Bolsonaro justifica falha na fiscalização ambiental por causa do “tamanho da Amazônia”
Salada Verdequinta-feira, 23 julho 2020 23:15
Assim como a cloroquina, dizer que a culpa pelas queimadas na Amazônia são de indígenas e caboclos virou um dos assuntos favoritos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Por quase seis minutos, o chefe do Executivo defendeu que é impossível fiscalizar a Amazônia “maior que a Europa”, argumentou, que repassar a posse de terras para quem invadiu inibirá queimadas e terminou dizendo que outros países perderam florestas, mas aqui não. A fala ocorreu em sua tradicional live realizada todas as quintas-feiras.
“Se vocês olharem bem [mostrando uma foto da Nasa], na região Amazônica não tem nada vermelho. A floresta não pega fogo. Então é uma campanha maldosa o tempo todo contra o Brasil porque isso tem a ver com a economia. O Brasil é um gigante do agronegócio”, disse Bolsonaro.
Logo após afirmar que a Amazônia não pega fogo, embora mostre uma imagem com focos de calor em áreas de Rondônia, Pará, Acre e Mato Grosso, estados que estão dentro do bioma Amazônia, Bolsonaro afirma que, sim, tem uns pequenos focos em “certas regiões”, mas que é coisa “de caboclos e indígenas”.
“Pessoal, tem certas regiões aqui, com foco de incêndio que existe, e vai existir quase todo ano, que é o caboclo, é o índio que toca fogo. Se ele não tocar fogo, é a cultura dele, ele não vai comer, não tem nada o que comer no ano seguinte”, disse. “E mais ainda, o tamanho da Amazônia é maior que a Europa toda, não tem como você fiscalizar”, exagera o presidente. Na verdade, a Europa [10.180.000 km²] tem mais que o dobro da Amazônia brasileira [4,196.943 milhões de km²] em área.
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Sobre queimadas, em 2019 o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) fez uma análise sobre a geografia dos focos de calor registrado naquele ano na Amazônia. Segundo o levantamento, 33% dos focos foram localizados em propriedades privadas, 30% em áreas sem destinação fundiária específica e 18% em assentamentos de reforma agrária. Focos em terras indígenas representaram 6% das áreas queimadas entre 1º de janeiro e 29 de agosto do ano passado.
Regularização fundiária
Bolsonaro também voltou a defender a MP da regularização fundiária, que caducou no Congresso e foi reapresentada como projeto de lei. Segundo ele, caso fosse aprovada, a regularização fundiária inibiria as queimadas, já que daria para saber quem colocou fogo no terreno. “Então, com essa regularização, caso fosse aprovado, cada pedaço de terra no Brasil você podia detectar por satélites na terra de quem está aquele incêndio. Mais ainda, saber se naquela área ele poderia praticar isso ou não. Que na região amazônica, por exemplo, 20% da propriedade você pode investir na agricultura, você pode desmatar. 80% não (…). Isso nos ajuda a não só identificar quem, porventura, de forma criminosa, tocou fogo ou desmatou a sua propriedade, bem como vai inibir essa prática e vai acabar com essa pressão internacional, muita das vezes desproporcional e não verdadeira contra o Brasil”, disse.
Na verdade nada impede o governo de saber onde e como estão desmatando ou colocando fogo, se em propriedade privada ou em terras da união. Tampouco ninguém está proibindo o governo de regularizar as terras dos pequenos proprietários rurais usando a lei vigente, para isso basta o Incra não fazer o que fez ano passado, quando regularizou apenas 6 posses em toda Amazônia brasileira. A média de regularização fundiária na região entre 2009 e 2018 é de 3.190 posses por ano.
Na live, Bolsonaro também falou que, se somar todas as áreas desmatadas na Amazônia nos últimos 20 anos, dá uma “América do Sul todinha” e depois afirma que outros países desmataram, “mas que o Brasil não”.
“Só pra curiosidade, no início do século passado, não sei quem foi quem disse (fala segurando uma folha), não me botaram uma fonte aqui, tínhamos 10% das florestas do mundo. Hoje temos 30%. Não é que foi plantado mais árvores no Brasil, é que em outros países houve desmatamento. Aqui não”, disse.
E termina falando que a Europa deveria começar a reflorestar “para dar exemplo para nós”. “Não querer reflorestar o que já tem floresta aqui no Brasil, no caso, Amazônia”, finaliza. (Daniele Bragança)
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