Tese
de Doutorado de pesquisador brasileiro respeitado mundialmente comprova
senso comum de ambientalistas e empreendedores do turismo sustentável.
As 65 onças-pintadas vivendo no Corredor Ecológico do Rio Cuiabá geraram
receita de US$ 7 milhões num ano.
Onça-pintada: maior atrativo de safáris de observação
Uma
onça-pintada causa prejuízo anual de US$ 2,5 mil dólares, atacando
rebanhos de gado. Mas gera receita de US$ 110 mil em safáris de
observação. Estas são conclusões resumidas de estudo inédito do
pesquisador Fernando Rodrigo Tortato, apresentadas durante o painel “O
novo Pantanal Mato-grossense”, evento da programação do Núcleo de
Conhecimento da edição deste ano da Feira Internacional de Turismo do Pantanal — FIT Pantanal 2016.
Fernando Rodrigo Tortato, bacharel e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Regional de Blumenau, com Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade pelaUniversidade Federal de Mato Grosso, está concluindo um Doutorado na mesma área nesta última instituição. Também está associado à organização não-governamental internacional Panthera, em um projeto de preservação da onça-pintada, um carnívoro selvagem brasileiro.
Para desenvolver sua tese de Doutorado sob o título de “Conflito entre a conservação de onças-pintadas no Pantanal, sua potencialidade turística e seus impactos econômicos sobre rebanhos bovinos no Corredor Ecológico do Rio Cuiabá”,
Fernando Rodrigo Tortato focou suas pesquisas num espaço que concentra
apenas 65 onças-pintadas, população estabelecida por acompanhamentos de
longo prazo, desenvolvidos por instituições de renome mundial.
Onça-pintada: prejuízo de US$ 163 mil num ano
Fora
daquela área voltada à preservação ambiental, mas no entorno da mesma,
há diversas fazendas, somando rebanhos de gado em números
significativos. Naquela mesma região, estão estabelecidas sete pousadas,
procuradas por turistas de todo o mundo, em sua grande maioria
interessados em participar de safáris de observação de aves, anfíbios, mamíferos, répteis etc. — além de conhecer as paisagens e degustar da culinária típica e exótica local.
Definindo
um período de 365 dias para o levantamento dos dados, apurou todos os
casos comprovados de reses abatidas por ataques de onças-pintadas. Na
apresentação feita noCentro de Eventos do Pantanal, situado na Cidade Verde de Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso,
ele revelou apenas o valor total desta perda econômica para os
criadores: em torno de US$ 163 mil. Acabei esquecendo de perguntar a
quantidade de reses foram mortas.
Não
sou conhecedor do assunto, mas acredito que US$ 2,5 mil seja o
rendimento alcançado pelos criadores com pelo menos três animais, quando
vendidos para os abatedouros. Assim, multiplicando três cabeças de gado
pelas 65 onças-pintadas teremos 195. Acredito ser bem pouco em relação à
quantidade de animais que se vê pastando pelas vastidões lá existentes.
É representativo, mas acho incapaz de levar alguém à falência em
virtude dessa situação.
Onça-pintada: receita de US$ 7 milhões em 365 dias
Fernando
Rodrigo Tortato também apurou que aquelas sete pousadas recepcionaram
4.800 turistas no mesmo intervalo de tempo. Tabulando apenas valores
documentados, capazes de serem comprovados a qualquer tempo, as diárias
vendidas e os custos de passeios, alcançou o montante de US$ 7 milhões.
Dividindo este faturamento pelos 65 indivíduos presentes na área de
estudo, chegou àqueles US$ 110 mil — aqui, expressos em números
arredondados.
Comprovou,
a partir deste seu estudo desenvolvido sob critérios científicos,
validados por qualquer outra instituição de pesquisas que se der ao
trabalho de auditá-lo, aquilo que o senso comum de pessoas envolvidas na
preservação de animais e na exploração do turismo de modo sustentável
afirmam a todo momento: um exemplar vivo vale bem mais que este mesmo
exemplar morto. Neste caso, em torno de 45 vezes: 110 mil dividido por
2,5 mil.
Assim
que Fernando Rodrigo Tortato concluir a redação final da tese e
apresentá-la à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação da
Universidade de Mato Grosso, recebendo aprovação, seu conteúdo será
tornado público. A partir desse momento, servirá de base para
levantamentos aprofundados semelhantes, tanto dentro do Brasil quanto fora dele, com o escopo ampliado para outras espécies ameaçadas ou não de extinção pela ação do homem.
Onça-pintada: melhor bem viva que bem morta
A
conclusão a que Fernando Rodrigo Tortato chegou é um bálsamo para
aqueles vivendo do turismo responsável na região do Pantanal. Talvez até
influencie alguns criadores de gado de corte por lá. Mas, para a grande
maioria, acaba não significando coisa alguma. Ali, no dia a dia,
enfrentando dificuldades mil a todo instante, seguirão mantendo aquela
velha opinião: onça-pintada boa é onça-pintada morta — mantendo suas
reses menos ameaçadas.
Burocratas
poderão propor uma solução simples para um problema complicado:
tributar receita do turismo para criar um fundo com o objetivo de
compensar fazendeiros. É o tipo daquela ideia luminosa de gabinete
totalmente dissociada do mundo real. Logo, o índice de ataques de
onça-pintada causando mortes de animais vai crescer assustadoramente,
pois haverá um novo caminho ilegal para se apropriar de recursos dos
pagadores de impostos.
Outra
turma virá com a velha cantilena do aumento da fiscalização, como se
fosse possível colocar um fiscal a cada quilômetro quadrado de uma área
com centenas de milhares de quilômetros quadrados. É sempre o mais do
mesmo. A solução para isso sairá justamente da conclusão de estudos
semelhantes a este agora encerrado pelo pesquisador Fernando Rodrigo
Tortato: monetizar a preservação, valorizar a onça-pintada vivendo no
Pantanal.
Onça-pintada: monetização como solução
O
caminho, me parece, está em conciliar os diversos interesses. As partes
precisam colocar sobre a mesa seus problemas, suas visões de mundo,
suas pretensões, suas propostas, suas condições e por aí vai.
Debatendo-se o assunto, pode-se chegar a um consenso capaz de satisfazer
a todos. No meu entender, algo factível de ser realizado sem
burocracia, carimbo, determinação, papel, parecer ou qualquer outra
coisa envolvendo fiscal, Governo e Justiça.
Apesar
da caça de animais silvestres estar proibida no Brasil há cerca de 50
anos, sabe-se que a matança não parou. De Norte a Sul, de Leste a Oeste,
todo dia são relatados casos de caçadores encontrados pela Polícia
Ambiental equipados com armamento dos mais rústicos aos de última
geração. Se esta situação é comum nas áreas mais urbanizadas, imagine-se
a realidade naquelas mais afastadas, distantes, como é o caso do
Pantanal no Oeste brasileiro.
Outra prática das mais deletérias vem do tráfico. Devido à nossa biodiversidade,
somos das maiores vítimas mundiais desse problema. Mesmo com o forte
trabalho de conscientização desenvolvido a toda hora pelas escolas do
ensino fundamental ao nível superior, entidades as mais diversas, meios
de comunicação e muito mais, este mal mantém-se até no seio das
sociedades mais avançadas — imagina então naquelas buscando meios de
sobrevivência.
É de se perguntar por qual razão uma pessoa de renda razoável na América do Norte ou na
Europa aceita
pagar até mesmo quantias exorbitantes para manter em casa,
aprisionados, seres inofensivos, naturais de outros ambientes, como um
papagaio ou uma coruja, por exemplo? Ou investir verdadeira fortuna
para, depois de cruzar o planeta, atirar num leão, como fez há pouco o
dentista norte-americano, linchado no mundo virtual e quase no real?
Um
único exemplar de onça-pintada, vivendo livre nas matas das vastas
áreas do Pantanal do Oeste brasileiro, já representa uma receita de US$
110 mil por ano. Mas este valor pode crescer bem mais com a ampliação do
turismo moderno, explorado de modo sustentável, baseado em safáris de
observação de aves, anfíbios, mamíferos, répteis e outras riquezas, como
o acervo de paisagens deslumbrantes e os sabores da culinária típica e
exótica local
O
estudioso e pesquisador Fernando Rodrigo Tortato produziu um trabalho
que traduziu em números simples a importância da preservação da
onça-pintada vivendo livre nas planícies do Pantanal do Estado do Mato
Grosso, uma das maiores heranças que ele vai deixar para o futuro de sua
linda filhinha. Só assim ela e milhões de crianças nascendo mundo afora
nos dias atuais terão possibilidades de, quando adultas, conhecerem
espécies agora ameaçadas de extinção pela ação do homem — e que podem
ser salvas também pela ação do homem
--
Mara Moscoso
Unidade Estratégica de Politicas Públicas
Secretaria do Meio Ambiente do Distrito Federal
SEPN 511 - Bloco C - Ed. Bittar 4o. Andar
Brasília-DF 70.750-543
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