quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Floresta com tipos diferentes de planta se recupera melhor após ser
submetida a aquecimento moderado, conclui pesquisa, que amplia
entendimento da importância da biodiversidade.
Um grupo internacional de cientistas pôde, pela primeira vez, demonstrar
em larga escala que florestas com maior diversidade de características e
funcionalidades de plantas têm também maior potencial de adaptação a
mudanças no clima, utilizando a Amazônia como estudo de caso. O estudo,
publicado no periódico Nature Climate Change nesta segunda-feira (29),
reforça a importância da preservação da biodiversidade como instrumento
de políticas públicas contra o agravamento da crise climática.
“É nítido que a biodiversidade não é um benefício adicional, e sim um
aspecto fundamental para a sobrevivência a longo prazo das grandes
reservas de biomassa da Terra, como a floresta amazônica”, afirmou Boris
Sakschewski, do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos de
Potsdam, que liderou o trabalho. “A diversidade vegetal pode permitir
que o maior ecossistema tropical do mundo se ajuste a certo nível de
mudança climática – árvores que hoje são espécies dominantes, por
exemplo, poderiam dar lugar a outras que seriam mais adaptadas às novas
condições.”
Para estudar como a diversidade funcional de plantas contribui para a
resiliência de florestas tropicais, o grupo primeiro investigou uma
pequena área de floresta no Equador, com base em sua resposta, realizou
simulações em computador para toda a bacia amazônica. “É um modelo
bastante interessante e que traz a mensagem de que, além da diversidade
de espécies numa floresta, devemos olhar para a diversidade de
características e funcionalidades das plantas para a manutenção do
serviço cumprido por elas”, afirma o ecólogo Daniel Piotto, da
Universidade Federal do Sul da Bahia.
O modelo biogeoquímico desenvolvido, que simula ambientes florestais
diversos, mostrou que essa diversidade pode permitir que a floresta se
ajuste a novas condições climáticas e mantenha seu potencial de
sumidouro de carbono: enquanto árvores acima de 30 m, atuais maiores
contribuintes para a biomassa do ambiente, seriam reduzidas no médio
prazo, a vegetação do sub-bosque, de tamanho médio e árvores mais
jovens, teria oportunidade de receber mais luz e se regenerar para as
novas condições. No modelo, essa mudança melhorou o equilíbrio de
carbono e a taxa de sobrevivência das árvores, o que causou recuperação
de biomassa e estrutura para as espécies.
A notícia, porém, não representa um alívio de preocupações: enquanto,
num cenário de cumprimento das metas do Acordo de Paris e emissões
moderadas, a taxa de recuperação seria em torno de 84% após alguns
séculos, o dano causado por emissões em massa, sem respeito ao acordo ou
aumento de ambição das propostas sobre a mesa, permitiria que apenas
13%. da área se recuperasse pelas mesmas condições.
O novo estudo é mais um de uma série de trabalhos recentes mostrando
relações importantes entre biodiversidade florestal e clima. Desde o ano
passado, por exemplo, pesquisas chefiadas pelo ecólogo paraense Carlos
Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), e pelo biólogo
Mauro Galetti, da Unesp de Rio Claro, têm mostrado, entre outras coisas,
que a caça de mamíferos como queixadas e antas ajuda a reduzir a
dispersão de árvores grandes, diminuindo a fixação de carbono pelas
matas na Amazônia.
Fonte: Envolverde
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