Na calçada da pacata rua dos Oitis, na Gávea, Zona Sul do Rio, o professor de Educação Física Joaquim Ferrari, de 47 anos, estranhou quando viu dois micos caídos, em convulsão. Intrigado, notou que outros saguis se alimentavam de um recipiente de plástico instalado em uma árvore e, em seguida, caíam, babando, e decidiu levá-los a uma clínica veterinária nas redondezas. Em minutos, os saguis definhavam, e a suspeita de envenenamento se confirmava.
— Não acreditei, num primeiro momento, que fosse envenenamento, mas quando vi que eles estavam comendo, comecei a desconfiar. Envolvi um deles no meu casaco e depois fomos pegando outros, mas não deu tempo de salvá-los. Fiquei muito triste com o sofrimento que vi e a preocupção é que crianças tenham acesso a essas substâncias e acabemos vendo algo mais grave — disse o professor, visivelmente emocionado em vídeo gravado por um amigo que o acompanhava. Joaquim tentou registrar boletim de cocorrência na 15ª DP na Gávea, mas, segundo ele, agentes informaram que não poderiam receber a denúncia. Confira, no fim da página, a resposta da Polícia Civil.
Na clínica Intergavea, a minutos do ponto de envenenamento, a veterinária Lara Ferreira tentou, sem sucesso, reanimar uma família inteira de micos. Ao todo, oito animais morreram “envenenados por substâncias da classe dos organofosforados e carbamatos”, como escreveu a profissional no laudo.
No dia 2 de agosto, dois dias depois do primeiro incidente, a assessora de imprensa Patricia Bromirsky Leal se depararia com cena parecida: seis micos agonizavam, na mesma rua. Percebendo sinais de envenenamento, a jornalista partiu em busca de pontos onde as substâncias tóxicas pudessem ter sido colocadas para evitar novas mortes.
— Recolhi um dos animais, mas ele morreu antes de chegarmos ao veterinário —, lamenta Patrícia, que destaca: — Depois dos micos, soube de três gatos e dois cachorros domésticos, além de um tucano. A pessoa que fez isso precisa parar, porque pode matar o animal de alguém e, pior ainda, pode intoxicar o filho de alguém num momento de distração do pai — destacou Patricia.
Segundo a jornalista, há alguns anos moradores do bairro vêm se queixando da grande presença de micos na região.
— Entendo que existe um desequilíbrio, mas não é assim que devemos resolver as coisas. Além dos outros riscos que existem com o envenenamento, o sofrimento é enorme e desnecessário. Precisamos acionar as autoridades — disse Patricia.
A denúncia de crimes ambientais pode ser feita em qualquer delegacia de polícia ou pelo Linha Verde do Disque-Denúncia 2253-1177 (capital do rio) ou 0300-253-1177 (estado do Rio, com custo de ligação local) ou para a Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais: (21) 2334-5906.
Segundo o coronel José Maurício Padrone, da Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais, a Lei de Crimes Ambientais permite extermínio de animais quando são considerados nocivos — o que ainda não aconteceu com os micos. Além disso, órgãos do meio ambiente estabelecem regras de conduta claras para que não sejam afetadas outras espécies.
— Podemos citar o exemplo do Javali no RS, onde determinados períodos se autoriza a caça controlada Portanto, ninguém pode sair matando micos sem conhecimento técnico necessario, muito menos sem pesquisas complexas e conclusões, porque estará sujeito a pena de seis meses a um ano de prisão e também uma multa administrativa — explica. O coronel destaca os riscos do uso de venenos: — Outras espécies nativas podem ser afetadas e contaminar todo um ambiente, gerando situações imprevisíveis e até mesmo podendo afetar a saúde humana — alerta.
Leia, na íntegra, nota da Polícia Civil:
De acordo com o Delegado de Polícia José
Alberto Pires Lage, titular da 15ª Delegacia de Polícia – Gávea, a
unidade vai apurar a conduta do servidor e averiguar possível infração
administrativa. Procedimento será instaurado para apurar o crime
ambiental. A Corregedoria Interna da Polícia Civil já foi comunicada e
também irá apurar o fato.
O cidadão que tiver qualquer dificuldade
no atendimento em uma unidade pode entrar em contato com a Central de
Atendimento ao Cidadão (CAC). O órgão foi criado para ampliar canal de
comunicação entre a Polícia Civil e a sociedade. O serviço está
disponível através dos telefones (21) 2334-8823, (21) 2334-8835 e pelo
chat
https://cacpcerj.pcivil.rj.gov.br/. A CAC irá entrar em contato com a vítima para prestar todo o apoio necessário e demais medidas que se fizeram cabíveis.