G1 Sexta-feira,
01/09/2017, às 22:56, por Amelia
Gonzalez
A disposição inadequada de lixo urbano vai custar
entre US$ 3,25 bilhões a US$ 4,65 bilhões ao Brasil no período que vai de
2016 a 2021, não só em perda de saúde das pessoas, como também em impactos
ambientais graves. Isso acontece porque ainda há muitos lixões a céu
aberto espalhados pelos municípios, sobretudo entre as 3.049 cidades que foram
alvo de estudo. Os dados foram coletados em 2015 do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS) e estão na segunda edição do Índice de
Sustentabilidade da Limpeza Urbana (Islu), elaborado pelo Sindicato das
Empresas de Limpeza Urbana e pela PwC (disponível
aqui) e que acaba de ser divulgado.
São cerca de 75 milhões as pessoas afetadas pelos
lixões a céu aberto espalhados pelo país. É bom lembrar que a
Política Nacional de Resíduos Sólidos , sancionada em 2 de agosto de 2010, dava
o prazo de quatro
anos para as cidades brasileiras acabarem com os lixões, sob pena de elas
terem que responder por crime ambiental. Mas a política é uma das muitas que
não pegaram, como se vê. E, se o cenário permanecer como está, ou seja, se as
cidades continuarem crescendo mais demograficamente do que os progressos na
área de saneamento ambiental, nos próximos dez anos a situação, é claro,
tenderá a se agravar.
O Sistema Único de Saúde, segundo o estudo lançado
pelo Sindicato, gasta anualmente cerca de R$ 1,5 bilhão tratando de pessoas que
têm doenças causadas pela falta de destinação e de tratamento correto de
resíduos sólidos. Surtos de dengue, por exemplo, poderiam simplesmente não
existir em alguns lugares não fossem a sujeira e a destinação inadequada de
resíduos sólidos. É questão de saúde pública, e deveria ser tratado como tal.
A sugestão dada pela equipe que elaborou o relatório é que a sociedade civil
comece a exigir mudança – também – nesta realidade. Como se vê, não está nada
fácil ser cidadão comum num país com falhas tão graves em políticas de respeito
ao socioambiental.
E o estudo revela ainda que há 17 milhões de
brasileiros que não têm sequer coleta de lixo na porta de casa, portanto, muito
mais abandonados à própria sorte no que diz respeito à saúde do que quaisquer
outros. Só para ilustrar: este número equivale à população da Holanda. O
que fazer?
Uma das conclusões do Índice é que as cidades
que contam com um planejamento de limpeza urbana também apresentam um
desempenho melhor.
“O estudo mostra que 75% dos munícipios com esse
tipo de plano e arrecadação específica dispõem o lixo em aterros sanitários,
ante 24% daqueles sem arrecadação e planejamento de sustentabilidade”, diz o
texto do índice, que tem como objetivo suprir a falta de informações sobre a
coleta de resíduos nas cidades brasileiras e mapear o cumprimento das
recomendações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Os municípios mais bem pontuados no Islu foram
os do Rio Grande do Sul, que implantaram aterros sanitários regionais, criando
uma escala econômica. Esta pode ser uma boa sugestão, mas se não quisermos
continuar deixando unicamente nas mãos do estado a solução do problema, de fato
é preciso que os cidadãos passem a encarar os lixões a céu aberto como um
problema, assim como a falta de saneamento.
O Instituto Trata Brasil, uma Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público formada por empresas que se interessam
pelo avanço do saneamento básico e pela proteção dos recursos hídricos, decidiu
investir numa abordagem otimista para mostrar a importância de se levar água e
esgoto tratado para todos os cidadãos. Com o minidocumentário “O Básico que salva
vidas” , deixa que os moradores de várias comunidades paulistas
contem como a vida deles mudou depois que a região onde moram recebeu o direito
de ter tais serviços básicos à porta de casa. Da saúde das crianças - que agora
não têm mais diarreia causada pela sujeira na água que bebiam – até outros
benefícios, como a costureira que agora pode receber sua clientela porque não
tem mais lama na porta de casa, são visíveis as transformações na vida de todos
os moradores.
A pergunta é: por que, então, criar sistema de
esgoto eficiente e de água tratada não é prioridade para os governantes? Em
conversa com o presidente do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos, há
cerca de quatro anos, ele me respondeu a essa questão de forma bastante direta:
falta vontade política.
“Uma obra por cima da terra, como construção de
estádios ou postos de saúde, fica bem para a imagem do prefeito ou do
governador, muito mais do que rede de esgoto, que fica debaixo da terra e
ninguém vê”, disse-me ele.
Nada a comentar, a não ser concordar. Termino este
texto com uma informação que não deixa ninguém orgulhoso de estar vivendo num
mundo com tanta desigualdade: de acordo com documento da Organização das
Nações Unidas (ONU), o número de pessoas sem acesso à água potável em casa é de
2,1
bilhões em todo o mundo. O quadro fica ainda pior se considerarmos que 860
milhões ainda passam fome em todo o mundo.
Bem, mas aí passaríamos a convocar para a reflexão
socioeconomistas que pudessem nos explicar melhor a mágica que faz com que os
países ricos fiquem a cada dia mais ricos enquanto os países pobres continuam
pobres.
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