Imagem que mostra conexão intrínseca entre animais, plantas e ambiente vence o Wildlife Photographer of the Year 2024
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Você já reparou como lagartixas podem ser muito rápidas? Antes mesmo de nos aproximarmos, elas fogem rapidamente. Pois biólogos da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, descobriram que esses répteis têm uma espécie de 'sexto sentido' na audição. Segundo o estudo publicado pelos pesquisadores da instituição no jornal Current Biology, as lagartixas usam o sáculo, uma estrutura do ouvido interno associada à manutenção do equilíbrio e posicionamento do corpo, para detectar vibrações de baixa frequência. Ainda de acordo com os biólogos, esse sexto sentido, até então desconhecido pela biologia, também desempenharia um papel complementar à audição normal e a como elas percebem o mundo ao seu redor. “O ouvido, como o conhecemos, ouve sons transportados pelo ar. Mas esse mecanismo interno ajuda as lagartixas a detectar vibrações que viajam por meios como o solo ou a água”, explica Catherine Carr, professora de biologia da universidade e coautora do artigo. Os pesquisadores acreditam que outros répteis e anfíbios também podem fazer uso dessa mesma ferramenta da audição. “Muitas cobras e lagartos eram considerados ‘mudos’ ou ‘surdos’ no sentido de que não vocalizam sons ou não ouvem sons bem”, diz Dawei Han, principal autor do estudo. “Mas acontece que eles poderiam estar se comunicando por meio de sinais vibracionais usando essa via sensorial, o que realmente muda a maneira como os cientistas entendiam percepção animal em geral.” Para os cientistas, a descoberta sobre essa audição especial das lagartixas também traz luz ao processo evolutivo dos sistemas sensoriais dessas espécies e pode sugerir que a transição de ambientes aquáticos para terrestres "provavelmente envolveu mudanças mais complexas e graduais nos mecanismos auditivos do que se pensava anteriormente." “As implicações desta pesquisa se estendem além do mundo dos répteis”, acredita Han. “À medida que descobrimos esses mecanismos ocultos, também estamos obtendo uma imagem mais rica e matizada de como os animais percebem e interagem com seus ambientes - e potencialmente, novos insights sobre nossas próprias experiências sensoriais.” *Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação da Universidade de Maryland |
Todavia, desde que começou a retirada de areia e lodo do fundo do solo do rio no dia 18 de agosto, ribeirinhos já encontraram três peixes-bois e dois botos sem vida, além de peixes menores e quelônios.
“Foi só começar a dragagem que eles começaram a aparecer mortos nas proximidades. Já na segunda-feira depois do início. Antes não se via esses tipos de animais morrendo nas margens do rio Amazonas”, diz o marinheiro Nadson Mendes Oliveira, coordenador da associação Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem (CDID).
“Ficamos admirados porque os botos são muito espertos, sempre evitam as redes de pesca, e por isso nos causou surpresa ver os animais mortos na beira da praia”, diz o pescador artesanal Joílson Batista Régis.
Com quase duas décadas de experiência no ecossistema amazônico, Fábio Cunha, doutor em Ecologia Aquática e Pesca pela Universidade Federal do Pará, não acredita que a mortandade observada em Juruti seja um fenômeno natural. “Os mamíferos aquáticos são espécies consideradas bio-indicadoras da integridade ambiental, a presença delas indica que os ambientais estão, potencialmente, em equilíbrio. Do modo contrário, as mortes desses animais podem indicar uma alteração na paisagem severa com consequências na vida das espécies”, diz.
Assim como a seca histórica que atingiu regiões da Bacia Amazônica em 2023, quando alguns rios chegaram aos níveis mais baixos em mais de 120 anos de registro, em 2024 já há alerta que tragédia semelhante possa ocorrer. Só no lago Tefé, no Amazonas, mais de 150 botos cor-de-rosa, animais em perigo de extinção, morreram no ano passado.
E a dragagem de rios só coloca mais pressão sobre essas espécies aquáticas.
“Você tem um maquinário ou uma tubulação retirando o substrato do fundo do rio. Pensa que você está numa praia e de repente se encontra no meio de uma tempestade de areia que te envolve. Os botos, (golfinhos de água doce), como os golfinhos marinhos, se orientam embaixo d’agua usando a ecolocalização e essa tempestade também atrapalha eles se localizarem e acharem suas presas”, explica Vera Silva, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e coordenadora do Laboratório de Mamíferos Aquáticos.
A especialista lembra ainda do impacto do barulho desse maquinário sobre peixes-bois, botos e tucuxis, que se comunicam por sons. Além disso, após o fim do processo da dragagem, com a remoção do substrato do fundo do rio há a dispersão de qualquer material tóxico, como mercúrio, por exemplo, que volta à tona nesse ambiente.
“Há várias consequências para o meio ambiente. Dragar nunca foi algo saudável ou sustentável. Está só se adiando um problema ou mudando ele de local. O impacto para os organismos aquáticos é intenso”, alerta Vera.
Filhote de boto encontrado morto em Juruti
Foto: acervo Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem
Cunha também ressalta que projetos de dragagem dos rios, sobretudo nos grandes rios da Amazônia e no período da seca, devem ser pensados com muita cautela.
“As secas dos rios cada vez mais intensas devido às mudanças climáticas, mas também como consequência dos usos múltiplos dos rios – grandes navios para transporte de minérios e balsas cada vez maiores, são sérios os impactos sobre a dinâmica do pulso de inundação (regime hidrológico de enchente, cheia, vazante e seca) e isso tem causado sérios danos tanto ambientais quanto sociais”, diz ele.
Além de animais maiores, peixes menores também apareceram sem vida, segundo moradores de Juruti
Foto: acervo Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem
O Conexão Planeta entrou em contato com o departamento de comunicação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará perguntando se a Alcoa solicitou autorização para fazer a dragagem do rio e se foi solicitado à empresa um plano com medidas de proteção e mitigação para evitar a mortandade de espécies ameaçadas, como o peixe-boi e o boto. Até este momento não recebemos resposta.
Também enviamos um e-mail para a assessoria de imprensa da Alcoa que nos encaminhou a seguinte nota:
“A Alcoa Juruti informa que o processo de dragagem portuária tem sido discutido e acompanhado, desde a fase de planejamento, por um Comitê Gestor composto por representantes da companhia, das comunidades envolvidas e órgãos públicos, por meio de reuniões periódicas. A atividade está devidamente licenciada e autorizada por todos os órgãos competentes, sendo também contemplado com um Termo de Acordo de
Responsabilidade Socioambiental, incluindo o Ministério Público e a Coordenação Comunitária das Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem (CDID) do trecho Juruti no rio Amazonas.
Além disso, durante todo o período, o processo é acompanhado por uma equipe dedicada de biólogos, veterinários e auxiliares de campo em tempo integral (24 horas/dia). A Alcoa ressalta ainda seu empenho na proteção da fauna silvestre e por isso, mantém o Centro de Reabilitação de Animais Silvestre (CRAS), que é referência no tratamento desses animais.
Todas as medidas preventivas e de redução de impacto firmadas com os órgãos competentes e com as comunidades estão sendo rigorosamente cumpridas pela empresa, reforçando o comprometimento e a responsabilidade socioambiental da Alcoa em Juruti.”
Ainda segundo a nota da Alcoa, apenas um boto morto teria sido encontrado na margem do rio Amazonas.
“O animal foi encontrado já em estágio avançado de decomposição, em uma praia da região de Santana, localizada fora da área de influência da dragagem. Assim que identificado, o animal foi encaminhado para o CRAS para emissão do laudo com a causa morte. A avaliação preliminar indicou que o animal apresentava sinais de escoriações na região dorsal próxima a cabeça e marcas de redes de pesca”, afirma a multinacional.
Contudo, o que apurou a reportagem até agora, os relatos são de mais de um animal morto.
Ribeirinhos ao lado de um dos animais mortos no rio Amazonas
Foto: acervo Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem
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Foto de abertura: acervo Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem