Infelizmente, o impacto da ingestão de plástico por aves marinhas é muito maior do que se imaginava até agora. Um novo estudo divulgado por pesquisadores da Austrália revela que muito além dos danos provocados no sistema digestivo, como a inflamação e o bloqueio do intestino, esses microplásticos podem causar alterações também em proteínas que regulam o funcionamento do fígado, rim e o cérebro.
Os cientistas analisaram amostras de sangue e o conteúdo do estômago de 30 filhotes de cagarras, com menos de 90 dias de vida, da espécie Ardenna carrneipes, encontradas na ilha de Lord Howe, localizada entre a Austrália e a Nova Zelândia. A escolha de aves juvenis foi proposital para se descobrir se, já em uma idade precoce, o plástico influenciaria a saúde. Todas elas tinham aparência física normal e não demonstravam nenhum tipo de debilidade.
“A pesquisa sobre ingestão de plástico é frequentemente documentada em animais selvagens severamente emaciados, mostrando sinais claros de desnutrição”, diz Alix de Jersey, pesquisadora da Escola de Medicina da Universidade da Tasmânia e principal autora do estudo. “No entanto, queríamos entender o fardo de viver com plástico no estômago.”
O resultado do estudo demonstrou alteração em 745 proteínas dos filhotes (foram comparadas amostras de animais que tinham e não tinham ingerido plástico). Segundo os pesquisadores, mesmo as aves que consumiram pequenas quantidades de plástico apresentavam sinais claros de danos celulares, disfunção orgânica e neurodegeneração.
“Nossa análise proteômica sugere que, embora nem todas as aves morram devido à exposição ao plástico, elas têm problemas de saúde graves e sofrem de redução da função cognitiva", destaca Alix.
Em muitos casos, essa perda da função cognitiva está associada com a redução de uma proteína no cérebro (BDNF), que promove a sobrevivência, crescimento e manutenção dos neurônios, e o seu declínio aumenta as chances do desenvolvimento de doenças como Alzheimer, Parkinson e demência em outros animais.
“Aves marinhas estão entre os animais mais afetados pela ingestão de plástico, e estudos de suas assinaturas proteicas estão revelando cada vez mais a associação do plástico com inflamação, estresse oxidativo, fibrose e metabolismo alterado”, alerta a pesquisadora. “Estabelecer um banco de dados abrangente de assinaturas proteicas para aves marinhas melhoraria o quão bem podemos identificar essas proteínas e permitiria maiores avaliações de saúde no futuro.”

403 pedaços de plásticos foram encontrados no estômago de apenas um filhote de cagarra
Foto: Justin Gilligan
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Foto de abertura: Alix de Jersey
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