sábado, 25 de março de 2017

BR-319 vai abrir caminho para emissão de gases de efeito estufa


Por Vandré Fonseca
Dnit realiza obras para tornar trecho da BR-319 trafegável sem licença. Foto: Vandré Fonseca.
DNIT realiza obras para tornar trecho da BR-319 trafegável sem licença. 
Foto: Vandré Fonseca.


Manaus, AM -- A pavimentação completa da BR-319, entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO), pode resultar na emissão de 2,164 bilhões de toneladas de CO2,  segundo um estudo preparado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Esta é a previsão mais pessimista dos três cenários avaliados, que consideraram os efeitos do desmatamento atingir 20%, 50% e 80% da área de influência da rodovia.


O valor está próximo ao total que o Brasil emitia em 2005 e 2006, quando o país despejou anualmente mais de 2 bilhões de equivalentes a CO2 na atmosfera. No cenário mais otimista, as emissões com o desmatamento ao longo da BR-319 previstas são de 541 milhões de toneladas de equivalentes a CO2, aproximadamente o volume que o país vem emitindo a cada ano desde 2009, devido a mudanças no uso da terra, como desmatamento ou queimadas.


O biólogo Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam e um dos autores do estudo, lembra que mais de 70% do desmatamento na Amazônia ocorre numa faixa de até 50 quilômetros ao longo de rodovias. Além disso, ele destaca que a floresta cortada pela BR-319 é bastante densa, o que significa que, em caso de desmatamento, as emissões são maiores do que em outras regiões da Amazônia.


“Se ela seguir a mesma tendência histórica das outras rodovias, que têm uma grande parte do desmatamento concentrado ao longo dessas rodovias, o que aconteceria seria um desmatamento numa proporção que anularia signitivamente boa parte do esforço de redução de desmatamento que ocorreu na Amazônia de 2005 pra cá, que foi de quase 80 por cento”, afirma.
Área desmatada embargada pelo Ibama na BR-319. Foto: Ibama.
Área desmatada embargada pelo Ibama na BR-319. Foto: Ibama.


A BR-319 percorre cerca de 800 quilômetros, cortando uma região ainda preservada da floresta amazônica. Cerca de 400 quilômetros, no chamado meião da rodovia, ainda aguardam o licenciamento ambiental para serem pavimentados. Apesar de grandes estragos provocados pela chuva, um serviço de manutenção realizado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) tem permitido a ônibus trafegarem no trecho.


A Associação Amigos e Defensores da BR-319 acompanha as obras de pavimentação e a trafegabilidade da estrada. Para André Marsílio, presidente da associação, os maiores impactos ambientais ocorreu na construção da BR, há mais de 40 anos. E afirma que a degradação ambiental ao longo da rodovia poderia ser reduzido justamente com a pavimentação, que permitiria a atuação de órgãos ambientais e polícias no combate a ilegalidades que estão ocorrendo, como a extração de madeira.


“Hoje os impactos são muito maiores porque não há fiscalização, não tem postos de fiscalização na BR-319”, afirma Marsílio. “Se a rodovia tivesse pavimentada, ela teria junto com o Exército, o Ibama, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Ambiental, as prefeituras municipais, o governo estadual, as reservas ambientais estariam funcionando como deveriam funcionar e, com certeza, esse negócio de impacto ambiental não aconteceria como está acontecendo agora”, completa.


Além da fiscalização, que deveria ocorrer com ou sem a pavimentação, outras medidas podem ser tomadas. Para Paulo Moutinho, dar atenção às atividades econômicas e às Unidades de Conservação de Uso Sustentável criadas ao longo da rodovia é um caminho para amenizar os impactos e o desmatamento previstos. É importante, segundo ele, que a produção no decorrer da BR-319 tenha políticas de apoio e seja controlada.


“Se você faz um ordenamento onde haja produção em uma faixa próxima a rodovia, você deixa de ter uma expansão desordenada pra dentro da floresta, ou seja, poderia se produzir tudo o que se produz em 15 ou 20 quilômetros para cada lado das rodovias se tudo fosse muito bem preparado”, defende Moutinho. “Isso não acontece, as vicinas estão destroçadas, então para produzir mais você avança mais em busca de espaço para produzir, fora a grilagem que vem”.


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