Em outubro de 2021, este golfinho-nariz-de-garrafa apareceu sozinho no arquipélago de Fernando de Noronha e ficou. E, desde então, os pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador o acompanham. Agora, querem batizá-lo com um lindo nome e resolveram fazer uma campanha para pedir a ajuda da população.
Mas tem um detalhe: como os pesquisadores ainda desconhecem seu sexo, podem ser indicados nomes femininos, masculinos e unissex. Eis alguns dos indicados por seguidores do projeto: Botija, Kaiki, Nando/a, Mahalo, Juma, Guin, Alone, Narizinho, Ravi, Maré.
Para te inspirar ainda mais, eis algumas características do animal: ele é grande, solitário (como já contei) e possui cicatrizes no dorso.
Aliás, foi por causa dessas marcas que os pesquisadores verificaram que se tratava do mesmo golfinho e decidiram que estava na hora de ele ganhar um nome, e não ser mais conhecido por um número.
“Já que identificamos que se trata do mesmo animal, pelas marcas características, nada mais justo que ele ou ela tenha um nome ao invés de um número. […] Muitos registros desse animal na ilha foram enviados por barqueiros e mergulhadores, colaborando com o que é chamado de Ciência Cidadã”, contou Cynthia Gerling. a coordenadora do Projeto Golfinho Rotador, ao G1.
Segundo ela, a campanha para batizar o golfinho foi uma estratégia para conscientizar sobre a espécie. Muito bacana!
Há 20 anos, em 2002, aconteceu o primeiro registro de Guerreira no litoral brasileiro. Ele foi feito pelo Projeto ProFranca, e na época, a fêmea da espécie baleia-franca-austral(Eubalaena australis) ainda não tinha sido batizada com esse nome. Na verdade, ela já recebeu dois apelidos desde então.
Em 2012, a baleia foi avistada novamente na praia de Mariscal, em Bombinhas (SC), junto com um filhote – os biólogos conseguem identificar os diferentes indivíduos através das calosidades em cima da cabeça.
Todavia, naquele ano, a fêmea apresentava uma cicatriz com cortes lineares, sinal de que tinha sido vítima de um acidente com uma embarcação. Houve muita preocupação entre especialistas sobre sua saúde e se ela resistiria. Foi quando ela começou a ser chamada tanto de Mariscal como Guerreira, devido à sua força para sobreviver aos ferimentos profundos.
E na última quarta-feira, 27/07, Guerreira surpreendeu a todos novamente. Ela foi observada, mais uma vez, em águas brasileiras. E dessa vez, acompanhada de um novo filhote. A equipe da R3 Animal a fotografou na Praia do Moçambique, em Florianópolis.
“Agora ela parece estar ótima e, pelos nossos cálculos, deve estar junto ao seu quarto filhote, o terceiro após sua visita que nos preocupou em 2012″, afirma revela Karina Groch, bióloga e diretora do projeto ProFRANCA.
Apesar da boa notícia, a história do acidente sofrido por Guerreira no passado continua sendo um alerta sobre a ameaça enfrentada não só pelas baleais-francas, mas tantos outros animais marinhos.
“Quem navega pela região costeira nesta época deve redobrar o cuidado com as baleias. Existem procedimentos que devem ser seguidos, como manter a distância de 300 metros, não perseguir, interromper ou tentar alterar o curso de deslocamento desses animais”, ressalta o oceanólogo Emanuel Ferreira, gerente da R3 Animal.
Guerreira nadando ao lado de seu novo filhote
A baleia-franca-austral no litoral brasileiro
A baleia-franca-austral pode ser encontrada em oceanos do Hemisfério Sul e durante o inverno e a primavera é avistada na costa do Brasil, especialmente em Santa Catarina. Em geral, são feitos registros de nascimentos e fêmeas cuidados de seus filhotes.
Esses cetáceos podem atingir mais de 17 metros de comprimento e 60 toneladas. As fêmeas costumam ser maiores do que os machos. O corpo é negro e arredondado, sem nadadeira dorsal e a cabeça ocupa quase um quarto do comprimento total. A boca possui uma grande curvatura, que abriga 250 pares de cerdas da barbatana.
Outra característica marcante da espécie é o som do seu borrifo, que pode ser ouvido a metros de distância e a água expelida por ela atingir até 8 metros de altura.
A temporada reprodutiva das baleias-franca vai de julho a novembro, sendo setembro o mês de maior ocorrência desses animais em águas catarinenses.
Enquanto os humanos evoluíram ao longo de um período de aproximadamente 6 milhões de anos, os avanços na medicina moderna como a conhecemos hoje só aconteceram nos séculos 19 e 20. Então, como os humanos sobreviveram com sucesso por milhões de anos de doenças e enfermidades sem medicamentos e tratamentos modernos?
Essa foi uma pergunta que me fez pensar quando a pandemia do COVID-19 atingiu minha família na Índia em abril de 2020, quando havia acesso muito limitado a vacinas e tratamentos. Todos os meus anos trabalhando como cientista biomédico, exigindo evidências empíricas e testes formais de segurança antes de usar um tratamento, ficaram em segundo plano enquanto procurava terapias em potencial de qualquer fonte que pudesse encontrar, sejam artigos científicos ou informais. Eu estava pronto para tentar qualquer medicina experimental ou tradicional que pudesse ter uma chance de ajudar meu pai.
Felizmente, meu pai se recuperou. Não posso dizer com certeza se algum dos medicamentos tradicionais que usamos realmente o ajudou a se recuperar. Mas como alguém cuja carreira científica inteira se concentrou na descoberta de novos medicamentos a partir de compostos químicos encontrados na natureza, me perguntei se havia uma molécula nos medicamentos tradicionais que usávamos que pudesse ser isolada e otimizada para tratar o COVID-19.
Cientistas como eu têm procurado novos medicamentos para várias doenças, purificando compostos existentes na natureza em vez de sintetizar novos em laboratório. Do COVID-19 à resistência aos antibióticos, acredito que os sucessos do passado e as novas tecnologias apontam para o tremendo potencial de desenvolvimento de novos medicamentos a partir de produtos naturais.
A vantagem do produto natural
Os humanos evoluíram com o resto da natureza ao longo do tempo, e obter remédios é talvez uma das interações mais importantes que as pessoas continuam a ter com o mundo natural. Análises de DNA mostraram que os primeiros humanos podem ter tratado abscessos dentários com álamo, contendo o ingrediente ativo da aspirina, e molde (bolor) de Penicillium, contendo o antibiótico penicilina.
Os pesquisadores chamam as moléculas como as que dão ao álamo e ao Penicillium seus efeitos biológicos de produtos naturais porque são produzidas por organismos vivos como micróbios, fungos, corais e plantas. Esses produtos naturais evoluíram para serem estruturalmente “otimizados” para servir a funções biológicas específicas, principalmente para deter predadores ou obter uma vantagem de sobrevivência em um ambiente específico e sobre outros concorrentes.
Como os produtos naturais já são feitos para funcionar em criaturas vivas, isso os torna especialmente atraentes como fonte para a descoberta de medicamentos. Embora as proteínas possam parecer diferentes nos variados organismos, muitas têm características e funções estruturais semelhantes entre as espécies. Isso pode ajudar a facilitar a busca por proteínas relacionadas que funcionam nas pessoas.
Corredor da fama de produtos naturais
Produtos naturais derivados de micróbios e plantas são o maior recurso para a descoberta de medicamentos para a medicina moderna. Caso em questão, a descoberta do antibiótico penicilina em 1940 a partir do fungo Penicillium permitiu que os médicos tratassem infecções anteriormente fatais e iniciou a era dos antibióticos.
Em setembro de 2019, mais de 50% dos medicamentos aprovados pela FDA (conhecido como Federal Drug Administration, o órgão governamental dos EUA que faz o controle dos alimentos) atualmente disponíveis são derivados direta ou indiretamente de produtos naturais. Um dos medicamentos mais vendidos das últimas duas décadas, a atorvastatina (Lipitor), um medicamento anti-colesterol, é derivado de um composto produzido pelo fungo Penicillium citrinum. De 1992 a 2017, as vendas de atorvastatina nos EUA totalizaram US$ 94,67 bilhões.
Outros exemplos proeminentes de medicamentos derivados de produtos naturais atualmente utilizados incluem o antifúngico anfotericina B, isolado da bactéria do solo Streptomyces nodosus, o quimioterápico taxol, isolado da casca do teixo do Pacífico (conhecida como Yem do Pacífico), e o imunossupressor ciclosporina, isolado do fungo Tolypocladium inflatum.
Acredito que tratamentos não descobertos para uma ampla gama de doenças estão bem debaixo de nossos narizes em produtos naturais. Em janeiro de 2021, o FDA aprovou a voclosporina (Lupkynis), isolada do fungo Tolypocladium inflatum, para tratar o lúpus. Recentemente, os pesquisadores estão analisando o canabidiol (CBD) e outros compostos canabinoides como uma maneira potencial de prevenir ou tratar o COVID-19. A FDA ainda não autorizou nenhum medicamento contendo CBD para COVID-19.
Desafios na descoberta de produtos naturais
Os pesquisadores estão cada vez mais aptos a usar novas tecnologias e métodos de triagem para isolar produtos naturais não identificados anteriormente. A triagem de produtos naturais normalmente envolve a busca por uma grande biblioteca de extratos de fontes naturais. O Natural Product Drug Discovery Core (Núcleo de descoberta de medicamentos de produtos naturais), que eu fundei com meu colega David Sherman na Universidade de Michigan, por exemplo, procura por potenciais alvos de medicamentos em uma biblioteca contendo cerca de 50.000 extratos de produtos naturais, cada um contendo de 30 a 50 moléculas para testar.
No entanto, a descoberta de medicamentos à base de produtos naturais não é isenta de desafios. Desde a década de 1980, os produtos naturais caíram em desuso devido a uma série de desafios. Isso inclui dificuldade de acesso a métodos de triagem caros e limitações na tecnologia que não é capaz de analisar completamente a complexidade dos produtos naturais. Há também considerações ecológicas e legais, como acessar amostras de forma sustentável e manter a biodiversidade. As empresas farmacêuticas reduziram seus programas de descoberta de medicamentos baseados em produtos naturais, e o financiamento federal também está em falta devido à lucratividade limitada.
Encontrar novos medicamentos na natureza
Muitas vezes, novos medicamentos são necessários para emergências de saúde sem precedentes, como o COVID-19. Eles também são necessários para uma emergência de saúde que começou muito antes da pandemia – resistência a antibióticos.
Um relatório de setembro de 2017 da Organização Mundial da Saúde reafirmou que a resistência aos antibióticos é uma emergência de saúde global que comprometerá seriamente o progresso da medicina moderna. Se os antibióticos atuais perderem sua eficácia, intervenções médicas comuns, como cesarianas e tratamentos contra o câncer, podem se tornar incrivelmente arriscadas. O transplante pode tornar-se virtualmente impossível. Micróbios resistentes a antibióticos foram a causa direta de cerca de 1,27 milhão de mortes em 2019. Estima-se que tratar apenas seis dos 18 micróbios que representam uma ameaça à resistência a antibióticos custa mais de US$ 4,6 bilhões anualmente apenas nos EUA. A pandemia de COVID-19 reverteu o progresso anterior na abordagem desse problema, com um aumento de 15% nas infecções resistentes aos antimicrobianos de 2019 a 2020. Em contraste, as infecções resistentes aos antimicrobianos caíram 27% de 2012 a 2017. Entre as prováveis causas de este retrocesso foram aumentos no uso de antibióticos, dificuldade em seguir as diretrizes de controle de infecção e internações hospitalares mais longas.
De acordo com estimativas recentes, cerca de 75% dos antibióticos aprovados são derivados de produtos naturais. Existem milhares de microrganismos no oceano para serem explorados como potenciais fontes de candidatos a medicamentos, para não mencionar todos os que estão em terra. Na busca por novos medicamentos para combater a resistência aos antibióticos, os produtos naturais ainda podem ser o caminho a percorrer.
O peixe-zebra (Danio rerio) é um animal fascinante: há indícios de que a criatura transparente pode regenerar a retina e até o próprio coração após uma lesão no órgão. A regeneração do tecido cardíaco foi descoberta por uma equipe de especialistas em estudo publicado no dia 21 de julho na revista Nature Genetics.
De acordo com o líder da pesquisa, Jan Philipp Junker, pesquisador do Instituto de Biologia de Sistemas Médicos de Berlim (BIMSB), na Alemanha, o objetivo foi descobrir como o peixe de cerca de três centímetros regenera o coração – e o que os seres humanos poderiam aprender com esse processo.
Quando uma pessoa sofre um ataque do coração, as células do músculo cardíaco, os cardiomiócitos, se danificam pela falta de oxigênio, começam a morrer e iniciam uma cicatrização. Quando não se consegue produzir novas células, o órgão cardíaco não bombeia mais tão bem.
O mesmo não ocorre com o peixe-zebra: a espécie regenera os cardiomiócitos. Os cientistas descobriram isso simulando lesões de infarto do miocárdio nos peixes. Eles começaram segurando uma agulha fria no coração de um milímetro do animal por alguns segundos sob um microscópio. Assim como um ataque cardíaco humano, o objeto mata o tecido do coração, gerando uma inflamação seguida por cicatrizes de células do tecido conjuntivo, conhecidas como fibroblastos.
“Enquanto o processo nos humanos para nesse ponto, ele continua nos peixes. Eles formam novos cardiomiócitos, que são capazes de se contrair”, explica Junker em comunicado. “Queríamos identificar os sinais que vêm de outras células e ajudar a impulsionar a regeneração.
”Novas técnicas
A equipe usou a genômica de uma única célula para procurar por células que não existem em peixes saudáveis, encontrando três novos tipos de fibroblastos que entram temporariamente em um estado ativado. Mesmo muito parecidos com os outros fibroblastos, essas estruturas podem ler genes adicionais responsáveis pela formação de proteínas, como o colágeno 12.
Enquanto nos humanos a cicatrização é um obstáculo à regeneração, no peixe de origem asiática os fibroblastos ativados são um auxílio para cicatrizar o tecido. Em um experimento que comprovou isso, as células que expressam o colágeno 12 foram “desligadas”, cancelando a habilidade de recompor o coração.
Para identificar a fonte dos fibroblastos ativados, a equipe produziu árvores de linhagem celular usando uma técnica chamada LINNAEUS, desenvolvida pelo laboratório de Junker em 2018. O método trabalha com cicatrizes genéticas que agem como um “código de barras” para a origem de cada célula. “Criamos este código usando uma tesoura genética CRISPR-Cas9. Se, após a lesão, duas células tiverem a mesma sequência de código de barras, significa que estão relacionadas”, explica o líder do grupo.
A LINNAEUS permitiu identificar duas fontes de fibroblastos temporariamente ativados: a camada externa do coração (epicárdio) e a camada interna (endocárdio).
Ainda há uma série de dúvidas: não se sabe, por exemplo, se faltam nos mamíferos e em camundongos os sinais ou a leitura necessária para a regeneração. Junker e sua equipe querem estudar os genes que esses fibroblastos leem.O grupo sabe que muitos dos genes são importantes para liberar proteínas e podem incluir fatores que também influenciam os cardiomiócitos. Evidências iniciais sugerem ainda que os fibroblastos ativados não apenas promovem a regeneração do coração, mas também ajudam a formar novos vasos sanguíneos que fornecem oxigênio ao órgão.