Por Jessica Sarter / Tradução de Alda Lima
“Como um criador de porcos, vivo uma vida antiética, envolta nas armadilhas justificatórias de aceitação social. Há mais ainda do que simples aceitação. Há realmente a celebração da maneira com que crio os porcos. Porque dou aos porcos vidas tão próximas do natural quanto possível em um sistema não-natural, sou honrado, sou justo, sou humano — enquanto o tempo todo, atrás do manto, sou um senhor de escravos e um assassino”.
Estas palavras poderosas vêm de uma coleção de blogs que Bob Comis, um criador de porcos em Upstate New York, que começou a escrever para narrar sua vida como um agricultor de carne “humanitário” e sua crescente dúvida quanto a tal coisa existir mesmo.
Suas palavras foram destaque no The Huffington Post e atraiu o interesse de muitos leitores por sua descrição honesta da turbulência interna com a qual ele lidou enquanto tentava entrar em acordo com a vida que estava vivendo em meio a um conjunto de mudança de crenças morais. Os pensamentos de Comis quanto à criação de suínos não eram do agricultor médio, pelo menos não aquele que cria porcos pela sua carne, seu objetivo sempre foi criar porcos o mais humanamente possível.
Na verdade, ele começou a criação por ficar tão horrorizado depois de descobrir mais sobre a fazenda industrial, que quis tentar ser uma pessoa melhor, oferecendo uma solução mais amável. E, pelo que se sabe, as vidas que seus porcos levam foram as mais ideais que você poderia imaginar. Eles tinham muito espaço para se movimentar, tinham talos de milho para comer, abrigos quentes onde dormir e a oportunidade de desfrutar das relações sociais complexas que todos os suínos constroem quando lhes é dada a oportunidade. “Vi porcos mostrarem empatia, alegria, depressão e uma gama de emoções”, ele disse. “Eles às vezes brincavam de dar susto um nos outros. A experiência dos porcos parecia cada vez mais com a minha”.
Olhando os porcos de maneira diferente
Comis viu o que qualquer um que já passou algum tempo com porcos já sabe. Ele descobriu que os porcos são animais individuais muito inteligentes, brincalhões, e também começou a sentir que suas vidas importavam muito, levando-o a questionar seu direito de tomar suas vidas. Por um tempo, ele tentou continuar com a sua criação, pois seu negócio estava indo muito bem.
Ele também continuou a comer carne enquanto os leitores o viam perguntando a si mesmo e ao mundo se era certo para qualquer um de nós fazê-lo. Felizmente, havia pessoas lá fora que não apenas ofereciam suporte, como também não julgavam. Ele explicou em uma entrevista: “Os comentários mais poderosos que recebi, e foi o que me ajudou a parar em última análise, foram, e de várias formas os que diziam ‘Se der um passo para trás e olhar para as coisas que está dizendo e olhar para as coisas que está pensando, verá que já tomou a decisão de parar, então apenas dê o próximo passo e pare’. E, assim, a ideia ressoou em mim, e dei o passo para trás e pensei: ‘Estas pessoas são legais’, e então decidi parar de criar porcos completamente, me tornei vegetariano, e depois vegano”.
O último porco
A representação honesta da busca da alma de Comis chamou a atenção da premiada cineasta Emmy Allison Argo. Depois de ler um de seus blogs “Happy Pigs Make Happy Meat”, (ou “Porcos felizes dão carne feliz”), ela quis contar sua história. Argo produziu muitos filmes sobre animais como Parrot Confidential e The Urban Elephant, e tem dedicado sua vida a ensinar as pessoas sobre os males de animais em cativeiro e em risco nas mãos de seres humanos.
Mas esta história era diferente. Esta não era uma outra história de abuso ou negligência, este era um lugar onde os animais foram bem tratados até o dia final. Esta história, como o próprio Bob Comis colocou, era uma questão de, se aquelas vidas eram significativas o suficiente para serem cuidadas e alimentadas, por que era aceitável acabar com elas para consumo humano? E quanto à ética daqueles momentos finais?
O consumidor que compra o mito da humanidade neste processo está fechando os olhos para o último dia, os momentos finais. Como Comis disse à revista Modern Farmer a respeito de sua experiência num matadouro, “Não é a visão do sangue que me incomoda, e sim a violência do processo da morte. A ciência nos asseguraria de que estas convulsões são um sinal de insensibilidade dos porcos, mas, como testemunha, é quase impossível acreditar que os porcos não estão se debatendo porque estão com dor.
E então aquela súbita falta de vida do corpo enquanto ele é mecanicamente içado no ar, algemado por uma única perna. Acho que nada poderia ser feito para tornar a morte dos porcos menos pesada para mim”.
Esperança de mudança
Mudar nem sempre é fácil, especialmente quando não são
apenas seus hábitos alimentares, mas seu sustento financeiro também.
“The Last Pig” segue Comis em seu último ano levando porcos para o abate
(ele tinha mais de 200 que não tinha onde colocar) e dizer adeus aos
oito que conseguiu realocar em santuários. Hoje ele Comanda a In Line
Farming, uma fazenda vegana em homenagem à sua nova maneira de colocar
suas ações “em linha” com suas crenças.
E para provar ainda mais que as
ações positivas de uma pessoa podem levar a outras, Argo virou vegana
durante o processo de filmagem, depois de anos sendo vegetariana. Por
mais que Bob Comis possa ser apenas uma pessoa, sua história pode
inspirar milhares de outras. Tudo o que precisamos é apenas dar um passo
para trás, um momento para questionar a forma como as coisas são, para
fazer a diferença em nossas escolhas pessoais e impactar positivamente
tantas outras vidas.
Todos nós poderíamos aprender uma lição de
compaixão deste homem amável. “The Last Pig” está em fase final de
edição. A produção deste filme foi financiada através de doações e
continua precisando de apoio. Para doar, saber mais sobre o filme, e ver
como você pode ajudar, visite o site The Last Pig e acompanhe seu progresso no Facebook.
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