- segunda-feira, 12 dezembro 2016 22:00
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Das 6 espécies de gorilas, 4 estão na categoria CR – Criticamente Ameaçada, que esse ano passou a incluir o Gorila do Leste (Gorilla beringei). A lista marca a extinção de Petaurus australis, uma espécie de roedor endêmico da Austrália, a primeira extinção de um mamífero atribuída a mudanças climáticas. Dentre outros aspectos a serem ressaltados, chama a atenção alteração de status de algumas espécies como o ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus), a zebra (Equus quagga) e o cervo de Borneu (Muntiacus atherodes) , os quais eram classificadas como LC - Pouco Preocupante, e que agora passaram à categoria NT – Quase Ameaçadas.
No infame jogo da extinção, algumas espécies pularam várias casas: o carismático Koala (Phascolarctos cinereus), o marsupial australiano Petauroides volans, e a girafa (Giraffa camelopardalis), foram da pouco preocupante categoria LC diretamente para a incômoda VU. Desses, a icônica girafa vem ganhando grande destaque na mídia, uma vez que sua população declinou surpreendentes 40% nos últimos 30 anos. Das 9 subespécies de girafa, apenas 3 da parte sul da África estão estáveis. As demais 5, espalhadas pelo continente, encontram-se a caminho da extinção.
Durante o Congresso Mundial de Conservação, realizado pela IUCN no Havaí esse ano, representantes de governos e ONGs passaram uma resolução pedindo a criação de áreas protegidas para conservação da girafa e do okapi, um animal raro, um “mix” de zebra, girafa e búfalo, que se encontra na categoria CR - Criticamente Ameaçado.
"A caça ilegal, perda de habitat, avanço da
agricultura e problemas sociais estão levando a girafa à extinção”.
Troque a palavra “girafa” por qualquer outro animal de sua escolha e a
frase seguirá sendo verdadeira."
Conservacionistas de todo o mundo estão acostumados a ver a Lista Vermelha de Animais Ameaçados aumentando a cada nova edição, salvo alguns raros casos de sucesso, como o do carismático Panda (Ailuropoda melanoleuca), que esse ano passou de EN para VU graças a um esforço (ainda não comprovado) do governo chinês.
Mas o que realmente causa surpresa é que – pelo menos no caso das girafas – a IUCN leva a mão à palmatória e admite abertamente que a causa da queda brutal da espécie é o crescimento descontrolado da população humana. Esse assunto vinha sendo uma espécie de tabu entre os tomadores de decisão, um elefante no meio da sala que todos fingiam ignorar. Segundo o relatório desse ano a IUCN afirma que “a crescente população humana está causando um impacto negativo nas populações de girafa. A caça ilegal, perda de habitat, avanço da agricultura e problemas sociais estão levando a girafa à extinção”. Troque a palavra “girafa” por qualquer outro animal de sua escolha e a frase seguirá sendo verdadeira.
Desde 1992, com o surgimento do movimento socioambiental, quase nenhum congresso e evento da IUCN ou de outras organizações ousaram sequer falar sobre o assunto da superpopulação humana e a necessidade de seu controle.
Ao contrário, grande ênfase é dada aos direitos e necessidades de nossa espécie sobre as demais 8,699 milhões de espécies estimadas no planeta. Áreas de proteção integral de onde não se extrai recursos caíram em desuso face a criação de áreas extrativistas, em busca de uma utópica sustentabilidade ambiental, econômica e social que pudesse preservar a biodiversidade, mas com os serem humanos dominando tudo. Não apenas ineficiente, essa mentalidade é um tanto quando demagógica, e por que não dizer, ingênua, pois o impacto negativo que agora chega às girafas, eventualmente chegará a nós.
Admitir que somos nós os grandes vilões da Terra, agindo como células cancerígenas que adoecem o planeta, em nome de nosso egocêntrico bem-estar, não é algo fácil de se admitir em um universo que valoriza apenas nossos direitos. Mas reconhecer um problema é o primeiro passo na direção de solucioná-lo. E a IUCN finalmente fez essa admissão.
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