Algo no mar além dos navios de carga
Pela primeira vez, indústria de navegação de carga se compromete a reduzir emissões carbono
Gostamos de imaginar, do ponto de vista de uma praia limpa e de águas
transparentes, que estamos de frente para talvez o único mundo ainda
ideal, não tocado por perigosas mãos humanos. Na verdade, precisamos
desta fantasia para mantermos parte da nossa sanidade. No entanto, logo
chegam as informações sobre a destruição da Barreira de Corais da
Austrália, causada pela poluição, emissões de CO2 e consequente
acidificação dos oceanos. Ou da imensa ilha de plástico que cobre uma
vasta área do Pacífico. Mesmo assim seguimos sonhando. Porque sonhar é o
que nos resta.
Mais um pesadelo, contudo, invade os devaneios, não porque já não
estivesse là, à espreita, mas porque saiu das páginas de tediosos
relatórios científicos: a indústria mundial de nevagação de carga, pela
primeira vez, concordou em fazer cortes nas emissões de dióxido de
carbono. Isso aconteceu depois de uma semana de negociações em um
encontro da União Marítima Internacional, em Londres. O compromisso foi o
de reduzir as emissões de carbono do setor em 50 por cento até 2050,
tomando como base o ano de 2008.
Não é uma pequena ambição. Os 62 mil navios que singram os mares alimentando a economia mundial emitem, juntos, tanta poluição quanto a Alemanha.
Navios, assim como aviões, tinham ficado fora dos acordos de Kyoto e de Paris para a redução de emissões por serem atividades internacionais, enquanto estes tratados dizem respeito a compromissos nacionais.
Teve quem chiasse. O chefe da delegação dos EUA, Jeffrey Lantz, deixou clara a oposição de seu país: “Notamos que para chegarmos a reduções significativas, o setor intercional de navegação dependeria de inovações tecnológicas e melhoras na eficiência energética”. O Brasil também reclamou, mas dada a dimuição atual de sua importância no cenário mundial, isso não é relevante.
Navios vão ter de operar com menor velocidade para gastar menos combustível. Novos designs aparecerão, e os motores terão de ser mais limpos, impulsionados talvez por hidrogênio ou baterias. Ou mesmo vento.
Em anos recentes, o setor de navegação, que transporta quase quatro quintos das cargas no mundo, tem sido responsável por mandar anualmente para atmosfera cerca de 800 milhões de toneladas de C02.
Ou 2.3 por cento do total global. E isso pode significar 101 bilhões de toneladas de hoje a 2075.
A principal razão da produção de toda esta sujeira é o fato de os motores dos navios serem alimentados por combustível pesado com alto teor de enxofre. O efeito é particularmente perverso. “É o fundo do barril, o resíduo da refinagem. E o produto mais pesado e sujo produzido em refinarias em todo o mundo”, diz Bjarne Schieldrop, analista de commodities. Padrões atuais permitem que combustíveis marítimos tenham um conteúdo de enxofre de 3.5 por cento, muitas ordens de magnitude maior que o permitido para a gasolina nos Estados Unidos.
E, caso você esteja vendo o mar da perspectiva do deck de um navio de cruzeiro, relaxado, com seu drinque na mão, pense nisso: estas máquinas usam o mesmo petróleo sujo dos cargueiros. Cento e cinquenta toneladas por dia, cada um deles, em média, jogando no ar tanta matéria particulada quanto um milhão de automóveis geram no mesmo tempo.
A maioria destes barcos de luxo não teve filtros instalados, o que melhoraria ainda que marginalmente seu impacto sobre o meio ambiente. A ONG europeia
Transport and Environment, que defende meios de transporte mais limpos para o continente, relata que eles causam cerca de 50 mil mortes prematuras por ano, com custos anuais de cerca de 70 milhões de dólares.
Não bastasse isso, a quantidade de esgoto não tratado jogada no mar por todos estes navios é de cerca de 4 bilhões de litros por ano. Foram mais que 24 milhões de passageiros em 2016, em comparação com apenas 1.4 milhão em 1980. Não há sinais de desaceleração da atividade. Pior. Amostras de ar do deck superior do Oceana no ano passado mostraram 84 mil partículas ultrafinas por centímetro cúbico. Isso equivale à poluição de uma cidade como Xangai, ou Nova Déli.
Saúde!
Não é uma pequena ambição. Os 62 mil navios que singram os mares alimentando a economia mundial emitem, juntos, tanta poluição quanto a Alemanha.
Navios, assim como aviões, tinham ficado fora dos acordos de Kyoto e de Paris para a redução de emissões por serem atividades internacionais, enquanto estes tratados dizem respeito a compromissos nacionais.
Teve quem chiasse. O chefe da delegação dos EUA, Jeffrey Lantz, deixou clara a oposição de seu país: “Notamos que para chegarmos a reduções significativas, o setor intercional de navegação dependeria de inovações tecnológicas e melhoras na eficiência energética”. O Brasil também reclamou, mas dada a dimuição atual de sua importância no cenário mundial, isso não é relevante.
Navios vão ter de operar com menor velocidade para gastar menos combustível. Novos designs aparecerão, e os motores terão de ser mais limpos, impulsionados talvez por hidrogênio ou baterias. Ou mesmo vento.
Em anos recentes, o setor de navegação, que transporta quase quatro quintos das cargas no mundo, tem sido responsável por mandar anualmente para atmosfera cerca de 800 milhões de toneladas de C02.
Ou 2.3 por cento do total global. E isso pode significar 101 bilhões de toneladas de hoje a 2075.
A principal razão da produção de toda esta sujeira é o fato de os motores dos navios serem alimentados por combustível pesado com alto teor de enxofre. O efeito é particularmente perverso. “É o fundo do barril, o resíduo da refinagem. E o produto mais pesado e sujo produzido em refinarias em todo o mundo”, diz Bjarne Schieldrop, analista de commodities. Padrões atuais permitem que combustíveis marítimos tenham um conteúdo de enxofre de 3.5 por cento, muitas ordens de magnitude maior que o permitido para a gasolina nos Estados Unidos.
E, caso você esteja vendo o mar da perspectiva do deck de um navio de cruzeiro, relaxado, com seu drinque na mão, pense nisso: estas máquinas usam o mesmo petróleo sujo dos cargueiros. Cento e cinquenta toneladas por dia, cada um deles, em média, jogando no ar tanta matéria particulada quanto um milhão de automóveis geram no mesmo tempo.
A maioria destes barcos de luxo não teve filtros instalados, o que melhoraria ainda que marginalmente seu impacto sobre o meio ambiente. A ONG europeia
Transport and Environment, que defende meios de transporte mais limpos para o continente, relata que eles causam cerca de 50 mil mortes prematuras por ano, com custos anuais de cerca de 70 milhões de dólares.
Não bastasse isso, a quantidade de esgoto não tratado jogada no mar por todos estes navios é de cerca de 4 bilhões de litros por ano. Foram mais que 24 milhões de passageiros em 2016, em comparação com apenas 1.4 milhão em 1980. Não há sinais de desaceleração da atividade. Pior. Amostras de ar do deck superior do Oceana no ano passado mostraram 84 mil partículas ultrafinas por centímetro cúbico. Isso equivale à poluição de uma cidade como Xangai, ou Nova Déli.
Saúde!
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