Quase 20% do Brasil queimou ao menos uma vez entre 1985 e
2020
16.08.2021 • Notícias IPAM/Illuminati
Filmes
Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do
Brasil obtido pelo MapBiomas após
analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo
sobre o território nacional. Na média, em cada um desses 36 anos, o Brasil
queimou uma área maior que a Inglaterra: foram 150.957 km² por ano, ou 1,8% do
país. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território
nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil.
“Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite
entender as mudanças no regime de fogo e seu avanço sobre o território
brasileiro”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de
vegetação nativa, sendo que os biomas Cerrado e Amazônia concentram 85% de toda
a área queimada pelo menos uma vez no país. No caso do Cerrado, a área queimada
por ano desde 1985 equivale a 45 vezes a área do município de São Paulo.
“Um dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas
pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não
estamos falando de eventos isolados. No caso da Amazônia, 69% do bioma queimou
mais de uma vez no período, sendo que 48% queimou mais de três vezes”, afirma.
Os estados com maior ocorrência de fogo foram Mato Grosso,
Pará e Tocantins. Formações savânicas foram o tipo de vegetação nativa com mais
ocorrência de fogo; pastagens foram o tipo de uso antrópico com mais ocorrência
de fogo.
Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham
ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987,
1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), altas taxas de desmatamento
principalmente na Amazônia e antes de 2005 e depois de 2019 tiveram um grande
impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre
julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de queimadas e incêndios
florestais.
A análise por bioma mostra que o Pantanal é o que mais
queimou nos últimos 36 anos: 57% de seu território foi queimado pelo menos uma
vez no período, ou 86.403 km². Ele é seguido pelo Cerrado (733.851 km², 36%) e
pela Amazônia (690.028 km², 16,4%). ”O caso da Amazônia é preocupante. Os dados
do MapBiomas Fogo revelam que as florestas do bioma têm queimado em grandes
proporções e alta frequência, o que não é esperado em um bioma que não é
naturalmente adaptado ao fogo”, diz Alencar.
Na média anual, o bioma Cerrado assume a liderança, com
67.833 km²/ano – mais que a Amazônia, cuja média ficou em 64.955 km²/ano. “O
Cerrado é um bioma com vegetação o nativa onde o fogo faz parte de sua
ecologia”, explica Vera Arruda, pesquisadora no IPAM e integrante da equipe do
MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento do Cerrado. “Entretanto a extensão e
frequência da área queimada no bioma nas últimas quase quatro décadas revela
que algo está errado com o regime de fogo no bioma”, ressalta.
No bioma Pantanal é possível identificar os anos de 1999 e
2020 com os recordes de áreas queimadas. Foram anos secos e de grande acúmulo
de biomassa. “O Pantanal tem uma vegetação adaptada ao fogo, mas em regime de
frequência muito grande, ele torna-se prejudicial à biodiversidade de flora e
fauna. O combate ao fogo no Pantanal é especialmente desafiador, portanto,
ações de manejo integrado e preventivo do fogo, devem ser discutidas para
proteção do bioma”, explica Eduardo Rosa, do MapBiomas.
No caso da Mata Atlântica, os meses de agosto, setembro e
outubro constituem o período em que mais ocorrem queimadas, sendo que mais de
80% das queimadas ocorreram em áreas agropecuárias ou campestres, “É possível
observar uma queda após 2004, quando começam a entrar em vigor leis para
regulamentar a queimada em lavouras”, analisa Marcos Rosa, coordenador da
equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento da Mata Atlântica.
Para chegar a esses números, inéditos, a equipe do MapBiomas
processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de
1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área
queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros
quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, em
todos os tipos de uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de
imagens processadas, revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência
do fogo. O método também permite identificar a área queimada em cada mês em
todo o período, bem como o tipo de uso e cobertura do solo que queimou.
Os dados de áreas queimadas e incêndios florestais estão
disponibilizados em mapas e estatísticas anual, mensal e acumulada em para
qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma mapbiomas.org, aberta a todos. Ela também
inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos
últimos 36 anos. A resolução é de 30 m, com indicação do tipo de cobertura e
uso do solo que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por
bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra
indígena, assentamentos e áreas com CAR.
Assista à apresentação Brasil Revelado 1985-2020: As
cicatrizes deixadas pelo fogo no território brasileiro, lançamento do
relatório nesta segunda-feira (16).
Sobre MapBiomas
Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades,
ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na
cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa,
atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país
disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são
disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org.
Acesse os destaques do
relatório.
Nenhum comentário:
Postar um comentário