Estudo desnuda a concentração de renda do agronegócio no Cerrado
Relatório da pesquisa escancara a grande concentração de renda que persiste no negócio, o que amplia desigualdades sociais.
A última segunda-feira (12) foi marcada pelo lançamento do relatório “Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”. Apoiado pelo Greenpeace, trata-se
de um importante documento que revela as forças e potências que tornam o
Brasil um dos maiores produtores de grãos ao passo que deteriora o
esquecido Cerrado.
O relatório é o primeiro apanhado de informações resultante de um estudo realizado na região de Matopiba, acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde 90% do território integra o bioma do Cerrado. Tido como a última fronteira agrícola do país, a área é responsável por cerca de 10% da produção nacional de grãos, sendo que 10 dos 100 maiores municípios produtores de soja do país estão ali. Além disso, o crescimento econômico tem na agropecuária uma contribuição crescente. Estamos então falando de cidades bastante desenvolvidas do ponto de vista socioeconômico? Não necessariamente.
“[Em Matopiba há] 337 municípios, em uma área total de 73 milhões de hectares. O PIB estimado perfazia R$ 53 bilhões, com um valor per capita de R$ 9 mil. Em alguns municípios, como Luis Eduardo Magalhães, esse valor podia chegar a R$ 46 mil, valor próximo ao da cidade de São Paulo e acima de cidades como Porto Alegre. Essa produção é, contudo, bastante concentrada: os dados apontam que apenas 13 das 31 microrregiões produziam 76,9% do PIB total”, aponta o relatório.
A pouco mais de 200km de Luis Eduardo Magalhães está a cidade de Formosa do Rio Preto, que, em 2017, figurou no quinto maior PIB da Bahia (e está entre as 10 que mais produzem soja). Apesar disso, seus indicadores de pobreza e desigualdade são maiores do que a média da Bahia. Aliás, este é um ponto importante no estudo: para não cometer equívocos desonestos buscou-se fazer quase sempre comparações com cidades do mesmo estado e dinâmicas parecidas.
O relatório é o primeiro apanhado de informações resultante de um estudo realizado na região de Matopiba, acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde 90% do território integra o bioma do Cerrado. Tido como a última fronteira agrícola do país, a área é responsável por cerca de 10% da produção nacional de grãos, sendo que 10 dos 100 maiores municípios produtores de soja do país estão ali. Além disso, o crescimento econômico tem na agropecuária uma contribuição crescente. Estamos então falando de cidades bastante desenvolvidas do ponto de vista socioeconômico? Não necessariamente.
Quem paga o pato
Muito se fala sobre o custo do progresso. Isto é, algumas populações serão afetadas por determinada obra, por exemplo, mas “tudo bem”, faz parte do processo. A retórica é que os ganhos econômicos a longo prazo, compensariam estas perdas. O que o relatório escancara, no entanto, é que persiste uma grande concentração de renda, o que amplia desigualdades sociais – onde situações de pobreza e violência se fazem presente. E o problema fica ainda maior quando analisamos os custos ambientais da destruição da vegetação nativa.“[Em Matopiba há] 337 municípios, em uma área total de 73 milhões de hectares. O PIB estimado perfazia R$ 53 bilhões, com um valor per capita de R$ 9 mil. Em alguns municípios, como Luis Eduardo Magalhães, esse valor podia chegar a R$ 46 mil, valor próximo ao da cidade de São Paulo e acima de cidades como Porto Alegre. Essa produção é, contudo, bastante concentrada: os dados apontam que apenas 13 das 31 microrregiões produziam 76,9% do PIB total”, aponta o relatório.
A pouco mais de 200km de Luis Eduardo Magalhães está a cidade de Formosa do Rio Preto, que, em 2017, figurou no quinto maior PIB da Bahia (e está entre as 10 que mais produzem soja). Apesar disso, seus indicadores de pobreza e desigualdade são maiores do que a média da Bahia. Aliás, este é um ponto importante no estudo: para não cometer equívocos desonestos buscou-se fazer quase sempre comparações com cidades do mesmo estado e dinâmicas parecidas.
A conclusão foi que dos 337
municípios do Matopiba, somente 45 apresentam alta produção e
indicadores sociais que superam a média dos respectivos estados. Nestes,
a concentração de riqueza é a principal característica. Já 67 do total
são classificados, pelo estudo, como “injustos”, uma vez que têm alta
produção e indicadores sociais abaixo da média.
Ou seja, embora sejam ricos, isto não se traduz em bem estar para a população. No meio termo estão 29 municípios, onde a produção é baixa, não há riqueza, porém seus indicadores sociais são acima da média. Por fim, 196 municípios seguem pobres: a produção é baixa e os indicadores sociais são abaixo da média. E estes últimos compõem a maior parte da realidade desta grande área que atravessa quatro estados brasileiros.
Apesar de buscar a todo momento sair do maniqueísmo, e entendendo a complexa dinâmica do que significa o agronegócio no Brasil, ele defende que é preciso romper com nosso modelo de desenvolvimento econômico, buscando não só novos modelos, mas também sistemas mais eficientes, que leve em consideração a sociobiodiversidade.
Para ele, que é sociólogo e doutor em Ciência Ambiental, será preciso buscar uma coalizão das forças sociais, formada por empresas, governos e sociedade civil para mudar esta realidade. Aliás, para Favareto, já estamos à beira de uma nova transição.
Acesse o relatório “Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”.
Ou seja, embora sejam ricos, isto não se traduz em bem estar para a população. No meio termo estão 29 municípios, onde a produção é baixa, não há riqueza, porém seus indicadores sociais são acima da média. Por fim, 196 municípios seguem pobres: a produção é baixa e os indicadores sociais são abaixo da média. E estes últimos compõem a maior parte da realidade desta grande área que atravessa quatro estados brasileiros.
Velhos modelos para um novo mundo
“Não é uma questão de tempo, é uma questão de modelo”, grava o autor do estudo, Prof. Arilson Favareto, da Universidade Federal do ABC. Contrário aos que afirmam que tais números possam mudar para melhor ao longo do tempo, ele defende que o aspecto é estrutural e próprio do estilo de desenvolvimento territorial que se forma ali onde a riqueza se produz de forma muito concentrada.Apesar de buscar a todo momento sair do maniqueísmo, e entendendo a complexa dinâmica do que significa o agronegócio no Brasil, ele defende que é preciso romper com nosso modelo de desenvolvimento econômico, buscando não só novos modelos, mas também sistemas mais eficientes, que leve em consideração a sociobiodiversidade.
Para ele, que é sociólogo e doutor em Ciência Ambiental, será preciso buscar uma coalizão das forças sociais, formada por empresas, governos e sociedade civil para mudar esta realidade. Aliás, para Favareto, já estamos à beira de uma nova transição.
Acesse o relatório “Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”.