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Estudo identifica emissão de sons em espécies
anteriormente consideradas mudas
De 53 espécies observadas, 50 eram tartarugas; pesquisa não
deixa claro se sons são utilizados para comunicação
Espécies como a tartaruga de cabeça
grande do Rio Amazonas foram encontradas emitindo sons, inclusive nas
comunicações com a proleArquivo pessoal/Gabriel Jorgewich Cohen
Zoe Sottileda
CNN
13/11/2022 às 18:01
Se você ouvir atentamente, sua tartaruga de estimação pode ter algo a lhe dizer.
Um novo estudo publicado na Nature
Communications identificou sons feitos por 53 espécies, muitas das quais
se pensava anteriormente serem mudas. Cinquenta das espécies eram tartarugas, com
tuataras (um tipo de réptil encontrado na Nova Zelândia),
cecílias (um anfíbio sem membros) e o peixe pulmonado sul-americano completando
o grupo.
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Gabriel Jorgewich-Cohen, principal pesquisador da publicação
e estudante de doutorado na Universidade de Zurique, disse à CNN que
a ideia da pesquisa nasceu quando ele leu sobre um projeto na floresta
amazônica brasileira.
Em 2014, um estudo descobriu que tartarugas gigantes
sul-americanas encontradas na Amazônia usam
comunicação vocal para falar umas com as outras — incluindo chamar seus
filhotes.
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/estudo-identifica-emissao-de-sons-em-especies-anteriormente-consideradas-mudas/Ouvir as tartarugas-mãe chamando seus filhotes deixou Jorgewich-Cohen “super interessado” em identificar mais barulhos de tartarugas, disse ele. “Achei que talvez houvesse mais tartarugas por aí fazendo sons.”
O biólogo começou então a colaborar com um professor que
desenvolveu um equipamento de som especializado para gravação
subaquática. Ele começou em casa, gravando suas próprias tartarugas de
estimação. “No começo, eu não esperava encontrar nada”, disse ele.
Mas, ao contrário de suas expectativas, ele “encontrou
muitos sons”, disse ele.
A ideia logo se expandiu para um projeto de pesquisa
maior. “A ideia era focar em animais que são comumente, historicamente,
considerados não vocais”, disse ele. “Eu queria me aprofundar em reportar
esses animais que não são conhecidos por vocalizar e tentar entender isso no
quadro geral.”
Cada espécie foi registrada por pelo menos 24 horas. As
gravações de áudio incluem clique, chilrear, assobio e ronronar.
Ele acrescentou tuataras depois de falar com uma
especialista em répteis da Nova Zelândia que disse ter ouvido os animais
fazendo sons durante o trabalho de campo. As gravações de áudio usadas na
pesquisa documentam as distintas vocalizações rachadas do tuatara.
Os sons feitos pelas cecílias foram especialmente inesperados,
disse ele. “Fiquei muito surpreso ao descobrir que eles produzem sons com
frequência e de uma maneira muito engraçada”, disse ele. As gravações
cecílias soam às vezes como um ronronar e outras como um arroto alto.
Ele também se surpreendeu com o amplo repertório de algumas
espécies: algumas tartarugas “faziam muitos tipos diferentes de sons”. Outros,
embora tivessem um vocabulário mais limitado, “não paravam de conversar”,
repetindo frequentemente os mesmos sons.
E a pesquisa pode ter implicações mais amplas para nossa
compreensão da biologia. Historicamente, “a principal hipótese era que os
sons feitos por sapos, pássaros e mamíferos vinham de diferentes origens
evolutivas”, explicou Jorgewich-Cohen. Esse fenômeno é conhecido como
evolução convergente, quando as espécies se adaptam de maneira semelhante,
embora tenham origens diferentes.
Mas a árvore genealógica evolutiva estendida construída pela
equipe de pesquisa de Jorgewich-Cohen sugere que a capacidade de produzir sons
“vem de uma única origem”, disse ele. O artigo afirma que a comunicação
vocal deve ser tão antiga quanto o último ancestral comum dos vertebrados
coanatos (vertebrados com pulmões), com aproximadamente 407 milhões de anos.
Comunicação animal
Além de registrar 53 espécies, Jorgewich-Cohen e sua equipe
também usaram um conjunto de dados de comunicação acústica publicado pelo
professor de ecologia e biologia evolutiva da Universidade do Arizona John
Wiens e Zhuo Chen na Nature Communications em 2020.
Wiens, que não foi consultado para o estudo de
Jorgewich-Cohen, disse à CNN que são necessárias mais
pesquisas para estabelecer as origens comuns da comunicação vocal.
A pesquisa de Jorgewich-Cohen mostra apenas que as
tartarugas e outras espécies estão emitindo sons — não que estejam usando esses
sons para se comunicar, disse ele. No artigo, Jorgewich-Cohen e sua equipe
escreveram que “a presença de um repertório complexo (presença de vários sons
diferentes e/ou chamadas harmônicas)” indicava “significado comunicativo”.
Estabelecer que os sons são realmente uma comunicação
significativa exigirá mais pesquisas, disse Wiens. Ele apontou para
experimentos de reprodução, como quando os pesquisadores reproduzem gravações
de dois sapos machos diferentes para uma fêmea ver o que a atrai mais.
Experimentos como esses fornecem evidências mais
significativas de que os sons são realmente usados para comunicação, de
acordo com Wiens.
E os critérios para o que os cientistas identificaram como
comunicação acústica não eram claros, disse ele. “Em alguns desses casos,
é difícil dizer que eles estão fazendo sons”, disse Wiens.
Ainda assim, o artigo é útil para mostrar que o mundo animal
é realmente mais tagarela do que os cientistas pensavam antes.
“Eles documentaram mais coisas emitindo sons do que as
pessoas tinham percebido anteriormente”, disse Wiens. “Esse é o primeiro
passo.”
O próximo passo deve ser implementar experimentos de
reprodução e outros testes “para descobrir se eles têm comunicação acústica ou
não”, disse ele.
Daqui para frente, Jorgewich-Cohen diz que espera decifrar o
que as tartarugas estão realmente dizendo umas às outras — se alguma coisa.
“Na maioria dos casos, nós apenas sabemos que eles estão
fazendo sons. Não sabemos o que eles significam”, disse ele.
E “além disso, gostaria de entender um pouco sobre sua
capacidade de cognição — como eles pensam, mais do que realmente o que os sons
significam”.
Além disso, entender o papel que o som desempenha na vida
das tartarugas pode ajudar a contribuir para os esforços de conservação.
“As tartarugas são o segundo grupo de vertebrados mais ameaçado de extinção, atrás dos primatas”, disse ele. “Quando pensamos em sua conservação, nunca consideramos o ruído humano como uma fonte de problemas, e acho que talvez agora devêssemos começar a considerá-lo, repensando como fazemos conservação.”