Ave voadora mais pesada do mundo automedica-se com
plantas medicinais
Redação do Diário da Saúde
Esta é a abetarda, a ave mais pesada capaz de voar.
[Imagem: Wikimedia Commons]
Automedicação animal
Se você ver uma grande abetarda (Otis tarda) na
natureza, é improvável que a esqueça. Enormes, coloridas e impossíveis de
confundir com outras espécies, estas são as aves mais pesadas da atualidade
capazes de voar, e com a maior diferença de tamanho entre os sexos.
Mas parece que as abetardas têm uma outra característica
digna de nota: Elas procuram ativamente duas plantas com compostos que podem
matar patógenos que as infectam.
As abetardas podem ser, portanto, um raro exemplo de uma ave
que usa plantas contra doenças - ou seja, um animal que faz automedicação.
"Aqui mostramos in vitro que as
abetardas preferem comer plantas com compostos químicos com efeitos
antiparasitários," disse o Dr. Luis Sopelana, do Museu Nacional de
Ciências Naturais de Madri (Espanha).
Plantas preferidas da abetarda
Já se suspeita há muito tempo que alguns animais façam
automedicação, incluindo, com menor ou maior grau de confiança, primatas,
ursos, veados, alces, araras, abelhas e moscas-das-frutas. Mas é complicado
provar isso sem dúvida em animais selvagens.
A equipe espanhola então coletou um total de 623 excrementos
de abetardas fêmeas e machos, incluindo 178 durante a época de acasalamento, em
abril. Sob o microscópio, eles conseguiram contar a abundância de restos
reconhecíveis (tecidos de caules, folhas e flores) de 90 espécies de plantas
que crescem localmente e são conhecidas por estarem no cardápio das abetardas.
Os resultados mostraram que duas espécies são comidas pelas
abetardas com mais frequência do que o esperado pela sua abundância: papoula do
milho (Papaver rhoeas) e flor-roxa, (Echium plantagineum).
Dessas duas espécies, a primeira é usada na medicina
tradicional como analgésico, sedativo e reforço imunológico, mas não é comida
pelo gado. A segunda é tóxica para humanos e bovinos se ingerida em grandes
quantidades. Elas também têm valor nutricional: ácidos graxos são abundantes em
sementes de papoula de milho, enquanto as sementes da flor-roxa são ricas em
óleos comestíveis.
Estas são a flor-roxa (esquerda), e a a papoula, ou papoila
do milho, os remédios preferidos das abetardas.
[Imagem: Alvesgaspar/Wikimedia]
Efeito medicamentoso
A seguir, os pesquisadores isolaram compostos solúveis em
água e gordura de ambas as espécies de plantas e usaram diversas técnicas para
catalogar sua identidade química. Eles descobriram que as papoilas de milho são
ricas em alcalóides bioativos, como roeadina, roeagenina, epiberberina e
canadina.
E os extratos de ambas as plantas mostraram-se altamente
eficazes em inibir ou matar três parasitas comuns que acometem as abetardas: O
protozoário Trichomonas gallinae, o nematoide (verme
parasita) Meloidogyne javanica e o fungo Aspergillus
niger.
Os cientistas concluem que as abetardas são as principais
candidatas a aves que procuram plantas específicas para se automedicar, mas
mais pesquisas em outras populações da ave são necessárias para confirmar que
essa busca se dá pelo interesse em se curar dos parasitas ou ficar mais forte
para a época do acasalmento.
Checagem com artigo científico:
Artigo: Bioactivity of plants eaten by wild birds against laboratory
models of parasites and pathogens
Autores: Luis M. Bautista-Sopelana, Paula Bolívar, María Teresa Gómez-Muñoz,
Rafael A. Martínez-Díaz, María Fe Andrés, Juan Carlos Alonso, Carolina Bravo,
Azucena González-Coloma
Publicação: Frontiers in Ecology and Evolution
DOI: 10.3389/fevo.2022.1027201
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