- domingo, 06 agosto 2017 23:15
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Hoje o Sistema Nacional de Trilhas dos Estados Unidos conta com trinta trilhas de longo curso que juntas somam mais de 80 mil quilômetros de caminhos sinalizados e oficialmente protegidos. Do ponto de vista da conservação, essas trilhas funcionam como conectores de paisagens, cujo equivalente legal no Brasil é o corredor ecológico.
Como toda ideia genial, a AT de Ben Mackaye logo ganhou cópias pelo mundo afora. Hoje há no mundo mais de 200 trilhas de longo curso. Somente no Reino Unido elas são 19. Em outros países ricos, como Austrália, França, Canadá, Espanha e Alemanha há dezenas delas, mas mesmo em nações menos abastadas como Armênia, Eslovênia, Líbano, Chile, Argentina, Panamá, África do Sul, Coreia, Egito, Jordânia, Albânia, Hong Kong e Dominica existem trilhas de longo curso completamente sinalizadas e em plena operação.
O conceito deu tão certo que também foi levado para o palco internacional. Na Europa, além da Friendship Trail entre a Polônia e a República Tcheca e a trilha Peaks of Balkans que liga Albânia, Montenegro e Kosovo, há hoje 12 Trilhas Europeias, cada uma com mais de 2.000 km de distância. Juntas formam uma rede de caminhadas com 55 mil quilômetros, que tornam possível caminhar desde a Turquia até a Irlanda, ou desde Portugal até a Turquia, para citar apenas duas possibilidades.
Expansão transfronteira
“Assim, sem acordos ou negociações
diplomáticas, mas somente com a pressão dos usuários de uma trilha,
estabeleceu‑se um dos maiores corredores ecológicos do mundo, que só
funciona porque conta com grande apoio social no campo e cooperação
bilateral, ainda que executada, sobretudo, de maneira informal.”.
Hoje, não só pelo valor que tem como rota de migração de espécies, mas também graças ao seu uso contínuo por montanhistas, que ajudam a desenvolver a deprimida economia rural que atravessa o trecho canadense da Appalachian Trail, tem o apoio financeiro e de manejo das agências provinciais de unidades de conservação do Quebec, New Brunswick, Prince Edward Island e Newfoundland, bem como do Serviço Canadense de Parques Nacionais. Assim, sem acordos ou negociações diplomáticas, mas somente com a pressão dos usuários de uma trilha, estabeleceu‑se um dos maiores corredores ecológicos do mundo, que só funciona porque conta com grande apoio social no campo e cooperação bilateral, ainda que executada, sobretudo, de maneira informal.
Aqui na América do Sul, países como Chile, Peru e Argentina já estão implementando suas trilhas de longo curso e, mesmo o Brasil cujo território foi inicialmente habitado por culturas indígenas sedentárias e nômades e depois desbravado nas longas caminhadas dos bandeirantes, começa a levantar de seu berço esplêndido.
Até onde eu saiba, os primórdios das trilhas de longo curso em nosso país remontam a 1996. Naquele ano, quando trabalhava nos Jogos Olímpicos em Atlanta, tomei conhecimento da existência da Appalachian Trail. O contato com a ideia logo despertou o óbvio: “porque não fazer uma trilha semelhante no Brasil?”
De volta, foram colocadas mãos à obra e, como quem não tem genialidade para inventar cópia, recorreu-se à réplica mais perfeita possível: uma Appalachian Trail brasileira, correndo de norte a sul pela Serra do Mar, que é a nossa equivalente das Montanhas Apalaches.
Também, como na Appalachian Trail, aplicou-se a estratégia de começar pequeno por onde houvesse mais apoio para que esse primeiro trecho, com identidade e logotipo próprios, pudesse servir como embrião de uma trilha maior ao longo do litoral brasileiro, servindo como um conector de áreas núcleos em nossa tão fragmentada Mata Atlântica.
Nesse sentido, o projeto teve início em 1999, com a sinalização de 60 km na Floresta da Tijuca, cujo traçado já foi pensado para poder ser expandido para todo o Município do Rio de Janeiro, no que viria a ser a Trilha Transcarioca. Essa por sua vez, em sua concepção publicada no livro Trilha Transcarioca, Todos os Passos de um Sonho, foi pensada para ser o primeiro trecho de uma Appalachian Trail brasileira, “colocada estrategicamente para conectar-se com outros três importantes caminhos. Antes de seu início estão a Trilha do Ouro entre São José do Barreiro e Mambucaba e a Volta da Ilha Grande, onde se pega uma lancha até o Abraão e a Trilha Circular da Ilha Grande, de onde também é possível imaginar uma conexão marítima, dessa vez com a Marambaia. Após o seu final, o transcarioqueiro pode...tomar uma lancha até o Porto da Estrela. Lá se inicia a jornada pela trilha mãe do Brasil, a Estrada Real.”
Em meados de 1998 fui convidado pela prefeitura de Angra dos Reis para visitar a Ilha Grande para uma consultoria informal ao Projeto de Sinalização das Trilhas que estava sendo implementado lá. Na ocasião, dei uma palestra na Vila do Abraão, que resultou em um estimulante debate sobre a possibilidade de operar a volta da ilha como a primeira trilha de longo curso estruturada do Brasil. Houve até quem fosse além e propusesse a ligação ao continente e a extensão da trilha até Paraty, ligando natureza e história.
No mesmo ano fui contratado pelo SEBRAE para ministrar uma série de cursos para turmas de aspirantes a Guias de Atrativos Naturais em diferentes cidades do Estado do Rio de Janeiro. Um dos lugares em que dei aulas foi Paraty. Lá, ao explicar o conceito de Trilhas de Longo Curso, fui apresentado à Trilha do Ouro de Paraty e à Volta da Juatinga. O então Chefe da APA do Cairuçu, Ney Pinto França, também me mostrou as trilhas do Quilombo do Campinho, todas se entrelaçando e sugerindo uma trilha de longo curso cada vez maior ao longo da Mata Atlântica Fluminense. Em Paraty também houve quem me assegurasse que, ao contrário do senso comum, a ligação colonial do Rio às vilas da baía da Ilha Grande não era feita só de barco. Também havia uma trilha e valia a pena recuperá-la. Junto com a Trilha Transcarioca e a Travessia Petrópolis-Teresópolis, formariam o embrião de nossa Appalachian Trail tupiniquim.
Voltei para casa estimulado e fui buscar nos livros algo que comprovasse a existência do caminho terrestre. Vasculhei a Coleção dos Viajantes; um por um, todos se deslocavam sempre pela Estrada do Real, do Rio ou de Santos, em direção a Minas Gerais. Descrições da Estrada Real havia muitas, por diversos caminhos, mas trilha no sentido norte-sul, nada.
Quando já ia quase desistindo, resolvi consultar Johann Emanuel Pohl. Comprara Pohl por conta das ricas descrições de suas andanças na Goiás oitocentista, que me senti curioso para vivenciar quando morei em Brasília entre 1994 e 1995, ao tempo em que cursei o Instituto Rio Branco. Folheei o livro sem grandes pretensões, mas eis que lá estava um capítulo com o que me interessava: “Viagem no Território do Rio de Janeiro à Angra dos Reis”.
“Ao que parece, as trilhas de então não eram
melhor que as de hoje “o caminho era extraordinariamente difícil.
Subimos árduos rochedos de setenta centímetros de altura, entre os quais
as chuvas haviam rasgado calhas. Depois vieram massas ásperas
alternadas com cascalho graúdo. Grossos galhos e ramos pendentes
dificultavam mais a travessia. Nesse caminho horrendo os animais não
tinham marcha segura....a trilha era extremamente escarpada e em pouco
tempo se tornou tão perigosa que tivemos que apesar de nossas montarias
para não nos ferirmos nas curvas pedregosas do caminho...”.
Havia trilha e havia história! Então havia esperança de copiar no Brasil também a esplêndida ideia de Benton MacKaye.
No outro sentido, em 1999 tive o privilégio de acompanhar Raphael Olivé no desbravamento do trecho da Estrada Real entre o Porto da Estrela- ou Cais dos Mineiros-, no fundo da baía de Guanabara, e Petrópolis. Foi uma caminhada penosa, temperada por uma prosa boa em que o autor belorizontino me expôs seus sonhos de sinalizar a antiga rota colonial entre o Rio e as Minas e transformá-la em uma espécie de Caminho de Santiago brasileiro. Mais tarde, Raphael me deu a honra de escrever o prefácio de seu “Guia da Estrada Real para Caminhantes” onde ele se firmou como um dos idealistas que lançaram as bases para o bem sucedido projeto Estrada Real, que tantos turistas atrai no dia de hoje.
Não chega a ser a Estrada Real que gostaríamos: uma trilha de longo curso servindo também como conector de fauna, aproveitando veredas e caminhos existentes, reflorestando outros e abrindo mais uns quantos. A Estrada Real de hoje está sobretudo em estradas de terra e campos abertos. Apenas 10% dela aproveita trilhas e rotas antigas. Nada, contudo, que nos impeça de continuar sonhando. Falaremos disso mais adiante.
Em 2000, logo após implementar as Trilhas Circulares da Floresta da Tijuca e depois de lançar a ideia da Trilha Transcarioca, fui selecionado pelo governo americano como bolsista do programa International Visitors para o tema Parques Nacionais. No âmbito da bolsa, foi-me oferecido um périplo de 28 dias aos Estados Unidos para visitar locais de minha escolha. Não pestanejei. Desenhei uma viagem voltada para dois focos: estudar unidades de conservação urbanas e aprender a planejar, implementar, manter e administrar trilhas de longo curso. Visitei a Appalachian Trail, a Tahoe Rim Trail, a San Francisco Bay Trail e a Pacific Crest Trail. Conversei com gestores, voluntários, provedores de serviços, usuários e moradores do entorno. Voltei ao Brasil cheio de gás.
De volta ao começo
Quase não tive tempo de colocar em prática o que aprendi. Fui exonerado da Chefia do Parque Nacional da Tijuca e voltei para o Itamaraty, que enviou-me para o Consulado-Geral do Brasil em Sydney. Na Austrália, nas horas vagas, comecei um aprendizado profissional mais robusto no tema.
Nos três anos que passei no país caminhei de ponta a ponta a Great North Walk e a Harbour to Hawksville Trail, palmilhei vários trechos da Bibbulmun Track, da Cape to Cape, da Larapinta Trail, da Heysen Trail, da Overland Track, da Fraser Island Great Walk, da Australian Alps Walking Track e da Tops to Myall Trail. Mais do que caminhar, interagir com os diversos agentes envolvidos na construção, manejo e governança dessas trilhas fez uma grande diferença no conhecimento acumulado.
Conhecimento que parecia destinado a não ser usado nunca. Da Austrália fui para Nairobi, do Quênia para Portugal e da Lusitânia para a África do Sul. Nesses 10 anos as trilhas de longo curso foram se acumulando: GRR1 e GRR2 em Reunião; GR em Mayotte; Otter, Tsitsikama, Whale, Hoerikwaggo e Harkerville trails na África do Sul; GR da Serra da Estrela e Rota Vicentina em Portugal; Turacco Trail no Zimbábue; Sendero de Chile; Waitukubuli em Dominica; E 1, E 5, E 9, Via Alpina e Peaks of Balkans na Europa; Bruce Trail, Pan Am Path e International Appalachian Trail no Canadá; Florida Trail nos Estados Unidos; Jeju Ollé na Coreia; West Highland Way na Escócia; Israel Trail em Israel; GR 13 na França; Wicklow Way na Irlanda; Taff Trail, Pennine Way e Hadrian's Wall na Inglaterra e Laugavegur Treck na Islândia; além do clássico O+W em Torres del Paine e do Monte Roraima.
Quando, em 2010, voltei ao Brasil para assumir a Diretoria de Criação e Manejo do ICMBio estava bem mais preparado, além de muito motivado. O que fez a diferença, contudo, foi que, a partir de então, comecei a conhecer outras pessoas que também tinham o sonho de desenvolver trilhas de longo curso no Brasil, a começar pela própria equipe que recebi bem azeitada de Ricardo Soavinsky, um dos maiores defensores do Uso Público no Brasil. Entre eles destaco especialmente Bernardo Issa, Sonia Kinker, Fabio França, Paulo Faria, Thiago Beraldo, Mateus Sonego, Luis Neves e Ernesto Viveiros de Castro, que logo seria removido de Brasília para o Parque Nacional da Floresta da Tijuca, onde ajudou a implementar a Trilha Transcarioca.
Em Brasília, esse time concebeu o projeto “Travessias”, cujo objetivo era implementar trilhas com pelo menos um pernoite no maior número possível de nossas unidades de conservação. Colocamos a mão na massa. Com o apoio inestimável de Carla Guaitanelle, então Chefe do Parque, nos envolvemos pessoalmente na implementação da Travessia das Sete Quedas na Chapada dos Veadeiros. O projeto foi tão bem sucedido que hoje, quatro anos depois, a trilha opera praticamente com 100% de sua capacidade, tendo colaborado, desde sua inauguração, junto com o fim da obrigatoriedade de contratação de guias, para o aumento da visitação no Parque em 230%.
Mas não foi só: houve também um grande esforço na busca de parceiros, treinamento e implementação de novas trilhas. Bastante energia foi colocada na capacitação e implementação de travessias na Serra do Mar paranaense, onde o ICMBio administra diversas unidades de conservação. Com esse objetivo, foram feitas visitas aos Parques Nacionais de Superagui, Saint-Hilaire/Lange e (depois de minha exoneração) Guaricana e à APA de Guaraqueçaba, além dos Parques Estaduais da Ilha do Mel, Serra da Baitaca e Marumbi e às APAs estaduais de Guaratuba e Graciosa. Também foi inspecionado o Parque Estadual de Acaraí, na Ilha de São Francisco, em Santa Catarina, para verificar as possibilidades de conexão com o complexo de áreas protegidas do litoral paranaense.
Entusiastas
No Paraná, depois de devorar os excelentes livros Caminhos Coloniais da Serra do Mar e Caminhos do Sul, que nos descortinam as estradas coloniais e imperiais da Graciosa e do Itupeva, cujos traçados praticamente imploram para serem incluídos em um circuito maior de caminhadas, solicitei ajuda da excelente equipe do Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange. Contei também com a intermediação, e com os contatos feitos por Pedro Hauck, montanhista de renome no Brasil e detentor do maior prêmio do montanhismo brasileiro, o “Mosquetão de Ouro” outorgado pela Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada. Pedro é entusiasta de primeira hora da implementação de uma trilha de longo curso no Paraná. Nos apresentou pessoas e abriu portas.
Uma vez feitas as apresentações, houve cursos de sinalização rústica com participação do Instituto de Áreas Protegidas do Paraná, do CPM - Clube Paranaense de Montanhismo e da AMC - Associação de Montanhistas de Cristo, cujos sócios, sob a batuta de Marcelo Brotto, Vitor Hugo Lau, Getúlio Vogetta e Daniel Lambert, nos acompanharam nas travessias que fizemos à Torre do Prata, no Saint Hilaire/Lange e no Parque Nacional do Guaricana, em busca de alternativas para a implementação de uma trilha de longo curso.
Mais tarde, o montanhista dublê de caiaqueiro Alexandre Lorenzetto, vulgo Sassá, e sua companheira Galiana Lindoso, casal com larga experiência no planejamento do uso público de unidades de conservação e em elaboração de planos de manejo, começou a mapear as possibilidades de ligação entre a terra e as ilhas da Baía de Paranaguá, de modo a desenhar o melhor traçado possível para a nossa Appalachian Trail em solo paranaense.
Quase ao mesmo tempo, o Chefe do Parque Nacional de Serra dos Órgãos, Leandro Goulart, e sua equipe conceberam o Caminho da Serra do Mar, ligando a Baixada Fluminense até o Parque Estadual dos Três Picos, com possibilidades de chegar até “Casimiro de Abreu, ou Vitória, vai depender da disposição de nossos caminhantes… trilhas existem!”, depois de cruzar a APA estadual de Macaé de Cima. Com ajuda de Ivan Monteiro, Pheterson Godinho e da afinada equipe de servidores do PARNASO, o trabalho não tardou a começar e a trilha hoje já está 100% sinalizada.
Para pensar o tema de forma estruturada e não repetir erros de outros, em 2012 e novamente em 2013 promovemos o I e II Seminários Internacionais de Trilhas de Longo Curso, onde tivemos a oportunidade de conhecer a fundo algumas experiências sul-africanas e norte-americanas no assunto.
Ainda em 2013, por iniciativa de Milton Dines e com apoio da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, realizamos a primeira reunião técnica visando a implementação da Trilha Transmantiqueira, começando no Parque Estadual dos Campos do Jordão e terminando no Parque Estadual da Pedra Selada, depois de passar pela APA da Mantiqueira, pelo Parque Nacional do Itatiaia e pelo Parque Estadual da Serra do Papagaio. Nos debates do evento, vislumbrou-se a conexão dessa travessia de 20 dias com o Parque Nacional da Bocaina e, através da Trilha do Ouro, com Paraty e/ou Mambucaba, Ilha Grande e Trilha Transcarioca, conectando-se então com o Caminho da Serra do Mar. Aos poucos a Appalachian Trail brasileira começava a ganhar contorno e rota.
Naquele mesmo ano, liderei uma expedição na recém reaberta travessia Rebouças x Mauá, no Parque Nacional do Itatiaia, coração da Transmantiqueira, com o intuito de sensibilizar alguns tomadores de decisão do setor privado da importância do estabelecimento de trilhas de longo curso para o fortalecimento do ecoturismo como ferramenta de conservação no Brasil.
Embora a Transmantiqueira ainda não esteja sinalizada, nem tenha início e fim definidos de forma unânime, basta consultar o wikiloc para verificar que ela já existe e é percorrida. Em 2015, o corredor Pablo Bucarelli completou 397 quilômetros dela em seis dias. Enquanto escrevo esse histórico, o montanhista gaúcho Tiago de Pellegrini Korb, Marcos Irajá e Luciana Moro estão no meio de uma caminhada que cobrirá quase o dobro da distância. Serão 630 km entre Extrema e Airuoca.
Com tanta gente transmantiqueirando, no final de 2015, com instrutores da Trilha Transcarioca, a então chefe do Parque Estadual mineiro da Serra do Papagaio, Clarice Silva, promoveu uma oficina que a permitiu manejar e sinalizar as trilhas da unidade de conservação com padrão equivalente ao da primeira Trilha de Longo Curso do Brasil. Rafael Teixeira, um dos montanhistas que Clarice alistou para o curso tampouco perdeu tempo. Levou as técnicas aprendidas à Associação de Montanhismo e Proteção da Serra da Mantiqueira, que logo tomou a si a responsabilidade de sinalizar e manejar o trecho da Transmantiqueira conhecido como Serra Fina.
De volta ao Estado do Rio de Janeiro, de sua residência em Angra dos Reis, Cesar Américo começou a ligar os pontos e propôs os Caminhos da Costa Verde, uma sequência de trilhas contínuas, ligando a Trilha Transcarioca ao Vale do Paraíba, onde se conectariam à Transmantiqueira. Do pensamento, Cesar foi à ação. Procurou a Trilha Transcarioca para entender como era feita sua sinalização e governança e logo botou em prática o projeto de tirar sua ideia do papel, com identidade, logomarca e governança próprias, incorporando lideranças e conhecimento locais, como os adquiridos por João Pontes na Ilha Grande.
Nossa Appalachian Trail tupiniquim
“Independente do nome, a cópia da brilhante ideia de Benton MacKaye ainda continua a evoluir.”.
Em 2014, após retornar de uma viagem à África organizada para
integrantes da Trilha Transcarioca pelo Itamaraty em conjunto com o SOS
Mata Atlântica, que incluiu uma visita técnica na Trilha Hoerikwaggo,
Ernesto Castro publicou em ((o))eco o artigo “Caminho da Serra do Mar, o sonho de uma trilha de 2 mil km”,
em que defende a expansão da nossa Appalachian Trail ao sul, para além
do ponto inicial da Transmantiqueira, chegando até Aparados da Serra.
Mais tarde, em reunião que tive a honra de participar, o nome do projeto
foi mudado para Caminho da Mata Atlântica.Independente do nome, a cópia da brilhante ideia de Benton MacKaye ainda continua a evoluir. No ICMBio, com apoio dos chefes das Florestas Nacionais de Canela e São Francisco de Paula, Antonio Cesar Caetano e Edenice Souza, o professor universitário Michel Bregolin, especialista em trilhas de longo curso, defende tirar do papel o antigo projeto da Rota dos Caminhos dos Campos de Cima da Serra e estender nossa Appalachian Trail até Canela. Para quem, como eu, pensou em algo que terminaria na divisa do estado de São Paulo com o Rio de Janeiro, foi fascinante ouvir essa proposta.
De fato, gostei tanto dela que, acompanhado de Nelson Brugger, diretor de Meio Ambiente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, em fins de 2016, fiz a rota Serra Gaúcha x Chuí, passando pelo Parque Nacional da Lagoa do Peixe e pela Estação Ecológica do Taim. Pode levar tempo e muito trabalho (a esse propósito, lembremos que os 183 km da Trilha Transcarioca demoraram 20 anos para sair do papel). Se, entretanto, levarmos em conta que o trecho Chuí x Cassino, considerado como a maior praia do mundo, já é operado para trilheiros em uma expedição totalmente estruturada em que se caminha cerca de 235 km em sete dias, então a ideia de, ao estilo de sua irmã Pacific Crest Trail, começar nossa Appalachian Trail na fronteira parece mais que uma boa ideia; Trata-se de um objetivo plenamente alcançável. Mais do que isso, no contexto da luta pela criação do Parque Nacional do Albardão, estender a trilha até lá significa usar o conceito de trilha de longo curso para apoiar a conservação ao melhor estilo do “conhecer para conservar”.
Ainda no Sul, os mesmos Thiago Korb, Getúlio Vogetta e demais montanhistas do Paraná já mapearam mais de 200 km em bordas de canions ligando Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, até Urubici, em Santa Catarina. Nesse sentido, o novo plano de manejo proposto para o Parque Nacional de São Joaquim já incorpora em seu texto a implementação de travessias.
Em Aparados, depois de quase quinze anos de uma gestão arisca à visitação, a nova Chefe do Parque, Clarice Silva, assumiu em março e não perdeu tempo. Com ajuda do grupo voluntário Somos Todos Parque, já implantou a nova trilha na borda do Cânion Malacara. Sua intenção para 2018 é ligar os cânions Faxinalzinho- Itaimbezinho - Malacara - Fortaleza. Trata-se de caminho com 30 km.
Em Santa Catarina, para além do Parque Nacional de São Joaquim, descendo a serra em direção ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, a FATMA em gestão compartilhada com a OSCIP Instituto Çarakura, está planejando e implementando trechos da nossa Appalachian Trail, já pensando em se conectar como uma Travessia em Floripa. Na Ilha de SC, já existe um sólido movimento local de sinalização e manejo das trilhas, o Programa Roteiros do Ambiente (PRA) – Trilhas e Caminhos da Ilha de Santa Catarina, coordenado pela FLORAM (órgão ambiental municipal) e realizado em parceria com ONGs locais (Coletivo UC da Ilha, Instituto Çarakura, IMMA e IEATA).
O mesmo Instituto Çarakura tem se articulado com o Instituto Parque das Nascentes (IPAN) e outras ONGs e voluntários locais e com a Chefe do Parque Nacional da Serra do Itajaí, Vivianne Daufemback, para avançar com a implementação de trilhas e travessias por lá. O vice-presidente do Instituto Çarakura, Richard Smith, percorreu integralmente e sinalizou uma parte da Trilha Transcarioca (TT), sendo voluntário do Movimento Trilha Transcarioca, o que assegura uniformidade de métodos na implementação de nossa Appalachian Trail.
Está também desenvolvendo projeto para assegurar a segurança sanitária das trilhas e travessias em Parques, com banheiros secos e outras tecnologias de saneamento ecológico. Em Treviso, o casal de membros do MTT Sheila Zanesco e Cesar de Castro já está movimentando a comunidade local para levar os métodos e técnicas da Trilha Transcarioca para aquele trecho da Appalachian Trail brasileira.
Em São Paulo, é necessário resgatar com urgência o belíssimo projeto de 85 km da Trilha do Continuum, concebido por Anna Carolina Lobo em 2006, mas que até hoje não saiu do papel.
Por fim, também ao norte há quem defenda um Caminho da Mata Atlântica maior do que o proposto por Ernesto Castro e muito mais extenso do que o pensado por mim no livro “Trilha Transcarioca: Todos os Passos de Um Sonho”.
O Chefe do Parque Nacional do Caparaó, Anderson Nascimento, vislumbra que nossa Appalachian Trail chegue ao seu parque. Pediu ajuda ao Movimento Trilha Transcarioca para sinalizar as trilhas da unidade. Ainda em agosto, adotantes de trechos da TT, coordenados por Henrique Mendes, se deslocarão para lá para se juntar a voluntários locais nessa tarefa. Mas não fica por aí. Adriano Melo da Conservação Internacional, Fábio Faraco, Chefe do Parque Nacional do Pau Brasil e Geraldo Pereira, Chefe do Parque Nacional do Descobrimento, já estão pensando na “Rota do Descobrimento”, uma trilha de longo curso interligando as unidades de conservação do sul da Bahia. Quando estiver pronta, vai estar a um pulo de Caparaó…
Como esclarecido antes, contudo, faz muito tempo que a Appalachian Trail deixou de ser nossa única fonte de inspiração. Hoje, o objetivo não é apenas fazer uma trilha ao longo do litoral brasileiro. Queremos mais. Muito mais. A expectativa agora é costurar as diversas iniciativas existentes no Brasil para, a exemplo de outros países, estabelecermos nossa Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso.
Apoio institucional
“Sim queremos que nossas trilhas de longo
curso sejam bonitas e muito prazerosas, mas elas também precisam gerar
emprego e renda no entorno e, sobretudo, funcionar como ferramentas de
conservação”.
Com esse objetivo, no primeiro semestre deste ano o ICMBio promoveu
durante uma semana uma oficina de implementação e manejo de trilhas,
cujo foco era exatamente esse. Entre os alunos (alguns com tanto saber
acumulado que poderiam ser professores) estavam proponentes e
realizadores de diferentes trilhas de longo curso. Havia analistas
ambientais do ICMBio provenientes de todos os biomas nacionais,
servidores do IEF de Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás e
voluntários de todas as partes do Brasil.Foram escolhidos a dedo para representar os quatro cantos do país e produzir uma discussão qualificada, em que as nossas trilhas de longo curso não sejam apenas equipamentos de recreação. Sim queremos que nossas trilhas de longo curso sejam bonitas e muito prazerosas, mas elas também precisam gerar emprego e renda no entorno e, sobretudo, funcionar como ferramentas de conservação. Nesse caso, precisam servir como corredores funcionais de fauna, impedindo a fragmentação total das unidades de conservação e permitindo o fluxo de espécies entre elas, como explanou o Diretor de Áreas Protegidas da pasta, Warwick Manfrinato, na palestra de encerramento da atividade de treinamento.
Com esse objetivo, o ICMBio integra o Comitê e o Grupo Técnico do Programa Conectividade de Paisagens- Corredores Ecológicos, criado pelo Ministério do Meio Ambiente em junho passado e secretariado por Manfrinato. No âmbito do ICMBio, o desafio da Coordenação-Geral de Uso Público e Negócios é, a exemplo da Trilha Inca, citada no documento que propõe a estratégia do Programa, e a Trilha Transcarioca, mencionada por Manfrinato em entrevista ao ((o))eco, propor, planejar, capacitar os parceiros, definir os traçados (com ajuda das APPs e Reservas Legais) e implementar trilhas de longo curso que funcionem como corredores entre áreas núcleo, que podem ser unidades de conservação das três esferas de governo, áreas quilombolas, terras indígenas e áreas militares, entre outras.
Como bem demonstram exemplos de outros países, projetos dessa envergadura dependem muito menos de dinheiro do que de significativa participação e apoio local, com governança compartilhada entre instituições e sociedade civil (organizada ou não) e forte sensação de pertencimento. Trilhas de longo curso tendem a dar certo quando são planejadas de baixo para cima, de maneira que os louros e o reconhecimento de seus sucessos não sejam exclusivos de uma pessoa ou de um seleto grupo que não tenha conexão com aqueles que manejaram e demarcaram o caminho com o custo do próprio suor. Em outras palavras, para nascer e vicejar, Trilhas de Longo Curso precisam ser paridas naturalmente pelas mãos de muitas parteiras e parteiros cujo corolário é: nada de cesáreas feitas em hospitais caros e pagas com cheques gordos. O melhor parto é o caseiro em que a barriga não é de aluguel e o parteiro é o pai da criança.
“Assim, o caminho tem sido identificar
iniciativas de base local, capacitar com apoio de voluntários de outros
lugares, que já aprenderam a fazer, a exemplo dos membros do Movimento
Trilha Transcarioca, do Somos Todos Parque, do Grupo de Caminhadas de
Brasília, do Programa Roteiros do Ambiente em Florianópolis, do Grupo de
Travessias do Parque do Itajaí, dos Caminhos da Costa Verde, entre
tantos outros, e apoiar a implementação”.
Assim, o caminho tem sido identificar iniciativas de base local,
capacitar com apoio de voluntários de outros lugares, que já aprenderam a
fazer, a exemplo dos membros do Movimento Trilha Transcarioca, do Somos
Todos Parque, do Grupo de Caminhadas de Brasília, do Programa Roteiros
do Ambiente em Florianópolis, do Grupo de Travessias do Parque do
Itajaí, dos Caminhos da Costa Verde, entre tantos outros, e apoiar a
implementação.Os projetos que já contam com forte energia local, além da nossa Appalachian Trail, são:
(1) a Trilha Transespinhaço, que pode se interligar à Estrada Real, onde já iniciamos a capacitação e a troca de conhecimentos com alguns dos proponentes locais do projeto, a exemplo dos analistas do ICMBio Flávio Cerezo e Edward Elias, respectivamente Chefe e responsável pelo uso público do Parque Nacional do Cipó, Henri Collet, Plínio Oliveira e Marcos dos Santos, Diretor de Unidades de Conservação do IEF de Minas e chefes dos Parques Estaduais da Serra Nova e da Serra do Intendente, bem como diversos voluntários locais, a exemplo da Presidente da Federação Mineira de Montanhismo, Giselle Mello.
Nesse projeto, já há vários trechos implementados. Alguns por voluntários, como, por exemplo, a Travessia Diamantina x Mendanha, que é parte oficial da Estrada Real, a Travessia Lapinha x Tabuleiro e a Travessia Alto Palácio x Serra dos Alves, no Parque Nacional da Serra do Cipó. No Parque Nacional das Sempre Vivas, em articulação com o Conselho Consultivo da unidade, o analista ambiental Bruno Vinicius, está preparando a inauguração de outro trecho, com 55 km de extensão. Há diversas outras iniciativas locais que, se bem manejadas e sinalizadas, também podem integrar o projeto com grande ganho recreativo e ambiental.
(2) A Trilha Missão Cruls (nome provisório), que liga a Chapada dos Veadeiros a Goiás Velho, integrando o corredor Paraná Pireneus e passando por Brasília e Pirenópolis. Essa trilha começaria com a Travessia Sete Quedas, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que o ICMBio planeja levar até a cidade de Cavalcante.
Entre a Chapada e Brasília há várias opções, que atravessam a APA Estadual do Pouso Alto. Uma delas, denominada Brasil Central, está sendo mapeada por Orlando Barros que já desbravou mais de 240 km do seu traçado. Orlandinho, como é conhecido, mantém no facebook a página Brasil Ponto a Ponto, dedicada a inventariar trilhas de longo curso pelo Brasil. A última postagem dava conta de uma caminhada de 80 km na Chapada das Mesas, no Maranhão.
Outra opção para a Ligação Veadeiros x DF está sendo mapeada pelo líder do Grupo de Caminhadas de Brasília, entidade que mobilizou 60 voluntários e 1.600 horas de trabalho para implementar o circuito de Caminhadas da Flona de Brasília junto com o ICMBio. João Carlos Machado já palmilhou todo o trajeto entre o Parque da Chapada e a Cachoeira dos Couros, em um trajeto super bonito que tive a alegria de percorrer no início deste ano.
Depois, passaria pelo Distrito Federal, onde o ICMBio tem capacitado servidores do IBRAM e voluntários locais que já implementaram a Trilha dos Amigos e as Trilhas do Índio e do Professor, na APA do Planalto Central, e estão implementando os Caminhos da Flona na Floresta Nacional de Brasília. Nesta última unidade a trilha mais longa, com 36 km, já foi pensada para se conectar ao Parque Nacional de Brasília, pensando na criação futura de um grande corredor.
Trilha para todo lado
Da Capital Federal para o sul, a Trilha Missão Cruls poderá juntar esforços com o belíssimo Caminho de Cora Coralina, executado pelo Governo de Goiás em parceria com o grupo da sociedade civil coordenado por Bismarque Villa Real.
Bismarque vai mais longe. Para ele a Trilha Missão Cruls, pode ir além e chegar a até a Bahia pela rota descrita por Luiz da Cunha e Menezes quando veio da Baía de Todos os Santos até Vila Boa, para assumir o Governo de Goiás, em 1778. Esse caminho poderia ter como áreas núcleo o Parque Estadual Terra Ronca, o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, a Floresta Nacional Contendas do Sincorá e o Parque Nacional da Chapada Diamantina, entre outras possibilidades.
Essas três trilhas de longo curso estão pensadas para se interconectarem e, dessa forma, estimularem a criação de corredores de fauna entre a Mata Atlântica e o Cerrado.
Além delas, o projeto Travessias do ICMBio também está estimulando, em coordenação com as equipes locais e respectivos voluntários, a implementação de trilhas com pernoite em outras unidades do Brasil, como os Parques Nacionais dos Lençóis Maranhenses, do Pico da Neblina, da Restinga de Jurubatiba, do Viruá, da Chapada dos Guimarães, do Mapinguari e da Serra da Canastra, além da Floresta Nacional de Tapajós e da Reserva Extrativista Chico Mendes. Outro projeto, que está em estudo pelo Chefe do Parque Nacional do Iguaçu, ao abrigo do programa da Mata Atlântica do WWF, coordenado por Carol Lobo é o estabelecimento de uma trilha de longo curso entre as reservas naturais de Itaipu e os Parques Nacionais do Iguaçu e seu irmão argentino, Iguazú.
Como se vê, a cópia da ideia genial de Ben MacKaye já está assimilada em nossas terras, O novo não é pensar trilhas de longo curso, mas planejá-las como ferramenta de conservação, conectando as unidades e outras áreas núcleo e gerando emprego e renda no processo.
O ICMBio já entendeu isso. Bernardo Issa, Sonia Kinker e Thiago Beraldo foram os primeiros servidores a buscar capacitação no tema em universidades estrangeiras. Todos os servidores da Coordenação Geral de Uso Público e Negócios do ICMBio que trabalham com trilhas já fizeram cursos nos Estados Unidos. No segmento dos voluntários, a Trilha Transcarioca talvez por ter sido a primeira trilha de longo curso com mais de 100 km implementada no Brasil, também já está dando esse passo. A capacitação se dá sobretudo por meio de viagens onde é feito o estudo de campo. Por iniciativa da Conservação Internacional, foi realizada uma viagem de intercâmbio à Rota Vicentina em que participaram Adriano Melo, Eduardo Cabral e César de Castro. Ivan Amaral e eu mesmo fomos à Rota em ocasiões anteriores.
Hoje o MTT mantém um acordo de cooperação com essa trilha de longo curso portuguesa. O coordenador-geral do MTT, Horácio Ragucci, visitou a Huella Andina; Eduardo Cabral, Ivan Amaral e eu fomos a Torres del Paine e visitamos o Sendero de Chile; Eduardo Cabral, Alexandre Pedroso, Ernesto Castro, Patrícia Figueiredo, Celso Junius e Claudia Magnanini estiveram na Hoerikwaggo Trail; Adilson Peçanha visitou experiências norueguesas e Beto Mesquita caminhou nos Senderos de Bogotá, com cuja entidade mantenedora voluntária, Amigos de la Montaña, estabeleceu um intercâmbio. Por fim, eu mesmo estive na Bruce Trail, no Canadá, com a qual o MTT assinou um convênio de irmanação e a convite de quem a Trilha Transcarioca tornou-se a primeira trilha brasileira a se filiar ao World Trails Network.
Mesmo no Brasil tem havido um esforço do MTT para entender o aumento das caminhadas peregrinas e se há como integrar essas atividades com a estratégia de implementação de conectores de paisagens. Nesse contexto, Ivan Amaral e Jeremias Freitas estiveram nas peregrinações de Passos de Anchieta, no Espírito Santo, Richard Smith percorreu a Estrada Real e Anderson Ribeiro manteve contatos com o Caminho de Assis.
No campo acadêmico, sob inspiração do Professor da Faculdade de Geologia da UFRJ Cainho Scioane, os estudantes Jhone Araújo e Tomás Arona respectivamente dedicaram sua tese e dissertação à Trilha Transcarioca e seu papel na conservação.
Agora, com a iniciativa dos conectores de paisagem capitaneada pela Diretoria de Áreas Protegidas do MMA, é chegada a hora do Brasil trabalhar para que, mais que nossa própria Appalachian Trail, tenhamos nosso próprio sistema nacional de trilhas. Como elencado antes, Sociedade Civil e Chefias de Unidades de Conservação das três esferas de Governo já estão se articulando para começar a tirar nossas trilhas de longo curso do papel. O quadro legal também já existe, em norma do próprio SNUC: corredores ecológicos. Falta apenas o reconhecimento legal do Ministério do Meio Ambiente, a exemplo do que o Município do Rio fez em relação à Trilha Transcarioca, com a devida posterior regulamentação que discipline a governança de cada uma dessas trilhas/corredores e que crie os respectivos mecanismos de aplicação de recursos para viabilizá-las.
Para ajudar nesse processo, no dia 1o de agosto passado, quatro profissionais de diferentes áreas afetas à gestão ambiental das três esferas de governo e sociedade civil organizada (Federal (ICMBio), Fiscalização Ambiental (Policiamento Ambiental da PMERJ), Reflorestamento (Coordenadoria de Recuperação Ambiental da Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro) e Imprensa especializada (oeco.org.br), todos eles também voluntários da Trilha Transcarioca com larga experiência acumulada em seu planejamento, implementação, manutenção e governança, se deslocaram por iniciativa própria e com os custos pagos dos próprios bolsos aos Estados Unidos, para uma viagem de estudos de 26 dias.
Durante o período, além de participarem de uma experiência vivencial, caminhando 11 dias na Pacific Crest Trail e dois dias na Tahoe Rim Trail, terão conversas, assistirão palestras e frequentarão oficinas sobre o National Trails System dos Estados Unidos, com foco na Pacific Crest Trail, na Tahoe Rim Trail, na John Muir Trail e na California Coastal Trail.
Os temas a serem estudados incluem conversas, palestras e oficinas com U.S. Forest Service, o U.S. Parks Service, o Serviço de Parques Estaduais da Califórnia e as associações de voluntários das trilhas visitadas sobre temas como governança institucional, governança dos voluntários, conflitos de usuários (bicicleta, cavalos, caminhadas), segurança, gestão de acampamentos, lixo e saneamento, geração de emprego e renda, impactos sobre a biodiversidade (negativos e positivos), planejamento, implementação e manejo das trilhas em terras privadas, efetividade das trilhas de longo curso como corredores de fauna entre outros.
O objetivo é que cada vez tenhamos mais brasileiros capacitados a implementar Trilhas de Longo Curso no Brasil planejadas como ferramentas de conservação.
A ideia é fazer uma viagem dessas por ano. Em 2018 tem mais!
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