quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Brasil é o país com maior potencial de recuperação de floresta tropical, diz estudo

Brasil é o país com maior potencial de recuperação de floresta tropical, diz estudo

Pesquisa internacional liderada por professor da USP mostra que 11% das áreas tropicais destruídas no mundo têm boas condições para serem restauradas

Mata Atlântica é o bioma que mais apresenta oportunidade para restauração no Brasil –
 Foto: Kel Bis via Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0


RIO — Um dos compromissos assinados pelo Brasil no Acordo de Paris, firmado em 2016, era recuperar até 2030 pelo menos 12 milhões de hectares das nossas florestas tropicais que já haviam sido destruídas, já que esse tipo de vegetação é fundamental, entre outras coisas, para reduzir o nível de carbono do ar. Mas onde? Quais áreas exatamente devem ser priorizadas?

Essa é apenas uma das muitas respostas que um estudo inédito publicado hoje na revista especializada "Science Advances" busca trazer.

Liderado pela americana Robin L. Chazdon, da Universidade de Connecticut, e pelo pesquisador Pedro Brancalion, da USP, o projeto foi financiado pela National Science Foundation, uma das maiores agências de fomento americanas, e tinha como objetivo elaborar um mapa global com as regiões mais atraentes para restauração das florestas tropicais degradadas, tanto sob o ponto de vista ambienal quanto econômico e social.

A conclusão é que 11% ou 100 milhões de hectares ao redor do mundo (uma área equivalente à Espanha e à Suíça juntas) possuem boas condições para o reflorestamento, com altas relações de custo-benefício em termos de redução de emissões de carbono, preservação da água e da biodiversidade das espécies, além de vantagens econômicas.

O Brasil lidera esse ranking de áreas, seguido de Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia.
— Nos últimos cinco anos, surgiram várias metas globais com propostas de recuperação de florestas para enfrentar os principais problemas ambientais atuais, mas muitas delas estão num nível muito superficial. O que queremos propor com esse estudo é como operacionalizar essas metas. É uma etapa importante para atrair países, empresas e governos para essa agenda de restauração — acredita Brancalion.

Encontro com governo e criação de um app

Durante quatro anos, Brancalion e outros 11 pesquisadores avaliaram 66 países que possuem florestas tropicais em seus territórios, cruzando imagens de satélite de alta resolução e informações de bancos de dados.


 O mapa mostra as regiões com oportunidades de restauração de florestas tropicais no Brasil. A escala de pontuação vai de 0 a 1. Quanto mais próximo do 1, maior é a oportunidade – Mapa: cedido pelo pesquisador


A partir daí, definiram quatro prioridades a serem buscadas pelos benefícios da restauração: a conservação da  biodiversidade (quanto maior o número de espécies potenciais, maior a importância); o potencial de estoque de biomassa de carbono; a adaptação às mudanças climáticas (quanto maior a velocidade da mudança de clima, maior a relevância); e a capacidade de garantir a segurança hídrica.
Paralelamente, avaliaram a viabilidade do reflorestamento, como, por exemplo, os ganhos dos agricultores em determinada área (quanto mais altos, menores as chances de restauração) e as chances de persistência da floresta no longo prazo.

Num momento posterior, atribuíram "notas" às terras tropicais, chegando num índice de "oportunidade".

Os pontos mais promissores estão entre os 10% com melhor avaliação, ou seja, são aqueles que trariam mais benefícios com o menor custo e risco.

— Para efeitos de comparação, na fronteira de desmatamento da Amazônia, as pressões sociais e econômicas são na direção da perda de floresta. É muito arriscado e difícil investir dinheiro nessa região. Ao passo que, no interior de São Paulo, por exemplo, onde já existe uma governança ambiental mais bem consolidada e pressões no sentido inverso, tenho uma chance maior de que uma floresta com investimentos em recuperação persista no tempo — explica o pesquisador.
Além de um encontro no Ministério do Meio Ambiente para apresentar o estudo, no próximo dia 17, o próximo passo é o lançamento de um aplicativo, o GoFor, em fase final de desenvolvimento, para sistematizar o uso da base de dados.

— A ideia é que uma ONG possa mandar para seus investidores um relatório com nosso mapa, mostrando que atua em área com as melhores oportunidades. Para poder dizer: "Em vez de investir na Indonésia, invista aqui". Governos de outros países também podem acessar os dados, as aplicações são múltiplas — detalha Brancalion — Está provado que a restauração das florestas é a estratégia mais barata, uma das mais eficientes e com múltiplos benefícios associados para reverter a deterioração do meio ambiente. Não há outro caminho. Em algum momento, a gente vai ter que fazer um melhor uso das áreas que já foram degradadas.

 https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/mapas-identificam-melhores-regioes-para-restaurar-florestas-tropicais-brasil-lidera-hotspots-para-recuperacao/?fbclid=IwAR0r64Zr_t7IHah65LZaAOOboOw7eJDStdGPbCMJQor8vCb33HC5AkfEL0s

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