MEIO AMBIENTE E ENERGIA
Ar mais quente e menos denso pode reduzir sustentação de naves e exigir pistas maiores
Phillippe Watanabe
SÃO PAULO
Se hoje os aeroportos já vivem seus momentos de caos em épocas de festa, com atrasos e cancelamentos, o futuro não parece muito animador para os viajantes segundo um novo estudo.
Publicado na revista Climatic Change, o trabalho afirma que as mudanças climáticas devem piorar a performance das decolagens, exigindo mais pista e mais tempo para chegar à velocidade necessária.
A pesquisa analisou quais seriam os efeitos do aquecimento global em 30 dos maiores aeroportos do mundo —nenhum deles no Brasil—, durante o verão. O resultado é que o aumento da temperatura, que deixa o ar menos denso, reduziria a força de sustentação do avião. Além disso, com o ar mais quente, a eficiência dos motores é menor, o que reduz potência e tração. Nesse cenário, são necessárias maiores velocidades para que a nave levante voo.
Traduzindo: além de uma subida mais demorada até alcançar a altitude desejada. No fim das contas, a performance de decolagem diminui em todos os aeroportos analisados na pesquisa.
Apesar disso, há variação entre os aeroportos. Até 2100, segundo os pesquisadores, o LAX (Aeroporto Internacional de Los Angeles), nos Estados Unidos, necessitará no verão de mais 6,7 metros de pista para as decolagens.
Já o MAD (Aeroporto de Madrid-Barajas), na Espanha, precisará de mais 168 metros de pista para que as naves decolem com segurança.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores usaram dados desde 1976 e fizeram projeções climáticas para o resto do século. Como potência do motor e peso podem variar entre aeronaves, os cientistas usaram como base o Boeing 737-800, modelo comum de avião comercial.
Eduardo Bauzer Medeiros, pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que hoje o desempenho de aviões em um contexto de mudanças climáticas não gera comoção.
“Buscamos aumento de eficiência o tempo todo. Não temos essa ou aquela preocupação específica com essa ou aquela pista.”
Há outras maneiras de contornar o problema, segundo Ronaldo Carvalho, pesquisador do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), mas a solução deve trazer impactos.
“As empresas aéreas controlam o peso máximo de decolagem considerando o comprimento de pista disponível, a temperatura do dia, a altitude do aeródromo e a declividade das pistas. Em dias muito quentes elas terão que limitar o peso e controlar a quantidade de combustível e passageiros, de forma a permitir a operação com segurança.”
Outras pesquisas também já apontaram que o aquecimento global poderá intensificar turbulências de céu claro —quando não há nuvens—, o tipo que causa mais problemas para companhias aéreas pela imprevisibilidade. Isso deve ocorrer pela aceleração das correntes de ar causada pelas mudanças do clima, o que gera mais instabilidade.
As turbulências podem aumentar custos de manutenção nas naves e, em casos mais graves, até causar acidentes.
Mas a decolagem pode ser o menor dos problemas relacionados à mudança climática na aviação. Para os pesquisadores, eventos extremos como tempestades e nevascas são as principais preocupações porque dificultam a operação como um todo.
Chuvas, raios e ventos podem prejudicar e paralisar aeroportos por períodos de tempo maiores, segundo Carvalho. E aeroportos como o Santos Dumont, no Rio, poderão ser inundados com o aumento do nível do mar.
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