Uma economia só é sustentável quando respeita os princípios da ecologia
Por Marcus Eduardo de Oliveira
O consumo suntuoso, conspícuo, no “idioma economês”, grassa aceleradamente, “consumindo” o capital natural do planeta. Os gastos com cosméticos ao ano -somente nos EUA- chegam à importância de US$ 9 bilhões. A Europa (com 740 milhões de habitantes) gasta com cigarros, também ao ano, mais de US$ 50 bilhões, e mais US$ 105 bilhões são gastos em bebidas alcoólicas.
Relacionado a isso, o crescimento populacional e, logo, de suas “necessidades”, se apresentam num ritmo mais acelerado do que a natureza é capaz de suportar. Descontadas as mortes, a cada dia 220 mil novas pessoas nascem no mundo – são 80 milhões ao ano. Nos últimos 112 anos, a população cresceu mais de 350%; passou de 1,5 bilhão, no ano 1.900, para os atuais 7 bilhões. Por isso, de 1980 pra cá, o consumo mundial dos recursos aumentou 50% – a cada ano são extraídas 60 bilhões de toneladas de recursos.
Quando o consumo material excede o nível necessário, o bem-estar consequentemente declina. Talvez isso explique a necessidade de se criar uma nova economia, um novo modelo econômico projetado para a Terra – e não para o mercado -, sendo considerado sustentável, na acepção do termo, somente se praticar o imprescindível respeito aos princípios ecológicos. Para alcançar esse novo estágio de modelo econômico é necessário, antes, mudar o modus operandi do sistema econômico.
Por Marcus Eduardo de Oliveira
Foi
o mercado que formou o atual e devastador modelo econômico que, por se
sustentar numa escala de produção crescente para “satisfazer” níveis de
consumo exagerados, dilapida os principais serviços ecossistêmicos,
exaurindo recursos ambientais acima da capacidade de regeneração do
sistema ecológico.
Mesmo tal nível de consumo não sendo
extensivo a todos, visto estar concentrado em poucas mãos, fere
substancialmente o patrimônio natural. Os números que conformam esse
argumento são ilustrativos: pouco mais de 250 pessoas, com ativos
superiores a US$ 1 bilhão cada, têm, juntas, mais do que o produto bruto
conjunto dos 40 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas.
Os 16% mais ricos do mundo são responsáveis por 78% do total do consumo
mundial. E 92 mil pessoas acumulam em paraísos fiscais mais de US$ 20
trilhões. As 500 milhões de pessoas mais ricas do planeta são
responsáveis por 50% da emissão de dióxido de carbono, agravando o
efeito estufa.
De acordo com o relatório “O Estado do
Mundo” (elaborado pelo Worldwatch Institute), em 2008 foram vendidos no
mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões
de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares. O consumo da
humanidade em bens e serviços saiu de US$ 4,9 trilhões, em 1960
(calculado em dólares de 2008); para US$ 23,9 trilhões (1996), chegando
em US$ 30 trilhões (2006) e, em US$ 41 trilhões, em 2012.
O consumo suntuoso, conspícuo, no “idioma economês”, grassa aceleradamente, “consumindo” o capital natural do planeta. Os gastos com cosméticos ao ano -somente nos EUA- chegam à importância de US$ 9 bilhões. A Europa (com 740 milhões de habitantes) gasta com cigarros, também ao ano, mais de US$ 50 bilhões, e mais US$ 105 bilhões são gastos em bebidas alcoólicas.
O gasto mundial anual em armamentos e
equipamentos bélicos se aproxima de US$ 900 bilhões, enquanto apenas US$
9 bilhões (portanto, 1% do que as grandes potências gastam para matar
gente inocente) seriam suficientes para levar água e saneamento básico
para toda a população mundial.
Esse modelo econômico de elevada
produção “alimentado” com exagerado consumo, como dissemos, é destruidor
dos serviços ecossistêmicos. Basta atentar para o estrago generalizado
nos quatro ecossistemas que fornecem nosso alimento – florestas,
pradarias, pesqueiros e terras agrícolas.
Especificamente, nesses dois últimos, a
atividade econômica tem se manifestado ao longo do tempo de forma muito
invasiva.
Das 17 reservas pesqueiras oceânicas conhecidas no mundo, 11
delas possuem taxas de retirada maior do que a capacidade de reposição.
Das terras firmes do mundo, quatro bilhões de hectares encontram-se
deteriorados. Os últimos 50 anos de atividade econômica respondem pela
depredação de 60% dos ecossistemas.
Relacionado a isso, o crescimento populacional e, logo, de suas “necessidades”, se apresentam num ritmo mais acelerado do que a natureza é capaz de suportar. Descontadas as mortes, a cada dia 220 mil novas pessoas nascem no mundo – são 80 milhões ao ano. Nos últimos 112 anos, a população cresceu mais de 350%; passou de 1,5 bilhão, no ano 1.900, para os atuais 7 bilhões. Por isso, de 1980 pra cá, o consumo mundial dos recursos aumentou 50% – a cada ano são extraídas 60 bilhões de toneladas de recursos.
Quando o consumo material excede o nível necessário, o bem-estar consequentemente declina. Talvez isso explique a necessidade de se criar uma nova economia, um novo modelo econômico projetado para a Terra – e não para o mercado -, sendo considerado sustentável, na acepção do termo, somente se praticar o imprescindível respeito aos princípios ecológicos. Para alcançar esse novo estágio de modelo econômico é necessário, antes, mudar o modus operandi do sistema econômico.
É inaceitável mantê-lo da forma como
está, criando cada vez mais necessidades fúteis. É assim que esse modelo
se sustenta, pouco se importando em satisfazer plenamente as
necessidades da população, mas sim em continuar criando novas produções
para alimentar um consumismo, em geral, de futilidades, mantendo sempre
em nível elevado essas “necessidades”. Para isso, estimula-se em ritmo
alucinante a produção econômica, “oferecendo”, como espécie de
“recompensa”, à biosfera mais poluição, mais degradação ecológica.
A obsolescência programada (mecanismo
para diminuir a vida útil dos produtos forçando assim novas vendas)
ocupa considerável espaço nessa dinâmica. Apenas para ilustrar: somente
em 2012, a população brasileira descartou (jogou no lixo) 200 milhões de
telefones celulares.
Junto à insidiosa indústria da
publicidade (o segundo maior orçamento mundial, perdendo apenas para os
gastos bélicos) a dinâmica capitalista “surfa” cada vez mais nessa onda
consumista. Quem sofre com isso é o planeta que fica arranhado em sua
textura principal pelas garras afiadas desse consumo voraz, ainda que
restrito para poucas mãos.
Marcus Eduardo de Oliveira é professor de economia. Mestre em Integração da América Latina (USP). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br.
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