- terça-feira, 02 agosto 2016 19:43
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Desde que a NASA reiniciou as pesquisas espaciais, muito tem sido revelado sobre o sistema solar, e para além dele. E o que antes era limitado a intelectuais e a quem tinha acesso a um planetário, agora está ao alcance de milhões de pessoas graças ao lançamento de telescópios portáteis, relativamente baratos e de alta tecnologia, os quais podem ser adquiridos até pela internet. Porém, justo quando a tecnologia se torna disponível, é o céu que parece já não estar, devido ao fenômeno da poluição luminosa.
A poluição luminosa é conseqüência da civilização industrial. A luz das grandes e médias cidades do mundo é tão intensa que ofusca as estrelas, impedindo a observação do céu. Estudos recentes indicam que o aumento de exposição luminosa altera o ritmo biológico de diversas espécies, inclusive a nossa, que evoluíram para viver períodos iguais de luz e escuridão. Por tudo isso, ganha impulso um movimento internacional deflagrado pela ONG americana Associação do Céu Escuro (International Dark-Sky Association).
Segundo a ONG, as Unidades de Conservação distantes dos centros urbanos, longe da poluição luminosa, podem garantir a clareza da massa estelar sobre nossas cabeças, e reconhece que, assim como a biodiversidade, o céu também cumpre um importante papel na nossa cultura e na nossa história. A União Internacional para Conservação da Natureza – IUCN, por meio de um Grupo Consultivo para o Céu Escuro, mantém uma lista de 35 Unidades de Conservação em todo o mundo onde o céu está livre de poluição luminosa, e que por isso começam a atrair visitantes interessados na observação dos astros.
O Canadá lidera a lista da IUCN com 15 reservas, mas infelizmente – e injustamente - nenhum parque brasileiro está na lista. O Parque Estadual do Cantão, na bacia do Rio Araguaia, é um dos que certamente merecem estar: embora a sede do parque esteja no pequeno município ribeirinho de Caseara, a 256 km de Palmas, capital do Tocantins, os restantes 90.000 hectares do Cantão se encontram na ponta norte da remota Ilha do Bananal, adjacentes ao Parque Nacional do Araguaia e a extensas reservas indígenas, formando um conjunto de mais de 2 milhões de hectares sem poluição luminosa, de onde se vislumbra um céu esplendoroso.
Por ocasião do 18o aniversário do Parque do Cantão, cerca de 60 alunos da rede escolar local tiveram a oportunidade de ver o céu em nosso telescópio. O interesse dos jovens superou nossas expectativas, e muitos solicitaram repetir a experiência. Afinal, como não gostar de ver Saturno e seus anéis, e sua lua Encélado que nos indica a possibilidade de vida? Ou o grandalhão Júpiter, um planeta cuja enorme força gravitacional e posição estratégica no sistema solar, atrai para si meteoritos e asteróides que de outra forma viriam diretamente em direção à nossa Terra, destruindo a vida do planeta? Júpiter é nosso guarda-costas!
O fato é que algumas Unidades de Conservação acabam de adquirir um novo papel na proteção de tudo que está abaixo, ao redor e acima de nós. Quem mora em uma cidade grande hoje em dia precisa viajar para muito longe a fim de experimentar a sensação inesquecível de ver a Via Láctea e o céu em todo seu esplendor. E imaginar quantos mistérios existem por lá.
O físico italiano e Premio Nobel Enrico Fermi formulou uma pergunta interessante: se a probabilidade de vida inteligente no Universo é tão grande quanto indicam os dados científicos, então eis o paradoxo de Fermi: “onde estão todos?” Vida inteligente é aquela capaz de formar civilizações. E isso é uma coisa rara, haja visto nossa própria Terra, onde das estimadas 30 milhões de espécies somente uma foi capaz de formar uma civilização – com capacidade de criar comunicação e tecnologia avançadas, mas também de gerar poluição. De todas as possíveis respostas ao paradoxo, a mais aceita pelos cientistas é que as civilizações deixam de existir, pois, à medida que avançam, alteram seu meio natural a ponto de se auto-destruir. Se isso for verdade, nem Júpiter poderá nos salvar de nós mesmos.