quinta-feira, 13 de julho de 2023

MMA articula com Congresso aprovação de Política Nacional de Manejo do Fogo

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MMA articula com Congresso aprovação de Política Nacional de Manejo do Fogo

Em tramitação há cinco anos, proposta visa regulamentar prática já comprovada de controle de incêndios em áreas naturais. El Ninõ deve aumentar número de queimadas no país

CRISTIANE PRIZIBISCZKI · 

11 de julho de 2023



A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, informou na manhã desta terça-feira (11) que tem aumentado o diálogo com parlamentares para que a Política Nacional de Manejo do Fogo avance no Congresso. Em tramitação desde 2018, o projeto agora está parado no Senado.

“Vamos enfrentar a jornada em relação às queimadas. É fundamental que a gente já faça esse pacto urgentemente. Já falei com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, com a senadora Eliziane Gama, com o senador Jaques Wagner, pra gente aprovar o projeto que está pronto para ser aprovado no congresso, sobre a queima controlada do fogo, o manejo do fogo. Isso é tudo muito importante, porque são ações combinadas”, disse Marina Silva.


A declaração foi dada durante o 1º Seminário Técnico-Científico de Análise de Dados do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado, que acontece em Brasília como parte das atividades de criação do Plano de Controle do Desmatamento e Queimadas no bioma (PPCerrado).

No Cerrado, o número de focos de calor foi acima da média em todos os meses do primeiro semestre. Mas não foi só ali que as queimadas aumentaram. De janeiro a junho, a Amazônia registrou 8.344 focos, um aumento de 10,7% em relação ao mesmo período de 2022. 

Em todo o Brasil, foram registrados mais de 26 mil pontos de fogo, também com número de focos acima da média para todos os meses do primeiro semestre. Com a chegada do El Niño, é esperado que esse cenário se agrave no segundo semestre.

A instituição da Política Nacional prevê a regulamentação do uso do fogo como prática para prevenção e combate a incêndios em áreas naturais. Além disso, o projeto também prevê o uso do fogo por populações tradicionais, como quilombolas, indígenas e agricultores familiares, assim como para atividades agrossilvopastoris, neste caso mediante autorização prévia e autorização dos órgãos ambientais. 

A queima controlada já foi confirmada como importante ferramenta para contenção dos grandes incêndios em áreas naturais, ao reduzir a carga de matéria orgânica no solo e delimitar limites para a dispersão das chamas.

O projeto tramitou por três anos na Câmara – entre 2018 e 2021 – e está em análise no Senado desde então. Nesta Casa, ela já foi aprovada nas Comissões de Meio Ambiente (CMA) e Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

 

Plano de controle do desmatamento no Cerrado começa a sair do papel

 



Plano de controle do desmatamento no Cerrado começa a sair do papel

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MMA reuniu pesquisadores e especialistas para identificar vetores do problema e propor soluções. Discussões vão subsidiar formulação do PPCerrado

CRISTIANE PRIZIBISCZKI · 

11 de julho de 2023



O Cerrado e suas paisagens únicas sucumbem ao avanço do agronegócio. 

Parte inferior do formulário

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima realizou, durante toda esta terça-feira (11), o 1º Seminário Técnico-Científico de análise do desmatamento e queimadas no Cerrado. No total, foram apresentadas 12 palestras com especialistas na conservação do bioma. As informações vão subsidiar a formulação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no bioma (PPCerrado).

O desmatamento no Cerrado vem crescendo ao longo dos últimos anos, tendo chegado a 10.700 km² em 2022. Somente no primeiro semestre de 2023, foram gerados alertas para 4.407 km², 21% a mais do que o mesmo período do ano anterior e quase duas vezes mais do que o registrado para a Amazônia (2.649 km²).

Segundo dados apresentados durante o seminário, 86% do desmatamento registrado no Cerrado em 2022 aconteceu de forma ilegal.

Durante o evento desta terça-feira, os especialistas apresentaram os mais recentes dados sobre a dinâmica do desmatamento e das queimadas no bioma e as iniciativas já existentes de combate a tais problemas. 

Também foram apresentadas propostas de ação, como o aprimoramento nos sistemas de Autorização de Supressão Vegetal (ASV) e aumento para 35% na área total das propriedades rurais que precisa ser preservada. Atualmente, essa porcentagem é de 20%.

“Esse seminário não é para o governo federal mostrar o que vai fazer. É para nós, juntos, identificarmos as oportunidades. Mesmo porque a gente [governo] pode estar pensando uma coisa e algumas pessoas aqui acharem que o caminho é outro. O seminário é para pensar soluções. Não existe uma coisa pronta, estamos no início do PPCerrado”, disse o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco.

A primeira fase do PPCerrado foi lançada em 2010 e executada até o ano seguinte. Nesse período, o desmatamento no bioma caiu 9%. A segunda e terceira fases aconteceram entre 2014 e 2019, tendo levado a uma queda de 42% na perda de vegetação nativa (de 10.900 km² em 2014 para 6.300 km² em 2019). No último ano, o plano foi paralisado por Bolsonaro. O que está sendo discutido agora é a 4ª fase da política.

Além do seminário técnico-científico, o MMA organiza para setembro uma audiência pública para discutir o problema com a sociedade. 

A formatação final do novo PPCerrado está prevista para ser lançada em outubro próximo.

 

Com avaliação e exames, árvores centenárias do Butantan recebem tratamento especial; saiba como encontrá-las pelo parque

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Portal do Butantan

Com avaliação e exames, árvores centenárias do Butantan recebem tratamento especial; saiba como encontrá-las pelo parque

Parque da Ciência abriga diversos espécimes históricos, de altura elevada e com diâmetros expressivos


Publicado em: 11/07/2023

O Instituto Butantan é uma instituição centenária da qual faz parte o Parque da Ciência, que fica situado em 725 mil metros quadrados de área verde no meio da cidade de São Paulo. Com um grande espaço de vegetação nativa, é natural que o parque possua árvores históricas, algumas até centenárias – que habitam o Butantan desde antes da chegada de Vital Brazil, fundador do instituto. 

Essas árvores são enormes: possuem uma altura elevada e um diâmetro expressivo e são entendidas como patrimônio vivo pela área de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente (SMA) do Butantan, responsável pelo cuidado da arborização nas áreas verdes do parque. 

“Algumas árvores estão próximas dos edifícios históricos – perto do Espaço Terra Firme, da Biblioteca, da Casa Afrânio do Amaral e no Horto Oswaldo Cruz. Elas viram toda a construção em volta delas, e é por isso que as chamamos de testemunhas históricas”, diz o analista de meio ambiente do Butantan, Renan Rodrigues da Costa.


Essas árvores também são classificadas como testemunhas por conta dos anéis de crescimento que vão se formando em seus troncos a cada ciclo de vida. Dependendo da espécie, cada anel corresponde a um período de tempo, e somente estudos específicos podem determinar a idade aproximada. Essas marcas também registram as condições ambientais da época. 

“Quando o anel é muito estreito significa que, provavelmente, as condições ambientais não estavam favoráveis. Pode ter sido um ano em que choveu pouco, ou o desenvolvimento não foi legal, elas não tiveram muito acesso a recursos, ou tiveram alguma doença, ou uma infestação. Quando o anel é bastante largo significa que, possivelmente, o ano foi propício para o desenvolvimento. Ou seja, ela dá um relato climático e ambiental ao longo da sua vida e que fica registrado nos anéis de crescimento”, explica Renan. 

Monitoramento arbóreo

Anualmente, as árvores do Parque da Ciência passam por avaliações visuais e exames técnicos para que a equipe do Butantan conheça as condições de fitossanidade do vegetal, um conceito usado para classificar o nível de proteção das plantas contra o ataque de pragas e doenças que atingem sua saúde. 

primeira análise é feita visualmente, com a observação da copa, tronco e raiz. Se a árvore não apresentar nenhum sintoma aparente, os especialistas contratam equipamentos de análises técnicas para fazer uma avaliação mais profunda. São utilizados os exames de resistografia e tomografia sônica. 


“A resistografia é um exame um pouco invasivo porque precisamos introduzir uma pequena broca no tronco da árvore para medir a resistência dela. Quando a madeira entra no processo de degradação, ela fica menos resistente e esse equipamento vai medindo essa variação em gráficos. Quando há um tecido em deterioração ou cavidade no interior do tronco, o equipamento nos mostra a ocorrência dessas situações com quedas no gráfico de resistência, o que indica uma situação anormal”, afirma Renan. 

Já a tomografia sônica utiliza uma série de sensores ao longo do tronco da árvore, que medem o espalhamento de ondas sonoras em seu interior. “Este aparelho mostra se tem variação sonora e, se tiver, é sinal de que a madeira pode estar degradada. Se não tem variação é porque a madeira está em estado de normalidade”, diz o analista de meio ambiente. 

Se as árvores históricas apresentam algum tipo de problema, os profissionais do Butantan acompanham o processo, fazendo uma adubação e uma poda de equilíbrio para evitar riscos de queda e possíveis prejuízos. 

Os visitantes do Parque da Ciência podem caminhar pelo parque e observar as centenas de árvores por toda sua extensão. Use os mapas abaixo na sua próxima visita para encontrar as árvores históricas. Se preferir, baixe o arquivo PDF e encontre as árvores pelo parque.



Reportagem: Mateus Carvalho

Fotos: Rafael Simões/Comunicação Butantan

Arte: Erick Genaro

 

Águas Emendadas é reconhecida internacionalmente por fazer conexão entre água, cultura e patrimônio

 19/11/18 às 11h11 - Atualizado em 19/11/18 às 11h18

Águas Emendadas é reconhecida internacionalmente por fazer conexão entre água, cultura e patrimônio

Informações do Ibram

 

 

Ao completar 50 anos, em 2018, a Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESECAE) se torna o sexto lugar do mundo e o primeiro da América Latina a receber o Escudo de Água e Patrimônio do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS-Holanda). A entrega será feita na ESECAE, no dia 20 de novembro, às 09h30, em cerimônia realizada em parceria do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM), Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) e Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (CIRAT), que fizeram a mobilização para o reconhecimento.

 

Localizada no extremo nordeste do Distrito Federal, a uma distância de 50 quilômetros do centro de Brasília, a ESECAE abriga muito mais que recursos hídricos estratégicos (Córrego Fumal e Ribeirão Mestre D’Armas). Para começar, o que dá origem ao seu nome é um singular e importante fenômeno natural em que, de uma mesma vereda, vertem águas para duas grandes bacias hidrográficas (Rio Maranhão, que deságua no Rio Tocantins; e São Bartolomeu, que flui para a Bacia do Rio Paraná).

 

Além de ser fonte de captação de água para abastecimento público da região, operada e mantida pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (CAESB), Águas Emendadas é considerada importante, até mesmo por organismos internacionais, porque nela estão representados, e muito bem preservados, diferentes espécies do Cerrado. Tanto que, em 1992, pelo seu excelente estado de conservação, a Estação Ecológica passou a integrar a área-núcleo da Reserva da Biosfera do Cerrado, criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

 

Além da relevância ambiental, a importância histórica e patrimonial da ESECAE é marcante, tendo aparecido no primeiro registro da região, feito no Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central, coordenada por Luís Cruls, em 1892. A Lagoa Bonita, bem como a vereda onde encontra-se o fenômeno hidrológico conhecido hoje como “Águas Emendadas”, foi referência usada pela Missão Cruls na escolha da área da Capital Federal.

 

 

O Escudo de Água e Patrimônio no Brasil

Em 2015, o ICOMOS-Holanda iniciou o reconhecimento de sítios com o Escudo Água e Patrimônio (Water and Heritage Shield) para locais, em todo o mundo, que sejam significativos na conexão entre o tema das paisagens hídricas, a cultura e o patrimônio. Até o momento, apenas cinco locais em todo o mundo receberam o reconhecimento. São eles Magere Brug (Amsterdam, Holanda – 2016), Stille Sluis (Gouda, Holanda – 2016), BPTH (Holanda – 2016), Porto de Antuérpia (Bélgica – 2017), Barragem de Shimen (Taiwan – 2017).

 

A proposta que deu origem à qualificação da Estação Ecológica de Águas Emendadas com o Escudo de Água e Patrimônio teve início em maio de 2018, na barragem Shimen, em Taiwan. O Conselheiro do CIRAT e Embaixador de Água e Patrimônio do ICOMOS-Holanda, Henk Van Schaik, e outros participantes de uma visita técnica debateram a possibilidade de trazer o reconhecimento ao Brasil.

 

No avanço da conversa, a Estação Ecológica de Águas Emendadas foi logo identificada como uma área emblemática e com conexões culturais, históricas e naturais de primeira grandeza. As articulações no âmbito do Governo do Distrito Federal foram feitas com o IBRAM e a SEMA, que receberam com entusiasmo a possibilidade de trazer o primeiro Escudo de Água e Patrimônio para a América Latina e para o Brasil. No evento do dia 20, o Escudo de Água e Patrimônio será inaugurado com a presença do Presidente do ICOMOS-Holanda, de autoridades do Governo do Distrito Federal e convidados.

 

 

Serviço

Entrega do Escudo de Água e Patrimônio à ESECAE pelo ICOMOS-Holanda

Data: 20 de novembro de 2018

Horário: 09h30

Local: Centro de Informações da Estação Ecológica de Águas Emendadas – ESECAE (Planaltina / DF)

 

 

 

Foto: Eduarda Brogni

“O petróleo está em decadência e precisa sair de cena”, alerta novo coordenador do Fórum de Mudança do Clima

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“O petróleo está em decadência e precisa sair de cena”, alerta novo coordenador do Fórum de Mudança do Clima

Sérgio Xavier

*Por Leila Salim

“Não temos mais tempo para ineficiência”. O pernambucano Sérgio Xavier, nomeado recentemente coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), assume o cargo com um duplo desafio: reconstruir a estrutura, desmontada nos últimos quatro anos, e ao mesmo tempo agir com a urgência imposta pela emergência climática. Convocado e presidido pelo Presidente da República, o FBMC tem a função de assessorar o chefe do Executivo na agenda climática e fazer a interlocução com a sociedade civil. 

Xavier assume um colegiado desacreditado e sem capacidade de mobilização, resultado de seis anos de descaso sob Dilma Rousseff (2011-2016) e de um fechamento branco no governo passado (2019-2022). Ele diz que pretende reformular a estrutura “estática” do fórum e adotar um modelo em rede, com mais participação e agilidade para apresentação de medidas concretas. 

Jornalista de formação, Sérgio Xavier é desenvolvedor de projetos inovadores de baixo carbono e criador dos laboratórios de Economia Regenerativa do Arquipélago de Fernando de Noronha, da Caatinga e do Rio São Francisco. Foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado de Pernambuco (2011 a 2017) e atuou nos últimos anos  no Centro Brasil no Clima (CBC), onde articulou o movimento Governadores Pelo Clima juntamente com Alfredo Sirkis (1950-2020), buscando acelerar a implementação do Acordo de Paris nos estados. 

Em 2014, o pernambucano foi o principal articulador da entrada de Marina Silva na chapa de Eduardo Campos (1965-2014), levando a então ex-ministra para o PSB. Com a morte do ex-governador num acidente aéreo, Marina assumiu a cabeça da chapa e teve 22 milhões de votos.

Nesta entrevista ao OC, ele discute as prioridades da agenda climática brasileira, os desafios para ações de mitigação e adaptação e defende a criação de uma agenda econômica alternativa como crucial para o enfrentamento da crise climática. 

O senhor assume a coordenação do FBMC em um momento de reconstrução da agenda climática brasileira. Ao mesmo tempo, a ciência enfatiza a urgência da ação climática, nesta década que é considerada decisiva para o cumprimento do Acordo de Paris. Como equilibrar reconstrução e a necessidade de ações concretas? 
É a economia que desmata, que mata, polui e envenena, e é também a economia que pode regenerar, recompor, incluir e reduzir pobreza. E o segundo desafio é justamente a governança: criar sistemas que integrem esse conjunto de aspectos e que simplifiquem isso. No novo modelo do FBMC, estamos criando um conjunto de inovações para descentralizar, ter mais capilaridade e mais participação. A ideia não é ter um colegiado que concentre decisões; pelo contrário, é espalhar pelo Brasil um conjunto de metodologias que possam agregar setores diversos que estão sem se comunicar. 

O presidente Lula anunciou a revisão da “pedalada climática” na NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada], a meta do Acordo de Paris, e também a elaboração de uma nova NDC brasileira, que seja “compatível com a volta do país ao cenário da agenda climática”. O que deve nortear a contribuição e compromissos brasileiros e como o Fórum atuará nesse sentido?
A correção da NDC é uma questão de honra. Essa maquiagem toda que foi feita não é só algo ruim para a imagem e a credibilidade do Brasil, mas também muito ruim para a nossa vida real. Não temos mais tempo para viver de ilusões, de negacionismos, maquiando números, porque a realidade já está aí à nossa porta, os eventos extremos já estão acontecendo — inclusive com muita força no Brasil.

A NDC é uma prioridade, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima está trabalhando fortemente nisso e vai ser um dos pontos prioritários da nossa agenda de trabalho do fórum, buscando mobilizar a sociedade não só para discutir esse aprimoramento, as correções e dar mais ousadia em relação à NDC, mas também implementar ações que possam garantir o cumprimento da NDC. E o Brasil talvez seja o país com mais facilidade pra cumprir sua NDC, por conta do desmatamento.

Conseguimos atingi-la se barrarmos o desmatamento, se houver processo de recuperação, de investimento em agricultura de baixo carbono e em tecnologia e produtividade. Note que tudo isso são coisas positivas, que não só são importantes para a questão climática, como para a qualidade de vida, da economia, para a sustentabilidade futura desses processos de produção e de consumo. O Brasil é um país que tem todas as chances de liderar no planeta essa mudança da economia, e fazendo isso de forma a até ultrapassar o que foi estabelecido na sua NDC. 

Em evento internacional recente, Lula foi enfático ao defender uma governança global para o clima e que os países ricos cumpram sua promessa com os US$ 600 bilhões até 2025 para financiamento climático. Além da contribuição nacional, qual o papel o Brasil deve desempenhar na agenda internacional do clima?
Justiça climática é uma expressão-chave para guiar as negociações e relações internacionais. A justiça climática precisa ser uma referência do ponto de vista das responsabilidades dos países. Os países ricos, que poluíram por muito mais tempo o planeta e, inclusive, depois que a ciência apontou o processo de aquecimento global, eram os países que mais podiam liderar essas mudanças e procedimentos para reverter o quadro e são países que estão, até hoje, atrasados.

O Brasil pode liderar através da chave da justiça climática, porque é um grande emissor e pode apontar que está fazendo sua parte, regenerando florestas, buscando o desmatamento zero, criando economia de baixo carbono. Pode apontar, por um lado, o quanto está contribuindo com todo esse esforço e, por outro, o quanto é vítima de problemas gerados por outros países, os países mais emissores do planeta. O presidente Lula pode ser um grande articulador internacional nesse processo e a noção da justiça climática é o ponto de referência para guiar os acordos daqui pra frente. 

Quais são as principais propostas e perspectivas para a reconstrução do FBMC?
O FBMC vai passar por uma reformulação, um aprimoramento, uma revolução dentro do contexto da nova governança climática que o governo federal está desenhando. A ideia é que se faça algo em rede, descentralizado, com fluxo organizado, que saia da base da sociedade para a mesa do Presidente da República, que é o presidente do  fórum, de maneira organizada, com respaldo da sociedade, da ciência, com viabilidade de empreendimento e com concordância da comunidade. 

Os fóruns são, geralmente, estruturas muito estáticas, com reuniões periódicas para discutir todos os assuntos em uma única agenda, o que acaba gerando uma ineficiência muito grande — e não temos mais tempo para isso. A ideia é ter núcleos locais espalhados pelo país, para discutir questões e vocações específicas, debater seus desafios e ter ali um microambiente com universidade, comunidade, empresas, ONGs e governo local discutindo soluções imediatas para reversão da economia e adaptação.

Essas propostas serão encaminhadas para uma Câmara de Sistematização, de onde sairão os produtos finais. Essa junção de ideias será transformada em uma política nacional (ou encaminhada para os estados e municípios, no caso de políticas locais).  O que estou falando aqui mobilizaria muita gente no Brasil, com muita participação, mas com um fluxo organizado. Criaremos um padrão de encaminhamento, as propostas tem que seguir dentro de padrão muito eficiente para que haja facilidade de análise, para que ideias se transformem em uma política organizada. 

Há a ideia de criar requisitos, como, por exemplo, a participação de ao menos dois setores (entre universidade, comunidade, ONGs, governos, empresas) por núcleo para formular as propostas. Aproveitaremos a experiência do nosso trabalho no sertão de Alagoas e da Bahia, na cooperativa de créditos de carbono, na qual temos discussões integradas entre membros da universidade, governo do estado, prefeituras, agricultores familiares, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, técnicos especializados.

O anúncio da realização da COP30 em Belém em 2025 gerou entusiasmo e, também, apreensão em paraenses e na sociedade civil brasileira. O Pará lidera o ranking de desmatamento na Amazônia e a cidade de Belém sofre com problemas de infraestrutura. Quais as perspectivas para a realização da COP no Brasil? 
É muito importante (e o próprio presidente Lula tem falado isso) que se conheça a Amazônia, para que se entenda não só os problemas, mas também as potencialidades, além de ver o quanto é complexo fazer essa virada, a transição de um modelo degradador para um modelo regenerativo. Por outro lado, isso pressiona o Brasil a fazer o seu dever de casa.

No caso do Pará, que é um grande emissor de CO2, a COP faz com que as atenções se voltem para isso. Nós temos interagido com o governador Helder Barbalho e sentimos que há uma preocupação em mostrar que as ações estão sendo feitas. Além disso, é claro, a organização da COP requer investimentos que vão ser aportados no Estado e que podem ajudar muito nessa aceleração. E a sociedade civil brasileira tem um papel fundamental, não só nesse processo preparatório, mas também durante a Conferência.

Vai ser uma oportunidade de mais pessoas do Brasil participarem com peso poderem pressionar para que o mundo olhe para a Amazônia de forma colaborativa e não apenas com cobranças. É uma oportunidade para que tenhamos investimentos rápidos, com volumes adequados e projetos bem elaborados, porque o desafio não é apenas ter o dinheiro, mas também ter bons projetos. 

O perfil de emissões brasileiro é puxado pelo desmatamento. O governo apresentou o novo Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e anunciou a elaboração de planos para todos os biomas. Quais os principais desafios para prevenção e controle do desmatamento e como o Fórum atuará nessa pauta?
Estou convicto de que só conseguimos envolver as pessoas de forma prática quando criamos em seus cotidianos atividades econômicas que sejam protetoras do meio ambiente. É preciso apresentar rapidamente modelos de negócios, não só na Amazônia mas em todos os biomas, que mostrem que é melhor e mais rentável, seguro e sustentável, olhando para o futuro daquele emprego, quando se faz a atividade de forma sintonizada com os ciclos da natureza, e não na contramão. 

Mesmo que o desmatamento puxe o nosso perfil de emissões, há desafios também na área de energia. Recentemente, a discussão sobre exploração de petróleo na Foz do Amazonas colocou na ordem do dia o debate sobre a exploração de combustíveis fósseis no Brasil. Qual o papel do fórum na discussão sobre desfossilização e transição energética brasileira?
É uma oportunidade grande juntar acadêmicos e empreendedores de ponta, aqueles que já sabem que é a energia renovável que vai ser fundamental daqui pra frente, que entendem que o petróleo está em decadência e precisa sair de cena, porque já passou do seu limite, e apontar saídas. Um exemplo é a questão do Estado do Amapá, que pode atrair investimentos muito mais rapidamente nos setores de carbono e bioenergia, considerando a energia da floresta.

Eu fiz um trabalho em Macapá anos atrás para tratar do grande problema que são os resíduos de açaí: da fruta, só se aproveita 2% para se fazer a polpa, e o restante vira lixo. Lá, existe um potencial de geração de energia a partir desse material que é descartado, gerando bioenergia, o que melhoraria a cadeia produtiva, geraria energia e reduziria custos. Estou dando esse exemplo justamente por conta do debate sobre os campos de petróleo na Foz do Amazonas.

O estado pode atrair investimentos muito mais rapidamente, muito mais benéficos para a população, que gerariam muito mais empregos para a população local e, diferentemente de um poço de petróleo, não demoraria anos para ser viável comercialmente. Acho que esse tipo de discussão vai ser muito interessante no fórum, porque ali teremos gente da ciência, do mercado, das ONGs, estudiosos especialistas no assunto, juntos, discutindo soluções para esses desafios.

Quando mostramos as viabilidades e possibilidades de resultados rápidos com modelos verdes, regenerativos e de baixo carbono, é a melhor estratégia para fazer a transição. E isso precisa ser planejado, porque hoje há pessoas que vivem do setor de petróleo e é preciso um plano de migração de processos fósseis para biocombustíveis e outros tipos de fontes de energia. A Petrobrás tem uma diretoria de transição energética e está olhando para isso.

O fórum pode ter um papel muito importante de chamar os diversos setores para formular soluções equilibradas, sem partidarização e ideologização superficial. Quando se mostram soluções econômicas que podem gerar empregos imediatos, trazer investimentos e serem sustentáveis, e se mostra que a opção fóssil está ultrapassada, a discussão fica mais fácil. 

O mega El-Niño que já está tendo seus primeiros efeitos no mundo traz a possibilidade de consequências graves também no Brasil. A ministra Marina Silva defende a criação de um plano nacional de adaptação para eventos climáticos extremos, que utilizaria dados de monitoramento do Cemaden para decretar antecipadamente emergência climática em áreas específicas que concentrem populações em áreas de risco. Qual a importância da adaptação na política climática brasileira?
O MMA já tem uma base desse plano nacional de adaptação, e já estamos estudando como fazer a discussão. O fórum vai trabalhar com os dois eixos, mitigação e adaptação. A mitigação tem muitas oportunidades na economia e também pontos críticos, para que não se gere colapsos nos setores que precisam reduzir suas participações, como carvão e petróleo. É preciso um plano muito cuidadoso para fazer a transição de empregos e contratos, considerando o que deve crescer na economia, o que deve ficar estável e o que deve decrescer.

Até pouco tempo, economistas falavam apenas em “crescimento” dos setores econômicos, e hoje há uma exigência concreta de que se fale no que precisa decrescer, como a indústria do petróleo, que não pode mais expandir. O PIB verde tem que crescer muito rapidamente e com qualidade, e o PIB fóssil tem que cair — esse é o caminho. Vamos trabalhar nos eixos de mitigação e adaptação observando oportunidades na economia. No caso da adaptação, o Serviço Geológico do Brasil já identificou que há oito milhões de pessoas em lugares de risco no país, com problemas que precisam ser resolvidos muito rapidamente. Isso tudo exige planos de adaptação, de remoção, de reurbanização.

Os planos precisam dizer o que tem que ser feito, mas também juntar forças, instituições e diversos atores para definir como isso vai ser feito de forma rápida, de onde virão os recursos, como serão as parcerias nos diversos níveis de governo. 

*Entrevista publicada originalmente em 07/07/23 no site do Observatório do Clima

Foto de abertura: arquivo pessoal

SOS Aguas Emendadas

 


A Estação Ecológica de Águas Emendadas está sofrendo um processo de insularização. O entorno da ESEC-AE está invadido por soja, parcelamento irregular de áreas rurais, urbanização, uso sem controle de água, tráfego intenso nas rodovias circundantes e até a presença de mercúrio dentro da Estação, oriundo das rodovias . 


O rebaixamento do lençol freático já é uma constatação e o volume de água na Vereda Grande vem diminuindo de forma alarmante. A fauna sofre com a perda dos corredores ecológicos, da quase total ausência de passagens de fauna nas rodovias e da presença sem controle de animais domésticos. Pesquisadores relatam a presença cada vez menor de espécies como lobo-guará e onça-parda.


É preciso um plano integrado de forças distritais e federais e uma legislação específica para salvar Águas Emendadas.

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Convidamos você a seguir nosso trabalho em defesa de Águas Emendadas:

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GAE - Guardiães de Águas Emendadas

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

 

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Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

*Por Sibélia Zanon

embaúba (Cecropia pachystachya), árvore resistente e pioneira utilizada na regeneração da Mata Atlântica, tem uma peculiaridade: o interior de seu tronco é oco e abriga formigas. Enquanto as formigas do gênero Azteca se alimentam de pequenas bolinhas nutritivas que crescem na base das folhas, elas defendem a árvore, afugentando outros insetos e animais herbívoros.

“A ideia é de cooperação, de trabalho em conjunto”, explica Gabriela Arakaki, uma das fundadoras da ONG batizada de formigas-de-embaúba, que se propõe a verdejar escolas da área urbana de São Paulo, estimulando o ativismo das crianças e das comunidades dos entornos para o plantio de miniflorestas.

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

Comunidade escolar planta espécies da Mata Atlântica junto com a ONG formigas-de-embaúba, reflorestando escolas públicas de São Paulo
(Foto: formigas-de-embaúba/Zalika Produções)

“A gente fez bolas de sementes e jogou na floresta para ficar com árvores bem grandes”, conta Gabriel Matias da Silva, de 6 anos, enquanto gesticula esticando os braços para o alto tanto quanto consegue. Gabriel é ativista mirim e estudante da Educação Infantil do Centro Educacional Unificado (CEU) Paraisópolis, centro de educação, cultura e lazer da Prefeitura de São Paulo na Zona Sul, que recebeu em outubro de 2022 uma minifloresta composta por mais de 800 mudas de cerca de cem espécies.

Integrante do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, a ONG formigas-de-embaúba coordenou o plantio colaborativo de 11 miniflorestas em CEUs da cidade de São Paulo até o final de 2022, chegando a quase 10 mil árvores plantadas com o protagonismo de mais de 4 mil alunos no processo de restauração florestal.

“Este ano serão mais oito miniflorestas. Cada uma delas com cerca de 400 metros quadrados”, conta Rafael Ribeiro, também fundador da formigas-de-embaúba. “A gente planta numa metodologia bastante adensada, quer dizer, não é uma árvore aqui outra lá, como você costuma ver na cidade”.

Ainda que o objetivo central do projeto não seja produzir alimentos, cada vez mais as miniflorestas mostram sua vocação de ofertar uma variedade composta por mandioca, milho, feijão, couve, batata-doce, tomate e abóbora, que contribuem com a adubação verde e com o crescimento da própria floresta – enquanto a batata-doce vigora, o capim não tem chance de sufocar mudas ainda muito jovens.

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

Além dos alunos assumirem o protagonismo nos plantios das miniflorestas, as lideranças escolares e comunitárias também participam
(Foto: formigas-de-embaúba/Julia Bastos)

As miniflorestas trazem também para a fruteira espécies nativas da Mata Atlântica. Pitangueiras, cambucis, araçás e amoreiras são colocadas nas bordas do plantio para receberem o calor do sol e serem acessíveis ao paladar dos passantes.

“Teve família que guardou sementes em casa e enviou. Tem avós que mandaram pés de abacate e a gente já plantou. Agora tem um pé de caju que vão enviar pra gente”, conta Magda Miranda, professora da Educação Infantil no CEU Paraisópolis, que chamou também os pais para participarem da elaboração de bolas de sementes para serem lançadas na minifloresta. “A comunidade está envolvida. Os pais ficaram encantados.”

“A gente nunca falou para eles trazerem as sementes. Foi uma coisa que partiu deles”, lembra Lucia Bueno, também professora no CEU Paraisópolis.

A iniciativa, com o potencial de alcançar 650 escolas públicas de São Paulo – todas com espaço adequado para o plantio, segundo levantamento do MapBiomas –, pode ser a sementeira para um plano abrangente de adaptação ao clima, como visualiza Denise Duarte, coordenadora de pesquisas sobre microclimas urbanos e adaptação de cidades e edifícios às mudanças climáticas.

“Eu enxergo um potencial ainda maior nessa ideia de usar as escolas como espaços para verdejar”, diz Denise, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). “A gente já tem experiências de outras cidades, como o uso das escolas no plano climático de Paris, por exemplo. Elas são parte da rede do que eles chamam de cooling places (locais de resfriamento), que eu traduzo com meus alunos como oásis urbanos”.

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

Em outubro de 2022, foram plantadas no CEU Paraisópolis mais de 800 árvores de cem espécies diferentes
(Foto: formigas-de-embaúba/Zalika Produções)

Povos originários como inspiração para o plantio de árvores

Feito uma minifloresta humana, forma-se um grande círculo dos alunos do oitavo ano que ajudaram a plantar as mais de 800 árvores no CEU Paraisópolis em outubro do ano passado. Eles estão ali para modelar em argila e sementes os bonecos chamados “guardiões da floresta”, que serão depois instalados em meio ao plantio, como forma de valorizar e rememorar o percurso de vivências trilhadas junto aos educadores em torno daquele reflorestamento. “Eu plantei feijão, plantei um montão de coisas!”, lembra um aluno.

Ao longo do semestre, crianças e jovens passaram por seis vivências ao ar livre, incluindo caminhadas de observação, medição da temperatura em áreas verdes e áreas pavimentadas, coleta de amostras de terra e pintura, elaboração de muvuca e bolas de sementes, o plantio da minifloresta em si e a modelagem de guardiões. “Debaixo da árvore tem um ar mais fresco”, lembra outra aluna.

“Não tem como não se inspirar nas filosofias dos povos originários para pensar como trazer a floresta para este ambiente”, afirma Gabriela. “Plantar floresta não tem apenas o ideário ambiental, tem o lado artístico, espiritual e político. Os indígenas são os guardiões das florestas e dos biomas. Nos territórios indígenas ainda temos biomas preservados e a gente quer se inspirar nisso”.

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

O urucum faz parte das espécies que dão cor aos plantios. Em 2023, serão implementadas mais oito miniflorestas nas escolas públicas de São Paulo
(Foto: formigas-de-embaúba/Maggiory Simões)

Márcio Bogarim é uma das lideranças da Tekoa Yvy Porã, aldeia na Terra Indígena Jaraguá, região noroeste de São Paulo, que participa do projeto fornecendo sementes crioulas e dando aulas de formação a educadores. “Para nós, como um povo originário Guarani da linha Ñandeva, aqui na cidade de São Paulo a mata é um lugar sagrado, um lugar onde os espíritos da mata habitam protegendo as nascentes, os pássaros, os animais e também as árvores”, diz Márcio. “Nós dependemos da Mata Atlântica. São Paulo está inserida nessa preservação porque nós entendemos que precisamos dela para nossa vida, para o nosso espírito ficar sempre forte.”

Com inspiração na agricultura guarani, na permacultura, na agrofloresta e em princípios de cuidado do solo elaborados pelo botânico japonês Akira Miyawaki especificamente para florestas urbanas, a formigas-de-embaúba alimenta o ativismo da comunidade escolar com o objetivo principal de restaurar a biodiversidade da Mata Atlântica.

“Tem uma série de efeitos positivos locais e cada vez mais estamos ganhando escala na cidade. A gente está trabalhando em conjunto com o MapBiomas e fizemos um levantamento na cidade inteira. Estamos agora visitando muita escola para a gente ter um banco de dados”, explica Rafael.

Quatro mil alunos plantam quase 10 mil árvores em escolas públicas de São Paulo

Cerca de 10 mil árvores já foram plantadas, incentivando o ativismo infantil e trazendo benefícios locais como ar mais puro, temperaturas mais amenas e alimentos saudáveis
(Foto: formigas-de-embaúba/Zalika Produções)

Terra à vista

Segundo o mapeamento das áreas urbanizadas no Brasil, divulgado em novembro de 2022 pelo MapBiomas, as áreas urbanizadas cresceram 3,2% ao ano entre 1985 e 2021.

“São Paulo é a maior aglomeração que a gente tem no país em termos de população e em termos de área urbanizada também”, diz Mayumi Hirye, coordenadora de Infraestrutura Urbana do MapBiomas. “A Mata Atlântica é o bioma que a gente historicamente primeiro ocupou no país e é o bioma que tem mais cidades e mais perda de floresta nativa. As nossas maiores cidades estão na Mata Atlântica”.

Junto com uma equipe, Mayumi trabalhou no mapeamento dos espaços propícios para miniflorestas nas escolas públicas de São Paulo. A equipe uniu dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) com dados de localização das escolas da Prefeitura de São Paulo, casando essas informações com imagens de satélite para chegar aos espaços mais adequados.

“A gente fez uma classificação do que seriam as áreas livres não pavimentadas com declividade menor do que 20%. Isso foi o que a gente extraiu dessas bases de dados e da nossa interpretação das imagens”, explica Mayumi sobre os 650 trechos de terra livre mapeados nas diversas escolas de São Paulo.

Mayumi já consegue prever. “À medida que o projeto for avançando, a gente vai conseguir ver que são fragmentos de Mata Atlântica que vão podendo se conectar e penetrar um pouco na cidade.”

Alunos do 8º ano do CEU Paraisópolis visitam a minifloresta plantada por eles mesmos em outubro de 2022. Após oito meses do plantio, feijões já foram colhidos, abóboras e tomates estão em plena maturação
(Foto: Sibélia Zanon)

A floresta como ar-condicionado

“O que acontece na cidade é uma sobreposição de vários efeitos de aquecimento”, conta Denise Duarte.

aquecimento global atinge o planeta inteiro e contribui com a intensificação de ondas de calor, que antes eram esporádicas, mas ocorrem cada vez com maior frequência e intensidade. O adensamento populacional nos centros urbanos, com a verticalização das construções e a impermeabilização do solo, é mais uma camada agravante. Daí surgem as chamadas ilhas de calor.

Em campos ou florestas, o aquecimento é absorvido pela grama, pela vegetação, pela água e, à noite, o calor ainda se dissipa. Já nas áreas urbanas, as superfícies impermeáveis tendem a acumular o calor e a relação de altura e largura das construções, com menos espaço aberto, dificulta o resfriamento. “Durante a noite esse calor fica retido. E aí o centro urbanizado à noite fica mais aquecido”, diz Denise.

Enquanto Paris tem investido em florestas urbanas, inclusive nas escolas, com a intenção de se tornar a cidade mais verde da Europa, cidades americanas e canadenses já trabalham com um mapa que direciona as pessoas a chegarem a cooling places em momentos de calor extremo. Trata-se, no entanto, de edifícios públicos como escolas, museus ou centros culturais equipados com ar-condicionado.

“Quando eu caio na estratégia do ar-condicionado como solução para o problema, eu demando mais energia, o que é um ciclo vicioso péssimo para a mudança do clima porque vai demandar mais geração”, comenta Denise. “Eu estou jogando o calor que eu retiro desses espaços para um ambiente urbano, contribuindo ainda com mais calor antropogênico para o aquecimento da cidade”.

Considerando este cenário, Denise vê na iniciativa de florestar as escolas um grande potencial.

“Imagina um evento extremo de onda de calor na cidade, como a gente vai ter cada vez com mais frequência. Em dias de calor extremo, a escola pode abrigar pessoas, ela pode abrir no final de semana, ela pode abrir no período noturno. Então, o fato de ter escola pela cidade inteira ajuda a democratizar essa rede de cooling places ou oásis urbanos para muito mais gente”.

Márcio lembra que a floresta é de todos.

“A conexão entre nós e a floresta não é restrita ao povo indígena, isso é para todos os seres humanos. Como parte do nosso próprio corpo, essas plantas vão se tornar grandes árvores. Esse é o sagrado que o povo tem esquecido. Se esqueceram disso e perguntam o que é o sagrado, qual a forma do sagrado. A água é o sagrado. O sagrado é o que dá vida.”

*Texto publicado originalmente em 03/07/23 no site do Mongabay Brasil

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Foto de abertura: Formigas-de-embaúba/Zalika Produções (plantio de minifloresta no CEU Paraisópolis, São Paulo)