Por Jaimi Dolmage / Tradução de Alice Wehrle Gomide
A natureza sempre se renova, passando de tempos em
estagnação e decadência para um estado de florescimento novamente, em um
ciclo que se repete ao longo da nossa história. F. Scott Fitzgerald
escreveu sobre isso no livro O Grande Gatsby dizendo, “E então com a luz
do sol e as grandes explosões de folhas crescendo nas árvores, assim
como as coisas crescem em rápidos movimentos, eu tive aquela convicção
familiar que a vida estava começando novamente com o verão”.
Como os humanos tem expandido seu alcance, construindo
vizinhanças, povoados e cidades, nós algumas vezes nos encontramos
precisando seguir em frente, deixando para trás o que tínhamos
construído há muito esquecido. As razões podem ser óbvias, como um
desastre nuclear forçando os habitantes de Pripyat, Ucrânia, a deixarem
seus lares, ou razões mais banais, como o abandono da cidade mineradora
de diamantes de Kolmanskop, Namíbia.
Mas, um lugar fica realmente abandonado só porque os
humanos foram embora? De forma alguma! Na ausência de pessoas, alguns
lugares que previamente pensávamos estarem desolados estão atualmente
mais povoados do que nunca. Os novos ocupantes? A vida selvagem.
Deixados sozinhos para se alimentar, se reproduzir e prosperar sem serem
perturbados pelas pessoas, muitos tipos diferentes de animais e insetos
estão transformando dilapidados shopping centers, casas vazias e ilhas
esquecidas em seus paraísos pessoais. Tendo o papel de santuários
naturais, estes lugares estão fornecendo aos animais, alguns dos quais
ameaçados de extinção, um lugar para aumentarem seus números e
aproveitarem uma vida de liberdade.
Área deserta ou refúgio para cavalos?
Abandonado em 1954, Kolmanskop – Namíbia já foi uma cidade
mineradora de diamantes florescendo até que as minas tiveram suas
riquezas eventualmente esgotadas. Os habitantes humanos da cidade
seguiram em frente e deixaram para trás o que eram seus lares, escolas e
lojas que foram tomados pelo raro e deserto Cavalo da Namíbia.
Sua origem é desconhecida já que estes cavalos não são
nativos da região, mas fruto da intervenção limitada humana, oferecendo
somente uma reserva de água durante secas extremas, estes cavalos foram
capazes de se adaptar incrivelmente bem aos terrenos difíceis e crescem
aos números pelos anos nas ruínas desta cidade esquecida.
Eu acho que sua loja favorita é Abercrombie and Fish
Incêndios e problemas de segurança atormentaram o New World
Shopping Mail em Bangkok, Tailândia, até que foi fechado em 1997. A
estrutura sem teto ficou vazia, coletando água da chuva em seu porão até
que uma piscina de 500 metros quadrados se formou. Mosquitos começaram a
aparecer, incomodando tanto os locais ao redor da estrutura abandonada
que as pessoas colocaram algumas carpas e bagres na piscina para
combater o problema.
Deixados para se reproduzir à vontade, os peixes
prosperaram em seu novo ambiente e transformaram o shopping em seu
aquário pessoal. O futuro dos peixes é incerto já que existem questões
sobre a estabilidade do prédio, mas por agora os moradores locais
visitam os peixes para alimentá-los.
Um Jumanji da vida real
Enquanto caminhava pelas florestas ao redor da sua casa de
verão em Salo, Finlândia, o fotógrafo Kai Fagerström deu de cara com uma
casa abandonada. Sem perder a chance de tirar algumas fotos singulares,
Fagerström entrou para ver que a casa estava abandonada, mas de longe
estava vazia.
A casa estava cheia de inquilinos animais como texugos,
ratos, raposas e aves. Na realidade, 12 espécies diferentes de animais
estavam todos vivendo juntos e em harmonia sob o mesmo teto, tornando-se
personagens do seu livro fotográfico The House in the Woods.
A vida encontra um jeito à sombra do desastre
Em 1986 os residentes de Pripyat, Ucrânia, foram forçados a
abandonar suas casas, pois o Complexo Nuclear de Chernobyl sofreu o que
é considerado o pior acidente nuclear na história. A área foi
classificada como inabitável pelos próximos 20.000 anos, já que os
níveis de radiação na área continuam muito altos, mas isso não impediu
que uma grande variedade de vida selvagem e espécies de insetos se
mudassem para lá.
Na realidade, as populações de animais nativos como
javalis, cães e cavalos prosperaram na zona de exclusão, tornando a área
ao redor de Chernobyl um refúgio natural na ausência de ocupantes
humanos. Cientistas conseguiram permissão de acesso somente recentemente
para estudar a área e seus habitantes, com os resultados fornecendo uma
visão incerta sobre como as populações serão afetadas pela radiação
pelas próximas gerações. Somente o tempo dirá, mas por agora a cidade de
Pripyat está povoada com uma seleção diversificada de vida.
A frase “Terra de Ninguém” não se aplica à vida selvagem
Desde o Armistício da Guerra da Coreia em 1953, uma faixa
de terra de 250km de comprimento e 4km de largura conhecida como Zona
Desmilitarizada separa a Coréia do Sul da do Norte de costa a costa.
Como as pessoas somente podem entrar com permissão especial nos últimos
60 anos, a área se tornou um lugar perfeito para uma grande variedade de
vida selvagem nativa e criticamente ameaçada viver sem ser perturbada.
Animais como os ameaçados gorais de Amur, o urso negro
asiático, o cervo almiscarado siberiano e o quase extinto leopardo de
Amur estão entre as 2.716 espécies diferentes que habitam a área.
Uma ilha de minas terrestres é uma mina de ouro para pinguins
Após a poeira das Guerras das Malvinas em 1982 ter baixado,
as águas ao redor da área foram tão exploradas para pesca que as
populações locais de pinguins começaram a cair de forma dramática.
Ironicamente, foram justamente esta pesca excessiva e as devastações da
guerra que acabaram criando um habitat único para os pinguins começarem a
fortalecer seus números e viver livremente.
Como um impedimento para os Britânicos, o exército
argentino colocou 20.000 minas terrestres ao longo da costa e das terras
de pastagem ao redor da capital onde permanecem até hoje. Muito leve
para ativar as minas, a população de pinguins vive alegremente e
completamente imperturbável neste santuário fora do comum.
Os ocupantes deste vagão de metrô parecem um pouco suspeitos
Desde 2001 a Autoridade de Transportes em Massa de Nova
Iorque vem participando de um programa que aposenta antigos vagões de
metrô e os despeja ao longo da costa leste para criarem recifes
artificiais. Conhecidos como Redbird Reef (Recife Pássaro Vermelho), os
vagões são despidos de materiais flutuantes e são limpos antes de serem
despejados das balsas nos oceanos.
Até 2010 o programa já tinha colocado mais de 2500 vagões
na água na esperança de dar à vida marinha da área um lar para procriar e
prosperar, incluindo linguado, tartarugas e cirripedias.
Se você disser que existe uma ilha inteira povoada por coelhos, ninguém acreditaria
A pequena ilha conhecida como Okunoshima Island em
Takehara, Japão, é também comumente conhecida como Usagi Jima, ou “Ilha
dos Coelhos”. Abandonada após a Segunda Guerra Mundial, a ilha era o lar
de uma instalação de gás venenoso.
Como os coelhos chegaram até a ilha é uma fonte de debate,
mas com animais maiores como gatos e cães sendo banidos de suas terras,
os coelhos de Usagi Jima são livres para correr e se multiplicar
enquanto ganham uma cenoura ocasional de um turista.
Esta ilha ganha a aprovação dos elefantes-marinhos
Antigamente uma estação de farol da Guarda Costeira até ser
abandonada em 1948, a Ilha Año Nuevo na Califórnia está cheia de vida
selvagem. Agora parte de uma reserva ambiental operada pelos Parques
Estaduais da Califórnia, a ilha abriga uma das maiores colônias de
reprodução de elefantes-marinhos em terra no mundo.
Ela também é o lar de cormorões, andorinhas do mar,
lontras, leões-marinhos da Califórnia, assim como a rara e ameaçada
cobra San Francisco Garter Snake.
Barcos que não flutuam mais fazem uma ótima sombra
O que era antes o quarto maior lago no mundo, o Mar de Aral
na Ásia Central está agora na iminência de ficar completamente seco
devido às barragens que desviam suas águas. Os efeitos disso foram
devastadores e a área está sendo monitorada para que melhorias
ambientais possam ser feitas. Deixando para trás um deserto arenoso e
barcos de pesca encalhados, o lago seco agora vê camelos locais andando
livremente entre os cascos para terem uma pausa do sol.
Esforços de revitalização estão sendo feitos e mostram uma
promessa real para a área e a vida selvagem que se mudou para lá,
incluindo não somente os camelos, mas as raposas asiáticas, lobos e
javalis.
Um local dedicado a tirar a vida se transforma em um lugar que a preserva
Uma vez uma fábrica de munições químicas, o Rocky Mountain
Arsenal em Commerce City, Colorado, teve sua última produção em 1982.
Sem limpeza e descontaminação do local, os humanos não entravam na área,
o que se tornou em uma abertura perfeita para os animais entrarem e
criarem um refúgio involuntário.
Em 1986, para a surpresa do Serviço de Vida Selvagem e
Pesca dos EUA, foi descoberto que não somente havia um poleiro comunal
de águias americanas vivendo lá, mas também 330 espécies adicionais de
vida selvagem. Hoje o local é um Refúgio Nacional de Vida Selvagem e é o
lar de cervos, bisões, coiotes e corujas.
Fonte: One Green Planet
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