quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Tomaz Silva da Agência Brasil, desenvolve matéria sobre pesca
sustentável, que é um dos grandes desafios das comunidades ribeirinhas.
Ressalta que um dos grandes desafios pelos quais passam diversas
comunidades ribeirinhas da Amazônia tem sido o de pescar de forma
sustentável. E evitar que a fartura de um ano resulte em escassez de
pescado no ano seguinte.
O princípio pode ser aplicado a várias outras atividades típicas
desenvolvidas pelos ribeirinhos da Amazônia. Incluindo, o manejo
florestal que é a utilização racional e ambientalmente adequada dos
recursos da floresta.
“Para que qualquer atividade seja considerada sustentável, ela precisa
ser ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa”,
resume o técnico florestal do Instituto Mamirauá, Ronaldo Carneiro.
É seguindo esse princípio que o instituto tem ajudado comunidades
amazonenses da Reserva Mamirauá, localizada a 600 km a oeste de Manaus,
região do curso médio do Rio Solimões. Com 1,124 milhão de hectares,
essa é a primeira reserva de desenvolvimento sustentável do país.
O Instituto Mamirauá é uma organização social fomentada e supervisionada
pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que atua
também, como unidade de pesquisa.
Uma das principais fontes de renda das comunidades da reserva é a pesca
sustentável do pirarucu. A cada ano, são dois meses de atividade e dez
meses de vigilância contra a pesca irregular na região.
Para evitar problemas, algumas regras têm de ser seguidas. Uma delas é a
contagem de peixes adultos, quando boiam na superfície que é feita por
contadores capacitados e certificados pelo instituto, antes do início da
temporada de pesca.
“Já tivemos baixas significativas da população de peixes em decorrência
de o contador ter falseado dados. No ano seguinte, com a queda no número
de pescado, a comunidade sentiu na pele o problema”, disse à Agência
Brasil, Francilvânia Martins de Oliveira. Segundo a ribeirinha, que tem
vários pescadores na família, a venda de peixes é o que mais movimenta a
economia da comunidade Boca do Mamirauá.
Para ter sucesso nessa e em outras empreitadas, o instituto já promoveu
mais de 120 cursos de capacitação nas comunidades da região, bem como
ações nas áreas de agricultura, abastecimento de água, gestão
comunitária, turismo, manejo florestal e pesca.
Responsável por estudos de mercado que identificam a viabilidade no
manejo florestal, o economista Leonardo Apel, integrante do Grupo de
Pesquisa e Organização Social, diz que a técnica aplicada “é eficiente e
promove a regeneração de espécies no local”.
O manejo é uma atividade econômica oposta ao desmatamento, pois não há
remoção total da floresta e mesmo após o uso, o local manterá sua
estrutura florestal.
Se explica que a técnica de manejo desenvolvida pelo instituto e
aplicada nas comunidades tem mais de 40 anos. “Ela era adotada em
empresas e agora está sendo direcionada ao manejo comunitário. A
diferença entre as aplicações está ligada à capacidade de planejamento.
No caso da extração feita pela comunidade, ela não é tão voltada para o
mercado. É de pequena escala, visando à subsistência e, só em alguns
casos, à venda.”
Segundo Apel, a madeira extraída de forma legal atinge preços de mercado
“muito mais interessantes” do que a obtida ilegalmente. “A ilegal não
tem viabilidade econômica porque o risco de apreensão faz seu preço de
mercado cair vertiginosamente.
Quem faz isso acaba tendo de pagar para trabalhar”, disse. “Por isso,
acredito que o manejo de madeira seja a melhor alternativa não só para a
Amazônia, mas para o mundo todo”, acrescentou.
O princípio do manejo é simples, não se pode derrubar em quantidade
maior do que a capacidade de recuperação da floresta. Em geral, até três
espécies por hectare na região.
Responsável por capacitar as comunidades para o manejo, o técnico
florestal Elinei Castro responde, atualmente, pelo levantamento de
estoques e pelo inventário da Comunidade São Francisco.
Segundo o líder eleito pela comunidade de São Francisco, Raimundo
Ribeiro da Silva, com o manejo é possível chegar a uma renda mais
elevada para cada família.
“Mas o dinheiro só vai para quem trabalha”, acrescentou Elinei, enquanto
acompanhava o corte de uma assacu, árvore de grande resistência e
durabilidade na água, muito usada na estrutura de casas flutuantes, com
três metros de diâmetro na base.
Sócio da comunidade nas atividades de manejo desde 2001, Erinaldo
Chagas, diz ter um “sentimento controverso” ao derrubar árvores. “A
gente sente tristeza. Mas também sente alegria, porque a madeira
beneficia a gente e dá o que comer para nossas famílias. Além disso,
quando se tira uma árvore de grande porte, nós damos condições para que
outras árvores surjam, com a entrada da luz que até então estava
bloqueada”, destacou.
Referência: Ribeirinhos da Amazônia apostam na pesca sustentável e no manejo florestal
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia
Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em
Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate
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