Itamaraty: depois de Lula, sempre no escuro. |
Destroçado
pela estupidez ideológica do lulopetismo, o Itamaraty agora passa
vergonha no exterior: embaixadores são ameaçados de despejo porque o
governo Dilma não paga os aluguéis. Este é o Brasil-potência de Lula e
Dilma. Artigo de Helena Celestino no jornal O Globo:
O
embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio, em Genebra, já
recebeu um aviso de despejo depois de dois meses sem pagar aluguel. O
proprietário da residência oficial do representante do Brasil é um
banqueiro e, pela lei das probabilidades, não vai aconselhar clientes a
investirem no país onde diplomatas atrasam pagamentos. O embaixador está
longe de ser um caso isolado: daqui a 12 dias completarão quatro meses
sem que os funcionários do Itamaraty no exterior recebam o
auxílio-moradia, algo que representa de 70% a 90% dos salários. Não é
mordomia, mas questão de sobrevivência em cidades onde um quarto e sala
custa R$ 20 mil por mês. Resultado? “A política externa brasileira hoje
se resume a negociar contas de luz e a escrever cartas explicando razões
para o atraso”, resume um diplomata.
É
melancólico para um país com ambições de ocupar espaços crescentes no
cenário internacional e orgulho da tradição de independência nas suas
relações com o mundo. Crise política aliada ao desmoronamento da
economia e ao mau humor da presidente Dilma com as firulas diplomáticas
acabaram com as veleidades brasileiras na política externa. “Nós temos
uma certa capacidade de fingir que as coisas vão bem, mas a situação é
dramática”, diz um embaixador. “Tenho 35 anos de Itamaraty, nunca vivi
momento pior”, diz outro.
Não
existe política externa sem dinheiro. A um mês de a presidente Dilma
fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, o
Brasil deve cerca de US$ 258 milhões ao sistema ONU. Nos anos Lula, a
expansão internacional do país levou o Itamaraty a assumir compromissos
para aumentar a presença nos organismos multilaterais. E, como sabemos,
nada é de graça: as contribuições para a ONU aumentaram de US$ 36
milhões em 2010 para US$ 77 milhões em 2014, um reflexo do peso na época
da potência emergente no cenário internacional. Só que não pagamos nada
desde o início de 2014, acumulando uma dívida de pouco menos de R$ 1
bilhão — R$ 928 milhões.
A lista
dos constrangimentos por falta de dinheiro em consulados e embaixadas
brasileiras no exterior também é extensa. Nos Estados Unidos, vários
carros oficiais não podem circular pelas cidades por que não há dinheiro
para pagar o seguro obrigatório — em situação irregular, um deles está
retido numa garagem. Deu na CNN terça-feira — e em todos os jornais e
televisões brasileiros — a conta não paga de US$ 100 mil pelo aluguel de
carros para a presidente e sua comitiva em São Francisco, uma das
escalas da viagem oficial aos EUA, aquela em que se apostou todas as
fichas para reaproximar Brasília e Washington, após a crise criada com a
revelação do grampo no celular de Dilma pela National Security Agency.
Mais uma dívida está espetada no consulado de Nova York : tem
provavelmente o mesmo valor, é relativa ao aluguel do mesmo número de
carros, contratados durante a mesma viagem, mas a empresa fornece
serviços para a representação brasileira em Manhattan há muito tempo e,
por isto, prefere não tocar no assunto publicamente.
A conta
não fecha por motivos óbvios. A maior parte dos gastos do Itamaraty é
com o pagamento e a o aperfeiçoamento dos diplomatas, sendo que 70% são
despesas pagas em moeda estrangeira. Só que o orçamento teve um corte de
R$ 40 milhões e foi fechado com previsão de um dólar a R$ 2,60 — a
moeda, como sabemos, já está em torno de R$3,60. Para evitar a debacle, o
secretário-geral, Sérgio Danese, concentra-se na reorganização interna
do ministério, e o ministro Mauro Vieira multiplica as viagens para
manter a presença brasileira no exterior. Enquanto isso, ninguém está
falando de política externa.
“À voltas
com uma grave crise de governabilidade, nós brasileiros estamos
tendendo ainda mais para a introspecção. É como se o mundo começasse e
terminasse no nosso país. Deixamos de lado os temas internacionais”,
escreveu no “El País” o embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa.
Falta
agenda. Hoje chega ao Brasil a chanceler Angela Merkel, a verdadeira
presidente da União Europeia, e não temos nada a negociar. O tema das
conversas será meio ambiente, mas a pauta é de interesse da Alemanha. A
prisão do coronel Othon, presidente da Eletronuclear, cria
constrangimento, já que era ele o homem a tocar Angra III, resultado de
acordo com a Alemanha. Merkel também não vive bom momento: o Parlamento
vota hoje o terceiro pacote de empréstimos concedido à Grécia pela União
Europeia, em meio ao ceticismo dos alemães às acusações dos vizinhos de
que a Alemanha humilhou os gregos — obrigando-os a aceitar o
inaceitável— e às tensões com a chegada em massa de imigrantes.
Aparentemente, o Brasil não tem nada a dizer, como também não teve
palavras para condenar o espancamento e a prisão da jornalista Manuela
Picq no Equador.
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