wetlands: multiple ecosystems deserving legal protection as a unique and irreplaceable treasure, publicado no periódico Perspectives in Ecology and Conservation.

“A falta de definições precisas tem embaralhado a regulamentação, deixando importantes segmentos do Cerrado desprotegidos. Nosso objetivo foi esclarecer o que são áreas úmidas; que ecossistemas podem ser abarcados por esse nome; que dinâmicas eles apresentam; e o que devemos fazer para protegê-los”, diz à Agência FAPESP a pesquisadora Giselda Durigan, primeira autora do artigo.

Durigan é pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ambientais do Estado de São Paulo (IPA) e professora nos programas de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Estuda o Cerrado há mais de 35 anos.

“Um exemplo do grave risco que a falta de definições precisas e as ambiguidades na interpretação da lei podem acarretar foi a Resolução número 45, de 31 de agosto de 2022, aprovada pelo Conselho do Meio Ambiente de Mato Grosso (Consema). Desrespeitando decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), essa norma regulamentou o ‘licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos localizados em áreas úmidas’ no âmbito estadual. Por trás dos eufemismos do texto, a resolução, de fato, libera a destruição”, denuncia Durigan.

A pesquisadora define: “Áreas úmidas são porções de terras continentais que estão sujeitas, periódica ou permanentemente, a encharcamento do solo ou inundação. Dada a sua fragilidade e extrema importância para o armazenamento e a filtragem da água, são globalmente protegidas, desde a convenção intergovernamental realizada em Ramsar, no Irã, em 1971. O Brasil é signatário da convenção de Ramsar desde 1996, mas até hoje não atendeu ao compromisso de mapear todas as suas áreas úmidas”.

No país, há exemplos de áreas úmidas em faixas costeiras, onde os pulsos de inundação resultam da oscilação das marés, de modo que a água se apresenta salgada ou salobra. E também longe da costa, compondo dois grandes tipos, hidrologicamente distintos: terras que são periodicamente alagadas pelo transbordamento dos leitos dos rios (várzeas e pantanais) e terras que ficam encharcadas ou até alagadas pela elevação periódica do lençol freático.

“As áreas úmidas do Cerrado geralmente se enquadram no último tipo. As chuvas abundantes, que caem nos meses de verão, infiltram-se lenta e profundamente no solo, recarregando o lençol freático e acumulando-se nas áreas úmidas, de onde brotam os pequenos riachos que nunca secam e alimentam os grandes rios do Brasil, mesmo nos períodos de estiagem. Diferentemente, aliás, das outras grandes savanas do mundo, cujos grandes rios secam de todo durante boa parte do ano”, informa Durigan.

Proteção integral às areas úmidas do Cerrado

Segundo a pesquisadora, a confusão que embaralha a regulamentação deve-se ao fato de que, dentro das áreas úmidas do Cerrado, existem diversos tipos de vegetação, que resultam em múltiplas denominações regionais. São campos úmidos, campos de murundus, turfeiras, veredas, palmeirais, buritizais, matas de galeria, matas de brejo e por aí vai. Às vezes, em uma única área úmida, existem dois ou mais tipos de vegetação, desde campos limpos até florestas densas, o que tem dificultado seu entendimento, delimitação e proteção.

“A lei, às vezes, refere-se a apenas um dos tipos, como é o caso das veredas na Lei de Proteção da Vegetação Nativa (12.651), de 2012, deixando os demais tipos desprotegidos. Outras vezes, a lei protege apenas uma parte da área úmida, deixando trechos inteiros sem cobertura legal”, ressalta Durigan.

Ela conta que o artigo em pauta resultou de um esforço multidisciplinar, envolvendo especialistas em vegetação, hidrologia, ecofisiologia, conservação, restauração e legislação ambiental, que utilizaram seus conhecimentos e experiências práticas para unificar e disseminar sua compreensão sobre o assunto. O grupo teve apoio da FAPESP por meio de três projetos (19/07773-120/09257-8 e 20/01378-0).

“Para nós, todas as áreas úmidas devem ser igualmente e integralmente protegidas por lei, garantindo-se que não sejam convertidas para cultivo e que seus pulsos naturais de encharcamento ou inundação não sejam afetados pelo uso da terra ao redor. Práticas de exploração sustentável, como a apicultura e o extrativismo, por exemplo, podem ser admitidas, mas precisam ser validadas e regulamentadas”, enfatiza Durigan.

E sua ênfase se justifica, pois as ameaças às áreas úmidas são muitas no Cerrado, destacando-se barramento dos córregos, drenagem das terras brejosas, expansão de áreas urbanizadas, obras de infraestrutura, extração descontrolada de água de poços para irrigação e plantação de árvores, principalmente de eucalipto, em bacias hidrográficas inteiras, onde a vegetação original não era floresta.

“Todas essas atividades são altamente impactantes. Reduzem o nível do lençol freático ou podem até mesmo exauri-lo localmente, pondo em risco a segurança hídrica e os serviços ecossistêmicos do Cerrado. É algo que precisa ser urgentemente impedido por meio de legislação competente e da aplicação efetiva da lei”, afirma a pesquisadora.

Durigan comenta que a Lei de Proteção à Vegetação Nativa trata de maneira bastante confusa as áreas úmidas, deixando uma parte delas como Áreas de Preservação Permanente (APP) e outra parte como Áreas de Uso Restrito (AUR). Mas que alguns tipos de áreas úmidas do Cerrado não se encaixam nas definições dos tipos mencionados, o que tem gerado imprecisão na aplicação da lei, com conflitos jurídicos, sociais e políticos.

“Buscando pacificar a situação, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que, dada a sua inquestionável importância ambiental, todas as áreas úmidas devem ser entendidas como protegidas, sejam como APPs, sejam como AURs, independentemente da nomenclatura. Foi essa decisão que a resolução do Consema do Estado de Mato Grosso desrespeitou”, sublinha a pesquisadora.

A boa notícia é que existe, no momento, um grande grupo de técnicos e cientistas, representativos de diferentes regiões do Brasil, empenhados em realizar o Inventário Nacional de Áreas Úmidas, sob a liderança dos especialistas Wolfgang Junk, do INCT Áreas Úmidas (Inau), para dar suporte ao Ministério do Meio Ambiente. O trabalho conta com a participação de Cátia Nunes da Cunha, professora da UFMT.

“A Plataforma MapBiomas incluiu recentemente a legenda ‘Áreas Úmidas’ em seus mapas, o que se constitui em grande avanço. Porém, demarcar as áreas úmidas em campo, na escala de uma propriedade rural, não é uma tarefa fácil e isso atrapalha a aplicação das leis. Nosso artigo propõe critérios objetivos, baseados no solo hidromórfico, na flora endêmica e na elevação máxima do lençol freático para facilitar a delimitação de áreas úmidas em escala local”, conclui Durigan.

O artigo Cerrado wetlands: multiple ecosystems deserving legal protection as a unique and irreplaceable treasure pode ser acessado neste link.

*Texto publicado originalmente em 06/12/22 no site da Agência Fapesp da Notícias

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Foto de abertura: Rafael Oliveira/chuveirinho (Paepalanthus urbanianus) em campo úmido, Chapada dos Veadeiros, Goiás

Cientistas apontam o desmatamento como causa da redução de chuvas na Amazônia

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Cientistas apontam o desmatamento como causa da redução de chuvas na Amazônia

Cientistas apontam o desmatamento como causa da redução de chuvas na Amazônia

Não é de hoje que cientistas sabem que florestas são essenciais para o equilíbrio do ciclo hidrológico e a precipitação de chuvas. Através de um mecanismo chamado de evapotranspiração, a umidade das folhas é liberada na atmosfera. Foi no Brasil que surgiu, por exemplo, o conceito dos “rios voadores”.

O termo, hoje largamente utilizado nas pesquisas ambientais, descreve o fenômeno formado por imensos volumes de vapor de água, produzidos pelas árvores da floresta, e levados pelos ventos, muitas vezes, acompanhados por nuvens. Apesar de não os enxergarmos, esses rios têm cerca de três quilômetros de altura e milhares de quilômetros de extensão, e são responsáveis por levar chuva para outras áreas.

Agora, um novo estudo comprova e quantifica o impacto do desmatamento sobre a produção de chuvas, ou melhor, sobre a redução delas, em florestas tropicais, na América do Sul (Amazônia), Congo e sudeste da Ásia.

Pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, analisaram imagens de satélite e dados de precipitação entre 2003 e 2017. Durante esse período, eles compararam o volume de chuvas em áreas desmatadas, sem cobertura vegetal, com o de outras que não sofreram deflorestamento.

Eles perceberam que a perda de cobertura arbórea causou reduções nas chuvas ao longo do ano todo, incluindo na estação seca, quando qualquer seca adicional terá maior impacto nos ecossistemas de plantas e animais.

Todavia, o mais alarmante é que o maior declínio absoluto na precipitação foi observado na estação chuvosa, com uma diminuição de até 0,6 mm por mês para cada ponto percentual de perda de cobertura florestal. O que o estudo mostra é que quanto maior a área desmatada, maior será a queda nas chuvas.

Segundo previsão dos cientistas britânicos, no caso do Congo, se o ritmo atual de desmatamento continuar, até o final deste século a pluviosidade na região poderá ser reduzida entre 8% e 12%, com grande impacto na biodiversidade e na agricultura. O rendimento das colheitas diminui 0,5% para cada 1% de redução nas chuvas.

Os pesquisadores lembram ainda que as florestas do Congo estão entre as maiores reservas de carbono do planeta (além de produzir chuvas, árvores têm um papel fundamental em absorver o dióxido de carbono, o gás CO2 da atmosfera, apontado como o principal responsável pelo aquecimento global).

Para Callum Smith, principal autor do estudo, a análise oferece evidências incontestáveis sobre a necessidade da proteção das florestas e do combate ao desmatamento descontrolado.

“As florestas tropicais desempenham um papel crítico no ciclo hidrológico, ajudando a manter os padrões de chuva locais e regionais. A redução das chuvas causada pelo desmatamento tropical afetará as pessoas que vivem nas proximidades por meio do aumento da escassez de água e da diminuição do rendimento das colheitas”, alerta o pesquisador. “As próprias florestas tropicais dependem da umidade para sobreviver e as áreas remanescentes de floresta serão afetadas por um clima mais seco”.

Além do desmatamento, as mudanças climáticas também contribuem para um clima cada vez mais seco e propício ao aumento de incêndios florestais.

“Os moradores locais que vivem perto de regiões desmatadas relatam um clima mais quente e seco depois que as florestas são derrubadas. Mas até agora esse efeito não havia sido visto em observações de chuva”, destaca Dominick Spracklen, professor da School of Earth and Environment da Universidade de Leeds e supervisor do projeto. ”Embora tenha havido esforços para deter o desmatamento, a perda de cobertura florestal nos trópicos continua. É preciso renovar os esforços para impedir a perda de florestas e regenerar áreas perdidas e degradadas”.

O estudo Tropical deforestation causes large reductions in observed precipitation foi publicado na revista Nature.

*Com informações da área de comunicação da Universidade de Leeds

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Foto de abertura: Christian Braga / Greenpeace Brasil