Por Observatório do Clima
- sexta-feira, 30 dezembro 2016 07:57
Para
o bem e para o mal, 2016 foi um ano e tanto na luta contra a crise do
clima. Foram 12 meses de uma sucessão vertiginosa de tragédias e
esperanças, heróis e vilões, avanços e retrocessos. Relembre aqui 16
fatos, episódios e personagens que fizeram a história deste ano de
extremos.
O ano mais quente da história
Foto: NASA
Você já sabe, mas não custa repetir: o ano que se encerra bateu de
longe, de muito longe, todos os recordes de temperatura desde o início
dos registros globais com termômetros, em 1880, e provavelmente desde a
própria invenção do termômetro, em 1850.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial,
o ano deve fechar com uma média global 1,2oC mais alta do que na era pré-industrial. Foi o maior aumento anual de temperatura de todos os tempos: 0,2oC.
A culpa, como os cientistas já disseram várias vezes, foi de um El
Niño monstro entre 2015 e 2016, sobreposto a uma tendência de
aquecimento global que tende a acelerar devido ao encerramento de uma
fase fria do Oceano Pacífico que durou uma década. Para 2017,
felizmente, a previsão é menos sombria: dificilmente o ano novo baterá o
calor de 2016. Mas sempre podemos contar com os maus hábitos da
humanidade para produzir novos recordes.
Donald Trump
Foto: Addres Latif/Reuters
A surpreendente eleição do bilionário/mitômano/agressor
sexual/negacionista do clima, em novembro, botou em pânico a comunidade
internacional – exceto talvez o
governo russo.
Desde então, muita gente tem tentado enxergar um fio de esperança em
algum lugar: Trump disse que vê “alguma conexão” entre o aquecimento
global e a ação humana! Aleluia! Trump se encontrou com Al Gore! Hosana
nas alturas! Trump recebeu Leonardo DiCaprio! Glória a Deus!
O próprio Trump se encarregou na sequência de mostrar a que realmente
veio: nomeou três negacionistas de alto coturno para a Agência de
Proteção Ambiental, para o Departamento de Energia e para o Departamento
do Interior. Ameaçou cortar a verba de pesquisas climáticas da Nasa.
Cereja do bolo, anunciou que seu secretário de Estado será Rex
Tillerson, presidente da Exxon. Ela mesma, a empresa que passou duas
décadas financiando todo tipo de ataque à ciência do clima,
mesmo sabendo desde os anos 1970 da conexão entre o petróleo e o aquecimento da Terra.
Cientistas do clima já estão
copiando freneticamente as bases de dados climatológicos do governo que podem ser vítimas do esquadrão da morte do gabinete trumpista.
Tudo indica que o governo do republicano será tão ruim quanto parece.
Mais uma vez, boa sorte ao mundo para resolver o problema com o governo
americano jogando contra.
O Acordo de Paris agora é lei
Foto: Wikimedia Commons
Motivada em parte pelo medo de que a eleição americana pudesse dar no
que deu, a ONU iniciou no começo uma ofensiva diplomática sem
precedentes para botar o Acordo de Paris em vigor ainda em 2016, quatro
anos antes do prazo oficial.
O esforço foi liderado pelo
secretário-geral, Ban Ki-moon, com forte apoio dos líderes dos EUA,
Barack Obama, da China, Xi Jinping, e da ministra do Meio Ambiente da
França, Segolène Royal. E contou com uma esperta manobra jurídica da
União Europeia para dispensar a ratificação em bloco e permitir que cada
um dos 28 países pudesse somar seu esforço de corte individualmente, de
forma a cumprir os critérios para a entrada em vigor. Desde 4 de
novembro,
Paris é lei no mundo inteiro, inclusive no Brasil.
A China desacelera – e as emissões globais vão junto
Poluição industrial na China. Foto: Li Fan/National Geographic Creative/Corbis
Em março, uma análise da trajetória de emissões da China sugeriu que
o maior poluidor do planeta pudesse ter alcançado seu pico de emissões
de gases-estufa em 2015, 15 anos antes do que se comprometeu a fazer na
sua NDC. Na nova versão do Plano Quinquenal, a China se comprometeu a
reduzir o uso de carvão mineral para gerar energia e a limitar o
crescimento a “apenas” 6% ao ano (sambando na cara do Brasil). Também no
começo do ano, o governo chinês anunciou o fechamento maciço de minas
de carvão.
Dois bons motivos estão por trás do movimento: o alto grau de
competitividade de suas indústrias de energia limpa e o estado de
convulsão social causado pela poluição do ar. Só as emissões de
particulados finos, em sua maior parte pelas termelétricas a carvão,
matam 1,4 milhão de pessoas por ano no país. (Como nada é o que parece
no mundo, a China vem sendo acusada de
exportar usinas a carvão para países africanos, efetivamente terceirizando suas emissões.)
Seja qual for a razão, o mundo agradece: graças à queda das emissões por energia na China e nos EUA, 2015, em 2015
as emissões de CO2 globais por queima de combustíveis fósseis ficaram estagnadas
pela primeira vez num ano de crescimento econômico, e em 2016 a
previsão é que elas sigam sem crescer. É cedo para dizer se essa
tendência será permanente, porém.
Rio-2016 leva o clima às massas
Foto: Paul Gilham/Olympic.org
A
abertura da Olimpíada do Rio
foi uma das poucas gratas surpresas de 2016 no Brasil. Num país
mergulhado em recessão e pessimismo, o show inverteu expectativas e a
lógica geopolítica de espetáculos desse tipo, marcados sempre por um
complexo freudiano de “o meu (país) é maior do que o seu”.
Os Jogos do Rio, que tiveram codireção do cineasta e ambientalista
Fernando Meirelles, trouxeram uma mensagem global. E a mudança climática
foi parte importante dela. Durante cerca de quatro minutos, mais de 3
bilhões de pessoas assistiram em suas TVs às assustadoras projeções de
aumento do nível do mar e aos gráficos de temperatura do painel do clima
da ONU. Foi a maior audiência da história para a ciência climática.
E não ficou só nisso: durante os Jogos, mais de cem atletas de 34 países se engajaram
na campanha 1,5oC – o recorde que não devemos quebrar,
do Observatório do Clima com o Fórum dos Países Vulneráveis, o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o GIP (Gestão de Interesse
Público). Eles mandaram pelas redes sociais sua mensagem de que a
sobrevivência de várias nações dependem do alcance da meta mais
ambiciosa do Acordo de Paris.
Eventos extremos: o batom na cueca da humanidade
Foto: NASA
O ano, nem precisa dizer, foi
de eventos climáticos extremos.
O furacão Matthew se abateu sobre o Haiti em outubro, matando quase 550
pessoas. Recordes históricos de temperatura foram batidos na África do
Sul (42,7oC em Pretória), na Tailândia (44,6oC), na Índia (51oC) e no
Kuwait (54oC – credo!). O Canadá teve o pior incêndio florestal de sua
história.
O Nordeste do Brasil, que já vinha sendo impactado por quatro anos de
chuvas abaixo do normal, teve uma estiagem extremada. No Brasil
inteiro,
2.034 municípios estavam em situação de emergência em novembro de 2016, 1.522 deles no Nordeste. Brasília entrou em situação crítica de abastecimento de água
pela primeira vez.
O gelo marinho no Ártico teve sua segunda menor extensão já medida no
verão – e, para surpresa até dos cientistas polares, que acham que já
viram de tudo, derreteu também no inverno, impulsionado por
temperaturas até 20°C mais altas que a média em algumas regiões (sim, você leu certo: 20oC).
E foi também em 2016 que os cientistas começaram de forma sistemática
a atribuir eventos extremos individuais à mudança climática, algo que
até poucos anos atrás era considerado heresia. Em novembro, a
Organização Meteorológica Mundial afirmou que
mais de metade de 79 extremos
registrados no mundo todo entre 2011 e 2015, inclusive a estiagem na
Amazônia entre 2014 e 2015, teve influência direta do aquecimento da
Terra.
O Congresso brasileiro fossiliza…
Foto: Rodolfo Stuckert/Câmara dos Deputados
Foi um ano difícil para ser parlamentar no Brasil. A Lava Jato
apertou como nunca o cerco a deputados e senadores de diversos partidos.
O achacador-geral da União, Eduardo Cunha, foi ver o sol nascer
quadrado em Curitiba. A confiança da população no Congresso é
a menor em 23 anos. E os bocudos da Odebrecht ainda resolveram contar para todo mundo
como funciona o esquema de pagar deputados e senadores para aprovar projetos de lei.
Foi nesse climão que duas peças para lá de bizarras entraram em
tramitação: uma delas é um projeto de lei que propõe a liberação dos
carros de passeio a diesel no Brasil. O segundo criava nada mais, nada
menos que um
programa de incentivo ao carvão mineral, com construção de novas usinas. O presidente Michel Temer teve o bom senso de vetá-lo.
O projeto do diesel, objeto de
grita generalizada da sociedade civil,
mereceu até comissão especial: iria a plenário sem precisar passar por
nenhuma outra comissão. Visto que a proposta não interessa nem ao
governo, nem à Petrobras, é de se imaginar por que razão teria
aparecido. Uma pista:
quem criou a comissão especial foi ele mesmo, Eduardo Cunha.
Para não dizer que tudo foram trevas, o mesmo Parlamento que queria ressuscitar os piores combustíveis fósseis
aprovou a ratificação do Acordo de Paris em tempo recorde: menos de três meses, e no meio de uma crise política.
…e o BNDES desfossiliza
Foto: Sisse Brimberg & Cotton Coulson
Premido pela crise econômica, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social resolveu estancar o desperdício de dinheiro público
em projetos energéticos sujos ou de futuro incerto: anunciou que não
financiaria mais novas usinas termelétricas a óleo e carvão mineral com
crédito subsidiado. As grandes hidrelétricas, pedra de toque da política
energética do governo passado, vão receber menos dinheiro: o crédito
subsidiado caiu de 70% para 50% do valor do empreendimento. Por outro
lado, o BNDES aumentou seu crédito para energia solar: de 70% para 80%
do valor do projeto.
A morte da Grande Barreira
Foto: The Ocean Agency / XL Catlin Seaview Survey
Temperaturas do mar acima da média desde 2014, e agravadas pelo El
Niño de 2015/16, causaram o pior evento global de branqueamento de
corais da história. O branqueamento ocorre quando o calor excessivo
impede a sobrevivência das microalgas que vivem em simbiose com os
corais e mantêm os recifes vivos. O fenômeno atingiu corais em quase 40
países, inclusive no Brasil. Entre as vítimas está o maior conjunto de
recifes do mundo, a Grande Barreira de Coral da Austrália, que se
estende por 2.300 quilômetros. Segundo
levantamento do Conselho do Clima australiano,
93% dos recifes da Grande Barreira sofreram algum grau de
branqueamento. O governo australiano publicou em junho a informação de
que
22% dos corais do país estavam mortos.
As consequências econômicas nos próximos anos tendem a ser
desastrosas. Os corais abrigam 25% das espécies de peixe do mundo, e
meio bilhão de pessoas dependem diretamente desses ecossistemas para
sobreviver.
Usina de São Luiz é enterrada (mas a cova é rasa)
Mundurukus nos pedrais do Tapajós, que seriam submersos pela usina de São Luiz.
Foto: Anderson Barbosa/Greenpeace
Em 2016, um dos projetos faraônicos mais insanos do setor de energia
do país foi enterrado, na esteira da crise econômica e das prisões dos
empreiteiros da Lava Jato: a usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós,
no Pará, um monstrengo que se aboletaria em uma das últimas zonas de
floresta preservada contínua do sul do Estado. A usina, de 8.040
megawatts, alagaria o equivalente a meia cidade de São Paulo para gerar
como energia firme metade desse total, a um custo de R$ 30 bilhões – que
graças à Lava Jato nós
sabemos como seriam gastos.
A presidente do Ibama, Suely Araújo,
determinou em agosto o arquivamento do processo de licenciamento ambiental da hidrelétrica, por insuficiência do EIA-Rima. Num passado não muito distante, teria sido demitida no ato.
Ambientalistas, ribeirinhos e indígenas comemoraram. Mas eis que, alguns meses depois, e Eletrobras
volta a falar na retomada de São Luiz.
Não é para agora: seria para 2022, quando o PIB quiçá tenha voltado ao
azul e a turma da engenharia esteja de volta das férias em Curitiba.
A volta do que não foi
Área recém desmatada na Amazônia. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace
Desta vez não houve pompa e circunstância, nem bateção de bumbo na
conferência do clima. O desmatamento na Amazônia explodiu em 2016, e o
governo sentou-se em cima dos dados até quando pôde. Ao contrário dos
anos de queda na taxa, nos quais se convocava a indefectível entrevista
coletiva para anunciar a boa nova, a
subida de 29%
(para quase 8.000 quilômetros quadrados) foi objeto de um estranho
não-anúncio: o ministro do Meio Ambiente divulgou as medidas pretendidas
para conter a alta, mas recusou-se a informar de quanto ela foi –
admitiu, porém, que se trata de uma reversão na curva, já que este é o
segundo ano consecutivo em que a taxa sobe. O dado só seria inserido no
site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais várias horas depois.
A elevação significará mais 130 milhões de toneladas de CO2 na conta
de emissões do Brasil em 2016, e um esforço redobrado para atingir o
compromisso de cortar em 80% as emissões por devastação na Amazônia em
2020.
O governo reagiu à disparada das motosserras anunciando
a divulgação pública dos dados do Cadastro Ambiental Rural
– contendo imagens de satélite de mais de 3 milhões de propriedades
rurais, que agora podem ser monitoradas por qualquer cidadão. O aumento
da transparência causou comoção entre os fazendeiros, que ameaçaram
processar o ministro por “violação de privacidade”.
Kigali e Montréal salvam o dia…
Imagem: Ach K/Flickr
Em outubro, duas cidades sem nada em comum inscreveram seus nomes na
história do combate à mudança do clima. No começo do mês, a rica
Montréal, no Canadá, foi palco de uma reunião da Oaci (Organização
Internacional da Aviação Civil) que fechou o
primeiro acordo global
para conter as emissões do transporte aéreo internacional. Duas semanas
depois, a pobre Kigali, palco do genocídio de Ruanda de 1994, sediou o
encontro que fechou um acordo contra uma categoria de gases
“superpoluentes”, os HFCs. Juntas, as duas decisões deram um pouco mais
de esperança à humanidade de evitar um aquecimento global catastrófico.
A Oaci adotou um mecanismo de mercado para compensar o crescimento
das emissões da aviação internacional a partir de 2020. Se deixado sem
controle, o setor cresceria suas emissões em 300% até 2050, garantindo o
estouro da meta de Paris. O novo mecanismo significa que tudo que a
aviação internacional emitir a mais a partir de 2020 precisará ser
neutralizado. Mas tem uma pegadinha: sua primeira fase, que vai até
2026, é de adesão voluntária. E o Brasil, por exemplo, ainda não aderiu.
Na capital de Ruanda, foi acordada uma emenda ao Protocolo de
Montréal (aquele da camada de ozônio) para congelar e banir os HFCs.
Esses gases substituem os nocivos CFCs em geladeiras e aparelhos de
ar-condicionado. Só que são gases de efeito estufa milhares de vezes
mais potentes do que o CO2. A expectativa é que a emenda de Kigali, que
prevê a redução dos HFCs a partir de 2019, possa evitar até 0,5oC de
aquecimento global neste século.
…e Marrakesh mantém a bola rolando
Participantes da COP22 brincam com bola de plástico no último dia da conferência de Marrakesh.
Foto: OC
Também na África aconteceu em novembro a COP22, a conferência do
clima de Marrakesh. Ninguém esperava muita coisa de Marrakesh, e de fato
ela não entregou muita coisa: sua decisão mais importante foi
antecipar a data de finalização do manual de instruções de 2020 para 2018.
O fato mais importante de Marrakesh ocorreu fora da COP: a trágica
eleição americana, que azedou o ambiente na Cidade Ocre nos primeiros
dias de reunião. Havia a expectativa constante de que Trump fosse
anunciar a qualquer momento a retirada dos EUA do acordo ou da Convenção
do Clima. Isso não aconteceu (ainda). Mas o balde de água fria teve um
efeito positivo, no final: todos os países reafirmaram seu compromisso
político de levar o Acordo de Paris a bom termo, com ou sem os Estados
Unidos. E a China passou a despontar ao lado da União Europeia como
líder no combate à mudança climática. Insh’allah.
Diga-me quanto emites e eu te direi quanto vales
Foto: Petrobras
2016 também foi marcado, ainda que discretamente, como o ano em que a
finança mundial começou a entender a “bolha de carbono”. Uma
força-tarefa criada no âmbito do G20, o grupo dos 20 maiores emissores,
recomendou às empresas que divulguem como gerenciam os riscos que as
mudanças climáticas causam a seus negócios e como estão cortando as
emissões dos gases de efeito estufa.
A Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas com o,
criada pelo FSB (Conselho de Estabilidade Financeira) do G20, pôs suas
recomendações em consulta pública em dezembro. Elas incluem a
identificação, avaliação e gerenciamento dos riscos e oportunidades
relacionados ao clima. Também abrangem a descrição do impacto potencial
sobre as empresas da limitação do aumento da temperatura global a 2oC –
em especial sobre as indústrias fósseis.
Esse setor poderia perder US$ 34 trilhões em receitas até 2040, já
que cumprir o Acordo de Paris exige necessariamente que a maior parte
das reservas de petróleo e carvão sejam deixadas no subsolo. O
presidente do Banco da Inglaterra e do FSB, Mark Carney, tem alertado
desde o ano passado para a chamada “bolha de carbono”, ou o risco de
manter investimentos em ativos fósseis que tendem a virar passivos muito
em breve com as regulações climáticas e a expansão vertiginosa das
energias renováveis.
Emissões de metano disparam
Gado em pasto degradado na Amazônia: rebanho bovino lidera emissões de metano do Brasil.
Foto: Ipam
O ano poderia ter acabado sem mais essa: em dezembro, o consórcio
internacional Global Carbon Project publicou o balanço global do metano,
o segundo gás de efeito estufa mais importante. E concluiu que o
aumento da concentração dessa substância na atmosfera cresceu 14 vezes
entre o começo do século e 2012.
As causas ainda são tema de debate, mas
a agropecuária e o desmatamento são apontadas como vilãs. Outro fator
que pode ter feito a diferença é um aumento brutal das emissões de
metano por ecossistemas tropicais, em especial na América do Sul. Os
cientistas não descartam que isso possa ser já um dos temidos “feedbacks
positivos” do aquecimento global: emissões aumentam a temperatura, que
perturba os ecossistemas, que aumentam ainda mais as emissões, num
círculo vicioso.
Obama e Ban Ki-moon cumprem suas promessas
Foto: UN Photo
Em 2016, dois líderes mundiais terminam seus mandatos na condição de
heróis da luta contra a mudança climática: o secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, e o presidente dos EUA, Barack Obama.
Obama assumiu em 2009 com o pé esquerdo: uniu-se à China para melar a
conferência do clima de Copenhague, frustrando a expectativa de 7
bilhões de pessoas interessadas num acordo que pudesse garantir a
segurança do planeta. Em seu segundo mandato, ele se redimiu.
O havaiano surfou a boa onda do gás natural, que começara a
substituir o carvão na geração de energia, e limitou as emissões de CO2
das termelétricas via Agência de Proteção Ambiental, contornando o
Congresso republicano. No final de 2014, costurou com a China o
entendimento que tornou possível o Acordo de Paris. Em 2015, baixou o
Plano de Energia Limpa, destinado a cumprir as metas da NDC americana.
E, nos últimos dias de mandato, jogou uma casca de banana para Donald
Trump: usou uma obscura lei de 1953 para
proibir toda a exploração de petróleo e gás no Ártico e na costa atlântica dos Estados Unidos.
O sul-coreano Ban era um virtual desconhecido de sotaque engraçado em
2007, quando assumiu a ONU no lugar do carismático Kofi Annan. Não
tardou a identificar no combate ao aquecimento global uma potencial
tábua de salvação para o multilateralismo e uma oportunidade de a
desacreditada organização mostrar sua relevância.
Agigantou-se – sem
perder a discrição. Girou o mundo martelando à exaustão o discurso de
que não é possível combater a pobreza sem agir também contra o caos
climático. Foi um dos mentores do Acordo de Paris e o principal
responsável por sua entrada antecipada em vigor. Em sua última entrevista coletiva numa COP, em Marrakesh,
lançou um sutil desafio
a Donald Trump sobre a ação climática: “O que antes era uma união
impensável de países em torno do objetivo climático agora é algo
irrefreável”.
Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.