segunda-feira, 12 de março de 2018

Estudo indica que, uma vez degradado, o Cerrado não se regenera naturalmente




Cerrado já perdeu 46% da cobertura nativa por causa do desmatamento.
Cerrado já perdeu 46% da cobertura nativa por causa do desmatamento. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Segundo estudo, após a conversão em pastagens, áreas do bioma que não recebem o manejo apropriado exibem vegetação adensada, mas pobre em biodiversidade

FAPESP
Alguns dos mais importantes rios do Brasil – Xingu, Tocantins, Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Gurupi, Jequitinhonha, Paraná e Paraguai, entre outros – nascem no Cerrado. Trata-se da única savana do planeta dotada de rios perenes. A rápida conversão do Cerrado em pastagens e lavouras e o manejo inadequado das áreas preservadas colocam em risco esse formidável recurso natural, em um país com o terceiro maior potencial hidrelétrico tecnicamente aproveitável do mundo, e em que 77,2% da matriz elétrica é suprida pela hidroeletricidade.

Além disso, a destruição do Cerrado constitui uma perda inestimável em termos de biodiversidade, pois, na microescala, esse bioma, que pode apresentar 35 espécies diferentes de plantas por metro quadrado, é mais rico em flora e fauna do que a floresta tropical.

Sabe-se que o Cerrado tem um potencial de regeneração natural muito alto. Mas até que ponto vai sua resiliência?

A pesquisadora brasileira Gisela Durigan, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), coordena com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP um estudo realizado em áreas de antigas pastagens – originalmente pertencentes ao bioma do Cerrado, atualmente se encontram na condição de “reserva legal” e iniciaram uma regeneração natural.

Durigan explica que a regeneração natural do Cerrado se restringe às espécies arbóreas, o que significa dizer que o empobrecimento da vegetação decorrente da ação deletéria da agropecuária é definitivo – ao menos que o desenvolvimento de políticas ecológicas encontre meios de restabelecer as condições propícias para as abundantes espécies arbustivas.

“Uma vez eliminada, a vegetação rasteira ou de pequeno porte, que compõe o estrato herbáceo-arbustivo e que contém a maior parte das espécies endêmicas, não se regenera. Então, quando a pastagem é simplesmente abandonada, ela se transforma, depois de algum tempo, em um cerradão, que é uma formação caracterizada por vegetação muito adensada, com grande predomínio de árvores e pobre em biodiversidade”, afirmou Durigan.
O estudo, que teve resultados publicados no Journal of Applied Ecology, foi realizado no âmbito do doutorado de Mário Guilherme de Biagi Cava, com Bolsa da FAPESP e orientação de Durigan, e também apoiado por meio de um Auxílio à Pesquisa concedido ao professor Milton Cezar Ribeiro e de uma Bolsa de Doutorado a Natashi Aparecida Lima Pilon.


A pesquisa abrangeu 29 áreas no Estado de São Paulo, onde foi feito o levantamento da vegetação, tanto das árvores quanto das plantas pequenas que compõem o estrato herbáceo-arbustivo e que constituem a maior riqueza da flora do Cerrado. Apesar de estarem localizadas em regiões diferentes, essas 29 áreas, com idades variando de quatro a 25 anos, puderam ser ordenadas em uma sequência cronológica no que se refere ao estágio de regeneração.


Substituição do estrato arbustivo por gramíneas
As árvores se recuperam por possuírem raízes muito profundas e terem evoluído, ao longo de milhões de anos, desenvolvendo a capacidade de rebrotar inúmeras vezes. “Não é possível eliminá-la nem aplicando herbicida”, disse Durigan. Porém, segundo ela, o estrato herbáceo-arbustivo, que é removido para a implantação das pastagens, não se recompõe, devido à invasão dos terrenos por gramíneas exóticas muito resistentes e agressivas: as braquiárias.

“Essas só desaparecem com o sombreamento, causado pelo adensamento das árvores. Mas, quando desaparecem as gramíneas exóticas, as plantas originais de pequeno porte, que foram completamente erradicadas pelos herbicidas, pelas roçadas e pela competição com as braquiárias e que não toleram a sombra, também não voltam mais”, continuou a pesquisadora.

Para fazer com que a área voltasse a abrigar um cerrado típico, seria necessário eliminar as gramíneas exóticas, com manejo por meio de fogo associado a herbicida, e, depois, reintroduzir as espécies nativas. Mas isso constitui uma operação difícil e cara, que, com os recursos atuais, não pode ser realizada em larga escala.

“Temos pesquisado diferentes técnicas para promover a recuperação. Com sementes, é necessária uma quantidade gigantesca, que não há nem de onde tirar. O que deu muito certo, em escala experimental, foi o transplante do estrato herbáceo-arbustivo: a camada superficial do solo, acompanhada das touceiras de capim e das pequenas plantas”, disse Durigan.

“O grande problema é que, no Estado de São Paulo, já não há mais áreas-fonte para isso. O que sobrou de Cerrado aberto está invadido por gramíneas exóticas. Então, quando se transplanta a camada superficial do solo, a braquiária vai junto. Isso acontece inclusive nas áreas protegidas”, acrescentou.


Floresta degradada
O estudo feito na Unesp permitiu fechar um diagnóstico e fazer predições. Espontaneamente, uma vez degradado, o cerrado típico não se recompõe totalmente. Para que uma área de pastagem volte a ser um cerrado típico, com riqueza de biodiversidade, com a flora característica, com habitats para fauna especializada em savana, é necessário manejo humano: não se pode deixar que o adensamento das árvores passe do limiar de 15 metros quadrados por hectare; é preciso erradicar o capim exótico; e deve-se reintroduzir o estrato herbáceo-arbustivo nativo.

Evoluindo espontaneamente, sem manejo, em 49 anos a vegetação arbórea nas antigas áreas de pastagem irá se transformar em cerradão. A cobertura esparsa de solo característica do cerradão é alcançada em quatro anos e a biodiversidade pobre do estrato herbáceo é obtida em 19 anos. “O processo é rápido, mas os resultados não são os que procuramos. O cerradão não se distingue de uma floresta degradada”, disse Durigan.
Dois anos depois do levantamento, já na segunda fase do doutorado de Cava, os pesquisadores vão voltar às mesmas áreas ao longo do primeiro trimestre de 2018, e medir tudo novamente, para obter a taxa precisa de aumento de cobertura, densidade e biodiversidade.

“Esses valores precisos nos permitirão saber com exatidão qual é o potencial de regeneração das diferentes áreas e quais são os fatores favoráveis. É o tipo de solo? É a distância a uma fonte de sementes? É a proximidade de recursos hídricos? Todos esses parâmetros serão considerados”, disse Durigan.

Conforme afirmou, o artigo publicado por seu grupo é muito inovador porque não há ninguém em outros países tratando de recuperação de savanas.

“Isto porque ainda não ocorreu na África nem na Austrália um processo similar ao que estamos vivendo aqui, de conversão da savana em pastagens extensivas e em grandes lavouras de soja, cana ou milho. Na África, as savanas estão bem degradadas, mas devido ao sobrepastoreio, à exploração de lenha e a outras ações cujos impactos são menos visíveis no curto prazo. No Brasil, estamos presenciando transformações que ocorrem de um dia para o outro”, comentou a pesquisadora.

Referência:
Cava MGB, Pilon NAL, Ribeiro MC, Durigan G. Abandoned pastures cannot spontaneously recover the attributes of old-growth savannas. J Appl Ecol. 2017;00:1–9.
https://doi.org/10.1111/1365-2664.13046

Da FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/03/2018

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Exposição à poluição do ar na gravidez está associada a alterações no cérebro em meninos e meninas

Exposição à poluição do ar na gravidez está associada a alterações no cérebro em meninos e meninas


poluição do ar
Foto: EBC

Pesquisa indica que a poluição do ar está relacionada às mudanças no desenvolvimento do cérebro e ao funcionamento cognitivo em crianças. Os limites atuais da UE para a poluição do ar podem não ser suficientemente baixos.

Barcelona Institute for Global Health, ISGlobal*
Um novo estudo realizado pelo Centro de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) promovido pela Fundação Bancária “la Caixa” – e o Erasmus Medical Center de Rotterdam, associa exposição residencial à poluição do ar durante a gravidez com anormalidades cerebrais, que podem contribuir para a redução da capacidade cognitiva das crianças em idade escolar. O estudo, publicado em Biological Psychiatry , mostra que os níveis de poluição associados a alterações cerebrais estavam dentro dos valores considerados seguros .

A pesquisa mostrou, pela primeira vez, uma relação entre a exposição à poluição do ar e as dificuldades na inibição do controle – a capacidade de regular o autocontrole e o comportamento impulsivo – que está associada a problemas de saúde mental, como o comportamento aditivo e a desordem para déficit de atenção e hiperatividade. A exposição a partículas finas durante a vida fetal foi associada a um córtex mais fino – a camada externa do cérebro – em várias regiões de ambos os hemisférios, que é um dos fatores que explicariam as deficiências observadas no controle inibitório.

A equipe de pesquisa usou uma coorte de população na Holanda para estudar mulheres grávidas e seus filhos. Determinaram os níveis de poluição atmosférica residencial durante a vida fetal de 783 meninos e meninas. Os dados foram obtidos das campanhas de monitoramento do ar e incluíram níveis de dióxido de nitrogênio e partículas grossas e finas. A morfologia do cérebro foi avaliada a partir de ressonância magnética realizada quando as crianças tinham entre 6 e 10 anos de idade.

Observou-se a relação entre a exposição a partículas finas, as alterações estruturais no cérebro e controle inibitório, embora os níveis de partículas finas residenciais não excedam os limites definidos pela União Europeia -apenas 0,5% de mulheres grávidas foram expostas a níveis considerados inseguros. Em média, os níveis residenciais de dióxido de nitrogênio estavam apenas no limite de segurança.

Esses achados complementam estudos anteriores que associam níveis “aceitáveis” de poluição do ar com outras complicações, incluindo declínio cognitivo e crescimento fetal. “Portanto, não podemos garantir que os níveis atuais de poluição em nossas cidades sejam seguros ” , diz Mònica Guxens , coordenadora de estudo e pesquisadora da ISGlobal e do Centro Médico da Universidade Erasmus.

O cérebro do feto é particularmente vulnerável, já que ainda não desenvolveu os mecanismos para se proteger de toxinas ambientais ou eliminá-las. “Embora as conseqüências clínicas desses achados ao nível individual não possam ser quantificadas, outros estudos existentes sugerem que os atrasos cognitivos em uma idade precoce podem ter consideráveis conseqüências a longo prazo, incluindo um risco aumentado de transtornos mentais e menor desempenho acadêmico, dado a ubiquidade da exposição “, diz Guxens.

Referência:
Guxens M., Lubczyska M.J., Muetzel R., Dalmau-Bueno A., Jaddoe V.W., Hoek G., Van der Lugt A., Verhulst F.C., White T., Brunekreef B., Tiemeier H., El Marroun H. Air pollution exposure during fetal life, brain morphology, and cognitive function in school-age children. Biological Psychiatry, 2018 https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2018.01.016

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/03/2018

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Medicamentos e Meio ambiente: soluções individuais, problemas coletivos

Medicamentos e Meio ambiente: soluções individuais, problemas coletivos 

Por Gabrielle Rabelo Quadra, Rafaela dos Santos Costa, Helena de Oliveira Souza e Marcos Antonio dos Santos Fernandez.

Foto: Josué Goge/Flickr.

Você sabia que o uso intensivo de medicamentos tem transformado resíduos destes compostos em poluentes comuns nos ambientes aquáticos? As consequências ambientais deste tipo de poluição ainda são pouco conhecidas, mas diversos estudos já indicam efeitos na reprodução e mobilidade de organismos, mesmo em baixas concentrações no ambiente. Mas devemos pensar: como os medicamentos que eu consumo chegam até o ambiente? Isso realmente é uma questão que envolve toda a sociedade. A entrada de medicamentos no ambiente via lixo comum pela população é uma forte contribuição para contaminação ambiental.


Precisamos pensar que todos nós temos uma cota de contribuição para que esses medicamentos cheguem até o ambiente e que podem voltar para nós pela água potável. Portanto, o uso indiscriminado, desde a automedicação até o descarte indevido, precisa ser controlado, e isso é uma atitude que pode ser repensada por cada um de nós.
A população mundial tem aumentado e, com isso, o consumo de medicamentos se torna maior. Além disso, o aumento da expectativa de vida dos seres humanos e a consequente inversão das pirâmides de idade populacionais têm aumentado proporcionalmente ainda mais o consumo de medicamentos.


As pessoas idosas consomem mais medicamentos, uma vez que o organismo já não funciona tão bem e o índice de doenças crônicas é mais alto nesta população. No Brasil, esse aumento é nítido: entre 2002 e 2016, a população aumentou de 180 para 205 milhões de pessoas, com maior percentual proporcional de idosos; no mesmo período, a venda de medicamentos passou de 500 milhões de unidades (caixas) para 3,5 bilhões, segundo dados do IBGE e do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas (Sindusfarma).


Por sua vez, esse aumento de consumo aumenta a geração de resíduos. Uma vez no ambiente, estes resíduos se comportam como contaminantes e podem ser tóxicos a diversos organismos, inclusive a espécie humana. Os seres humanos ficam expostos aos resíduos de fármacos por meio da água potável e via alimentação, como os peixes. Nesse sentido, os resíduos de medicamentos também podem poluir águas superficiais e subterrâneas, solos e ar.



Medicamento na água é problema

Dezenas de frascos de medicamentos jogados em estrada no Paraná. Foto: Câmara Municipal de Guaíra.

Os resíduos de medicamentos atingem os corpos hídricos de várias maneiras: pelo descarte incorreto de medicamentos, uso intensivo de medicamentos na medicina veterinária e a não remoção completa dos resíduos de medicamentos nas estações de tratamento.



Após sua utilização, seja na medicina humana ou na veterinária, os medicamentos são excretados pelos organismos diretamente para o ambiente, sendo transportados para os corpos hídricos, ou, quando as excreções são coletadas e tratadas, passam por estações de tratamento de esgoto (ETEs). Nestas estações, normalmente os resíduos de medicamentos não são removidos completamente devido à tecnologia ineficiente, e assim, também acabam alcançando o ambiente.


As águas contaminadas pelos resíduos de medicamentos podem ser utilizadas para produção de água potável. Nas estações de tratamento de água (ETAs), a mesma situação pode acontecer, ou seja, devido a tecnologias ineficientes, os resíduos de fármacos podem ser encontrados na água potável. Todos os medicamentos são formulados para provocar um efeito, assim, eles podem atravessar as barreiras biológicas dos organismos para chegar até o órgão afetado.


Logo, devemos pensar que no ambiente eles também podem resistir a barreiras e a degradação, sendo persistentes. Além disso, algumas destas substâncias apresentam tendência cumulativa, ou seja, elas podem acumular pela cadeia trófica, sendo essa uma via de contaminação para os seres humanos – ao se alimentar de outros animais. O descarte indevido de medicamentos ou das suas embalagens também resulta em uma importante via de contaminação ambiental. Uma visão esquemática desse conjunto de processos é mostrada na Figura 1, adiante.




Figura 1. Vias de entrada e destino dos resíduos de medicamentos no ambiente.

Apesar da problemática envolvida, a detecção e quantificação de medicamentos no ambiente ainda são restritas em determinados países. A detecção dessas substâncias só foi possível devido aos avanços dos métodos analíticos, já que geralmente são encontrados no ambiente em baixas concentrações, na ordem de ng L-l e µg L-1 (Figura 2). Normalmente, nos rótulos de bebidas que ingerimos diariamente, vemos as concentrações em miligrama por litro, o que significa que estamos falando de concentrações de mil a um milhão de vezes menor do que isso.

Figura 2. Concentrações ambientais de diversos medicamentos reportadas em águas superficiais de diferentes países (Brasil, Canadá, Alemanha, Itália, Reino Unido e Estados Unidos).

Porém, não podemos nos enganar, mesmo em baixas concentrações, alguns estudos já apontam efeitos tóxicos dessas substâncias em alguns organismos aquáticos. Os hormônios são capazes de causar alterações sexuais, como, por exemplo, hermafroditismo e feminização em peixes. O Ibuprofeno (terceira droga mais popular do mundo!) foi capaz de alterar os padrões de reprodução de peixes em concentrações detectadas no ambiente. O antidepressivo Fluoxetina demonstrou ser capaz de alterar o comportamento dos peixes na fuga de predadores. Estas são somente algumas consequências já evidenciadas em laboratório, existem vários estudos com outros organismos e outras substâncias, mas ainda há muito que fazer.



Além dos efeitos isolados, estudos têm demonstrado que estes compostos podem ter efeitos sinergéticos, isto é, duas ou mais substâncias juntas podem potencializar seus efeitos. Por exemplo, os anti-inflamatórios ibuprofeno e diclofenaco podem aumentar ainda mais a mortalidade de Daphnia magna (microcrustáceo). Assim, a preocupação se agrava, uma vez que essas substâncias são sempre encontradas no ambiente em misturas. Além disso, precisamos pensar que a introdução no ambiente aquático de substâncias químicas sintéticas envolve uma enorme variedade de compostos e os efeitos sinérgicos podem ocorrer - inclusive com outras classes como metais pesados e pesticidas. Outra questão é que a entrada dos medicamentos é constante no ambiente e os organismos ficam expostos de forma contínua. Ainda sabemos pouco sobre as consequências que podem ocorrer à longo prazo e os efeitos não são detectados em bioensaios de curto período.



A legislação e a má gestão
No Brasil, o descarte indevido de medicamentos é consequência de um conjunto de fatores relacionados à má gestão, ausência de fiscalização farmacêutica e leis mais rigorosas. Normalmente, os pacientes não podem adquirir o número exato de comprimidos exigidos pelo tratamento, o que resulta em descarte dos medicamentos não utilizados.


Além disso, temos o problema da automedicação, um mau hábito que resulta, muitas vezes, em um aumento desnecessário do consumo. Ainda assim, não há legislação brasileira de obrigatoriedade por parte dos estabelecimentos para apresentar pontos de recolhimento dos medicamentos em desuso ou vencidos, o que resulta em descarte incorreto em lixo comum ou nas redes de esgotamento sanitário.


Iniciativas importantes, bons exemplos devem ser seguidos!

Ibuprofeno e diclofenaco podem aumentar ainda mais a mortalidade de Daphnia magna (microcrustáceo). Foto: Wikipédia.

No Brasil, podemos encontrar algumas iniciativas de descarte correto de medicamentos. O estado de São Paulo, por exemplo, estabeleceu uma parceria entre prefeitura e empresas privadas para o recolhimento de medicamentos em supermercados e farmácias. A empresa Brasil Health Service possui o “Programa Descarte Consciente” que apresenta estações coletoras em alguns estabelecimentos participantes das regiões Nordeste, Sul e Sudeste.


Ainda podemos citar programas como o “Papa Pílula”, realizado pelo Serviço Social da Indústria de Santa Catarina. Estas atividades são imprescindíveis para auxiliar a população em relação ao descarte correto dos medicamentos. Além destas iniciativas, podemos encontrar no Brasil, outras localidades que recorreram também a implementação de sistemas de coletas, mas desta vez fixados em lei, são os casos do Acre, Ceará, Distrito Federal, Juiz de Fora, Paraíba, Paraná e Rio Grande do Sul.


Outros países apresentam exemplos do uso de medidas bem-sucedidas, mostrando como uma correta gestão torna possível a logística reversa e a responsabilidade compartilhada dos resíduos de medicamentos. A Itália foi o primeiro país da Europa, a estabelecer um sistema de coleta de medicamentos na década de 70 com a criação da empresa Assinde Servizi. A França apresenta o sistema de coleta de medicamentos vencidos denominado Cyclamed, o qual obriga as indústrias a eliminarem os resíduos de embalagens domésticas que coloca no mercado. O Canadá possui Post-Consumer Pharmaceutical Association, uma organização sem fins lucrativos que desde 1999 realiza coletas e conta com o apoio de empresas de pesquisas farmacêuticas.


Olhando para o futuro... um salto para o futuro dos medicamentos no ambiente
Os efeitos que são reportados em organismos aquáticos e terrestres já são suficientes para demonstrar que a preocupação com a saúde humana também deve existir. E o que nós, como cidadãos, podemos fazer? Uso consciente de medicamentos. Evitar a automedicação e seguir corretamente as orientações das prescrições é fundamental.


Além disso, podemos nos conscientizar e cobrar das nossas prefeituras um local para disposição de medicamentos vencidos e/ou não utilizados. Precisamos investir mais tempo em maneiras de prevenir que estas substâncias cheguem ao ambiente. Algumas formas de se prevenir são: a questão de conscientização individual, divulgação da problemática, trabalhos de educação ambiental envolvendo descarte correto, adequação da legislação e investimento em fiscalização. Estas medidas ajudarão no desenvolvimento de cidadãos mais críticos, que reivindiquem e cobrem medidas mais eficientes.



Ainda assim, precisamos de mais estudos de detecção ambiental, de efeitos destes resíduos em organismos para determinar concentrações legais de descarte, assim como estudos que ajudem na divulgação desta problemática. Não menos importante é o investimento em técnicas eficientes de remoção destes compostos das estações de tratamento e criação de medicamentos que degradam facilmente no ambiente. Todos devemos pensar que estas substâncias vão para o ambiente, portanto, devemos certificar que elas sejam menos tóxicas possível.

Gabrielle Rabelo Quadra, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Rafaela dos Santos Costa, mestre em Dinâmica dos Oceanos e da Terra pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Helena de Oliveira Souza, mestre em Ciências Ambientais e Conservação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Marcos Antonio dos Santos Fernandez, doutor em Química pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Ministério abre inscrições para cursos a distância na área socioambiental

Ministério abre inscrições para cursos a distância na área socioambiental

Por Sabrina Rodrigues*

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) promove os primeiros cursos deste ano na modalidade Educação à Distância (EAD). Inscrições vão até o dia 10 de março. Foto: Matthew Bowden/Wikicommons.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) promove os primeiros cursos deste ano na modalidade Educação à Distância (EAD). Sem precisar sair de casa para aperfeiçoar os conhecimentos na área socioambiental, os interessados têm até o dia 10 de março para se inscreverem no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do MMA.
Ao todo são 10 cursos gratuitos oferecidos pelo órgão, nas áreas como agricultura familiar, água, mudança do clima, unidades de conservação, igualdade de gênero, participação social e consumo sustentável. Os cursos possuem carga horária total que vão de 20 a 180 horas.
Os cursos oferecidos são:
1- Apoio à implementação do Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar _ PEAAF - voltado para gestores e servidores públicos, profissionais de ensino, representantes de organizações da sociedade civil, lideranças de movimentos de campo, o curso tem o objetivo de capacitar agentes públicos e representantes de organizações da sociedade civil para o desenvolvimento de políticas públicas, programas e projetos de Educação Ambiental no contexto da Agricultura Familiar.
2- Crianças e o Consumo Sustentável - com o curso,  pais, mães, educadores de crianças poderão trabalhar o conhecimento para construírem valores mais sustentáveis com as suas crianças, desestimulando o consumir por consumir e incentivando a prática de brincadeiras, hábitos e atitudes muito mais saudáveis e sustentáveis.
3- Juventudes, Participação e Cuidado com a Água - Para  jovens, ativistas e membros de instâncias colegiadas do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) e do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), que já atuam ou possuam interesse em atuar em iniciativas de cuidado com a água ou mesmo nas instâncias formais de gestão da Política de Recursos Hídricos. O curso pretende propiciar elementos para uma percepção sistêmica e integrada da água, para a reflexão e avaliação crítica da problemática da água no Brasil e no mundo, bem como de avaliação estratégica do potencial de incidência das juventudes nas políticas e ações de águas no país, numa perspectiva inclusiva, dialógica e de atuação em rede.
4- Educação Ambiental e Mudança do Clima - O curso objetiva colaborar com a formação e a informação sobre a temática, compreendendo a interface entre Educação Ambiental e Mudanças do Clima. Público-alvo:  gestores e educadores ambientais, podendo ser aberto para público em geral.
5- Educação Ambiental e Mudanças do Clima para Gestores - Fornece material técnico e institucional, para a administração pública, sobre estratégias de mitigação e adaptação à mudança do clima, bem como algumas estratégias para o gestor público realizar uma gestão urbana de baixo carbono. Público-alvo: gestores públicos municipais e gestores estaduais.
6- Estruturação da Gestão Ambiental Municipal -  Gestores, servidores, funcionários das prefeituras e conselheiros municipais, através desse curso, serão capacitados a apoiar os Municípios na estruturação institucional e o fortalecimento da gestão ambiental municipal, com a ótica da sustentabilidade socioambiental territorial, a disseminação de conhecimentos e a reflexão crítica acerca de assuntos que visam à melhoria da gestão ambiental pública.
7- Formação de Agentes Populares de Educação Ambiental e Agricultura Familiar - O curso pretende capacitar agentes populares para identificar e refletir criticamente as questões socioambientais em seu território, de forma a promover a mobilização e sensibilização social para a realização de ações que resultem na melhoria da qualidade de vida e conservação dos recursos naturais no meio rural, bem como a elaboração e implementação de políticas públicas, ações e projetos de educação ambiental no contexto da agricultura familiar. Curso voltado a juventude rural, agricultoras e agricultores, agentes comunitários e agentes públicos, a partir de 16 anos, com Ensino Fundamental completo.
8- Igualdade de Gênero e Desenvolvimento Sustentável - O curso visa sensibilizar e capacitar os gestores públicos de todas as áreas sobre a problemática da desigualdade de gênero e a importância da transversalização dos temas “gênero” e “desenvolvimento sustentável”. Voltado para gestores públicos de todas as áreas, federais, estaduais e/ou municipais.
9- Participação Social e Cidadania Ambiental: fortalecer a democracia para promover a sustentabilidade - Público-alvo: gestores e servidores do MMA e vinculadas; Gestores e servidores de órgãos e entidades estaduais, municipais e distrital de meio ambiente; Conselheiros de órgãos consultivos e/ou deliberativos; Comissões organizadoras estaduais, distritais e municipais; Delegados da Conferências Nacional do Meio Ambiente (CNMA); Sociedade civil em geral; Adultos em faixa etária ampla; Escolaridade variada. O curso objetiva capacitar gestores, servidores, técnicos ambientais e sociedade civil, visando à ampliação e qualificação da participação social, nas esferas federal, estadual e municipal.
10- Tornar a Unidade de Conservação visível: estratégia para promover articulações e captar recursos - Para formuladores e executores das políticas governamentais relacionadas a UCs em âmbitos federal, estadual e municipal, o curso pretende facilitar o acesso a recursos e parcerias pelas Ucs por meio da educação ambiental e da comunicação.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do Ministério do Meio Ambiente

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