À beira da extinção, botos do Rio Yangtzé estão ganhando uma segunda chance
Embora a areia tenha se tornado o segundo maior recurso natural que se extrai no planeta, depois da água, pouquíssimo se fala sobre o problema e seu grave impacto ambiental. São 50 bilhões de toneladas retiradas da natureza por ano. A demanda vem de vários setores: da construção civil, indústria do vidro à agricultura. Nas últimas duas décadas, a exploração dessa substância mineral dobrou no mundo todo. E na China, a sua extração teve um efeito devastador sobre a população dos botos do rio Yangtzé (Neophocaena phocaenoides asiaeorientalis).
Anos e anos de extração de areia no Lago de Dongting, na província de Hunan, ao nordeste do país, fizeram com que esse boto de água-doce desaparecesse e apenas algumas centenas fossem encontradas, dispersas em pequenas populações. Em 2017, eram pouco mais de 1 mil deles e a espécie foi listada como criticamente ameaçada de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
Como parte dos esforços para salvar o boto do rio Yangtzé, o governo suspendeu completamente a extração de areia na região e em apenas dois anos, pesquisadores começaram a perceber um aumento no número desses cetáceos.
“Estudos mostram que os ecossistemas e as espécies podem se recuperar, quando têm a chance”, diz Richard Sabin, curador de área de mamíferos do Museu de História Natural de Londres. “O boto do Yangtze tem uma taxa lenta de reprodução, mas com suporte adequado para restabelecer o ecossistema do qual depende, há toda a esperança de que ele possa se recuperar”.
Sabin se refere a uma análise recém-publicada por um grupo de pesquisadores chineses que têm como foco o efeito da mineração de areia sobre esses animais.
“Os botos evitavam fortemente os locais de mineração, especialmente aqueles de maior intensidade de extração, reduzindo significativamente sua área de distribuição e seu habitat no lago. O tráfego de embarcações para o transporte de areia também impactou ainda mais os movimentos da espécie, afetando a conectividade da população. Além disso, a perda induzida pela mineração de habitats próximos à costa, um local crítico de alimentação e berçário para o boto, ocorreu em quase 70% dos canais de água de nossa região de estudo”, afirmam os pesquisadores do artigo.
A espécie do rio Yangtze é um dos poucos botos (parentes de golfinhos e baleias)
que vivem em água doce
(Foto: © Xiaoqiang Wang/IUCN)
Como seu próprio nome em inglês indica – Yangtze finless porpoise -, esses botos não possuem barbatana dorsal. Em vez disso, tem uma crista estreita que percorre toda a extensão de suas costas e é coberta por “tubérculos” semelhantes a verrugas. Sem bico, podem atingir aproximadamente 2 metros de comprimento e pesar até 100 kg.
Ao contrário da maioria das espécies de golfinhos, os botos não se comunicam com assobios. No entanto, usam a eco localização para navegar e encontrar alimentos.
*Com informações adicionais do site RiverDolphins.org
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Foto de abertura: ori2uru, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons
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