Ilhas verdes ajudam a recuperar florestas carbonizadas
Esses refúgios de incêndio, que são locais de proteção para as espécies, enfrentam a ameaça do aquecimento global
Carl Zimmer, The New York Times
24 Novembro 2018 | 06h00
24 Novembro 2018 | 06h00
As florestas arderam num ritmo espetacular este ano. Da Califórnia ao Colorado, em Portugal e na Grécia, infernos lançaram suas chamas até o céu e se espalharam pelo horizonte. Os incêndios produziram cenários de destruição cinzenta, mas não acabaram com tudo. Espalhadas, via-se ilhas de árvores, moitas e grama.
Esses restantes, que os ecologistas chamam de refúgios de incêndio, podem ser vitais para o bem estar das florestas no longo prazo. Funcionam como proteção para as espécies e, posteriormente, podem servir como pontos de partida para a regeneração do ecossistema.
Com o passar dos anos, os ecologistas usaram diferentes nomes para os refúgios: sombras de fogo, ilhas não incendiadas, pausas, brechas. Enquanto o incêndio arde, animais buscam santuário nesses refúgios. Quando a floresta começa sua lenta regeneração, eles podem voltar aos refúgios em busca de alimento ou um local para seus ninhos.
As sementes de árvores que sobrevivem num refúgio flutuam pela paisagem carbonizada, produzindo novas gerações de plantas. Com quase 50 anos de dados de satélite, os cientistas começam a montar um quadro da história recente desse santuários. Após um incêndio, os refúgios se destacam como joias verdes espalhadas por uma paisagem cor de carvão. Até 25% de uma floresta pode sobreviver.
Às vezes, a sobrevivência de um refúgio é produto da sorte. “Pode ocorrer uma mudança no vento, uma noite mais fria, e isso faz com que o fogo poupe uma parte da floresta", disse Arjan Meddens, da Universidade de Idaho. Mas alguns refúgios são diferentes. “Há lugares na paisagem que parecem evitar o fogo repetidas vezes", disse a Dra. Krawchuk.
No Hemisfério Norte, a face norte das montanhas favorece os refúgios. Ali, as plantas recebem menos luz do sol. Costumam reter mais água em seus troncos e raízes. Mesmo um abrigo temporário pode ser importante para a biodiversidade.
Os gramados podem ser consumidos pelo fogo todos os anos, e as partes que sobrevivem a um incêndio costumam arder no seguinte. Para as borboletas, esses breves refúgios do fogo podem ser cruciais para a sobrevivência. Se os gramados queimassem até o fim todos os anos, as borboletas seriam extintas.
Os refúgios estão sujeitos a muitas pressões, como espécies invasivas e pragas. A mudança climática pode ser uma ameaça muito maior. Ondas de calor e secas podem transformar a vegetação em combustível. Os refúgios podem se tornar mais raros conforme o fogo se intensifica.
Os ecologistas ainda não sabem o suficiente a respeito dos refúgios para desenvolver uma estratégia para preservá-los. “Para isso, é necessário identificar onde eles estão e por que os consideramos importantes", disse a Dra. Krawchuk.
Se os pesquisadores chegarem a um acordo a esse respeito, disse ela, poderemos criar um atlas dos refúgios de incêndio. “Seria como uma bíblia de referência", disse a Dra. Krawchuk.
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