Ativistas pedem 'um termo de ajuste de conduta' das autoridades para o desenvolvimento de projetos de recuperação ambiental
Ao som de apitos e buzinas,
dezenas de pessoas marcharam neste sábado, 6, no Rio de Janeiro para
pedir a descontaminação e a recuperação ambiental da Baía de Guanabara.
A
manifestação contra a degradação da baía faz parte da programação pelo
Dia Mundial do Meio Ambiente, lembrado na sexta-feira, e reuniu neste
sábado vários ativistas no Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de
2016 que terão provas realizadas no local.
Os ambientalistas querem chamar a atenção da sociedade e das
autoridades sobre a "situação em fase terminal" da baía, segundo um
relatório técnico-fotográfico que será entregue à Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) para ser posteriormente enviado à Secretaria do Meio
Ambiente do Rio de Janeiro e ao Ministério Público Federal.
No manifesto, os ativistas pedem "um termo de ajuste de
conduta" por parte das autoridades e dos organismos de fiscalização para
o desenvolvimento de projetos de recuperação ambiental.
Nos últimos anos, de acordo com o relatório, foram investidos
R$ 10 bilhões, com "resultados paupérrimos", segundo criticaram os
organizadores da passeata.
Família do senador Romero Jucá vende
terreno em área rural, por valor acima do mercado, para a Caixa
construir apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida em Roraima
A
Fazenda Recreio, localizada em Boa Vista, capital de Roraima, é uma
área erma com 1,6 mil hectares, com pouca infraestrutura urbana e baixa
atratividade para o agronegócio. Ali perto passam poucos ônibus, não há
escolas para as crianças ou postos de saúde. Mesmo assim, o local foi
escolhido para abrigar um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida,
projeto do governo federal que consiste em oferecer imóveis a preços
populares para a população de baixa renda. Poderia ter sido apenas um
erro de avaliação, um equívoco técnico cometido por profissionais
desavisados. Os motivos que levaram à escolha da região, porém, são bem
mais nebulosos. A fazenda pertence à família do senador Romero Jucá
(PMDB). Para comprar uma pequena parte do terreno (de 26 hectares), a
Caixa desembolsou R$ 4 milhões. Mas essa conta não fecha. Um hectare na
região está avaliado em R$ 60 mil. Em valores de mercado, a Caixa
deveria ter pago, portanto, algo como R$ 1,5 milhão pelos 26 hectares,
ou R$ 2,5 milhões a menos.
EM FAMÍLIA
A Caixa pagou R$ 4 milhões por uma área da Fazenda Recreio,
que pertence aos filhos do senador Romero Jucá, do PMDB, como
mostra o documento ao lado. No local, que carece de serviços
públicos, estão sendo construídas casas
do programa Minha Casa, Minha Vida
A fazenda pertenceu a Romero Jucá até 1997.
Neste ano, a propriedade foi doada a um casal de filhos do senador,
Rodrigo e Marina, e a dois enteados, Luciana Surita e Ana Paula Surita.
Em 2014, um quarto das terras apareceu na declaração de bens de Rodrigo
Jucá, candidato a vice-governador, registrada com valor simbólico de R$
15,4 mil. A modéstia para avaliar o próprio patrimônio desapareceu em
janeiro de 2013, quando os quatro herdeiros, mais a ex-mulher de Jucá,
Teresa Surita, fizeram negócio com a Caixa Econômica Federal para
implementação do Minha Casa, Minha Vida na fazenda.
O senador e Teresa tiveram papel importante
no projeto. Romero Jucá atuou de forma decisiva para aumentar a cota de
residências do Minha Casa, Minha Vida para Roraima. “Graças a um
entendimento que tivemos com a presidente Dilma, com a Caixa e com o
Ministério das Cidades, conseguimos o remanejamento do número de casas
de outros estados para Roraima”, afirmou o parlamentar ao Portal
Amazônia, no dia 22 de janeiro de 2013, logo depois da assinatura do
contrato com o banco estatal.
A viabilização do terreno da família para o
empreendimento do governo contou com a presteza da prefeitura. Detalhe
interessante: a prefeita é Teresa Surita, a ex-mulher de Jucá. No ano
passado, foi ela quem assinou o termo em que o município se comprometeu a
fornecer serviços públicos para o entorno do conjunto residencial. Na
ocasião, a prefeitura se responsabilizou pela implantação de iluminação
pública, asfaltamento da rua principal, coleta de lixo e serviços de
transporte público na região. Segundo as regras do Minha Casa, Minha
Vida, sem essas estruturas básicas o contrato deveria ser suspenso.
Além disso, os trâmites para a declaração da área como de interesse
social, a autorização para o desmembramento da fazenda e a concessão da
licença ambiental foram feitas no final de 2012, depois da eleição de
Teresa Surita, pela quarta vez, para a prefeitura de Boa Vista.
Embora
ainda não tivesse tomado posse, ela exercia grande influência na
administração de seu antecessor, Iradilson Sampaio, na época filiado ao
PSB, vice-prefeito em uma de suas administrações. As famílias contempladas já começaram a
receber os imóveis do Minha Casa Minha Vida, mas reclamam da falta de
estrutura. A região não conta com oferta de ônibus e ainda não há
escolas por perto. Foi a ausência de serviços públicos que levou
opositores de Jucá e Teresa a verificar o motivo da escolha do
loteamento para realizar o maior empreendimento do Minha Casa, Minha
Vida no estado. Quando analisaram a papelada do financiamento,
encontraram os poderosos sobrenomes Jucá e Surita no contrato. O
vereador Gabriel Mota (PP) está levantando assinaturas para abrir uma
CPI e investigar a execução do programa na capital. “Não existe em
Roraima nenhum empresário que pague R$ 4 milhões à vista por um
terreno”, afirma.
HERDEIRO
Embora tenha declarado à Receita ser dono de um quarto da Fazenda que
equivaleria a R$ 15,4 mil, Rodrigo Jucá valorizou o terreno
quando assinou contrato com a Caixa
O empreendimento, que abrange 2.992
residências, é de responsabilidade da CMT Engenharia, que recebeu R$
177,7 milhões para erguer as construções. O CNPJ da empresa reúne um
aglomerado de outras empreiteiras e consórcios. Entre elas, a Egesa e a
Constran, investigadas da Operação Lava Jato. A relação da família Jucá
com a CMT vem pelo menos desde as eleições de 2010. A empreiteira doou
R$ 500 mil ao comitê eleitoral de Jucá, então candidato ao Senado.
Pressionado pelas acusações dos
adversários, Rodrigo Jucá enviou à Caixa alguns questionamentos sobre o
negócio. O objetivo, claro, foi buscar argumentos de defesa. Na
resposta, o banco estatal diz que todos os trâmites do programa foram
cumpridos e os preços, definidos por “método comparativo de dados de
mercado.” A Caixa nega ter havido “influência de qualquer tipo” no
processo.
Em entrevista a ISTOÉ, Romero Jucá
reconheceu ter trabalhado pela ampliação do número de imóveis do
programa federal em Roraima. Com sua atuação, afirma, a cota do Minha
Casa, Minha Vida no estado subiu de 900 para 5 mil unidades. Ele, porém,
nega ter interferido no negócio da fazenda. “Isso é uma distorção que
os meus adversários estão tentando fazer”, afirma. “Eu não era mais
dono, meus filhos e enteados venderam as terras para a CMT, com aval da
Caixa.” Sobre as facilidades concedidas pela administração municipal, o
senador afirma que, se o bairro foi feito, a prefeitura tem mesmo que
levar a infraestrutura.
Fotos: Ed Alves/D.A Press; Raynere Ferreira/Folha de Boa Vista
Autossuficiente em água e energia: 'casa do futuro' começa a ser vendida este ano
InfoMoney – ter, 2 de jun de 2015
(Foto: Divulgação)
Hoje
em dia, na hora de construir uma casa, as pessoas já pensam em imóveis
autossuficientes, que não gastem muita água e energia; além de as
empresas de tecnologia já estarem testando plataformas para conectar as
casas aos smartphones.
Pensando nisso, o Nice Architects, um grupo de arquitetos da Eslováquia, desenvolveu um modelo de casa pré-fabricadaque
permite morar em qualquer lugar do mundo, até nos mais remotos. Ela só
não conta com conexão com dispositivos móveis, por enquanto.
(Foto: Divulgação)
O imóvel, de oito metros quadrados, tem o formato de cápsula e pode
ser facilmente transportada. A Ecocapsule, como foi batizada, possui
painéis solares e uma turbina eólica, além de sistema de captação de
água de chuva e um sistema de filtros instalados sob o piso, que permite
utilizar água de outros tipos de fontes.
Os modelos comportam dois adultos e são equipados com um colchão, uma
pequena mesa para refeições, uma mini-cozinha e um banheiro, com vaso
sanitário e chuveiro.
A empresa irá começar a aceitar encomendas da nova casa a partir do segundo semestre, mas o preço ainda não foi divulgado.
Comentário
TAL VEZ NA
ESLOVÁQUIA SE NÂO TIVER MUITO LADRÂO PODE DAR CERTO
, AGORA NO BRASIL TEM 99,9% DE CHACE DE CHEGAR
AONDE MORA , E NÂO ENCONTRAR A CASA ..Mendes
Fim das favelas, Politicos Brasileiros nao vao gostar muito. Xcomercio
Manifestantes quebram imagens sacras na Praia de Copacabana
'Marcha das Vadias' se mistura a peregrinos e faz críticas à Igreja
por Raphael Oliveira / Fábio Vasconcellos
/
Atualizado
RIO — Manifestantes que participam da "Marcha das Vadias" na tarde
deste sábado quebraram imagens sacras na Praia de Copacabana, onde
milhares de peregrinos aguardam o início da vigília da Jornada Mundial
de Juventude (JMJ). A ação partiu de um casal que estava pelado,
tampando os órgãos sexuais com símbolos religiosos, como um quadro com a
pintura de Jesus Cristo. Esculturas de Nossa Senhora Aparecida e Nossa
Senhora de Fátima foram destruídas. Em um ponto do protesto, eles
juntaram cruzes, jogaram camisinhas em cima e começaram pisar nos
artigos religiosos. Um dos manifestantes chegou a botar um preservativo
na cabeça de Nossa Senhora.
A
Marcha das Vadias seguiu do Posto 5, em Copacabana, para Ipanema. A
aproximadamente 2,5 quilômetros da casa do governador Sérgio Cabral, um
pequeno grupo tentou convencer manifestantes a caminharem até a
residência do governador Sérgio Cabral, no Leblon, mas a passeata acabou
voltando para Copacabana. Um grupo chegou a protestar em um local
próximo a hospedagem da Comitiva do Vaticano, e seguiu em direção à
Avenida Princesa Isabel. Os manifestantes chegaram até o cruzamento da
Avenida Prado, e após um acordo com a Força Nacional, terminaram o
protesto de maneira pacífica por volta das 23h. Segundo a Polícia
Militar, o ato chegou a reunir mil pessoas.
As integrantes do movimento fazem críticas ao Papa Francisco, à
Igreja e ao governador do Rio, Sérgio Cabral. Elas gritam frases como "A
verdade é dura, Papa Francisco apoiou a ditadura", "Não é mole não, a
igreja apoiou a inquisição", e "Cabral, chuta que é macumba". Vestidas
de biquini e sutiãs, a maioria das manifestantes utilizavam adornos em
forma de diabinhos, enquanto outros usavam máscaras. Quando
manifestantes tentaram se aproximar do palco da Jornada Mundial da
Juventude, foram impedidos por agentes da Força Nacional, que montaram
uma barreira humana nas areias da praia. Os fiéis, do outro lado,
respondem, rezam, e alguns até tiram fotos.
— A juventude tem direito de protestar, mas o que está rolando é um
desrespeito com o movimento dos outros. Cada um tem seu espaço —
reclamou a peregrina Mariana Dutra, de 18 anos, do Mato Grosso.
Pela tarde, ao se deparar com o protesto, peregrinos confrontaram a
passeata cantando "Esta é a juventude do Papa", frase que virou uma
espécie de grito de guerra dos jovens. Um grupo de argentinos decidiu
passar pelo meio da manifestação. Manifestantes responderam gritando
palavras de ordem, como frases a favor da camisinha. Alguns católicos
que passavam pelo local criticaram o movimento.
— Acho um desrespeito. Eles poderiam fazer em outro lugar ou em outro
momento. A JMJ é um momento nosso — disse Júlia de Moura, de 17 anos.
A passeata deixou o Posto 5, onde estava concentrada, por volta de
15h, com 450 pessoas, que se misturavam aos peregrinos. Bandeiras do
movimento LGBT e de partidos políticos podiam ser vistas com o grupo.
Algumas manifestantes levavam cartazes com frases como "Meu corpo não
pertence à Igreja" e "Sou cristão e apoio a Marcha das Vadias", enquanto
outras exibem os seios nus.
Apesar das imagens quebradas, o clima entre manifestantes e
católicos, no entanto, é tranquilo. Muitos peregrinos não se dizem
incomodados com a manifestação. Enquanto a passeata seguia, três
senhoras rezavam com terços na mão. Eulália Cabral, de 56 anos, chegou a
abraçar alguns manifestantes. Ela disse que não estava constrangida com
o ato:
— Vim para ver o Papa, acabei vendo a manifestação. Não tenho nenhum
constrangimento. Vivemos em país democrático. Eles são livres para se
manifestarem. A causa é válida, mas não acho que isso tem que ser feito
dessa forma. Continuarei aqui rezando. A minha fé não se abala.
Marco Rocha, que integra o grupo da "Marcha das Vadias", disse que
foi "super bem tratado" pelos peregrinos, que até foto fizeram deles:
— A marcha acontece todos os anos em Copacabana nesta mesma data.
Este ano foi cancelada por conta da JMJ. Mas resolvemos vir mesmo assim.
O grupo “Católicas pelo Direito de Decidir”, favorável à "Marcha das
Vadias", distribuía uma carta aberta ao Papa Francisco chamada "Queremos
uma nova Igreja".
— A gente segue o legado de Jesus Cristo, ele pregava a vida. Somos a
favor do direito reprodutivo e da vida das mulheres. A maioria das
mulheres que sofrem aborto são católicas, temos que preservá-las —
afirma Valéria Marques, uma das organizadoras do movimento.
Manifestantes justificaram a passeata bem no momento da realização de
um evento católico. Alexia Ferreira, de 27 anos, explica que a intenção
do protesto é incentivar o debate:
— Não se prode promover um evento com uma única ideia. O ato é uma tentatativa de diálogo.
Joana Moraes, de 22 anos, também defendeu a "Marcha das Vadias":
— Não queremos confronto, tanto é que a organização da passeata decidiu ir na direção contrária dos peregrinos.
Princípio de confusão em protesto após a Via Sacra
Nesta
sexta-feira, um protesto após o término da Via Sacra, realizada na
Avenida Atlântica, teve um princípio de confusão depois de um
manifestante, exaltado, discutir com um policial que tentava revistá-lo.
O protesto começou por volta das 17h, quando um grupo de 50 pessoas se
reuniu em frente à estação Cardeal Arcoverde com faixas e cartazes
contra o governador Sérgio Cabral.
À noite, quando o número de manifestantes já tinha subido para cerca
de 300 pessoas, o grupo seguiu pela Barata Ribeiro em direção à Avenida
Atlântica. Lá, cerca de 70 homens da Força Nacional formaram um cordão
de isolamento para impedir a passagem dos manifestantes na orla. Um
grupo chegou a tentar invadir a área reservada para a imprensa, mas foi
impedido pela polícia.
Sob chuva, o grupo seguiu pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana em
direção a Ipanema, mas depois deu meia volta. Eles atravessaram o Túnel
Velho e entraram em Botafogo, seguindo em direção à Lapa. Fiéis que
assistiram à encenação da Via Sacra na Praia de Copacabana tentam
desviar do caminho do protesto, que terminou de forma pacífica.
"Todo brasileiro já nasce
sabendo conviver com as diferenças", diz a mensagem publicitária da
Caixa, ilustrada por um garoto que veste uma camiseta com as cores de
todos os times patrocinados pelo banco estatal.
A Caixa não prega a
tolerância por decisão própria, mas seguindo uma orientação do ministro
da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva. O menor dos
problemas da campanha publicitária é que evidencia, uma vez mais, a
apropriação partidária das estatais. O maior é que difunde um equívoco
conceitual: a tolerância não é atributo inato de ninguém.
Guido
Mantega, Alexandre Padilha e Fernando Haddad sofreram vaias e ofensas,
respectivamente, num hospital, num restaurante e no teatro. A campanha
de Edinho foi deflagrada como reação a ocorrências desse tipo, que
atingem lideranças do PT. Os malcriados que se aproveitam do clima
político nacional para constranger petistas só merecem desprezo: numa
sociedade decente, políticos devem ter a liberdade de circular como
cidadãos comuns sem serem importunados. Contudo o governo lembrou-se
muito tarde da importância do amor –e finge não saber quem moveu o peão
das brancas.
Nos tempos do mensalão, um assessor da deputada
Erika Kokay (PT-DF) perseguiu Joaquim Barbosa em restaurantes de
Brasília para ofendê-lo. Quando a blogueira cubana Yoani Sánchez visitou
o Brasil, chusmas de militantes do PT e do PC do B foram orientados
pela embaixada de Cuba a melar os lançamentos de seu livro. Um bando de
militantes petistas impediu, pelo vandalismo, a realização de um debate
com minha participação na Festa Literária Internacional de Cachoeira
(BA). Tais episódios, entre tantos outros, tiveram como protagonistas
grupos partidários organizados, não indivíduos isolados. O ódio era
política oficial, antes da descoberta do amor.
A tolerância é
um aprendizado democrático. Ela só prevalece se o outro não é visto como
inimigo, mas como um de nós. A metáfora da Caixa é adequada, pois todos
os times pertencem à mesma pátria: o futebol. Contudo, no poder, o
lulopetismo ensinou o contrário disso. A pedagogia oficial do ódio
assevera que o país se divide em "nós" e "eles". Mais: diz que "eles"
não são brasileiros com opiniões políticas diferentes, mas estrangeiros
ideológicos. Você será qualificado de racista se divergir das políticas
raciais; de inimigo do povo, se contestar o populismo econômico; de
agente das multinacionais, se apontar a ingerência partidária na
Petrobras; de golpista, se criticar o governo. Na pátria que se confunde
com o partido, dissentir equivale a trair.
A súbita irrupção
do amor oficial não cancelou o ódio oficial. Dilma Rousseff insiste na
fórmula binária dos "predadores internos" (leia-se: os corruptos) e dos
"inimigos externos" (leia-se: a oposição) sempre que menciona a
Petrobras. A palavra "golpismo" tornou-se marca registrada dos
pronunciamentos do PT. A proposta de resolução partidária da corrente
petista integrada pelo ministro José Eduardo Cardozo e pelo ex-ministro
Tarso Genro denuncia um "golpismo econômico" que estaria materializado
nas políticas de ajuste fiscal conduzidas por Joaquim Levy. Edinho é do
amor, mas sua chefe e seu partido são do ódio.
Edinho é do
amor? Com uma mão, a Caixa lançou sua nova campanha. Com a outra,
prossegue sua antiga campanha de financiamento dos blogs oficialistas
consagrados à difamação sistemática da oposição, dos críticos do governo
e de juízes encarregados dos escândalos de corrupção. Jatos de puro
ódio cintilam sob a película do amor.
Suspeito que,
tipicamente, algum malcriado sugeriu que Mantega, Padilha ou Haddad se
transfira para Cuba. É o avesso simétrico do que ensina há tanto tempo o
lulopetismo.
Os malcriados aprenderam um método, assimilaram uma
linguagem. Dizem, agora, que o "estrangeiro" é o PT. De certo modo, o PT
venceu.
BRASÍLIA - Há dez anos, a
jornalista Renata Lo Prete abria, ao apresentar Roberto Jefferson sem
censura nas páginas desta Folha, o capítulo do mensalão na história
política brasileira. Encerrado o plantão aqui na Sucursal de Brasília
naquele fim de semana, me perguntei internamente algo como: "Onde será
que isso vai parar?".
Os efeitos do escândalo ainda se fazem
sentir no cotidiano. Se imperfeita, a investigação do caso levou a um
julgamento conturbado e sem precedentes: a elite do grupo que comandava o
país foi parar na cadeia.
A mão de ferro de Joaquim Barbosa na
condução do processo é passível de críticas, mas é fato que um novo
padrão foi estabelecido na relação entre sociedade e Judiciário.
Não só para bem. Expectativas maiores também geram inspiração
justiceira em alguns magistrados, a exemplo do que já acontecera no
passado com procuradores e delegados, e o saldo é positivo.
A
corrupção, claro, não desapareceu. Ao contrário, sofisticou-se, como o
esquema desvendado na Lava Jato aponta. Mas parâmetros mudaram: sem o
destino do maior punido no mensalão, o operador Marcos Valério, não
haveria a oferta de delações premiadas de hoje.
Na política, o
legado maior do episódio foi a exposição pública da engrenagem que o PT
montou uma vez no poder. A imagem algo romântica do partido
estilhaçou-se, iniciando simbolicamente um processo de desintegração que
parece atingir seu auge agora, uma década depois.
Por fim, o
mensalão marca também o começo de um aparentemente infindável movimento
de descrédito na política. Um efeito colateral cheio de contradições,
que mistura a crescente apatia com episódios como o junho de 2013, além
de estimular ao paroxismo o radicalismo da manada algorítmica das redes
sociais.
Afinal, onde aquilo foi parar? Descontando as dores naturais do crescimento, num país um pouco melhor.
Condenado fazendo comício político, usando blog para comentar os
acontecimentos, dando orientações sobre votações no Congresso, são
coisas nossas e apartidárias. Não é apenas José Dirceu quem tem blog,
seu delator Roberto Jefferson também, e ambos participam ativamente da
política, dando palpites sobre o que está acontecendo, contra ou a favor
do governo.
Jefferson, mesmo em prisão domiciliar, está de bem
com a vida depois de ter casado em grande estilo, com direito a tirar um
sarro de seu mais famoso inimigo. Ao lembrar a frase emblemática
dirigida a Dirceu em transmissão pela televisão - "Você provoca em mim
os instintos mais primitivos" -, ele disse a sua noiva que ela lhe
inspirava "os mais deliciosos instintos primitivos".
Em seu
blog, ele afirma através de interpostas pessoas que o governo beneficiou
a empreiteira Odebrecht com os financiamentos do BNDES. Já Dirceu tem
aparecido abatido, e continua às voltas com outro processo, o do
petrolão, onde é investigado pelo Ministério Público pelas consultorias
que deu a empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, que seriam meros
disfarces para propinas vindas da Petrobras.
Ele tem usado seu
blog para se defender, acusando o doleiro Alberto Youssef de inventar as
denúncias contra ele. Mas também participa da discussão política, ora
defendendo a posição do governo contra o aumento da maioridade penal,
ora rebatendo a tentativa do Congresso de controlar as nomeações nas
estatais.
Mas pelo menos eles fingem algum constrangimento, e os
blogs são escritos por "amigos" e "assessores", mesmo que o que se lê
ali seja claramente a opinião pessoal dos condenados.
Pois o
petista João Paulo Cunha, o ex-presidente da Câmara condenado por
peculato e corrupção no processo do mensalão, foi flagrado pela "Folha"
em uma reunião política em Osasco, seu reduto eleitoral. Digo flagrado
porque os companheiros que atenderam ao convite para "bater um papo ao
sabor da conjuntura e outras lembranças" recebiam instruções para não
fotografar nem postar notícias nas redes sociais, e, portanto, o
encontro não era para se tornar público.
Ele cumpre a pena em
regime aberto em Brasília e recebeu permissão para ir a São Paulo
comemorar seu aniversário. Os condenados pelo mensalão tiveram seus
direitos políticos suspensos e não podem se candidatar a nada. Mas,
ironicamente, há uma discussão sobre se podem ou não se filiar a
partidos políticos, ou se podem participar de reuniões partidárias.
Outro
condenado, Valdemar Costa Neto ignora eventuais restrições e faz
reuniões políticas do PR, que ainda controla, orientando o partido sobre
como votar no Congresso. Ao que se sabe, apenas as transgressões mais
óbvias são punidas.
Flagrado tomando cerveja com amigos em um
bar da Zona Sul de BH, o ex-deputado federal Romeu Queiroz, condenado a
seis anos e seis meses de prisão por envolvimento no mensalão, perdeu os
benefícios de trabalho externo e saídas temporárias.
João Paulo
Cunha, por exemplo, fez ampla análise política da situação, admitindo
até que o PT errou no mensalão, e voltou a errar no petrolão. Não entrou
em detalhes sobre esses erros, sem deixar claro se estava admitindo os
crimes pelos quais foi condenado, ou se o erro a que se referia era o de
terem sido apanhados.
De qualquer maneira, a comemoração do
aniversário de João Paulo Cunha foi bastante proveitosa para ele como
líder político. Reuniu sua tropa política para estabelecer estratégias
para a eleição municipal de 2016, e, hoje, tinha marcada reunião com
grupos de sindicalistas.
Na eleição de 2012, ele era candidato
favorito à prefeitura de Osasco quando teve que renunciar devido à
condenação no mensalão. O então prefeito Emídio de Souza hoje é
presidente do PT paulista e também esteve com João Paulo Cunha trocando
ideias sobre "a conjuntura".
As atividades políticas, encobertas
ou não, não são restringidas pela Justiça, que tende a ser
condescendente com esse tipo de burla da punição. Mas, se os políticos
foram condenados justamente por terem atividades políticas irregulares,
misturadas a diversos crimes, como permitir que continuem a manter tal
atividade que está no cerne de suas condenações?
Com
apenas uma hora de depoimento numa delegacia no Brooklyn nova-iorquino, o FBI americano desmontou a Fifa, enfiou no xilindró suíço
quase uma dezena de cartolas da periferia futebolística mundial, no meio
da qual se exibia impune e lampeiro uma estrela de primeira grandeza: o
ex-governador do maior e mais rico estado brasileiro, ex-presidente da
CBF e agora seu vice, José Maria Marin.
Seis dias depois, o terremoto
destronou o indestronável imperador do futebol, Joseph “Sepp” Blatter. O autor desta
formidável façanha não é cartola, não é político, não se escondia na
sombra: jornalista esportivo no interior de São Paulo (São José do Rio
Preto) ralou, ralou, ralou, subiu, subiu, subiu, criou uma empresa de
marketing esportivo com o sugestivo nome de Traffic, traficou
favores,intermediou negócios de milhões, converteu-se em baronete da
mídia interiorana e com o aval do Congresso e do governo obteve em 2003
uma rica concessão de televisão (TV Tem, afiliada da prestigiosa Rede
Globo). Segunda a Folha de S. Paulo desta sexta, a emissora atende 318
municípios no rico interior paulista.
J. (de José) Hawilla –
Jotinha para os íntimos –“colabora” com o FBI desde o final de 2013. Réu
confesso, um ano depois, acertava com as autoridades judiciais
americanas o pagamento de uma multa de 151 milhões de dólares.
Quando
a direção da entidade suíça passou a exigir dos países-sede das Copas
do Mundo estádios, equipamentos e serviços urbanos de altíssima
qualidade estabeleceu-se o padrão Fifa. O megaescândalo agora revelado
tem exatamente este extravagante e formidável padrão e só começou a ser
desmontado graças a uma casualidade: além da mansão de 15 mil metros
quadrados em Rio Preto, o exigente Jotinha reside numa propriedade
avaliada em oito milhões de dólares na exclusiva Sunset Island, Miami,
Flórida, Estados Unidos da América do Norte – país onde há 241 anos
as promiscuidades, por mais extensas e sólidas que sejam, costumam ser
atalhadas pelas autoridades.
O segredo que tornou a sucursal
brasileira da Fifa invencível e inexpugnável é exatamente a
promiscuidade. Convivência espúria, conivência despudorada, a CBF é uma
traficante de vantagens e privilégios. Embora conste no artigo 1.º dos
Estatutos que “goza de peculiar autonomia não estando sujeita a qualquer
ingerência estatal”, a CBF tem efetivamente mais poder do que o
Ministério dos Esportes. Entidade de direito privado, suas veladas
conexões com o Judiciário e o Legislativo a colocam acima do bem e do
mal, imune a CPI’s e investigações do Ministério Público.
Blindagem
decisiva para garantir sua imunidade, impunidade e sobrevida são os
laços que a CBF mantém com a mídia, especializada ou não. A fulgurante
carreira do Jotinha Hawilla é paradigmática: em apenas 36 anos o
indomável profissional demitido por participar de uma greve delirante
que tanto prejudicou a categoria, acerta com a Justiça americana o
pagamento de uma multa de quase R$ 500 milhões.
Por mais animado
que esteja o Congresso neste momento dificilmente conseguirá
identificar, enquadrar e desmontar a promiscuidade que intoxica a mais
importante instituição da vida nacional – quase uma religião – o
futebol.
Para recuperá-la, desintoxicá-la e injetar um pouco de otimismo
será indispensável o empenho de outra lendária instituição que carece
de façanhas para tirá-la de uma de suas maiores crises: a mídia.