Eixo Sul da Transposição do Rio São Francisco x Canal do Sertão Baiano, artigo de Almacks Luiz Silva
[EcoDebate] “Sertão”, ser tão ingênuo é o indivíduo que está achando que a obra do Canal do Sertão Baiano
trará disponibilidade hídrica para a região Norte da Bahia (Senhor do
Bonfim e região), principalmente para o pequeno agricultor.
Ambas
as versões são pensadas com águas do Velho Chico e esqueceram de
consultar “Pedro”. E como São Pedro não atende daqui para lá, nem mesmo
por WhatsApp. Se assim fosse, nos informaria se vai liberar muita água
(chuva) e aumentar a capacidade da Barragem de Sobradinho, que em tese,
armazenaria essa água em quantidade para suprir a demanda necessária da
capital do Estado (Salvador) e a maior cidade do interior da Bahia
(Feira de Santana), além de diversas outras cidade que compõem o Sistema
Pedra do Cavalo.
Pedro,
para quem conhece a Bíblia, não é tão bom para quem age com propostas
indecorosas entre esse lado e o lado de lá. Principalmente, quando
envolve a mãe natureza, como bem explica o Papa Francisco em sua Laudato
Si, maio de 2015, sobre o cuidado da casa comum. Na Bíblia, em João
18.10, sabe-se que “Nesse momento, Simão Pedro, que portava uma espada,
puxou-a da bainha e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a
orelha direita”.
Não
vamos de maneira nenhuma radicalizar como Simão Pedro fez naquele
momento e naquela circunstância, porém precisamos tomar atitudes firmes.
Mesmo aprovado, esse projeto do CANAL DO SERTÃO BAIANO
em 2015, com supostas audiências públicas, sem convidar principalmente
os pequenos agricultores, proprietários ou posseiros que serão
desalojados para a passagem do canal.
Traçado?
O traçado está pronto desde o ano de 2015 segundo o estudo. Você,
pequeno agricultor, sabe por onde vai passar mesmo esse traçado? Já lhe
consultaram? Já lhe fizeram a suposta proposta de indenização? Já lhe
disseram que vão dividir a sua propriedade no meio, prática conhecida
tecnicamente como fracionamento de área? Já lhe disseram que para
construir um canal tipo trapezoidal, que é citado no projeto, bloqueiam
uma área de mais ou menos 100 metros de largura para que após a obra as
áreas laterais fiquem como área de servidão para manutenção da obra? E
como esse canal é cercado e vigiado você não terá como se comunicar com
um lado e outro do que restar de sua pequena propriedade. Enfim, já
disseram que você não terá direito ao uso dessa água diretamente em sua
pequena propriedade?
Então, vamos falar um pouco do que seria o projeto inicial EIXO SUL DA TRANSPOSIÇÃO e do estupro que fizeram com o projeto original transformando-o em CANAL DO SERTÃO BAIANO,
com a clareza e evidência de que esqueceram o déficit hídrico do Norte
da Bahia e irão usar a região Norte da Bahia apenas para levar as águas
do Velho Chico para Salvador, Feira de Santana e várias outras cidades
da Região Metropolitana de Salvador – RMS
e do entorno, por onde passa a transposição da Bacia Hidrográfica do
Rio Paraguaçu para a Bacia Hidrográfica do Recôncavo Norte Inhambupe.
O Eixo Sul foi inserido na Transposição do Rio São Francisco (capacidade prevista de 57 m3/s)
para definitivamente abastecer algumas Bacias tributárias intermitentes
da margem direita do Rio São Francisco, como Curaçá, Macururé e
principalmente as Bacias Hidrográficas do Rio Salitre, Rio Vaza Barris,
Itapecuru e parte da Bacia do Paraguaçu1,
via Rio Jacuípe e também para barrar, na época, a resistência dos
movimentos populares (contra a transposição) e para fazer frente aos
Canais Alagoanos, Canal do Xingó, Platô de Neópolis e adutora, que leva
água para Aracajú, inserção de canais em Pernambuco pelos dos Eixos,
além do Projeto de Irrigação Nilo Coelho que tem sua captação no lago de
Sobradinho e enfim a explotação (retirada) de água da Bacia para os
estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará
O
Projeto consistia em construir uma captação na margem esquerda do Lago
de Sobradinho, com dois túneis e quatro Pequenas Centrais Hidrelétricas –
PCH,
dando autonomia e sustentabilidade ao Projeto. Com a crise, alteraram o
Projeto e como já existe uma captação para o Projeto de Irrigação do
Salitre, irão fazer um “puxadinho” no canal que vem da Estação de
Bombeamento – EB1 até a EB3 e daí sairá um canal trapezoidal diretamente
para a Barragem de Ponto Novo.
De Ponto Novo outro canal direto para a
Barragem de Pedras Altas e por fim, as águas do Velho Chico chegariam à
Barragem de São José do Jacuípe e essa passaria o seu vertimento e,
consequentemente, essas águas chegariam à Barragem de Pedra do Cavalo no
rio Paraguaçu, onde já existe uma transposição para a capital do estado
e a cidade de Feira de Santana. Tenho minhas dúvidas se essa perna de
canal será construída da Barragem de Pedras Altas, no município de Capim
Grosso, para a Barragem de São José do Jacuípe.
Já
existe um Sistema Integrado, conhecido como Sistema Adutor do Sisal,
construído no governo de João Durval Carneiro para levar as águas de São
José do Jacuípe para a região do sisal, que falhou na gestão de
armazenamento dessa Barragem e atualmente tem um problema seríssimo de
salinização. Para resolver o problema, construíram um Sistema levando as
águas da Bacia Hidrográfica do Itapicuru a partir da Barragem de Pedras
Altas até o Sistema Adutor do Sisal e, recentemente, em 2018, foi feito
outro Sistema interligando as Barragens de Ponto Novo a Pedras Altas.
No projeto desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e
ACQUATOOL Consultoria, levava-se em conta a missão de solucionar a seca
no Norte da Bahia, uma das regiões mais secas do Brasil. É claro, se
tivesse água no Rio São Francisco ou se tivessem consultado Pedro. Não o
Pedro Molinas, hidrólogo da ACQUATOOL, e sim o São Pedro.
O
Projeto previa 417,1 km de canais e aquedutos; 5,3 km de túneis; além
das 04 PCHs citadas; 128 açudes e barragens, dessas 79 existentes; 14
projetadas e 35 identificadas, a exemplo: Barroca do Faleiro, Espanta
Gado, Gaspar, Lagedo, Abreus, Cocorobó, Bela Vista, Passagem, Jacurici,
Tabua e etc.
Assim,
a região Norte da Bahia teria coeficiente hídrico e cumpriria a
profecia do Beato Conselheiro “O sertão vai virar mar”. E o São
Francisco seria como o de Assis, que dá e recebe, pois caso venha a
morrer, não terá direito a Vida Eterna.
Almacks Luiz Silva, é Agente da CPT Ampliada, graduado como Tecnólogo de Gestão Ambiental (CRE-BA nº 051552221-0),
com a especialização de Residência Agrária em Processos e Inovações
Tecnológicas no Semiárido – PRONERA/INSA/UFPB/Via Campesina.
1 (Molinas, Pedro PISF 2019)
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/02/2020
Eixo Sul da Transposição do Rio São Francisco x Canal do Sertão Baiano, artigo de Almacks Luiz Silva, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/02/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/02/12/eixo-sul-da-transposicao-do-rio-sao-francisco-x-canal-do-sertao-baiano-artigo-de-almacks-luiz-silva/.
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