quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Estudo comprova viabilidade econômica de reflorestamento com espécies nativas



Estudo comprova viabilidade econômica de reflorestamento com espécies nativas

O Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030 como parte de sua meta climática no Acordo de Paris. Isso significa que é preciso dar escala a projetos de reflorestamento de espécies nativas e de sistemas agroflorestais, que precisam ser rentáveis para atrair investimentos.

“Poucos países têm a vocação florestal do Brasil e é possível olhar para este tema na lógica das oportunidades de negócio”, afirma Miguel Calmon, diretor de Florestas do WRI Brasil. O Projeto VERENA (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas) mostra que o reflorestamento com espécies nativas é economicamente competitivo. Uma ferramenta gratuita foi desenvolvida para calcular se um projeto de reflorestamento ou sistema agroflorestal (SAF) é viável, ou seja, se equilibra capital financeiro e natural e oferece oportunidades de negócio e emprego no meio rural. A iniciativa analisou nos dois últimos anos a viabilidade técnica e econômica do reflorestamento com espécies nativas, e também os benefícios sociais e ambientais, de 12 estudos de caso em propriedades na Amazônia e Mata Atlântica.

“Para tomar uma decisão, os investidores precisam ter mais informação sobre risco e retorno. As espécies arbóreas nativas brasileiras existem há milhares de anos e já protagonizam experiências comerciais bem-sucedidas, mas não no mercado de capitais. Estudos de caso são importantes para a criação de um histórico de práticas e para diminuir a percepção de risco”, destaca Alan Batista, Analista de Investimentos do WRI Brasil.

Em sua maioria, os casos estudados pelo VERENA necessitam de maior investimento por hectare e tempo para recuperar o retorno do investimento, se comparados ao setor agropecuário e florestas plantadas. No caso do payback, o tempo maior se deve ao maior ciclo de colheita das espécies arbóreas nativas. Se diversificado, é possível mitigar riscos ambientais (estiagens, secas, etc) e de variação de preços.

A análise conjunta dos 12 estudos de caso mostra que, em média, o retorno dos ativos é maior (16%) para o reflorestamento com espécies nativas e SAFs do que a média da agricultura e silvicultura com pinus e eucalipto (13%). A análise conjunta também indica que o retorno médio do investimento nos 12 estudos casos do VERENA leva 16 anos frente a 12 anos nos casos estudados da agricultura e silvicultura com espécies exóticas. “Estatisticamente, o retorno médio dos ativos e do investimento são equivalentes nos casos comparados à agricultura e silvicultura. Isso significa que apostar no reflorestamento com nativas e SAFs é um bom negócio”, salienta Alan.

Além da contribuição para o alcance da meta climática, o investimento em restauração e reflorestamento com espécies nativas e sistemas agroflorestais contribui para o cumprimento do Código Florestal Brasileiro (CFB). É o caso do uso econômico da Reserva Legal (RL). Grande parte dos ativos estudados pelo VERENA são compatíveis com o manejo sustentável em RL. As análises do projeto indicam outras oportunidades de negócio com sistemas produtivos integrados. É exemplo a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), que possibilita o plantio de culturas anuais paralelamente ao plantio de espécies nativas.

O Projeto VERENA é liderado pelo WRI Brasil em parceria com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e tem o apoio da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF). Mais de 50 parceiros participaram dos primeiros dois anos de trabalho.

Fonte: EcoDebate

Plenitude da biodinâmica, artigo de Roberto Naime


Sempre existem áreas de sombreamento ou sobreposição entre agricultura orgânica, agroecologia, permacultura e biodinâmica. Fundador da Antroposofia, Rudolf Steiner é também responsável pela introdução do modelo agrícola de produção da biodinâmica.

Na primeira metade do século XX, em 1924, Steiner proferiu oito palestras para agricultores falando sobre o tema da biodinâmica.

Segundo ele, “a única coisa que torna viável a vida física na Terra, é sem dúvida, a agricultura”. É a agricultura é “a atividade que mais foi afetada pela vida espiritual moderna”.

Desta forma, a alimentação das pessoas foi prejudicada e os alimentos deixaram de ter elementos essenciais para o desenvolvimento humano pleno.

Assim como na agricultura orgânica, a biodinâmica não usa adubos químicos, venenos, herbicidas, sementes transgênicas, antibióticos ou hormônios. A diferença é que essa prática agrícola procura a integração entre as várias atividades de uma propriedade, como horta, pomar, pastos, mananciais, criação animal e florestas nativas.

Ou seja, o agricultor visa transformar sua produção em um organismo concluso e diversificado. Simples conceitos como adubar, por exemplo, tornam-se mais complexos na biodinâmica. Adubar seria semelhante a vivificar e tonificar o solo e não apenar dar nutrientes para as plantas.

Para os agricultores dessa vertente, o reino vegetal está diretamente ligado às forças cósmicas, sendo um reflexo do que se passa no Cosmo.

Para intensificar as relações entre Terra e Cosmo, a biodinâmica usa preparados homeopáticos feitos de minerais, esterco bovino e plantas medicinais, com o objetivo de fortalecer os alimentos.

Entre os princípios que norteiam essa forma de produção estão a cura da terra, a produção de alimentos com vitalidade, o respeito ao meio ambiente, ao agricultor e suas tradições e ao consumidor. E a sinergia produzida pela integração entre todos os elementos da produção.

Presente em mais de 50 países, esse tipo de agricultura visa cultivar o meio ambiente e proporcionar uma alimentação saudável ao ser humano. No mundo inteiro, os produtos biodinâmicos levam a marca da Demeter, que garante uma cultura agrícola baseada nos campos culturais, espirituais, políticos e legais, econômicos e ecológicos.

No Brasil, é possível encontrar produtos do selo Demeter à venda. Alguns tipos de alimentos não são vistos por todo o ano no mercado, porque a biodinâmica respeita o sistema de produção e o ciclo de vida natural das plantas. Se ressalta que produtos são sazonais, mas de alto valor biológico, nutricional e vital.

Em alguns mercados também são encontrados alimentos biodinâmicos, como vinho, café, arroz e açúcar.

A marca Native, líder na exportação de açúcar orgânico, também está intensificando a produção na linha de biodinâmicos, com o açúcar Cristal Demeter. Além disso, em algumas redes de produtos naturais estão disponíveis alimentos da linha biodinâmica.


Outro mundo é possível. A biodinâmica se diferencia dos demais ramos de agricultura natural, pelas suas dimensões culturais, espirituais, políticas, legais e econômicas, além de ecológicas.

Referência:
http://vivoverde.com.br/parceriauj-espiritualidade-cosmo-e-plenitude-o-que-tem-a-ver-com-os-alimentos-biodinamicos/
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.


Fonte: EcoDebate

Espécies invasoras põem em risco a biodiversidade, artigo de Sílvia Ziller





caramujo-gigante-africano (de nome científico Achatina fulica). Foto: Wikipédia
caramujo-gigante-africano (de nome científico Achatina fulica). Foto: Wikipédia

[EcoDebate] Quem passeia pelas dunas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), pode se assustar ao ver o corte de árvores que acontece no Parque Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição. O que acontece, na verdade, é a retirada de pínus invasores que ameaçam espécies nativas e endêmicas (que ocorrem apenas na região). Ao contrário do que se possa imaginar, às vezes, para conservar o meio ambiente é preciso retirar plantas já estabelecidas que desequilibram ambientes naturais e comprometem o funcionamento dos ecossistemas.

Nativos da América do Norte, os pínus ou pinheiros americanos, introduzidos no Brasil para fins de reflorestamento, representam um problema ambiental para ambientes naturais porque eliminam, gradativamente, as plantas nativas em função de sombreamento e utilizando a água disponível no subsolo. Cada ecossistema possui suas características, seu processo de evolução natural, adaptadas às diversas espécies que compõem determinada região. Porém, a introdução de plantas ou animais que não fazem parte dessa cadeia afeta consideravelmente todo ciclo de desenvolvimento entre os seres vivos, assim como fazem os pínus na restinga da Lagoa da Conceição e em outras unidades de conservação do sul e sudeste.

Para realizar o controle da espécie, grupos de voluntários eliminam os pínus do parque desde 2010. No momento há um esforço de divulgação e solicitação de ajuda da população residente na região para que também elimine os pínus de seus quintais, pois funcionam como fontes de sementes para a invasão no parque. Até 2017, cerca de 270 mil pínus de todos os tamanhos já foram eliminados.


Não faltam exemplos nos ambientes naturais brasileiros de situações de invasão por espécies exóticas. Por motivos econômicos, o caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) foi introduzido no Brasil, causando impacto ambiental, econômico e à saúde humana. O javali, introduzido ilegalmente para fins de caça e criação, invade a metade sul do país e causa imensos prejuízos à agricultura, além de impactar espécies nativas de porcos-do-mato. O mosquito-da-dengue Aedes aegypti (“odioso do Egito”, na tradução do Latim) é outro exemplo muito conhecido. Causador das doenças dengue, chikungunya e zika, acarreta grandes custos à saúde pública.

Para cada espécie naturalmente existente há outras que interagem com ela ou dependem dela para que o ecossistema funcione de forma harmônica. O conjunto de seres vivos em cada local se regula, equilibrando o ambiente. Quando chega uma espécie exótica, o controle natural pode não ocorrer, pois os inimigos naturais que fazem o controle da espécie não vêm junto com ela. Quando a exótica se torna invasora, a consequência é a propagação descontrolada e o desequilíbrio ambiental. Como as introduções de espécies estão ligadas a interesses humanos, cabe também ao ser humano melhor escolher espécies a introduzir e arcar com a responsabilidade de medidas de prevenção e controle.


Há evidências contundentes de consequências ecológicas negativas da invasão por espécies invasoras. Entre elas estão a eliminação de espécies nativas por competição ou predação, alterações em ciclos ecológicos como a produção de água e a frequência e intensidade de incêndios naturais, mudanças químicas nos solos e mudanças em processos de polinização e dispersão de sementes.


A disseminação global de um conjunto de espécies de alta capacidade de adaptação e invasão tende a levar à homogeneização da flora e da fauna em países com condições ambientais similares.


Ou seja, ocorre gradativa redução da diversidade natural de espécies e da relação entre os diferentes seres vivos e os serviços ambientais provenientes dessas interações. Sem a adoção contínua de medidas de prevenção e manejo para a conservação da biodiversidade, invasões por espécies exóticas vão tomar cada vez mais espaço e interferir na sustentabilidade dos processos naturais.

* Sílvia Ziller é fundadora e diretora executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2017


"Espécies invasoras põem em risco a biodiversidade, artigo de Sílvia Ziller," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/12/22/especies-invasoras-poem-em-risco-biodiversidade-artigo-de-silvia-ziller/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Estudo mostra aumento de migrações por causa das mudanças climáticas

Sexta-feira, 22/12/2017, às 21:57, por Amelia Gonzalez
Novo estudo divulgado nesta sexta-feira (22) no site da revista "Science" mostra um dos muitos efeitos devastadores que as mudanças climáticas já causam e vão continuar trazendo para os humanos.Até o final do século, o número de migrantes, pessoas que vão fugir de seus territórios e tentar entrar na União Europeia, vai triplicar. Mesmo que todos os esforços para reduzir o aquecimento global surjam efeitos satisfatórios, não vai adiantar. O número de pedidos de asilo pode aumentar em um quarto:

“Examinamos como, no passado recente, período entre os anos 2000 e 2014, as variações climáticas em 103 países traduziram-se em pedidos de asilo para a União Europeia. Em média, 350 mil por ano em nossa amostra. Descobrimos que as temperaturas que se desviaram do ótimo moderado (cerca de 20 graus) aumentaram os pedidos de asilo e que, mantendo-se este fenômeno de forma constante, até o final do século o aumento será, em média, de 28%”, diz o texto da revista.

Um dos autores do estudo, o professor da escola de assuntos internacionais e públicos da Universidade de Columbia, em Nova York, WolframSchlenker disse à reportagem do jornal britânico "The Guardian" que “A Europa verá um número crescente de pessoas desesperadas que fogem de seus países de origem".

Outro pesquisador ouvido pelo jornal, Bob Ward, diretor de políticas e comunicações do Grantham Research Institute sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente, na London School of Economics and Political Science, aposta que centenas de milhões de pessoas serão expostas ao aumento do nível do mar e vão procurar se mudar, o que causará migrações em massa para longe dos locais mais vulneráveis.

"Sabemos que, na história da humanidade, as migrações muitas vezes levam a conflitos e guerras, com consequências devastadoras. E os enormes custos dos conflitos relacionados com a migração geralmente são omitidos nos modelos econômicos dos impactos das mudanças climáticas no futuro", alertou ele.

Como já se sabe, as mudanças do clima vão resultar em mais secas, inundações, ondas de calor e outros eventos extremos, como tempestades, tufões, furacões, além do aumento do nível do mar. Tudo isso vai tornar a agricultura mais difícil em todo o mundo. Ocorre que em lugares pobres e sem recursos, da África e da Ásia, por exemplo, essa dificuldade vai ser muito mais sentida. A Europa também vai sentir os efeitos, mas como os países do continente são mais prósperos, os danos podem ser mais contidos, tornando-o um destino atraente para quem foge dos horrores do aquecimento global.

O resultado deste e de outros tantos estudos que mostram a ligação direta entre aquecimento global e crise em diversos países dão conta, ainda, de como esta é uma questão que mexe com o planeta como um todo. É o motivo de tantas reuniões, encontros, conferências mundiais convocada pelas Nações Unidas para debater a melhor maneira de enfrentar o problema. Um estudo acadêmico realizado em 2015, por exemplo,  mostra  que a guerra civil da Síria tem como pano de fundo uma seca que durou de 2006 a 2010.

"Foi a pior seca registrada no mundo, o que causou privações  generalizadas e uma migração em massa de famílias de agricultores para centros urbanos.  Concluímos que as influências humanas no sistema climático estão implicadas no atual conflito sírio", conclui o estudo.

Outro professor entrevistado pelo “The Guardian”, o norte-americano Solomon Hsiang , professor de Berkeley, da Universidade da Califórnia, e autor de um estudo anterior que liga conflitos e mudanças climáticas,  disse que o mundo deve se preparar.

"Precisamos construir novas instituições e sistemas para gerenciar este fluxo constante de requerentes de asilo. Como vimos da experiência recente na Europa, há custos enormes, tanto para os refugiados como para os seus anfitriões”, diz ele.

A questão é complexa e torna-se ainda mais delicada quando se sabe que 65 milhões de pessoas estão, atualmente, fora de seus territórios de origem, das quais 25 milhões são refugiados e pediram asilo em outros países. Mas esses números, o maior desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com as regras do Direito Internacional,  não contemplam aqueles que precisaram se deslocar por causa das mudanças climáticas, segundo reportagem publicada ontem no jornal “The New York Times”.

O jornal lembra que essa questão pode estar acontecendo porque, na verdade, as leis que regem os direitos dos refugiados foram escritas num tempo em que ainda não se tinha deslocamentos causados pelos efeitos do aquecimento global. Mas, para a maioria dos que defendem as pessoas que estão nesta situação, talvez seja mesmo melhor não mexer muito no tratado, segundo a reportagem.

“Os defensores dos refugiados temem que, se o tratado de refugiados de 1951 fosse aberto para a renegociação, os políticos em vários países tentem enfraquecer as proteções que existem agora. Isso inclui a administração Trump, que proibiu as pessoas de oito países - incluindo refugiados da Síria devastada pela guerra e do Iêmen - de entrarem no país administrado por ele”, diz o texto da reportagem.

Há outras possibilidades. Durante a Conferência do Clima (COP-23) que aconteceu recentemente em Bonn, na Alemanha, o ministro da Holanda, James Shaw, contou que um legislador da Nova Zelândia recentemente propôs uma categoria de visto especial para pessoas deslocadas pela mudança climática. Seria um visto humanitário especial para permitir que as pessoas forçadas a se deslocar por causa das mudanças climáticas tenham um tratamento digno no país que decidir acolhê-las.

Não é um problema qualquer. E sim, a humanidade precisa se dar conta de que precisará lidar com ele sem véus. Para ilustrar o que pode expulsar pessoas de um território, o caso da ilha de Barbuda, no Caribe, pode ser um triste, mas real exemplo. Por causa do furacão Irma, que devastou a região em setembro deste ano, pela primeira vez em 300 anos, não há uma única pessoa viva na ilha.

“Uma civilização que existia ali há cerca de 300 anos já se extinguiu", relatou, emocionado, Ronald Sanders, embaixador de Antígua e Barbuda nos Estados Unidos, à Public Radio International. 

"O dano está completo. É um desastre humanitário", completou. Cerca de 1.700 pessoas precisaram ser deslocadas. O dano foi tão grande que o ator Robert de Niro decidiu fazer uma campanha para ajudar os habitantes.

Sim, é de solidariedade que se está precisando hoje no mundo. E cada vez mais.

Conheça os fatos ambientais que marcaram 2017


((o))eco
Gado na Floresta Nacional de Jamanxim. Foto: Marcio Isensee.
Gado na Floresta Nacional de Jamanxim. Foto: Marcio Isensee.

O ano de 2017 foi um ano difícil para a conservação. Mas ninguém poderá acusá-lo de ser um ano morno. Reviravoltas, avanços, ensaios, retrocessos (muitos retrocessos) e uma boa dose de drama marcaram os últimos 12 meses. Relembre aqui os principais fatos que marcaram o ano.

Uma floresta chamada Jamanxim
No final de 2016, o governo escolheu reduzir o tamanho da Floresta Nacional do Jamanxim (Flona), localizada em Novo Progresso, no Pará, para resolver o caos fundiário da região, e em criar na parte desafetada uma Área de Proteção Ambiental. A novela de Jamanxim percorreu 360 graus e se encontra agora no mesmo ponto do final do ano passado: esperando ser analisada pelo Congresso Nacional, como projeto de lei.

Antes, as mudanças em Jamanxim veio através de Medida Provisória, que segue um rito próprio: precisam ser aprovadas em 60 dias. Esse prazo pode ser prolongado por igual período. Se aprovadas, viram lei. Se não aprovadas, caducam.

A Medida Provisória retirou 57% da área original de 1,3 milhão de hectares da unidade, quase duas vezes o tamanho da área metropolitana de São Paulo. Da redução total de 743 mil hectares, 438 mil foram adicionados ao Parque Nacional do Rio Novo e outros 305 mil hectares, um quarto da antiga Flona, viraram parte de uma nova Área de Proteção Ambiental (APA), a mais branda categoria de proteção brasileira, que permite propriedade privada -- leia-se, nesse caso, legalização de terras invadidas dentro dos seus limites.
Os parlamentares trataram de descaracterizar a MP, e as partes benéficas, como o ganho de área para o Parque, desapareceram, e outras Unidades de Conservação que não tinham nada a ver com a história, como o Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, entraram na história.

Os ambientalistas reagiram e iniciaram uma campanha antes da visita do presidente Temer à Noruega, o maior financiador do Fundo Amazônia. Num gesto feito para diminuir os protestos, foi acordado um veto à MP, com o acordo de cavalheiros entre governo e ruralistas de que a matéria voltaria para o Congresso, dessa vez não como medida provisória, mas como projeto de lei, que tramitaria em caráter de urgência.

O ministro Sarney Filho demorou para enviar o projeto e os ruralistas sentiram o golpe, ameaçando votar o projeto de lei que muda o licenciamento.

O projeto foi enviado, com urgência, e os parlamentares na comissão especial formada para analisar o projeto introduziram perdas em outras Unidades de Conservação do mesmo jeito que fizeram com a Medida Provisória vetada. O governo abandonou o projeto por quebra de acordo e retirou a tramitação urgente.

A novela sobre a redução de Jamanxim ainda não terminou e será um dos assuntos de 2018.


Trump e as mudanças na política ambiental americana
Para Trump, a decisão de não considerar as alterações climáticas um assunto de segurança nacional vem da necessidade dos Estados Unidos recuperar a sua competitividade econômica no mundo. Foto: Gage Skidmore/Flickr.
Para Trump, a decisão de não considerar as alterações climáticas um assunto de segurança nacional vem da necessidade dos Estados Unidos recuperar a sua competitividade econômica no mundo. Foto: Gage Skidmore/Flickr.

O presidente norte-americano cumpriu a sua promessa de campanha presidencial em relação ao meio ambiente. Começou o ano diminuindo em 31% o orçamento da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), deixando o órgão com o menor orçamento dentre todas as agências federais.

Antes, colocou no comando do EPA um cético do clima e aliado das indústrias petroleiras: Scott Pruitt. O ex-procurador-geral do estado de Oklahoma assumiu o órgão que ele mesmo processou 13 vezes.

Na contramão do seu antecessor em diversas medidas, Trump ordenou  revisão de 27 monumentos nacionais declarados desde 1996, entre eles Bear Ears, que 2016 foi declarado como monumentos nacional pelo então presidente Obama. Dois meses depois, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris.

Uma das últimas decisões do ano e não menos importante, o atual presidente dos EUA anunciou que mudanças climáticas não fazem parte da Estratégia de Segurança Nacional como havia determinado Barack Obama em 2015. Dessa forma, a administração Trump tem demonstrado traços de que não caminhará em defesa do meio ambiente.

A extinção e a volta da Renca
Um dos assuntos mais polêmicos do ano e que causou muitos protestos da sociedade civil foi a decisão do governo Michel Temer, que assinou o Decreto nº 9.142, de 22 de agosto de 2017, que extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus associados, permitindo a exploração de mineração na região a empresas privadas.

Criada por decreto em 1984, no final da ditadura militar, a Reserva Nacional de Cobre e Associados determinava o monopólio do governo sobre qualquer atividade mineral em sua área, de 46.501 quilômetros quadrados. A área era bloqueada para a iniciativa privada exercer atividades de mineração.

Num primeiro momento, a extinção da Renca foi confundida com a revogação de áreas protegidas que estão situadas no local. A confusão é culpa do nome “reserva”. O fato de sete unidades de conservação, incluindo o maior Parque Nacional em floresta tropical do mundo, as montanhas do Tumucumaque, e duas Terras Indígenas estarem sobrepostas à Renca acendeu o alerta vermelho dos ambientalistas e tomou conta das redes sociais. As vozes contrárias se estenderam até o palco do maior festival de música do ano, o Rock in Rio 2017.

Mediante repercussão negativa na sociedade civil, o governo, no dia 28, revogou o decreto e editou um novo (decreto nº 9.147/2017) “para clarificar a situação”. O texto diz que não haveria atividades de exploração de mineração em unidades de conservação ambiental e terras indígenas. O pequeno recuo não convenceu. Após críticas públicas de ambientalistas e do próprio ministro do Meio Ambiente, que havia se posicionado contra a abertura da Renca, Temer voltou atrás mais uma vez e o Ministério de Minas e Energia decidiu paralisar todos os procedimentos relativos à exploração minerária dentro da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) por 120 dias.


Votação Código Florestal
Ministra Cármen Lúcia já definiu a data da retomada do julgamento do Código Florestal. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF.
Ministra Cármen Lúcia já definiu a data da retomada do julgamento do Código Florestal. 
Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF.

Após vários adiamentos, o julgamento de artigos do Novo Código Florestal ficará para fevereiro de 2018. O Supremo Tribunal Federal (STF) analisa, desde 2012, quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade e uma Ação Declaratória de Constitucionalidade sobre a lei atualizada em 2012 pelo Congresso Nacional.

Serão julgadas, em conjunto, quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade – três delas movidas pelo MPF e uma movida pelo PSOL –, que questionam a constitucionalidade de 58 artigos da Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal), que regulamenta a conservação e a recuperação de vegetação nativa dentro de propriedades rurais do país. Aprovada e sancionada em 2012, a lei tem um total de 84 artigos, dos quais 64% foram questionados no Supremo Tribunal Federal. Também está sendo julgada a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC 42) proposta pelo Partido Progressista. De acordo com o partido, se o Supremo declarar o Novo Código Florestal constitucional, acabará com a insegurança jurídica no campo.

No dia 8 de novembro, o relator do processo, ministro Fux, considerou inconstitucional o Programa de Regularização Ambiental (PRA), por anistiar produtores rurais. O PRA tem por objetivo a adequação das Áreas de Proteção Permanente (APPs) e de reserva legal de propriedades rurais por meio de recuperação ou compensação, firmando termo de compromisso. A adesão ao programa confere benefícios, suspendendo sanções por infrações anteriores a 22 de julho de 2008 e afastando penalidades administrativas e punibilidade por crimes ambientais.

“Ao perdoar infrações administrativas e crimes ambientais pretéritos, o Código Florestal sinalizou uma despreocupação do Estado para com o direito ambiental”. Assim, o ministro votou pela declaração de inconstitucionalidade dos artigos 59 e 60 da lei.

O ministro considerou constitucional o artigo 15, no qual se admite o cômputo das APPs no cálculo da Reserva Legal do imóvel. “Não é difícil imaginar que a incidência cumulativa de ambos os institutos em uma mesma propriedade pode aniquilar substancialmente sua utilização produtiva”, afirma. O cômputo das APPs no percentual da Reserva Legal, diz o ministro, está na área do legítimo exercício do legislador.

Em fevereiro, votarão os outros ministros.

Desmatamento: desce o da Amazônia, sobe o do Cerrado
A derrubada da floresta amazônica saiu de 7.893 quilômetros quadrados, em 2016, para 6.624 km², em 2017. É como se um pouco mais de quatro cidades de São Paulo de vegetação tivessem sidos perdidas entre agosto de 2016 a julho de 2017. No mesmo período do ano anterior, o país perdeu cinco cidades de São Paulo.

No mesmo ano em que o desmatamento na maior floresta do país diminuiu, o governo finalmente divulgou os primeiros dados sobre o desmatamento no Cerrado e a notícia é alarmante: apenas em 2018 o Cerrado perdeu 9.483 quilômetros quadrados de vegetação, o que equivale a mais de seis cidades de São Paulo e supera em 52% a devastação na Amazônia no mesmo ano.

Órgãos ambientais são atacados
Print do vídeo de Waldir Adriano no Youtube.
Print do vídeo de Waldir Adriano no Youtube.

Em julho, moradores fecharam a BR 163 na altura de Novo Progresso, no Pará. Manifestantes protestaram contra o veto do presidente Temer que manteve o tamanho integral da Floresta Nacional (Flona) de Jamanxim, área que os ocupantes pleiteiam para aumentar a produção do município.
Durante o fechamento da rodovia, o manifestantes queimaram oito caminhonetes do Ibama, além da carreta que as transportava, em Cachoeira da Serra, às margens da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), no município de Altamira. O crime aconteceu na madrugada do dia 07 de julho. A ação foi feita por madeireiros e seria uma retaliação ao órgão por conta de uma operação que combateu a retirada de madeira da Terra Indígena Menkragnoti.

Ibama considerou a queima das caminhonetes um atentado e a presidente, Suely Araújo, mandou fechar todas as serrarias da região.  "Foi um atentado contra ação legítima do Estado brasileiro", disse o diretor de Proteção Ambiental, Luciano Evaristo.

No final de outubro, prédios de órgãos ambientais pegaram fogo, viaturas foram tombadas, casas e carros de servidores do Ibama atacados em Humaitá, no Amazonas. Foi uma reação de garimpeiros e parte dos moradores à Operação Ouro Fino, contra o garimpo ilegal no Rio Madeira.
Políticos locais apareceram em imagens comemorando o ataque.

O ICMBio, que gere as Unidades de Conservação do país, também sofreu uma perda esse ano. Em agosto, um guarda-parque foi assassinado por caçadores na Serra da Capivara, no Piauí.

Acidente com equipe do Ibama
Na manhã de uma segunda-feira, dia 3 de julho, um avião com uma equipe do Ibama caiu sobre árvores logo após decolar na pista da empresa Paramazônia, município de Cantã, leste de Roraima. Quatro pessoas morreram, três eram servidores do Ibama -- os analistas ambientais Olavo Perin, de 35 anos, do Espírito Santo; Alexandre Rochinski, de 45 anos, de Santa Catarina e o técnico administrativo Sebastião Júnior, de 50 anos, de Roraima --. mais o piloto, Marcos Jardim. O analista ambiental Lazlo Macedo de Carvalho, de 44 anos, foi o único sobrevivente do desastre aéreo.
A aeronave havia sido alugada pelo Exército para levar os servidores do Ibama para uma operação de combate à mineração ilegal na Terra Indígena Yanomâmi, área de fronteira, em uma ação da Operação Curare VIII.

Lazlo teve 50% do corpo queimado, principalmente os membros superiores, sofreu danos de fuligem na traqueia e nos pulmões. O seu estado de saúde quando chegou ao Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) era considerado grave, mas ele reagiu bem ao tratamento, o que impressionou até a equipe médica, e deixou o hospital 84 dias após a internação.

10 anos do Instituto Chico Mendes: ((o))eco em trilha
A Grande Travessia dos Lençóis Maranhenses percorreu 50km do parque nacional. Foto: Duda Menegassi.
A Grande Travessia dos Lençóis Maranhenses percorreu 50km do parque nacional. 
Foto: Duda Menegassi.

Em 2017, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) completou dez anos de existência. O aniversário do órgão ambiental, que é responsável pela gestão das unidades de conservação federais, incluiu uma programação especial: a realização de 10 travessias em áreas protegidas.

((o))eco acompanhou de perto essa jornada que começou em junho, na vastidão do Cerrado, no recém-ampliado Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). Passou pelas dunas construídas pelo vento no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA), percorreu as paisagens ancestrais do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT) e subiu as montanhas do Parque Nacional da Serra do Cipó (MG). Em agosto, no mês de aniversário, foi para Reserva Extrativista Chico Mendes (AC) conhecer os caminhos escondidos sob a copa das árvores na Floresta Amazônica. Em setembro, a travessia teve como cenário as imponentes formações rochosas do Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA) e no mês seguinte chegou na unidade de conservação mais antiga do país, o Parque Nacional do Itatiaia (RJ).

A caminhada foi das montanhas para o litoral, na paradisíaca paisagem do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE) e na reta final das comemorações, chegou em no Parque Nacional da Tijuca (RJ), o mais visitado do país, no coração da Cidade Maravilhosa. A última travessia programada para comemorar os dez anos de existência do órgão será realizada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), um dos berços do montanhismo brasileiro, em janeiro.


Novas espécies
O B coloratus foi encontrado no município de Piraquara (PR). Pequeno, resistente ao frio e não sabe nadar. Foto: Luiz Fernando Ribeiro.
O B coloratus foi encontrado no município de Piraquara (PR). Pequeno, resistente ao frio e não sabe nadar. Foto: Luiz Fernando Ribeiro.
Como todo ano, em 2016 também foram descobertas novas espécies. Destacamos a descoberta de duas novas espécies de sapos nas montanhas da Mata Atlântica que pertencem ao gênero Brachycephalus. 

No Panamá, uma nova espécie de peixe-elétrico foi descoberta. Pequeno, com comprimento variando de 16 cm a 30 cm, o Eigenmannia meeki difere das outras espécies do gênero pela posição da boca, padrão de coloração, número de escamas, e disposição dos dentes.

Outro destaque foi a separação de 21 novas espécies de aves tropicais em espécies distintas. A diferenciação foi feita usando as divergências sonoras dessas aves, que pareciam ser da mesma espécie. Os estudos, desenvolvidos pelos pesquisadores Benjamim Freemam, da Universidade of British Columbia, e Graham Montgomery, da Cornell University, demonstram que, quando os sons eram muito diferentes, os pássaros de populações separadas, embora tidos como da mesma espécie, não se reconheciam.

Na Caatinga, um guia mapeou todas as serpentes registradas no bioma: 114 espécies de serpentes ao todo. Nas várzeas da Amazônia, um estudo descobriu onça viva vale muito mais do que gado morto. E por falar em gado, ((o))eco se debruçou esse ano no impacto da pecuária na Amazônia. Foram 11 reportagens de fôlego sobre o assunto, como o

O drible do gado: a parte invisível da cadeia da pecuária”, “Cadeia invisível”, “Governo contra governo: sem guia de trânsito, gado ilegal no Pará fica impune” e “Origem desconhecida”.

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Vício em Jogos será considerado Distúrbio Mental a partir de 2018


Vício em Jogos será considerado Distúrbio Mental a partir de 2018

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Uma atividade que parece inofensiva pode ser perigosa, e até fatal. Basta lembrar do caso do americano Brian "Poshybrid" Vigneault que morreu, após passar 22 horas jogando videogame. Junto a esse, existem vários outros. O hábito – na maioria dos casos – é apenas recreativo, e não faz mal à saúde. No entanto pode se tornar um distúrbio, principalmente quando torna-se prioridade na vida de quem joga.

Baseada em tudo isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vai incluir o vício em jogos eletrônicos no rol de problemas mentais, no ano que vem, de acordo com a New Scientist.
Essa inclusão ocorrerá em decorrência da revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID). A última revisão aconteceu há 27 anos.

Evidentemente, para que uma pessoa seja classificada com a doença, é necessário estar dentro de um quadro grave de vício em jogos. Para tanto existem alguns critérios que podem ser utilizados pelos especialistas, como a lista de nove sintomas, elaborada pela Associação Psiquiátrica Americana, que caracteriza o distúrbio.

Entre eles estão: o aumento de horas jogando, o uso do jogo como ferramenta de liberação da ansiedade, a abstinência quando impossibilitado de jogar e também colocar em risco relações humanas por causa do vício.