quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Valor Econômico – Militares reforçam equipe do Planalto- preservação da Amazônia considerada questão de segurança nacional.

Valor Econômico – Militares reforçam equipe do Planalto


Por Andrea Jubé e Carla Araújo | De Brasília

Maynard Marques de Santa Rosa: para o titular da SAE, ONGs "são um instrumento de ação do movimento globalista"

Ao completar duas semanas de governo, o presidente Jair Bolsonaro reforça o time de militares em sua equipe. Ontem o general da reserva Maynard Marques Santa Rosa assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Secretaria–Geral da Presidência, e o general de divisão Otávio Santana do Rêgo Barros será o porta–voz da Presidência. Rêgo Barros é ligado ao general Eduardo Villas Bôas, que deixou o comando do Exército e assumirá um cargo no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no Planalto.

Com Santa Rosa e Rêgo Barros, são seis os generais na cúpula do Palácio do Planalto. Os outros são Augusto Heleno, ministro do GSI, Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo e o vice–presidente Hamilton Mourão. Do time, Rêgo Barros é o único general da ativa.

Considerando–se exclusivamente o primeiro escalão, são sete ministros egressos das Forças Armadas: Fernando de Azevedo e Silva (Defesa), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Bento Costa Lima (Minas e Energia), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Wagner Rosário (Controladoria Geral da União), além de Heleno e Santos Cruz.

Também ontem foi nomeado o general da reserva Franklimberg Ribeiro de Freitas para a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), reforçando a equipe de oficiais no segundo escalão (ver abaixo).

E o ex–comandante da Marinha, o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, foi indicado por Bolsonaro para presidir o Conselho de Administração da Petrobras.

O general Maynard Marques de Santa Rosa disse ao Valor que uma prioridade de sua gestão será o "desenvolvimento da Amazônia". Ele tem uma visão crítica sobre a atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs) na região: "Considero que são um instrumento de ação do movimento globalista". Durante os 49 anos na ativa, ele serviu em 24 unidades militares em todo o país, incluindo dez anos na Amazônia, sendo dois deles na região de fronteira.

Ele adiantou, ainda, que vai reestruturar a secretaria para adequá–la à "agenda estratégica" do governo. Em outra frente, os generais Augusto Heleno e Santos Cruz, que têm atribuições afins em suas pastas. O GSI coordena o programa de proteção das fronteiras, enquanto a Secretaria de Governo é responsável pelo diálogo e controle das entidades do terceiro setor.

Conforme mostrou o Valor em outubro, os militares que assessoravam Bolsonaro durante a campanha resistiam à fusão do ministério da Agricultura com o Meio Ambiente justamente pela preocupação com o desmatamento na região Amazônica, considerada uma questão de "segurança nacional".

Com base em estudos climáticos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pela Universidade de São Paulo (USP) e por outras universidades, eles observam que, se o desmatamento afetar mais 7% da floresta Amazônica, o clima das regiões Centro–Oeste, Sudeste e Sul será irreversivelmente afetado.

Em 2007, Santa Rosa – então secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa – afirmou em audiência pública na Comissão de Defesa e Relações Exteriores da Câmara dos Deputados que haviam 100 mil ONGs operando na Amazônia, segundo dados levantados pelos sistemas de inteligência das forças de segurança. Na ocasião, afirmou que muitas tinham interesses ocultos como tráfico de drogas, de armas, lavagem de dinheiro e até mesmo espionagem.

Em 2010, quando era chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, Santa Rosa criticou em carta publicada na internet a comissão da verdade criada pelo governo Lula para investigar crimes de violação aos direitos humanos no regime militar, que chamou de "comissão da calúnia". Foi exonerado pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim.

O novo porta–voz, general de divisão Otávio Santana do Rêgo Barros, comanda o Centro de Comunicação Social do Exército (Ccomsex) e integra o grupo mais próximo ao general Villas Boas, que deixou o comando do Exército na semana passada e assumirá uma função no gabinete do general Augusto Heleno.

A informação de que ele assumirá o novo encargo foi confirmada ao Valor por fontes do Exército e do governo, mas até o início da noite não havia sido oficializada pelo Planalto. O Valor apurou, ainda, que ao assumir o cargo, ele deverá continuar na ativa.

Pernambucano de Recife, Rêgo Barros foi cadete da escola preparatória do Exército. Com ampla experiência nas Forças Armadas, Rêgo Barros é da turma de cavalaria em 1981 e possui um currículo de honrarias.

Ele já atuou na assessoria da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto, onde editou o livro "Desafios Estratégicos para a Segurança e Defesa Cibernética". O general participou também dos grupos de estudos da elaboração do Livro Branco de Defesa, apresentado ao Congresso Nacional na legislatura de 2012.

No Exterior foi Assessor da Cooperação Militar Brasileira no Paraguai e Comandante do Primeiro Batalhão de Infantaria de Força de Paz do 12º Contingente, integrando a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti.

O Globo – Salles diz que Brasil fica no Acordo de Paris


O Globo – Salles diz que Brasil fica no Acordo de Paris


O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou ontem que o Brasil continuará no Acordo de Paris, coma anuência do presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é que há pontos importantes no documento que podem trazer recursos para o país, e que o problema está na internalização de princípios para a legislação nacional. O tratado assinado em 2015 estabelece metas para a redução da emissão de gases estufa.

— Por ora vamos manter a participação. Há pontos importantes, que podem trazer recursos para o Brasil —destacou, em almoço com empresários do setor de construção do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi). — O acordo está feito. O problema é como internaliza na legislação pátria, de forma que não restrinja o empreendedorismo.

No ano passado, ainda em campanha, Bolsonaro disse que poderia retirar o Brasil do Acordo de Paris caso fosse eleito, pois suas premissas afetariam a soberania nacional. Para ele, o país precisa “pagar um preço caro” para atender às exigências. Entre elas, afirmou, estaria perdera ingerência sobre 136 milhões de hectares da Amazônia, medida que nunca foi discutida nas negociações internacionais.

No Secovi, Salles também prometeu acelerara concessão de parques nacionais para a iniciativa privada, onde poderiam explorar serviços como o ecoturismo. A primeira unidade a passar por essa transição, em 1999, foi o Parque Nacional do Iguaçu, que recebeu a visita do ministro na semana passada e que atrai cerca de 1,8 milhão de turistas por ano.

A nova lei de concessões de parques foi aprovada no ano passado, no governo do presidente Michel Temer. Sob essa legislação, o Parque Nacional do Pau Brasil, na Bahia, foi a primeira unidade a ter os serviços transferidos à iniciativa privada. Sua administração é realizada pela empresa Hope Recursos Humanos.

Aos empresários do setor de construção, Salles prometeu revisar as normas de legislação ambiental e dar mais autonomia para que os estados atuem no licenciamento de obras. Para ele, é necessário simplificar o sistema, que no caso de grandes obras hoje é feito em três etapas —licenciamento prévio, de instalação e de operação.

O novo ministro afirmou que gerir sua pasta não é muito diferente do que comandara Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, da qual foi titular entre 2016 e 2017. Em dezembro do ano passado, pouco antes de assumir o ministério, Salles foi condenado por improbidade administrativa, acusado de modificar mapas da área de preservação na várzea do Rio Tietê para beneficiar indústrias instaladas no local. Cabe recurso à sentença.

—É preciso simplificara Lei Geral de Licenciamento Ambiental que está no Congresso — argumentou o ministro, defendendo o fim do “assembleísmo” nas discussões sobre preservação de meio ambiente, que considera ideológico e pouco técnico.

CÂMARA DE CONCILIAÇÃO

Os projetos de lei que modificam o sistema de licenciamento ambiental analisados atualmente pelo Legislativo preveem a dispensa de licenciamento para atividades rurais, além de simplificar as condições para empreendimentos considerados estratégicos para o país.

O ministro disse que não apoiará atitudes radicais de qualquer lado, mas ressaltou que é preciso dar sustentação ao setor produtivo, que tem sido visto como “criminoso em potencial”. Para isso, voltou a dizer que criará uma câmara de conciliação ambiental, para que os empresários possam recorrer de autuações e apresentar suas justificativas. A câmara, sublinhou, deverá ser presidida por alguém que não seja do órgão fiscalizador.

Folha de S. Paulo – Índios venezuelanos em Boa Vista sofrem com superlotação e crack

Folha de S. Paulo – Índios venezuelanos em Boa Vista sofrem com superlotação e crack  


Sem interiorização, dezenas de waraos dormem em praça e enfrentam dificuldade para sobreviver

Do lado de dentro, 670 indígenas venezuelanos enfileiram as redes para caber no abrigo Pintolândia, em Boa Vista, com capacidade para 448 pessoas. Na praça vizinha, dezenas de outros dormem ao relento em meio a paredes pichadas com a sigla da facção criminosa Primeiro Comando da Capital.
São Félix do Xingu (PA) - Cerca de 4 mil índios participam da Semana dos Povos Indígenas. O evento começou no sábado (15) e vai até quarta-feira (19), quando é celebrado o Dia do Índio (Thiago Gomes/Agência Pará)

Excluídos da interiorização, que leva imigrantes para outras cidades do Brasil, os waraos e, mais recentemente, os enhepás ainda não têm um projeto específico de integração.

“Todos os dias chegam mais e temos de dizer 'não'. Estamos com a situação tensa”, afirma Vânia dos Santos, a Clara, coordenadora do abrigo por meio de um convênio com a sua organização, a Fraternidade Internacional.

Clara explica que a superlotação tem aumentado os casos de violência, alcoolismo e uso de drogas entre os waraos, a maior etnia. Traficantes conseguiram introduzir o crack —recentemente, uma criança de 12 anos foi flagrada fumando.

 “Eles começaram dando a droga aos meninos, depois passaram a pedir dinheiro”, afirma a liderança Warao Jesus Gonzalez, 50, que pede a realocação para perto de um rio ou a abertura de um novo abrigo para resolver a superlotação.

Clara diz que o artesanato é a melhor forma de inserção social e que 30 mulheres já se dedicam à atividade, mas há dificuldades para conseguir a fibra de buriti. Na fronteira, o Exército e a Receita Federal apreendem o artesanato e a matéria–prima dos waraos —em uma região onde o contrabando de gasolina venezuelana é tão disseminado que sequer há um posto de combustível em Pacaraima (RR).

Além disso, o buriti é uma árvore protegida em Roraima. A solução tem sido trazer a fibra do Maranhão, mas os waraos afirmam que a qualidade é inferior.

“A integração dessas pessoas é um pouco mais difícil. Estamos trabalhando com o governo para buscar alternativas a médio e longo prazo”, diz Pablo Mattos, chefe do escritório de Boa Vista da Acnur, a agência para refugiados da ONU.

Mais recentes e em menor número, os 59 enhepás abrigados em Boa Vista são de uma região de savanas e montanhas no centro da Venezuela, distante dos waraos. Além da escassez, relatam ter sido ameaçados por garimpeiros de ouro.

“Está perigoso”, diz Jesús Britos, 28, em espanhol precário. Ele chegou com a mulher e um filho de sete meses. Para pagar a viagem, vendeu arcos e flechas pelo caminho.

“Vim para ver como está o refúgio. Agora, quero trazer a minha sogra e o meu outro filho, de 4 anos”, diz. “A Venezuela não tem força, não tem comida, não tem remédio.”


Indígenas en ciudades brasileñas se enfrentan a la pobreza y al prejuicio

La ciudad brasileña con la mayor población indígena es São Paulo

Publicado en 21/04/2017 - 11:09
Por Bianca Paiva y Maíra Heinen Manaus y Roraima

Rio de Janeiro - Índios da Aldeia Maracanã reclamam do abandono e pedem a construção de uma universidade indígena no local (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Indios de la Aldea Maracaná, en Río de Janeiro, se quejan del abandono.Tomaz Silva/Agência Brasil
Vivir en centros urbanos sin ocultar su ascendencia y sus propias referencias sigue siendo una lucha para más de 315 mil indígenas en Brasil, según datos del último censo del Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE). La cifra representa el 49% de toda la población indígena del país –cuya cultura es celebrada cada año el 19 de abril, Día del Indígena en el país–.

“Los prejuicios y la discriminación siguen siendo fuertes. Los indígenas que viven en las grandes ciudades son los que realmente se enfrentan a esas situaciones constantemente en su vida cotidiana”, dice Eliandro Pedro de Sousa, del pueblo Wapixana, quien es presidente de la Organización de los Indios de la Ciudad, con sede en Boa Vista, estado de Roraima.

De todas las ciudades de Brasil, São Paulo es la que tiene la población indígena más grande, con cerca de 12 mil habitantes; seguida de São Gabriel da Cachoeira, en Amazonas, con poco más de 11 mil; y Salvador, en Bahia, con más de 7,5 mil.

La antropóloga Lúcia Helena Rangel, de la Universidad Católica de São Paulo, señala que los indígenas han estado presentes en las principales ciudades desde los tiempos de la colonización, aunque en décadas pasadas la ciudad era un espacio prohibido.

“Ellos se mudaban a las ciudades y no decían que eran indígenas. Ocultaban su origen y sus referencias culturales, por así decirlo”. El miedo a la discriminación y las represalias por parte del antiguo Servicio de Protección al Indígena (SPI) les impedían presentarse como tales.

En los años 50, en medio del desarrollo industrial, la migración hacia las ciudades se intensificó. Los que vivían en el campo seguían en busca de empleo en las fábricas y no era diferente con los indígenas, cuenta la profesora.

Incluso la Fundación Nacional del Indígena (Funai), cuya misión es promover los derechos de los indígenas brasileños, se enfrenta a prejuicios y es consciente de la situación de los indígenas que viven en las ciudades, comenta Riley Mendes, coordinador regional de Funai Roraima.

São Félix do Xingu (PA) - Cerca de 4 mil índios participam da Semana dos Povos Indígenas. O evento começou no sábado (15) e vai até quarta-feira (19), quando é celebrado o Dia do Índio (Thiago Gomes/Agência Pará)
Unos 4 mil indios participaron en la Semana de los Pueblos Indígenas en la ciudad de São Félix do Xingu, estado norteño de Pará, confraternizando y reclamando derechos. El evento se cerró el 19 de abril, cuando se celebra en Brasil el Día del Indio.Thiago Gomes/Agência Pará
Amazonia
Hace mucho la selva amazónica dejó de ser el hogar de miles de indígenas. La escasez de alimentos, la deforestación y el avance de las ciudades hacia regiones anteriormente boscosas son algunos de los factores que llevaron a los miembros de los pueblos tradicionales a migrar a zonas urbanas.

En Manaus, capital de Amazonas, los indígenas están por toda parte. La Fundación Departamental del Indígena estima que entre 15 y 20 mil indígenas de diversos grupos étnicos viven en zonas urbanas de todo el estado. “Creo que el 90% de los barrios de Manaus albergan a indígenas”, informó Raymond Atroari, presidente de la fundación.

Aunque buscan mejores condiciones de vida en la ciudad, la mayoría de los indígenas vive en la miseria y tienen dificultades para encontrar trabajo. Su principal fuente de ingresos proviene de la venta de artesanías. “Las comunidades suelen estar ubicadas en áreas de riesgo. Nunca es un buen lugar”, dijo el jefe indígena Moisés Sateré, líder de una comunidad en el barrio de Paz, en el oeste de Manaus, hogar de 14 familias.


Salud
Sateré también se queja del difícil acceso a servicios públicos de salud. “A veces no logramos ser atendidos porque muchos profesionales no son conscientes de nuestra realidad y tienen prejuicios sobre nosotros. Cuando se dan cuenta de que pertenecemos a algún pueblo, dicen medio en broma que tenemos que ir a la aldea para ser atendidos o buscar a Casai [Casa de Salud Indígena]. Nos mangonean” dijo el líder indígena.


De acuerdo Ronaldo Barros, de la etnia maraguá, presidente del Consejo Distrital de Salud Indígena (Condisi) de Manaus, las políticas de salud pública están dirigidas a los indígenas que viven en las aldeas. Los que viven en las ciudades se enfrentan a los mismos problemas que el resto de la población. “Ellos compiten por los mismos puestos de trabajo y vías de acceso a servicios de salud que los no indígenas en las zonas urbanas.”

São Félix do Xingu (PA) - Cerca de 4 mil índios participam da Semana dos Povos Indígenas. O evento começou no sábado (15) e vai até quarta-feira (19), quando é celebrado o Dia do Índio (Thiago Gomes/Agência Pará)
Semana de los Pueblos Indígenas en la ciudad de São Félix do Xingu, estado norteño de ParáThiago Gomes/Agência Pará
Resistencia
En la opinión del padre Roberto Marie de Zalicourt, del Consejo Indigenista Misionero de Amazonas, si quieren preservar sus propias referencias en la ciudad, los indígenas tienen que unirse. “Hay familias indígenas en todos los barrios de Manaus, pero no son reconocidas, por lo que tienden a perder su propia cultura. Sin embargo, pueden conservar sus rasgos particulares cuando están unidos y organizados.”


Traducción: Lucas Magdiel

Fonte: Indígenas en ciudades brasileñas se enfrentan a la pobreza y al prejuicio

O Globo – Grileiros já ameaçam terras indígenas / Coluna/ Míriam Leitão

O Globo – Grileiros já ameaçam terras indígenas /
Coluna/ Míriam Leitão


Em uma semana o presidente Jair Bolsonaro fará sua estreia em Davos e a ordem interna foi de mobilização para preparar uma boa apresentação. Os outros dois integrantes do governo que falarão lá são conhecidos do mercado e dos presentes nesse encontro anual, o ministro Paulo Guedes e o ministro Sergio Moro. O foco será melhorar a imagem do governo que, admite–se internamente, não é boa no exterior. Eles, contudo, enfrentarão outros problemas.

O primeiro é que a elite do capitalismo mundial, que se reúne anualmente nas montanhas geladas que inspiraram Thomas Mann, há muito tempo mudaram–se de ar mas e bagagens para um conceito mais atual de sustentabilidade. Querem ouvir Paulo Guedes contar como tornará as contas públicas sustentáveis. Querem ouvir a história do juiz ícone do combate à corrupção no Brasil, agora em nova função. Mas querem também saber o que o governo pretende fazer para proteger florestas e seus povos originais. Não por querer interferir nos destinos internos do país, mas porque o combate aos gases de efeito estufa, a luta contra as mudanças climáticas, exige que cada um faça a sua parte. E o Brasil mesmo escolheu a sua parte: atingir o desmatamento zero em 2030. Ontem, o ministro do Meio Ambiente disse que o país continuará no Acordo de Paris. Mas o governo tem criticado essas metas.

Neste momento, grileiros estão se sentindo estimulados, pelos sinais exteriores do governo, a invadir terra pública, principalmente terra indígena. Foi o que já começou a acontecer na Terra Indígena (TI) Uru–eu–wau–wau, a 322 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia, segundo informou a “Folha”. O risco, segundo o relato do jornal paulista, é enorme, porque os grileiros avisaram aos índios que o acampamento deles vai aumentar. O Instituto Socioambiental confirma o perigo sobre essa área.

Recebo notícia das aldeias Awá Guajá, no Maranhão, onde estive com o fotógrafo Sebastião Salgado,em2013.Asinformaçõessãodequeos grileiros estão se organizando em São João do Caru para retomar as terras das quais foram expulsos na desintrusão havida em 2014. Ontem, o cacique Antonio Guajajara, da TI dos Caru, me disse que o perigo realmente é grande. A terra Awá Guajá, um paraíso raro no Maranhão devastado, já foi demarcada e homologada. Vinha sendo sitiada por invasores, que foram retirados.   

Agora os grileiros se reúnem novamente. Neste domingo foi marcada uma reunião em Maguary e convocados, para ela, produtores de São João do Caru, Governador Newton Bello, Zé Doca e Centro Novo. O objetivo é voltar para a terra indígena. Os índios da aldeia Juriti são os mais ameaçados. Para fazer a reportagem, eu passei uma semana nessa aldeia. A maioria dos índios nem fala português porque a etnia foi contatada nos anos 1990. São poucos e vulneráveis e a terra que preservam é preciosa porque é um dos últimos remanescentes da Floresta Amazônica no Maranhão. Fiz lá, com Salgado, a reportagem “O Paraíso Sitiado”, que ganhou o prêmio Esso. Os grileiros são conhecidos e estão se organizando para invadir de novo as terras. Os índios começaram a pedir socorro a outros indígenas da região. Pode haver uma tragédia.

Se o governo Bolsonaro não fizer imediatamente um sinal claro de que isso não será permitido, haverá uma onda de invasões de terras indígenas. A própria Funai alertou que a TI Arara, no Pará, estava sendo invadida. O ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz disse, na entrevista que me concedeu, na semana passada, que é um absurdo interpretar que o governo aceitará invasões de grileiros. Mas é assim que estão sendo entendidas as decisões tomadas pelo governo Bolsonaro de enfraquecera Funai, levá–la da Justiça para o Ministério da Mulher e Direitos Humanos e entregar a demarcação de terras indígenas a um líder ruralista dentro do Ministério da Agricultura.

Os investidores hoje não olham apenas a performance da bolsa, a reforma da Previdência, a trajetória da dívida. Querem saber desses indicadores econômicos, mas muitas empresas e fundos têm limitações nas suas regras de conformidade e de governança a investir em países que desmatam, ignoram os compromissos no combate à mudança climática ou onde grileiros invadem terras indígenas.

Os discursos do presidente e dos seus ministros podem ser muito aplaudidos, mas num segundo momento o que o governo Bolsonaro tem dito e feito nas áreas climática, ambiental e de direitos indígenas pode se voltar contra o objetivo de atrair investidores. Nem só de ajuste fiscal vive a imagem de um país, mesmo diante dos capitalistas.

Bolsonaro fará estreia em Davos, com os investidores de olho no ajuste, mas também em temas sensíveis, como as políticas ambiental e indígena

O Estado de S. Paulo – Ex-presidente da Funai volta ao cargo

O Estado de S. Paulo – Ex-presidente da Funai volta ao cargo


Franklimberg de Freitas ocupou presidência até abril de 2018, quando deixou posto por pressão da bancada ruralista

André Borges / BRASÍLIA

O general Franklimberg Ribeiro de Freitas vai assumir novamente a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) no lugar de Wallace Bastos, que pediu exoneração do cargo ontem à tarde. A escolha do general foi feita pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, ao qual a Funai está vinculada.

O general deixou a presidência da Funai em 19 de abril do ano passado, onde estava desde janeiro de 2017. Na época, o então presidente Michel Temer recebeu reivindicação de parlamentares ligados à bancada ruralista pedindo a sua saída. A queixa era que Franklimberg não colaborava com o setor no processo de demarcação de terras indígenas.

Procurada ontem, a Frente Parlamentar da Agropecuária informou que não iria se manifestar sobre a indicação de Franklimberg para a Funai.

O órgão foi transferido do Ministério da Justiça para a pasta de Damares e os processos de demarcação de terras indígenas deixaram de ser responsabilidade da Funai – agora são atribuição da Secretaria de Assuntos Fundiários, vinculada ao Ministério da Agricultura.

Franklinberg disse que volta à Funai com a promessa de tocar o órgão sem ingerências políticas. “Como conversei com a ministra Damares, vou ter a oportunidade de escolher o pessoal que vai trabalhar comigo. Esse é um grande diferencial em relação à situação anterior”, afirmou. “A Funai vai melhorar. Estamos sempre pensando em formas de apoiar a causa indígena. E esse será o foco de nossa gestão.” O general decidiu trocar toda a diretoria do órgão.

Ao Estado, a ministra disse que a escolha de Franklimberg levou em conta sua experiência na área. “Queremos dar uma atenção especial aos índios de áreas de fronteira. O presidente quer que o Estado fale diretamente com essas pessoas. E o general Franklimberg conhece a Amazônia como ninguém. Ele é de origem indígena, é muito querido pelos índios”, afirmou Damares.

Doutor em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Franklimberg é general de brigada e assessor de relações institucionais do Comando Militar da Amazônia. Como oficial general, comandou a 1.ª Brigada de Infantaria de Selva em Roraima e foi chefe do Centro de Operações do Comando Militar da Amazônia.

O presidente Jair Bolsonaro já afirmou que não vai declarar “nenhum centímetro de terra indígena” em seu governo e promete rever, inclusive, processos de terras indígenas que já foram homologadas. Em outra frente, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também pretende abrir as terras indígenas para acordos entre indígenas e ruralistas interessados em explorar as terras, o que hoje é proibido por lei.

“Vou ter a oportunidade de escolher o pessoal que vai trabalhar comigo. Esse é um grande diferencial em relação à situação anterior.” Franklimberg de Freitas NOVO PRESIDENTE DA FUNAI